Another Tower escrita por Miss Angela


Capítulo 3
Um Tipo de Força


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Sinto muito pela demora, esse capítulo estava pronto a décadas mas eu fiquei sem internet e sem o PC todos esses dias, então... É, sinto muito mesmo.
Gostaria de avisar também que, durante esse período sem postar, me senti muito mais animada para escrever essa fic e por isso ela vai se tornar uma long-fic. Haverão pequenas mudanças como o nome dos capítulos e a adição de personagens, mas os capítulos, até agora postados, continuam os mesmos.
Sem mais enrolação, boa leitura!



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Acho que nem se eu fosse a pessoa mais criativa existente conseguiria imaginar um mundo sem a variedade de espécies racionais que temos. A magia reina como a força mais poderosa, por isso fadas e bruxas são tão temidas, nenhuma criatura mágica pode ser vencida.

E ogros não são exceções à essa regra. Oh! Como eu gostaria de ser uma fada para simplesmente destruí-lo. Peraí, fadas destroem seres vivos? Ou só as bruxas? Não tenho certeza se virar uma bruxa vale a pena, mesmo que isso o afete de alguma forma.

Humanos são um dos seres mais fracos que já pisaram em terra, somos pequenas coisinhas quebráveis e cansadas. Acontece que eu sou (era?) diferente, minha força desmedida tinha a capacidade de... Quase qualquer coisa que eu quisesse. Diziam que eu era invencível.

Mas eu sou muito menos que invencível. A prova está aqui, em como sou incapaz de levantar pois nem meu próprio me obedece, em como não consigo parar de tremer e em como só posso, instintivamente, abaixar a cabeça para me defender do golpe que sei que virá.

O som está mais alto e isso quer dizer que ele está subindo. Tenho experiência o suficiente para saber que nenhum pensamento agradável aliviará esse momento, então deixo minha mente ficar em branco.

Não sei quanto tempo se passa, provavelmente míseros segundos mas é agonizante como se tivessem sido várias horas, até que escuto um baque contra a madeira do piso e depois uma risada.

— Levante, humana.

Não obedeço.

O agro solta um suspiro como se estivesse decepcionado e suas mãos vem pro meu cabelo puxando agressivamente, quase imediatamente sinto meus olhos lacrimejando. Ele me força à uma posição ereta e alinha seu rosto ao meu. Sei que está me encarando mas me recuso a abrir meus olhos enquanto sinto sua respiração pesada e nojenta contra mim.

— Abra os olhos. - ordena, seu tom bem humorado. Logo perderá a paciência. Não abro os olhos. - Obedeça!

Não.

E, como se eu fosse uma boneca de pano, me joga no chão com toda sua força. Sei como ele age, tenta me provocar procurando uma reação. O ogro espera um bom show para que possa se satisfazer, e eu já aprendi que participar disso nunca termina em algo melhor. Prefiro que acabe logo com isso.

Estou apenas vagamente consciente de quando ele começa a vociferar obscenidades, pois minha mente tenta excluir tudo que consegue. Um chute atinge minhas costelas e a dor se transforma em um formigamento anestesiador.

Outro chute, outro puxão em meus cabelos, um soco que arranca todo ar de meus pulmões. Lágrimas traidoras escorrem por meu rosto, no entanto tento me manter tão firme quanto posso. Logo passa, logo ele ficará entediado, e finalmente ficarei... Bem, um tempo sem ser agredida.

Então, tudo para. O ogro ainda está aqui, posso escutar sua respiração. "Vá embora.", penso, "Vá para que eu possa me curar, seu monstro.".

Ele não vai.

É impossível não sentir essa dor, é excruciante. O pé dele está pressionando minha cabeça firmemente contra o chão, usando mais força que nunca. Escuto pequenos estalos e sei que vêm de mim. Ele pretende estourar meu crânio.

Ótimo, como sairei dessa? Já não tenho a força de antes, e talvez nem isso fosse o suficiente. Não tenho nenhuma alternativa, tenho que ficar aqui e esperar. Com sorte morro antes que ele satisfaça seus desejos sádicos.

Seria fácil, só esperar. Mas eu quero tanto viver. Não tenho muito, mas as pequenas coisas que tenho me fazem vibrar com a vontade de continuar sobrevivendo. A lembrança do amor de meus pais, meu povo que acreditava em mim, o doce som de passos de burrinho, Do Contra, meu sonho de liberdade...

Ele decide focar em minhas costelas agora, sinto-as quebrarem, o "crack" abafado me traz náuseas. Tudo, tudo dói e eu deveria estar morta. Não morro. Continuo pelas coisas que amo, mesmo que não posso mais as ter ou jamais terei.

Quando acho que nem minha força de vontade será capaz de me manter viva o ogro para. O silêncio se faz presente e consigo traz um fiapo de esperança, no qual me agarro. Ele deve ter se cansado, deve estar indo embora.

...

Por fim, ele vai.

Me dou a permissão para desmaiar.
                                                                        ***

Acordo com o som de passos familiares e logo fico tonta. Dói, demais, mas consigo aguentar. A realização vem à meu encontro: estou viva. Mal consigo acreditar. Quer dizer, essa é a única explicação para minha dor, certo? Eu não sentiria nada se estivesse morta.

Tento me sentar, mas cada pedacinho de mim protesta, então tento olhar ao redor. Meus trapos estão espalhados e o balde tombado, a água esparramada está a poucos centímetros do meu rosto. Uma parte da minha mente se pergunta se o ogro trouxe comida e água.

O importante é que Do Contra deve subir a qualquer momento e, por mais que não devesse, me sinto envergonhada. Tenho certeza que estou horrível, incapaz de me levantar e completamente humilhada. Por mais que isso aconteça semanalmente não quero que ele me veja assim, gostaria que ele me visse como alguém mais forte do que realmente sou.

— Voltei, princesa! - no entanto, ouvir a voz de Do Contra me faz sorrir sem perceber. - Aconteceu alguma coisa? A corda estava... Mônica!

Ele vem para meu lado rapidamente, consigo observar pelo minhas pálpebras semi-cerradas suas mãos flutuarem em volta de mim, sem ter certeza do que fazer. Seu rosto está contorcido em uma expressão desesperada. Tenho vontade de suavizar as linhas de seu rosto com a ponta dos meus dedos.

— Eu... - e finalmente toca minha face, tão cuidadosamente que tenho a impressão que me transformei em vidro. Fecho os olhos. - Não! Não dorme. Eu... Eu vou buscar ajuda, já volto.

Antes que ele possa se levantar, reúno força para segurar sua roupa. Não consigo deixar de sentir medo, não quero ele vá. Decido que é melhor deixar que me veja assim do que ficar sem ele. Com os olhos completamente abertos, o encaro, esperando que entenda minha mensagem.

"Fique."

Do Contra lança um olhar para a janela da torre. Deve estar considerando os riscos de me deixar sem os cuidados necessários para minha melhora. Por fim, após deixar escapar um som agoniado, aceita ficar ao meu lado.

— Tudo bem, mas nada de dormir, hein? - propõe em uma voz apertada. Simplesmente pisco, "okay".

A esse ponto, ele parece mais composto, o suficiente para começar a falar comigo para evitar que eu durma. Conta sobre sua jornada até aqui, confessa sobre seu desejo de trocar seu velho burrinho por um hipopótamo. Isso arranca uma risada dolorida de mim, não esperava nada diferente dele.

Não rio dele, que dizer, é um pouquinho dele, sim. Mas não porque o enxergo como uma forma de palhaço, sinto que já o conheço o suficiente para considerá-lo meu amigo. Ha! É isso, em pouco mais de três dias Do Contra conseguiu conquistar completamente minha amizade.

— D...Do... - não consigo dizer seu nome, estou muito fraca. - DC - encurto. -, oi. - termino simplesmente.

É algo estúpido para se fazer em uma situação como esta, me forçar apenas para cumprimentá-lo. O pior é que só percebo que isso gastou todas minhas energias quando escuto sua risada se tornar ecoada e desmaio, de novo.

                                                              ***

A luz da manhã brilha contra meu rosto e é um conforto. Não morri. Já é um começo. Percebo que há algo passando na minha frente incessantemente, e, francamente não sei o que esperar. Por mais que me sinta melhor, não estou bem o suficiente para fazer qualquer coisa para me defender e só os céus sabem onde está Do Contra...

Do Contra!

Minha preocupação por ele é o suficiente para que eu abra minha pálpebras muito pesadas. Logo descubro que os movimentos incessantes são... Mãos? Essa são rapidamente substituídas por um rosto. É um garoto, seus cabelos são negros e seu comprimento alcança sua orelhas, seus olhos são bem puxados e seu olhar é curioso.

— Do Contra! - ele grita. - Vem ver, sua princesa acordou! - quase imediatamente Do Contra aparece.

— Graças à Odin! Você me assustou, princesa.

Analiso-o de cima à baixo, quem quer que esse outro cara seja não o machucou, mas outra coisa me chama à atenção. A torre é muito pequena, não tem paredes em seu interior, por isso é impossível que ele venha de outro cômodo se ainda estamos em minha tão conhecida prisão.

— Ondes estamos, DC? - minha voz ainda é fraca mas tento fazer minha expressão ser séria.

— Esse é meu irmão Nimbus.

Não é o que perguntei e, se fosse qualquer outra pessoa, eu diria que está evitando a pergunta de propósito. Só que esse é o Do Contra, e seu nome define literalmente suas ações e pensamentos. Tenho certeza de que se eu perguntasse qual a cor do céu ele me informaria as horas.

— Você estava bem machucada, se sente melhor? - o irmão de Do Contra pergunta, e não posso evitar em perceber as semelhanças físicas dos dois.

— Sim, obrigada.

— Tudo bem, então. Meu trabalho acabou por aqui, mas eu gostaria de conversar com você mais tarde princesa. - seu tom deixa bem claro que não foi um pedido. Ele lança um olhar severo para seu irmão e sai.

— Onde estamos, Do Contra? - repito mais forçadamente.

— Olha, você estava muito machucada. - começa em seu costumeiro tom entediado. - Eu te tirei de lá, estamos na minha casa.


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Notas finais do capítulo

Se não houver nenhum contratempo, o próximo capítulo sai ainda essa semana.
Até!



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