Another Tower escrita por Miss Angela


Capítulo 4
Mais Do Que Se Gostaria


Notas iniciais do capítulo

Então... Aparentemente não sou muito boa em cumprir prazos e acho que não vou mais estimar datas. De qualquer forma, me desculpe pelo atraso.



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Minha raiva é forte o suficiente para sustentar minhas pernas doloridas e sair da casa enxergando vermelho. Como ele se atreve? Do Contra me disse, me prometeu, que não iria me tirar de lá. E agora? E se o ogro descobrir? Eu tinha planos que envolviam um príncipe me salvando...

— Mônica?

Ai, céus! O príncipe! Meu príncipe, Príncipe Cebola. E se ele estivesse lá agora? Perdido e angustiado à procura da futura noiva. Ou talvez ele passado por lá, ficou cansado e foi embora. Só de pensar em todas essas possibilidades tenho vontade de voltar à desmaiar.

Eu preciso desse casamento. Afinal, e se meus pais não me quiserem mais? Onde vou morar? Tudo foi decidido no momento em que fui capturada; sou sequestrada, um príncipe aparece, nos apaixonamos, ele me salva, nos casamos e felizes para sempre! Essa é a fórmula da felicidade.

— Mônica!

Tudo, tudo perdido! Meus pais não me querem, meu príncipe não me quer e, se ele não foi capaz de manter uma promessa, Do Contra também não vai me querer. Mas é culpa minha, acredito no que me dizem muito facilmente. Como sou idiota, céus!

— MÔNICA! - Do Contra puxa meu braço, e, em meu estado, sou forçada a parar.

 - O que foi?

— Se acalma, tá legal! - ele passa os dedos pelo cabelo com um sorriso amargo. - Eu sei o que eu falei antes-.

— Antes? Sim, antes. Aparentemente você não é muito constante, né? - pauso por um segundo e continuo quando o vejo abrir a boca para voltar a falar. - Eu acreditei em você! Pensei que fosse mesmo meu amigo!

— É, quanta maldade minha! Te levar para um lugar seguro antes que você sangrasse até a morte!

— Acontece que eu estava esperando meu príncipe, okay? Mas eu nem sei mais se ele vai me esperar... - me interrompo ao perceber o olhar que ele me lança, uma mistura de exasperação e tristeza.

— Mônica... Ele não ia voltar, mesmo.

— Claro que ia, mas pra quê voltar se eu não estou lá?

— Não, não! Você está fazendo isso ser culpa minha! - ele suspira. - Quando um cara diz que vai te salvar de uma torre e não volta por mais de uma semana, quer dizer que ele não vai voltar! Todo mundo sabe disso.

— Eu o amo e ele me ama! Todo mundo sabe o que acontece quando um príncipe e uma princesa descompromissados se encontram pela primeira vez!

— Sim, uma primeira e única vez. Quanto amor se-.

— Tudo bem, já chega. - Nimbus interrompe.

O irmão de Do Contra parece frustrado com nossa discussão. Seus punhos estão cerrados e a boca pressionada em uma linha. A verdade é que não sei se deveria me preocupar com seu mau humor pois me acabei de reparar a engraçada capa de estrelas repousando em seus ombros. Nimbus limpa a garganta ao perceber meu olhar fixo na peça ridícula.

— Desculpe me intrometer, mas você, princesa, já parece recuperada o bastante para que possamos conversar. - seu tom é serio assim como sua expressão. Do Contra apenas revira os olhos.

Acontece que também não estou muito feliz com a interrupção, ainda estou com vontade de gritar poucas e boas para o senhor 'Quebrador de Promessa'. É melhor que esse garoto, com um gosto para moda questionável, se apresse no que for que tenha para dizer.

— Ok, fale, mas seja breve.

— Ogros não constroem torres.

Isso me faz hesitar, o que exatamente Do Contra disse para o irmão? E pra quê o interesse de qualquer forma? Mesmo que a generosidade fosse algo de família, e ele esteja apenas tentando achar uma forma de me ajudar é inútil. Nimbus é apenas humano.

No entanto, mesmo que a afirmação dele seja óbvia, ela ainda tem outro significado para mim. A simples afirmação me lembra que há uma possibilidade de que haja muito mais por trás do meu sequestro do que uma forma ilícita de conseguir ouro. Decido cooperar pois ele pode saber mais do que aparenta.

— É muito imprático.

— Uma estupidez completa. - comenta. Ficamos nos encarando por um tempo, completamente em silêncio.

— Vocês são horríveis, sabia? - Do Contra se intromete, balança a cabeça em desgosto e vira-se em minha direção. - Nimbus acha que o ogro não te prendeu por tanto tempo por nada e, claramente, você também pensa assim. Tem algo de errado nessa história.

...Bem, isso foi mais rápido do que achei que seria. Minha raiva contra o Do Contra diminuiu consideravelmente, mas não se extinguiu, é claro.

— A gente precisa voltar para essa torre, princesa. - Nimbus diz, ligeiramente sem graça.

— Não. - Do Contra responde antes de mim.

Isso é o bastante para que minha raiva volte, me acertando como um soco. Como se eu já não tivesse problemas o bastante, ele ainda quer decidir por mim. Ha! Nem nessa vida nem em outra, principalmente depois de ter quebrado sua promessa. Mas finalmente tenho a desculpa perfeita para continuar nossa discussão.               

— O que você quer dizer com 'não'? Ele falou comigo. Ou, assim como você, estou precisando prestar mais atenção no que os outros dizem? - Do Contra parece prestes a explodir de frustração assim que termino de falar.

— Mônica, eu não podia simplesmente te deixar lá, eu não podia deixar você morrer.  -  ele passa os dedos entre os cabelos. Imagino que seja um gesto que o ajude a controlar suas emoções, mas não é isso que quero. É a primeira vez que posso confrontar alguém em muito tempo e quero que dure.

— Pois você considerou, 'senhor-da-razão', que o ogro pode vir atrás de mim? Que o que aconteceu lá não é nada comparado ao que ele vai fazer se me achar aqui fora? - não responde. - Nimbus, fala pra ele.

— Hã...

— Nem pense nisso, Nimbus. - levanta o dedo indicador em direção ao irmão que se cala imediatamente. - Há um mundo inteiro aqui fora, Mônica, quando ele vier nos procurar você já vai estar de volta ao seu reino.

— 'Nos procurar'? Não se atreva a se meter-.

— Calado, Nimbus. - interrompo. - Quem disse que eu vou me esconder? Eu vou voltar pra torre e ficar lá.

— Gente...

— Então é isso? Você vai desconsiderar como eu me botei em risco pra salvar sua vida? - aceno uma positiva em resposta. - Mônica, qual é o seu problema?

Hesito, novamente. Qual é meu problema? Por que estou atacando-o dessa forma? Se fosse Do Contra em meu lugar, estaria me atacando? Quem sabe. Encaro a barra de meu vestido. Mas toda essa discussão é culpa minha, estou descontando nele o que aquele ogro nojento fez comigo mesmo que Do Contra tenha me salvado. Mesmo sabendo disso ainda tenho vontade de gritar com ele. Por quê?

Qual é meu problema?

— Ok... Vocês tem muito o que conversar.  - Nimbus começa. - Mas isso é importante, precisamos voltar à torre. É o único lugar onde podemos procurar por pistas. - assim que termina encaramos Do Contra.

— Isso é estúpido. - fala.  - Eu vou com vocês.

— Não. - Nimbus e eu dissemos ao mesmo tempo. - Essa viagem é muito perigosa para você, Do Contra. - o garoto continua.

— Não concordo.

Surpresa. Mas não importa, é mais seguro para ele dessa forma. Também é perigoso para Nimbus, a feia verdade é que prefiro que ele se arrisque à Do Contra. Mas o importante é que tenho que voltar antes que o ogro descubra e as consequências caiam para cima de mim, e se Nimbus está tão interessado...

— Eu enquanto você se recuperava, eu juntei as coisas para a viagem. Você já tá boa o suficiente, né? - pergunta, ignorando completamente o irmão contrariado.

— Sim.

— Ótimo, já volto.

Nimbus volta para a casa e me permito olhar em volta por um segundo. A casa é pequena e humilde, se localizando bem próxima a estrada de terra. Percebo que andei em diagonal ao sair da casa pois consigo ver a plantação de alguma coisa na parte de trás.

Não demora muito e volto meu olhar para Do Contra que agora sustenta um sorriso muito suspeito. Aperto os olhos no que espero ser uma expressão intimidadora, mas ele continua parecendo o gato que pegou o canário. Isso me pertuba até que me lembro de nossa briga, não estou mais com raiva, mas é difícil simplesmente deixar pra lá.

— Você ainda quer brigar? - pergunto.

— Querer, eu quero. - responde, o sorriso quebrando um pouco. - Mas estou sem vontade.

— Qual a diferença?

— Toda. - e volta a sorrir.

— Por que está sorrindo? - no entanto, antes que ele responda, escutamos o barulho de vidro se quebrando vindo da casa e Nimbus volta correndo.

— Pronto... - suspira, o rosto vermelho. - Pronto... Podemos ir, princesa?

— Claro.

— Isso, isso, vão... - Do Contra diz em uma voz muito estranha.

— O que aconteceu com ele?

— Sei lá. - respondo.

— Olha, pra lá - Do Contra aponta para o caminho deserto. -, é de onde vim com Mônica da torre, e você sabe disso. - se refere a Nimus que dá um pequeno aceno em afirmação. - Entretanto, o que você não sabe é que essa estrada dá para três caminhos. - o sorriso se alarga. - Qual você vai seguir?

Droga, ele está certo! Sei que desmaiei pouco depois de Do Contra ter chegado à torre. Devo ter passado todo o resto do tempo desacordada. Agora seremos obrigados a levar Do Contra pois duvido que ele simplesmente nos diga o caminho.

— Do Contra. - Nimbus começa com uma repreensiva, mas acaba suspirando, o corpo se curvando em derrota. - Só... Vamos logo.

— Claro, mano.

Começamos a andar em silêncio. Durante todo percurso me certifico de estar sempre ao lado de Do Contra, os braços apertados aos meus lados, a falta de descanso cobrando meu corpo. Após alguns minutos de caminhada, o Sol começa a pesar em sinal do início da tarde. Agarro a saia do meu vestido em frustração com o silêncio que parece me sufocar, então decido resolver isso com uma pergunta lógica.

— Onde estão seus pais?

— Estão no centro. - Nimbus, que anda um pouco atrás de nós, responde. - Eles trabalham na feira.

— E deixaram vocês aqui? Isso que é confiança.

— Não mesmo. – Do Contra sussurra.

Mais silêncio.

Continuamos em um ritmo calmo, mas cada parte de mim parece latejar. Preciso me concentrar o máximo possível para ignorar esse incômodo, isso sem contar o nó que se aperta em meu estômago à cada passo. Começo a repensar minha decisão quando os piores cenários se apresentam em minha mente. E se o ogro estiver lá, me esperando? E se ele me machucar? Machucar os garotos? E se, e se, e se, e se?

Agarro a manga de Do Contra

...

Ele não diz nada e continuamos normalmente.

Suspiro de alívio.

Quando chegamos, já é final de tarde. Subimos a torre sofregamente, quase caindo em vários pontos por causa do cansaço. Eu teria me sentado assim que entramos, mas o estado do lugar me faz congelar. Tudo está revirado, um balcão da cozinha partido ao meio, os trapos destroçados pelo chão, algumas rachaduras na parede claramente causadas por socos.

Vou morrer, é a primeira coisa que penso.

— Argh! – Nimbus treme. – Esse lugar está impregnado com... – ele parece prestes a desmaiar e seu irmão vai à seu socorro.

— Nimbus, mano, você tem que sentar um pouco. – Do Contra o ajuda à se sentar no chão. – O que foi?

— Essa é uma torre de bruxa. – murmura, os olhos fortemente fechados. – Muita magia... Mais de um tipo de magia.

— Como você sabe disso? – pergunto, mas ele apenas agarra seus cabelos e tenta se acalmar.

Enquanto Do Contra permanece firme ao lado do irmão, minha mente processa a informação que Nimbus deu. Não é surpreendente que essa torre tenha sido construída por uma bruxa, é algo bem comum afinal de contas. O mais perturbador deve ser o que está por trás de tudo isso. Não acho possível que tudo tenha sido feito da vontade do ogro de ser mais criativo, pegar uma torre só pela ‘classe’ do lugar é estúpido.

— Eu senti a magia lá de fora, mas estar aqui... – Nimbus diz quando está mais composto.

— Você sentiu? – não posso deixar de questionar. – Você é algum tipo de criatura mágica?

— Hã... – ele sorri desconcertado, lançando um olhar rápido à Do Contra. – Eu realmente não pensei que isso aconteceria assim-.

— Ele é tipo um mago. – Do Contra responde diretamente.

— O termo correto é ‘feiticeiro’. – Nimbus levanta devagar.  – Mas como-.

— Fala sério, mano. – revira os olhos. – Você anda por aí com essa capinha clichê, curou a Mônica de ferimentos sérios em três dias, sem contar com toda aquelas coisas estranhas que acontecem em casa. Você está praticamente implorando pra ser descoberto.

— Nunca pensei que você desconfiasse.

— Claro que não, você nunca presta atenção em nada. – assim que Do Contra diz isso, Nimbus faz uma expressão culpada, diferente do irmão que permanece neutra.

— Bem – o recém declarado feiticeiro suspirou. -, Mônica, como eu disse, essa é uma torre de bruxa. Se um ogro te aprisionou aqui deve ter um motivo superior. – ajeita sua postura e suas roupas.

Ter a confirmação disso parece surreal e me sinto um pouco enjoada. Quem poderia me odiar tanto ao ponto de me fazer passar por tudo isso? Um nó se forma em minha garganta. Talvez o alvo tenha sido minha família e eu não os pude proteger por causa da minha burrice. Eles podem estar sofrendo agora por causa da minha fuga.

De repente um zunido, depois outro e outro e outro. Figuras de imagem borrada por causa da velocidade em que estão aparecem pela janela. Um grunhido e Nimbus está no chão novamente em agonia, Do Contra com um olhar assustando tentando acudi-lo. Subitamente, o som para.

Um momento de relativo silêncio, apenas a respiração ofegante de Nimbus se fazendo presente. Então, uma explosão. Corro para janela para ver melhor e consigo enxergar o laranja e amarelo de flamas se erguendo aos céus. Mas parece errado, o fogo segue direções estranhas e improváveis mesmo para sua natureza caótica, quase como se fosse controlado...

— Uma horda de bruxas. – Nimbus é capaz de dizer, o irmão ainda ao seu lado. – Elas estão atacando o reino.

— Mamãe e papai...

— Vamos. – ordeno quando registro completamente o que está acontecendo

E, sem qualquer tipo de plano, começamos à correr em direção ao reino.  


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Se sintam à vontade para comentar.
Até o próximo!



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