Heart-Shaped Letter escrita por Ariel F H


Capítulo 4
IV


Notas iniciais do capítulo

oi gays

decidi postar esse capítulo hoje pra dar uma aliviada no clima das eleições. tô cagado de medo do resultado dessa merda. votem consciente meus fofinho.

enfim, espero que vocês gostem do capítulo final. é pelo ponto de vista do will.

tô muito triste que acabou, eu tava adorando esse plot :(

muito obrigado por terem acompanhado até aqui ♥



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Já fazia quase um mês que Will estava sem suas cartas. Ele parou de escrever depois de toda aquela coisa com Austin. O irmão não tinha falado mais nada sobre os envelopes, então Will concluiu que, sim, ele as havia queimado. Típico.

Não sabia porquê é que Austin tinha alguma satisfação com aquilo, mas, de qualquer forma, o quarto de Will estava sempre trancado agora. Não podia correr o risco de Lee também tentar algo parecido e procurar por algo constrangedor nas coisas de Will.

Já tinha desabafado sobre aquele assunto no mínimo umas trinta vezes com Lou.

Fazia apenas alguns dias que Lou havia devidamente pedido desculpas tanto para Will quando para Cecil, então eles eram os três melhores amigos de sempre novamente, ou o mais perto que poderiam chegar com isso.

Cecil estava doente naquela manhã e não foi para a aula, então Lou e Will foram até a biblioteca durante o intervalo entre as aulas simplesmente porque era o lugar preferidos dos dois.

— Você pode escrever as malditas cartas pelo celular. — Lou sugeriu aos sussurros, depois de Will dizer pela milésima vez como sentia falta de as escrever. Os dois estavam no meio das estantes de livro, em pé, conversando baixinho. Gostava de estar ali. Lou era uma boa pessoa para se conversar. Ela sempre tinha algo a dizer.

— Não é a mesma coisa. — Will respondeu. Estava folheando um livro antigo nas mãos. —  Papel não é igual uma tela.

— Você é fresco demais.

— Olha só quem fala. Você coloca cebola do lado sempre que...

— É porque cebola é ruim!

— Não é não. Você é fresca. Cebola é...

— Solace?

Will achou que poderia ter quebrado o pescoço de tão rápido que se virou para encarar o dono daquela voz — e provavelmente Lou tinha feito o mesmo.

Ele precisou duas ou três vezes para ter certeza de que era ele mesmo.

E era.

Nico di Angelo.

Aquela era a segunda vez que ouvia Nico dizer seu nome daquele jeito.

Estava apenas com a blusa do uniforme. Vestia uma calça jeans rasgada, o coturno preto de sempre — Will gostava daquele coturno — e tinha uma caneta girando entre seus dedos da mão direita.

— Posso falar com você um pouco? — Nico perguntou. Estava olhando para Will.

Que.

Porra.

Está.

Acontecendo?

Nico continuava a encarar Will. Havia algo em seus olhos que Will não sabia nem como começar a decifrar.

O que deveria fazer?

Sentiu um dedo cutucar sua costela. Era Lou. Ele quase podia ouvir ela gritando: Responda ele, seu frangote.

Já tinha passado por aquilo uma vez, quando, semanas atrás, Nico apareceu do nada apenas para elogiar a sua redação.

Foi absurdamente estranho.

E teve aquele sorriso no meio do corredor. Espontâneo e lindo.

E totalmente um sonho de Will Solace.

Lou insistia que Nico tinha uma quedinha por Will. Ela fazia questão de repetir várias vezes, além de ser bem clara sobre Will ser um imbecil por não ir falar com Nico, mas ela também compreendia porque ele não tomava nenhuma iniciativa, só achava que um potencial ali estava sendo desperdiçado.

Will acenou positivamente para Nico, mesmo sem ter certeza de que era o que deveria fazer. Que droga, nunca sabia o que fazer perto dele.

Nico olhou para o lado de Will, para Lou, e apontou para ela com a ponta da caneta. Pareceu meio sem graça quando falou.

— Hã... Sozinho, quero dizer, em particular.

Will olhou para Lou. Os dois trocaram um olhar do tipo: QUE?

— É claro. — Lou disse, guardando o livro que estava em sua mão de volta na estante. — Te vejo depois, Will.

Will pensou em talvez se jogar no chão. Ele estava sozinho. Com Nico.

Era diferente de quando Nico o abordou no corredor. Ali, na biblioteca, não havia quase ninguém. O corredor estava sempre cheio.

— Desculpa ser inconveniente. — Nico falou. Will quis dizer que ele jamais seria inconveniente, mas se manteve quieto. Era incapaz de falar naquele momento. — Eu só queria, uh... — ele pigarreou. — Bem, eu estava vendo Buffy ontem... Ah, isso não tem importância, quero dizer, tem um pouco de importância, porque foi assim que eu percebi que tudo o que eu tenho feito é ver Buffy ultimamente e... Bem, eu já fiz o primeiro ano duas vezes e não quero ter de fazer o segundo também. — Nico pigarreou novamente. Will estava tentando seguir a linha de raciocínio dele, mas nada ali fazia sentido. — E aquele trabalho de biologia vale metade da nota final... E eu sou realmente ruim em qualquer coisa que não seja de humanas. O professor não vai com a minha cara então ele não vai aceitar me ajudar. Eu sei que você é muito bom em biologia, então... Você poderia dar uma olhada no meu trabalho?

Nico o encarou. Will ficou imóvel.

— Eu juro que não estou pedindo para fazer por mim. — Nico disse, um pouco apressado. — Eu já fiz, só que olhe e me diga o que está errado. Eu realmente preciso de nota e eu sei que tem alguma coisa errada.

Will engoliu em seco.

— Bem. — ele disse, hesitante, sem olhar para Nico. — E-eu posso tentar... Você pode me mandar ele por e-mail? — aquilo não era para ser uma pergunta, mas acabou saindo dessa forma.

— Ah, na verdade eu pensei que talvez nós pudéssemos nos encontrar hoje a tarde. Eu prefiro fazer isso cara a cara e papel é muito melhor do que uma tela.

Will o olhou. Nico deu um pequeno sorriso aconchegante.

— Você quer me ver hoje a tarde? — Will perguntou.

— Se você não puder tudo bem, digo... Eu sei que é estranho eu aparecer do nada e você com certeza tem coisas para fazer, então eu...

— Não! Quero dizer, e-eu posso... Hã... Sim, digo, o-onde?

— Tem uma cafeteria aqui perto que eu gosto muito. Você não mora muito longe, né? Me dê seu braço.

— O quê?

— Seu braço. — Nico repetiu. Ele segurou o pulso de Will e o virou para cima. Antes que Will pudesse processar qualquer coisa, Nico estava escrevendo alguns números no antebraço de Will, com a caneta. Jesus Cristo, ele está tocando em mim. Isso é o mais perto que ele já esteve... Respira, calma. — Pronto. Agora você tem meu número. Me mande uma mensagem que eu te envio o endereço e a gente vê se não fica muito longe pra você. E muito, muito obrigado. Você vai salvar a minha vida, Will Solace.

*

 

O que ele quer com vc afinal?

Essa coisa de corrigir trabalho eh mto bizarra

A entraga dessa merda eh daqui duas semanas

Eu acho q ele qr outra coisa cntgo

O que sera que ehhhhh

EU NÃO SEI CECIL EU NÃO TENHO IDEIA

Talvez ele queira dizer o quanto me odeia

Will wtf isso nem faz sentido

Pq ele te chamaria pra sair só pra dizer que te odeia

EU NÃO SEI. Tô chegando no lugar. O QUE EU FAÇO?

Talvez ele realmente queira que eu dê uma olhada no trabalho

Ele nunca presta atenção na aula de biologia, deve tá perdido

Não tenho ideia cara

Cuidado

Me mande notícias

Eu e Lou temos ctz q ele inventou isso...

Então

Dá um beijo nele

Dá outras coisas tb

Não perde a oportunidade

:p

 

Will não se deu ao trabalho de responder a última mensagem. Ele guardou o celular no bolso e entrou na cafeteria.

Nico já estava lá, como tinha informado por mensagem de texto.

Will não teve dificuldades de o encontrar, sentado em uma das mesas do canto. Não dava para não reparar em Nico di Angelo, ali, segurando uma caneca do que parecia ser cappuccino com chantilly.

Ele estava, como sempre, absurdamente lindo. Com a jaqueta de couro — que Will esperava que fosse couro sintético — , uma camisa de uma banda de punk rock dos anos 70 e o cabelo surpreendentemente ajeitado. Por que é que ele estava com o cabelo ajeitado dessa vez?

Will sentiu suas pernas fraquejarem enquanto caminhava até ele.

— Ei, Solace. — Nico disse, com um pequeno sorriso, assim que o viu. — Você quer um cappuccino ou alguma coisa assim? Eu posso pagar pra você.

Eu posso pagar pra você.

Alguma coisa no estômago de Will se revirou. Ele se sentou na cadeira em frente à Nico, pensando em como diria aquilo. Colocou a mochila que trazia nas costas ao seu lado, no chão. Não tinha muita certeza do que deveria trazer, então acabou trazendo o livro de biologia, só para o caso de precisarem.

— Eu não gosto de nada com cafeína. — falou, por fim, se sentando um pouco desconfortável. Qualquer coisa com café o ajudava a ficar mais ansioso que o normal.

Era bem ruim.

— Ah, okay. — foi tudo o que Nico disse.

Will olhou para o espaço da cafeteria por um instante. Não era muito grande. Havia apenas mais um homem, no fundo, sozinho, e duas garotas há duas mesas de distância deles, cada uma comendo um pedaço de bolo.

— Então você é mais do tipo de pessoa que gosta de chá?

Olhou para Nico. Ele estava com os braços cruzados na mesa, com as mangas da jaqueta puxadas até quase o cotovelo, olhando para Will com uma atenção um pouco exagerada. Will sentiu o rosto ruborizar.

— Eu acho que sim. — conseguiu dizer, fazendo esforço pra não gaguejar. — Você não gosta de chá?

— Gosto. Mas prefiro café, acho. Sempre achei que você preferisse café.

Nico levantou uma das mãos e apoiou o rosto ali. Will piscou, se segurando para não olhar muito para a frase em italiano tatuada no antebraço dele.

Aquela conversa estava estranha.

—  Eu não tenho nada contra café. — Will disse, mesmo sem saber porque estava falando aquilo. — Só não gosto do gosto. E do efeito. E do cheiro.

Nico deu uma risada.

— Acho que sobra só a água quente, então.

Will forçou um sorriso enquanto Nico bebia um longo gole do próprio cappuccino.

Colocou as mãos nos bolsos da jaqueta, então falou:

— Então... O trabalho?

Não sabia o que fazer, muito menos o que dizer.

Will viu Nico apoiar a xícara novamente na mesa. Ele olhou para Will como se de repente estivesse perdido.

— Ah, certo. Bem…. Na verdade, não é bem sobre o trabalho que eu quero falar com você.

Will sentiu como se alguém estivesse puxando seu intestino para fora do corpo.

Ele estava certo. Aquilo era algum tipo de brincadeira imbecil. Não tinha outra razão para Nico ser gentil daquela forma com ele. Isso explicava o elogio repentino sobre sua redação. Explicava aquele sorriso no meio do corredor. Will era só um alvo de alguma brincadeira estúpida. Tinha de ser isso.

Não ficaria surpreso se os amigos de Nico aparecessem do nada e começassem a rir da sua cara.

Will abriu a boca, mas, antes de dizer qualquer coisa, viu Nico buscar alguma coisa dentro da própria mochila, que estava em seu colo e Will não tinha reparado até então

— Eu tenho a teoria de que você não sabe que elas foram enviadas pra mim. Eu estou certo?

Will não conseguiu responder, porque não conseguia respirar.

Nico estava segurando uma carta nas mãos.

Will reconheceria aquele envelope em qualquer lugar.

Uma.

De.

Suas.

Cartas.

Uma das cartas que Will escreveu.

Que Austin supostamente colocou fogo.

Como você conseguiu isso? — a voz de Will saiu estranha, como se não fosse ele que estivesse falando.

— Eu só… Recebi elas pelo correio mês passado.

Meuirmãocolocoufogonelasnãoerapravocêestarcomelas.

Nem Will entendeu direito o que falou. Ele espalmou as mãos na mesa, querendo voar em cima de Nico para pegar a merda da carta, mas acabou só encarando ele.

Nico coçou a testa, desconfortável.

— Eu… Você quer elas de volta?

É claro que sim!

A cena de Nico passando treze cartas pela mesa para Will rodou em sua mente lenta e angustiadamente. Ele contou, rápido, para checar se estavam todas ali. Estavam, graças aos deuses.

Will pegou a mochila ao seu lado, desajeitadamente, e colocou todas as treze ali dentro. Deixou a mochila entre os braços e a apertou contra si, então olhou para Nico.

— Você não… Não leu elas?

Ele não poderia.

Não.

Ele não…

Nico confirmou com a cabeça.

Ah, merda.

Will escondeu o rosto com as mãos. As coisas que ele tinha escrito ali. Todas as coisas.

As coisas sobre a própria sexualidade, sobre as brigas dos pais, sobre seus amigos...

As coisas sobre Nico.

Lentamente, Will tirou as mãos do rosto. Nico o estava encarando com uma expressão que Will não sabia decifrar.

— A gente pode conversar? — a voz de Nico estava suave e gentil, apesar de tudo.

Will engoliu em seco.

— Você não precisa fazer isso.

Nico piscou.

— Isso o quê?

— Isso… É… Eu estou indo embora agora.

Will se levantou rapidamente, colocando a mochila no ombro e dando meia volta para a porta da cafeteria.

— Não, espera!

Uma mão segurou o pulso esquerdo de Will. Uma corrente gelada passou em seu corpo. Ele se virou para encarar Nico.

— Converse comigo, por favor. — Nico disse, baixinho. Eles estavam incrivelmente próximos. Ele não soltou Will. — Eu tenho pensado nessas cartas há quase um mês. Eu tentei conversar com você antes, mas não sabia como.

Will tentou se soltar do aperto, mas não conseguiu. Nico era muito mais forte.

— Não. — Will murmurou. — Você já mostrou isso para algum de seus amigos, não mostrou? Isso é só pra vocês rirem de mim. Você não precisa fazer isso. Eu já entendi. Eu sou a piada.

— O quê? Não, Will. — de algum jeito, Nico o puxou para mais perto. Jesus, ele era realmente forte. Antes que desse conta, seus rostos estavam mais próximos do que nunca. — Eu não mostrei pra ninguém. Isso não é uma brincadeira. Você não é uma piada.

Will olhou para os olhos de Nico. Aquilo era surpreendente. Se bem que não seria muito difícil de ele estar mentindo.

— Me solta. — Will pediu.

Nico demorou alguns segundos para soltar Will. Ele deu um passo para trás também e levantou os braços para o alto, num gesto de rendição.

— Desculpa. — Nico disse. — Eu sei que isso é doido, mas você precisa acreditar em mim... Por favor, converse comigo.

Will ficou estático, o encarando. Havia alguma coisa nos olhos de Nico que simplesmente não o deixava sair correndo dali. Nico já achava que ele era um maníaco obsessivo. Não tinha como piorar. O que ele perderia ficando ali por mais alguns minutos?

Respirou fundo e se sentou novamente na cadeira. Nico fez o mesmo.

Will encarou as próprias mãos. Não podia olhar para Nico.

Aquilo devia ser um pesadelo. Não podia estar acontecendo de verdade. Por favor, alguém me acorde.

— Você disse que seu irmão as enviou? Eu sinto muito que ele tenha feito isso. De verdade.

Will não respondeu. Sentia seu rosto ficando cada vez mais vermelho.

— Eu pensei que é injusto que eu saiba tantas coisas sobre você agora e você não saiba muito sobre mim.

Will continuou em silêncio.

— Por que nunca me contou que fala italiano?

— Por que eu te contaria algo assim?

Will ainda encarava as próprias mãos. Sentia tanta vergonha.

Ele ouviu Nico respirar fundo.

— Eu tenho uma cicatriz na coxa esquerda que, dependendo o ângulo que você olha, parece o rosto da Marilyn Monroe. Jason diz que não parece, mas eu acho que parece sim.

Will olhou para ele, achando que tivesse ouvido errado. Não fazia sentido.

Mesmo assim, Nico continuou:

— Eu só fui aprender a andar de bicicleta sem rodinhas aos nove anos. Foi assim que eu ganhei a cicatriz, inclusive. E eu só consegui andar sem rodinhas porque minha irmã me chamou de frouxo e eu tinha que provar que eu era corajoso. Mas isso não é o mais constrangedor da minha vida. O mais constrangedor provavelmente foi quando minha madrasta me pegou vendo pornô. Pra piorar foi assim que a gente se conheceu. Ela achou que não tinha ninguém em casa, sabe? Ela foi buscar alguma coisa pro meu pai e confundiu as portas dos quartos. Mas o pior mesmo é que ela decidiu aparecer quando eu estava vendo o tipo de pornô mais bizarro… E aí a gente ficou se encarando, eu com uma mão dentro da calça e outra mão desesperado tentando fechar a merda daquele site. Mas nada supera como…

— Por que você está dizendo essas coisas?

— Eu falei que acho injusto que eu saiba tantas coisas sobre você e você não saiba quase nada de mim, não falei? Estou tentando mudar isso.

Will não tinha como responder aquilo. Ele desviou o olhar, ainda envergonhado.

— Você não precisa fazer isso.

— Eu sei. — Nico disse, simplesmente. — Ah. Eu repeti o primeiro ano porque surtei quando minha irmã morreu, então faltei a quase todas as aulas.

Will gelou quando ouviu isso. Levantou o olhar lentamente para Nico.

— Você fez essa pergunta umas duas vezes, nas cartas. — ele explicou.

Nico havia dito aquilo tentando soar da maneira mais casual do mundo, mas Will sentiu na forma como a postura dele ficou rígida e sua voz falhou um pouco que não havia nada de casual naquele assunto.

— Eu sinto muito. — ele disse. — Eu não deveria…

— Tá tudo bem. — Nico o cortou, então deu um pequeno sorriu. — Eu sei que parece que eu não estou nem aí pras aulas e por isso reprovei. É só que eu surtei. — ele deu de ombros. — Enfim, vai contar como ficou fluente em italiano? Ou eu preciso de mais uma história pra ganhar essa informação sobre você? Eu estou bem curioso.

Will comprimiu os lábios em uma linha reta. Aquela conversa toda estava estranha, mas Nico parecia realmente receptivo...

— Meu pai é latino. — Will explicou. Sua voz estava baixa. Merda. Ele se esforçou para falar mais alto. —  E-ele sempre falou comigo em espanhol então eu aprendi desde cedo. Espanhol, italiano e francês são bem parecidos então... Não é muito difícil depois que você pega o jeito.

— Vocês fala quatro línguas?!

— E-eu ainda não sou muito bom em francês.

— Isso é muita coisa, Will, eu só aprendi inglês porque fui obrigado. Você é a pessoa mais inteligente que eu já conheci na vida.

Will sentiu suas bochechas ficarem vermelhas novamente.

— Isso não é verdade.

— Você pode só aceitar meu elogio, sabe? Você é realmente inteligente. Muito mais do que pensa que é.

Will sentiu algo dentro de seu peito crescer. Ele sorriu minimamente para Nico. Ele era tão gentil.

Que merda. Nico ser gentil não ajudava em nada. Estava tão na cara onde aquilo iria acabar.

Nico iria dizer que, ok, bacana Will gostar dele, mas Will Solace era Will Solace. Ele não merecia alguém como Nico di Angelo.

— Você… — Will começou, então pigarreou. — Você realmente não mostrou pra ninguém?

Nico negou com a cabeça.

— Eu só contei para Jason, mas não falei sobre as coisas que estão escritas. Ele só sabe que elas existem.

Will não sabia como reagir àquilo, então apenas ficou em silêncio.

Nico já estava com todo aquele lixo escrito por Will há um mês, ou até mais. Não sabia quando é que Austin as colocou no correio. Se Nico quisesse rir da cara de Will ou pregar alguma peça, ele já teria feito isso. Se Nico quisesse, sei lá, tirar cópias das cartas e sair entregando pelo colégio, ele já teria feito.

— Obrigado. — Will falou. — Por não mostrar pra ninguém, digo. E-eu… Isso tudo… Não era pra ninguém ver. E-era só uma… Coisa que eu fazia, sabe? Não significa que… Eu não… — Will respirou fundo. Que merda. Ele precisava explicar aquilo tudo. Explicar porque as cartas existiam. Mas ele se deu conta de uma coisa: Nico já sabia porque elas existiam. Estava escrito na primeira das cartas.

Will queria sumir. Ele cruzou os braços na mesa e escondeu o rosto entre eles. Respirou profundamente uma, duas, três vezes. Sentia a palma de suas mãos suando.

Ele era tão patético.

— Ei, tá tudo bem. — ouviu Nico dizer. — Eu tinha um diário quando era mais novo. Sei que não é exatamente a mesma coisa, mas eu surtaria se alguém lesse ele.

Will levantou o rosto novamente, mas não olhou para Nico. Secou as palmas das mãos na calça jeans.

— Eu não acho que você seja patético, Will. Eu te acho incrível, mesmo antes disso tudo acontecer. Você é a pessoa mais inteligente da nossa classe, sabia? Os professores falam disso toda hora. E eu concordo. Você definitivamente vai ser um ótimo médico. Eu tenho certeza.

Will continuou a encarar as próprias mãos, então estralou alguns dos dedos. Sem levantar o rosto, falou:

— Você está dizendo isso só porque acha que eu sou patético.

— Will. Olhe para mim.

Will olhou.

Nico estava com os olhos vidrados nele. Will queria ser capaz de olhar nos olhos de alguém daquela forma.

— Você não é patético.

Will mordeu o lábio inferior e olhou para o lado. As duas garotas ainda estavam lá, mas não havia mais nenhum bolo.

— E — Nico continuou. — Você definitivamente tem um ótimo gosto literário.

Will virou o rosto para ele novamente.

— Eu peguei todas as suas referência ao Bukowski. — Nico explicou, com um pequeno sorriso.

— Ah. — Will afundou na cadeira. Era estranho falar sobre isso. — Eu não sabia se você realmente gostava dele.

— Gostar é eufemismo. Ele é meu autor favorito. Qual é seu autor favorito?

— Isso é… Uma pergunta difícil.

— Eu concordo. Você pode me responder isso outro dia… Então... — Nico limpou a garganta, parecendo nervoso repentinamente. — Tem esse cinema meio precário lá por perto da minha casa... A pipoca é muito ruim, mas... Eles passam filmes estrangeiros. Tem um filme italiano em cartaz que eu quero muito ver. Eu sei que o cinema italiano não é dos melhores, mas... Quer ir comigo?

Will piscou, confuso. Ele não podia ter ouvido o que achava que tinha ouvido.

— Você... Você e-está me chamando para ir ao cinema?

Nico confirmou com um aceno.

— Você não precisa aceitar se não quiser. Eu só achei que seria legal, sabe. Eu gosto da minha língua nativa e você é a única pessoa que eu conheço aqui além do meu pai e da minha madrasta que fala fluente. Além disso, você é uma ótima companhia. E eu posso te contar mais algumas coisas sobre mim, pra gente entrar em pé de igualdade. Só que fique avisado, eu gosto de falar de mim mesmo, então você vai querer que eu cale a boca em algum momento.

Will engoliu em seco, sentindo-se absurdamente estranho.

Não.

Aquilo não podia estar certo.

— Você... Promete que não está fazendo isso por pena? Só por que acha que eu sou patético e preciso de ajuda?

Ele olhou para Nico, prestando bem atenção em seus olhos.

Precisava daquela confirmação.

Sì, lo prometto.sim, eu prometo.

O mais incrível é que Will acreditou.

Will deu um pequeno sorriso. Queria pensar em algo em italiano para dizer, mas estava nervoso demais para isso.

— S-sim, então. — Will pigarreou. — Quero dizer... Cinema parece legal.

Nico sorriu.

Will abaixou o rosto, envergonhado. Encarou as próprias mãos. Como é que ele tinha acabado ali?

— A propósito. — Nico disse. — Eu acho que nossos filhos deveriam levar os nossos dois sobrenomes, não apenas o meu.


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