Another Tower escrita por Miss Angela


Capítulo 5
Dois Órfãos, uma Fugitiva e Outras Pessoas


Notas iniciais do capítulo

Yo!



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Não chegamos à tempo, o ataque não dura mais do que cinco minutos e o caminho de volta ao reino demora horas. Estamos cansados de termos feito o mesmo longo percurso pouco tempo atrás, por isso precisamos fazer pausas constantes. Toda vez que paramos Nimbus se contorce em agonia, se forçando à comer o que trouxe.

Do Contra tem a mesma expressão gravada no rosto desde que deixamos a torre: sobrancelhas franzidas, olhar perdido e o maxilar apertado com uma força que parece machucá-lo. Ele não diz nada, perdido em sua própria mente.

Ele sabe.

Mesmo com meu corpo tão dolorido tenho mais energia que os dois. Sei que esse não é o momento certo, mas não deixo de ficar impressionada comigo. Minha demonstração de resistência parece servir de incentivo para Do Contra, que várias vezes parece disposto a desistir completamente.

Meu estômago se contorce quando entramos no reino.

Lembro-me vagamente de quando os soldados voltavam de uma batalha contra as bruxas. A comemoração durava por dias, talvez semanas, sei que todos cantavam e o som dos instrumentos musicais eram estrondosos.

Mesmo com tanta coisa que poderia me distrair, a única coisa que lembro perfeitamente é do rosto de uma menina. Suas bochechas eram descarnadas e seu rosto sustentava grandes olhos cheios de lágrimas. Seu pai não havia sobrevivido. Depois disso as portas da casa dela foram trancadas, até o dia em que os vizinhos reclamaram do cheiro.

Isso nunca chegou a ser uma batalha, foi uma dizimação.

Do Contra parece meio desorientado. Todas as palavras parecem inapropriadas em uma situação como essa, mas eu sei como é perder meu pai e minha mãe, por isso tento de qualquer forma.

— Do Contra... – minha garganta aperta com o sentimento de impotência. Como posso consolá-lo se até hoje não fui capaz de consolar a mim mesma? – Eu não tenho a menor ideia do que dizer.  – termino ridiculamente.

 Estranhamente, isso arranca um sorriso dele. Pequeno, mas é alguma coisa. Antes que eu possa pensar nessa reação ele quebra, a primeira lágrima escorrendo lentamente pela sua bochecha seguida por um soluço.

Corro para abraçá-lo, e Do Contra não precisa ser convencido para me abraçar de volta. Nimbus está ajoelhado, o rosto molhado pelas lágrimas e murmurando algo. Suas mãos se mexem freneticamente como se estivesse sentir o ar. Ele parece ainda mais destruído que Do Contra.

Meu corpo finalmente lembra o que eu acabei de fazer, acabo caindo, sem forças para suportar o garoto em meus braços. Ele não se importa, e me acompanha. Só tenho vontade de deitar e dormir, mas isso é culpa minha. Minha prioridade é tirá-los daqui caso as bruxas decidam voltar.

— Hey. – chamo a atenção de Do Contra. – Eu sinto muito, mas a gente precisa sair daqui.

— Eu... – soluça. – Você tem razão... – diz, se levanta e me ajuda também.

Ficar de pé é uma luta e a cada passo que damos parece que vamos despencar. Os dedos de Do Contra apertam minha manga enquanto caminhamos em direção ao Nimbus, este continua com o que estava fazendo.

O feiticeiro parece louco. O rosto vermelho, o cabelo bagunçado, se balançando pra frente e pra trás em agonia. Agora que estou mais perto posso ouvir algumas palavras que ele está dizendo, em sua maioria é ‘cadê?’ e ‘não’.  Por fim, ele grita e sacode as mãos como se elas estivessem com defeito.

— Já chega, mano. – Do Contra pede em uma voz embargada. – A gente tem que ir.

— Não! Eles estão aqui e bem, têm que estar. Me deixa continuar procurando.

— Nimbus...

— Quer ver? Eu vou-

— Não! – grita. – Nós vamos embora agora. Entendeu, Nimbus?

— Mas... – o feiticeiro olha para o mar de destruição pela última vez antes de se juntar a nós.

Quando Nimbus passa um braço pela cintura do irmão, voltamos a andar. Os irmãos choram baixinho enquanto cambaleamos em direção a floresta que cerca a estrada. Sei que tenho que traçar um plano, montar um abrigo, qualquer coisa, mas minha vontade de descansar nubla meus pensamentos.

Sinto que estou  beira das lágrimas, uma vontade irracional de berrar me domina, mas me mantenho quieta. Fazer tudo isso seria extremamente insensível, disso eu sei. Mas é que... É que... Me largo dos dois e sento ao pé de uma árvore qualquer.

Dane-se o plano. Minha mente está cheia de coisas e meus pés cheios de calos, não vou conseguir continuar. Estou prestes a dormir quando sinto os dois caindo ao meu lado. Amanhã lido com isso.

***

Eu me sinto bem melhor quando acordo.

É serio, é como se o mundo tivesse acordado de tão bom humor quanto eu. Tudo que aconteceu até agora parece uma piada de mau gosto, uma a qual posso rir. Até sei como ela deveria começar: “Dois órfãos e uma fugitiva entram em um reino dizimado...”

Com um sorriso em meu rosto me viro para acordar os irmãos, mas me deparo com nada. Meu coração acelera. Onde estão? Levanto-me com pressa, disposta a matar qualquer um que fez mal a eles.

— Não precisa se preocupar, eles estão bem.

Desnecessário dizer, minha reação é socar a pessoa. Meu punho está prestes a encostar em seu nariz quando sinto uma força me imobilizando. Não importa o que eu faça, não saio de meu estado congelado.

— Desculpa, isso foi muito suspeito, não é? – diz, um pouco assustada. – Meu nome é Magali, eu encontrei você e seus amigos desmaiados. Eu estive cuidado de vocês durante esse tempo.

Magali é pequena e frágil, seu rosto delicado e seus olhos dourados. Ela sim parece uma princesa. A força que me deixa congelada deve ser dela, ou seja, mais uma pessoa com características sobrehumanas.

Que legal...

Mesmo que toda essa situação seja muito incômoda, Magali me inspira algo confortável, familiar. Talvez seja por causa de sua carinha de princesa, toda as princesas que eu conheci eram bonitas como ela.

— Eu vou te soltar, tudo bem? Por favor, não me bata. – pede, saindo da direção do meu ataque.

 Num piscar de olhos, meus movimentos voltam e meu punho acerta o ar. Afasto-me dela, observando-a com cuidado. Ela é mais forte do que eu, por isso todo cuidado é pouco.

— Você é uma bruxa?

— Sim. – responde tristemente.

— Você participou do ataque contra o reino. – concluo.

— Não! Eu juro! – diz, desesperada. – Eu não concordo com esses ataques, eu nunca machucaria um inocente, te juro. Você precisa acreditar em mim.

Quero desconfiar, devo desconfiar, mas não posso. O que aquelas bruxas fizeram deveria me fazer acabar com ela aqui, mas ela parece verdadeira em suas palavras e, se ela quisesse, já poderia ter me machucado, certo? Além disso, a sensação de familiaridade não se esvai.

— Onde eles estão?

Ela sorri em alívio e sinaliza para segui-la. Mal damos três passos e Magali para, fecha os olhos e murmura alguma coisa. Uma lagoa aparece no lugar do que antes eram árvores, na beira estão Do Contra e Nimbus. Suspiro e corro na direção deles.

— Eles estavam piores que você, por isso trouxe eles pra dentro da barreira de proteção. – explica.

— E você ia me largar lá? – reclamo indignada.

 - Não! Não é isso, é que você estava tão confortável que eu fiquei com pena de mexer em você...

— Eu estava confortável apoiada em uma árvore?

Eu acredito nela, ela parecia bem sincera quando disse que nunca machucaria um inocente, mas depois de ver um reino carbonizado por causa do tipo dela... Não consigo conter minha irritação, prefiro que sigamos caminhos diferentes.

— Então ela já acordou? – uma voz masculina interrompe o que Magali ia responder. Ele tem uma expressão séria em seu rosto, sua postura é intimidadora e não parece o tipo de pessoa que deveria ser subestimada.

— Ele também é bruxo?

— Sim!

— Não! – Magali contraria irritada. – Cascão, dá pra parar de palhaçada e me ajudar?

— Nossa, Magali, como você é chata. – reclama. – Não pode nem mais brincar...

— Peraí, quem é você então? – essa gente é estranha demais para o meu gosto, eu realmente preciso sair daqui.

— E aí, garota? Eu sou o grande e incrível Cascão. – Ele vem para o meu lado, um sorriso enfeitando seu rosto. – Como você está?

Agora que ele está com a postura mais relaxada percebo que Cascão é só um garoto. Suas roupas são encardidas, como se ele passasse todo o dia brincando e se divertindo. Sua pele, assim como suas roupas, está suja. Ele parece inconsciente da tragédia que acabou de acontecer.

— Estou bem. – digo me levantando. - Tão bem que acho que eu deveria ir andando. Sabe como é, tenho que manter ele seguros. – coloco meus braços por debaixo das pernas e o pescoço de Do Contra, levantando-o. – Bem longe de seres malignos e tudo mais...

— Espera. – Magali interrompe. – Ele ainda não está completamente curado, se você o levar talvez ele nunca melhore.

Considero isso por um segundo. Tenho certeza que Do Contra e Nimbus ficariam felizes ao não se depararem com uma bruxa ao acordar, mas, se ela estiver sendo sincera, eles podem nunca acordar e nunca sentir nenhuma felicidade de novo.

Suspiro eu derrota e boto Do Contra em seu lugar.

— Isso aí, menina – Cascão coloca seu braço em torno dos meus ombros. -, vamos conversar mais um pouco enquanto eles não acordam.

— Meu nome não é menina. – digo de má vontade, observando Magali se aproximando timidamente.

— E qual é seu nome? – a bruxa pergunta.

— Mônica.

— Mônica? – o sorriso de Cascão parece aumentar. – Engraçado, meu amigo tá noivo de uma garota chamada Mônica, que nem você. – divaga. – Ele me disse que ela têm uns dentões iguais aos seus-

— Ei! – protesto.

— Coincidência, né?- continua, sem se perturbar por minha interrupção. – Ela também tem os cabelos curtos e castanhos, e... – ele para de repente, me encarando como se tivesse visto um fantasma.

— O que foi? – fico mais irritada.

— Magali, mostra a cabana.

— Mas...

— Por favor, Magali. – pede tremendo.

Mais uma vez Magali fecha os olhos e murmura algo, quando ela termina uma pequena cabana de palha aparece.  Sem perder tempo, Cascão agarra minha mão e me arrasta pela porta. Nem tenho tempo de reclamar. Lá dentro tem uma cama, em cima dela um garoto desacordo. Basta um olhar para seus cabelos espetados e o reconheço.

— Cara, seu noivo tava aqui todo esse tempo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Se sintam à vontade para comentar.
Até o próximo!



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