Heart-Shaped Letter escrita por Ariel F H


Capítulo 3
III


Notas iniciais do capítulo

oi gays :P

to mto feliz que cês tão gostando dessa fanfic e da personalidade que eu dei pros dois, me deixa feliz demais ♥

to um pouco triste porque depois desse só tem mais um cap :( mas tudo bem isso a gente supera

enfim, muito obrigado pelos comentários e espero que gostem do cap ♥



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— Você acha que é estranho?

Nico parou de brincar com o isqueiro por um instante — ele sabia que não deveria ficar acendendo e apagando repetidamente sem motivo algum, mas não conseguia não ficar olhando para a chama quando estava entediado.

Levantou a cabeça para olhar Jason, ao seu lado, sentado na cama.

— Não. — respondeu, se apoiando nos cotovelos para ter uma visão melhor do amigo. — Você acha que é?

Jason deu de ombros e mordeu a ponta de um dos dedos, ainda olhando para a tela do notebook que estava apoiado em suas pernas cruzadas. Nico suspirou. Conhecia Jason o suficiente para saber que ele mordia coisas quando estava nervoso ou pensativo demais. Foi assim que ganhou aquela cicatriz no lábio.

Voltou a deitar a cabeça na cama e encarou o teto do quarto de Jason.

— Não é estranho, Jay. Nós só beijamos o mesmo garoto. Isso acontece o tempo todo.

Jason fez um barulho estranho com a garganta.

Beijamos é sintetizar demais o que a gente fez.

Nico riu.

— Não faz diferença. — ele disse. — A menos que você seja do tipo que diz coisas como Chupou meu pau por tabela. Aí seria estranho. E eu te daria um soco na cara porque é uma coisa muito ridícula pra se dizer.

— Você sabe que eu não falo Chupou meu pau por tabela. Só é estranho pra mim. Essas coisas tem sido estranhas.

Nico não respondeu. Ele sabia que as coisas estavam um pouco complicadas para Jason. O garoto tinha aceitado a própria sexualidade a pouco tempo, e saído do armário a menos ainda.

Quando se conheceram Jason estava tendo uma crise. A primeira conversa em que teve com Nico, Jason estava tão bêbado que mal parava em pé. Nico o segurou, então eles tiveram a primeira conversa mais inusitada de todos os tempo.

Jason segurava uma latinha de cerveja vazia com as duas mãos quando disse para Nico:

— Eu te admiro desde a primeira vez em que te vi. Percy me contou que você saiu do armário aos treze anos e tipo uau. Queria ter essa coragem.

Nico riu, então se deu conta do que aquilo significava.

— Você é gay?

— Não. Eu sou alguma coisa no meio, eu acho.

— Alguma coisa no meio? Não tem como ser meio gay, Grace. Todas as sexualidades são inteiras.

— Eu sou. Eu não gosto só de meninos.

— Então você é bi? Pan? Sem rótulos? Ou… Outra coisa?

— Eu não entendi metade do que você disse.

Acabou que nesse momento Jason tentou se apoiar na parede, então caiu. Os dois riram sobre isso por meia hora, porque Nico estava bêbado também.

No dia seguindo, com ambos devidamente sóbrios, Nico explicou para ele sobre algumas sexualidades não-monossexuais. Sentia um pouco de orgulho por ser até bem estudado no assunto. Lá pelos quatorze anos Nico passou por uma fase em que se perguntou se não gostava de garotas também — spoiler: ele não gosta, ao menos não de uma maneira sexual ou romântica — então pesquisou por muito tempo sobre todas as sexualidades.

Acabou que Jason se encontrou muito bem representado com a bissexualidade e, inspirado por Nico, como ele mesmo disse, saiu do armário para os amigos e para a família não muito depois disso.

Nico voltou a levantar o rosto para olhar para o amigo.

— Alguém tem pegado no seu pé? Seu pai… ?

Jason negou com a cabeça. Ele tentou parecer casual, mas Nico consegui sentir como aquilo o deixava triste.

— Minha mãe. É engraçado, achei que ela é que aceitaria melhor. Ela… — ele engoliu em seco, encarando a tela do computador, mas sem olhar para ela realmente. — Ela disse que adolescente com hormônios demais e que um dia eu vou acabar percebendo que não posso ficar saindo com meninos e com meninas como se fosse normal.

Nico não sabia o que responder. Ele sempre, sem nenhum momento de dúvidas, teve apoio da família toda.

Seu pai, por mais distante que fosse, nunca deixou brechas sobre achar minimamente errado a forma ou com quem Nico se relacionava. Ele sabia que era bem privilegiado nisso. A maioria das pessoas não tinha a mesma sorte.

— Eu acho que vai demorar um pouco. A internet está lenta. — Jason disse, trocando de assunto ao mesmo tempo em que informava a Nico a situação do filme em que estava tentando baixar ilegalmente. — Quer fumar um cigarro enquanto isso? Na janela.

Nico concordou com um aceno. Jason deixou o notebook em cima da cama e os dois foram até a janela do quarto absurdamente grande.

Enquanto Jason acendia o cigarro dele, Nico perguntou:

— Você está ansioso com alguma coisa? Eu sei que você não é muito de fumar e geralmente as pessoas fumam quando estão ansiosas.

Jason negou com a cabeça, soltando a fumaça pelos lábios. Nico pegou o isqueiro de sua mão e acendeu o próprio cigarro.

— Não. — Jason disse. — Quero dizer, talvez. Pensar em minha mãe me deixa estranho. Não quero falar disso. Quero que você me diga o que vai fazer sobre o Solace.

Nico deu uma longa tragada antes de responder.

Já fazia duas semanas. Ele tinha contado ao amigo sobre as cartas que recebeu de Will Solace, mas não as mostrou. Depois que leu algumas, decidiu que não deveria. Mesmo assim, Jason estava o pressionando para que mostrasse para ele.

— Eu não sei. — respondeu, por fim, se apoiando no parapeito. — Eu… Acho que ele não enviou elas  pra mim, na verdade.

— Achei que tinha dito que o nome dele estava nos envelopes.

— E estão. — Nico olhou para baixo. Jason morava no quarto andar de um prédio. Gostava de ver as pessoas andando lá embaixo. — Só que em algumas cartas ele diz explicitamente que não quer que ninguém as leia e que as endereça para mim mesmo sabendo que eu nunca vou ler.

— Eu falei que ele é estranho.

— Ele não quer que eu leia, Jason.

— Ele coloca o seu endereço.

— Acho que alguém enviou elas por o consentimento dele. Não sei. O jeito que ele fala… É estranho.

— Você leu todas as cartas?

— Mais de uma vez.

— Essa história fica cada vez mais bizarra… Ele sabe que elas foram enviadas, não sabe? Faz dias já, ele deve ter notado a falta delas.

— Não sei. Talvez ele não saiba que foram enviadas… Quero dizer, ele estaria me tratando diferente, né? Mas não, continua o mesmo de sempre. Eu observei ele um pouco.

— Ótimo. Agora além de ele ser seu stalker, você é o stalker dele.

— Jason, não é assim. Não é simplesmente ser stalker.

— Você realmente não vai me contar o que ele diz nas malditas cartas?

Nico mordeu o lábio. Ele sabia que não devia.

Na maior parte do tempo Will dizia que estava apaixonado por Nico e que não queria que ninguém soubesse disso.

Nico sentia que devia cumprir isso: fazer com que ninguém mais soubesse. Se estivesse certo e Will realmente não tivesse consciência de que as cartas foram mandadas, além de ele sentir uma angústia imensa com a ideia de que alguém lesse aquelas coisas… Isso era realmente ruim.

Já tinha pensado que aquilo poderia ser apenas alguma pegadinha. Alguém fingindo ser Will para que pensasse que ele estava apaixonado por Nico, mas não fazia sentido. Quero dizer, quem iria se beneficiar com isso? Sem chances que aquilo fosse apenas uma brincadeira.

Só de ler as palavras que o garoto escrevia, Nico queria proteger Will Solace de qualquer coisa que o fizesse mal.



*



Nico mordeu a ponta da língua levemente, como costumava fazer quando estava pensativo. Ele pensou em dar a volta e seguir pelo caminho oposto, mas lá estavam seus pés, se movendo em direção a Will Solace. A conversa com Jason dias atrás havia sido um empurrãozinho para aquilo

Fez esforço para colocar usar melhor expressão de Ei, eu sei que eu pareço um bad boy de um filme adolescente meio ruim, mas eu sou legal e se encostou em um dos armários ao lado do de Will. O garoto estava pegando algum livro dentro do próprio armário e colocando na mochila, então só percebeu a presença de Nico quando ele falou:

— Ei, Solace.

O rosto de Will pareceu uma mistura de surpreso e assustado quando ele se virou para Nico, e quase deixou o livro que estava em sua mão cair.

Nico reprimiu a vontade de suspirar. Jesus, Will era totalmente o seu tipo.

Ele sempre teve um fraco por meninos de cachinhos no cabelo. Os cachinhos de Will eram lindos.

Nico cruzou os braços. Will estava olhando apenas assustado para ele agora.

— Eu só quero dizer que eu amei a sua redação. — Nico disse, rápido. Ele sabia que Will provavelmente estava tendo um troço de ansiedade. — É realmente muito boa.

O professor de literatura havia passado como atividade uma redação crítica sobre um livro qualquer do Allan Poe. Acontece que metade da sala fez a atividade de forma errada, incluindo Nico, que esqueceu do dever e o fez nos últimos cinco minutos. A redação de Will foi lida em voz alta pelo professor como exemplo de uma atividade bem feita.

Will abriu a boca e pareceu travar por um segundo. Suas bochechas estavam ficando vermelhas.

— Ah. — ele disse. — Muito obrigado?

Agora ele parecia mais confuso do que surpreso.

— De nada. — Nico respondeu. — Só queria ter certeza que você soubesse que é um ótimo escritor.

Então Nico virou-se de costas e foi andando em direção à próxima aula do dia.

Ele precisava contar isso para Jason.



*



É engraçado quando você está pensando em uma pessoa e ela aparece na sua frente bem no momento.

Nico pensou nisso quando esbarrou com Will no corredor.

Bem, eles não esbarraram exatamente. Só aconteceu de estarem seguindo direções opostas no mesmo momento.

Nico sorriu para Will. Achou que ele fosse desviar o rosto, mas não. Will sorriu de volta. Timidamente, mas sorriu.

Aquilo fez o estômago de Nico dar duas voltas. Inferno, aquele garoto tinha de ser tão lindo e fofo?

Ele estava vestindo o uniforme, como sempre, mas ele ficava tão fofo de uniforme. Que droga.

Já fazia um mês. Nico precisava ter uma abordagem mais direta com Will Solace.

Não dava mais pra beijar meninos aleatórios com cachinhos loiros no cabelo e dizer para si mesmo fingir que eles eram Will Solace.

Nenhum deles tinha cachinhos tão bonitos.


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