Venom escrita por Lua Chan


Capítulo 4
03. Pedro Joaninha me defende




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MAGNUS

 Perdi minha própria aposta - como sou inútil -, pois Quíron foi o primeiro a dizer algo. Aparentemente ele estava perplexo demais para ficar na dele, apreciando (seja lá o que havia de tão interessante) o lado de fora da janela. Seus cascos faziam barulhos mais marcantes do que quando ele estava lá fora, na floresta. Aquilo me fez lembrar dos bodes de Thor, que sempre imploravam ao seu dono para não serem comidos. Um arrepio, por fim, formou-se em meu estômago (isso começou a acontecer mais constantemente, desde que acordei). Eu ainda estava muito confuso. Precisava saber o que estava fazendo aqui...

— Você não se lembra do que aconteceu? - disse ele, numa mistura de raiva e desconforto. Era como se Quíron pudesse ler minha mente - Quem fez isso com você? Odin? Heimdall?

Engasguei num súbito. Não sei o que me deixava mais impressionado: o fato de ele saber tais nomes ou por ter ignorado questionamentos sobre eu ser um semideus nórdico. Percy e Annie pareciam compartilhar da mesma curiosidade, enquanto Dionísio apenas tomava uns goles de sua bebida.

— Uh... e-eu não sei. Não me lembro de nada, senhor.

Ele murmura algo no que presumi ser grego antigo. Nota mental: se tiver tempo, lembrar de pedir a Annabeth para me ensinar uns palavrões em grego (seria irado). Quíron ainda sussurrava palavras em outra língua para o sr. D, mas os dois semideuses adolescentes estavam mais familiarizados com a linguagem de ambos adultos. Após uma sessão calorosa de xingamentos entre Dionísio e Quíron (adivinhem só em que idioma), eles finalmente olham pra mim com bondade, como se eu fosse um filhotinho indefeso e perdido.

— Certo, filho. - disse Quíron quase que instantaneamente - Enquanto não soubermos o que houve, preciso que fique por um tempo no acampamento. Será que é demais pra você?

"Demais seria enfrentar um dragão e quatro gigantes num só dia", quis responder, mas senti que lá no fundo, ele não entenderia a analogia. Ah, e eu não queria soar presunçoso como um certo cara do vinho.

— De boas.

— Qual é seu parente divino? - sr. D questiona, como se fosse algo realmente significante.

Fiquei imaginando o que eles diriam se a resposta fosse Loki ou talvez Hela. Eles tinham a mesma malícia correndo em suas veias, era de família. Um mal que, felizmente, minhas duas amigas - Samirah al-Abbas e Alex Fierro - não tiveram o desprazer de herdarem. De qualquer forma, mostrei uma tatuagem que fiz há umas semanas quando estava no Hotel Valhala - descobri que um de meus amigos próximos de lá, um cara chamado Mestiço Gunderson, sabia fazer umas runas legais -. Parecia um "F" meio torto para os leigos, mas para mim, significava muito mais. Era a runa do meu pai. Quíron e sr. D a encararam meio confusos (ou como se soubessem a resposta, mas precisassem de uma confirmação).

— Pra quê vocês precisam disso, mesmo?

— Só para ter uma ideia em que chalé você poderia ficar por um tempo. - Dionísio replicou - Mas é só uma ideia mesmo.

Dei de ombros, sem entender, naturalmente, do que eles estavam falando.

— Sou filho de Frey.

Quíron reprimiu um riso e Dionísio revirou os olhos com tanta destreza que ambos ficaram completamente brancos. Tentei o máximo não parecer incomodado, mas sem êxito.

— Mais um de Apolo. - murmura Dionísio, erguendo as mãos com raiva - Eu não mereço tamanho castigo, Zeus!

— Como é? - Percy interveio, coçando a nuca duvidosamente - Ele é filho de Apolo?

— Claro que não, seu tolo! - Sr. D gentilmente replicou, deixando Percy mais sem jeito que antes - Apolo é o correspondente do pai dele no mundo grego. Frey é o deus do verão.

— Mas Apolo... é o deus do sol e-

— Dane-se, Pedro Joaninha! - Dionísio esbravejou. Algo me dizia que ele já desistira dos campistas daqui há muito tempo - Agora, Manga Cheese, vamos providenciar que fique no chalé de Apolo. Ou no de Hermes, se preferir. É lá onde ficam os não reclamados.

Pensei em perguntar o que era "reclamado" na linguagem estranha deles, mas deixei pra lá. Após alguns esclarecimentos a mais, eu, Percy e Annabeth rumamos até a parte dos chalés, para que eu pudesse entender mais um pouco daquele estranho lugar. Enquanto isso, troquei algumas informações sobre minha antiga vida. Eu quase me engasguei de rir quatro vezes, quando Percy Jackson tentou pronunciar alguns nomes nórdicos (dos quais muitas vezes nem mesmo eu era capaz de pronunciar).

— Inrelmar?

Einherjar, Percy. - corrigi - É o que eu sou. São pessoas que morrem bravamente na Terra e são transformados em guerreiros de Odin. Nós moramos no Hotel Valhala. Podemos morrer todo dia lá e sempre estaremos de volta a vida. Por outro lado, se morrermos em qualquer outro lugar que não seja Valhala, será permanente.

— Sei que isso é insensível demais da minha parte, - disse Annabeth, que mantinha um braço entrelaçado ao de Percy. Eles até que eram um casal fofo - mas como você morreu?

— Ugh! - murmurei, revirando os olhos.

Ok, ok. Foi insensível da minha parte, mas se tem uma coisa que eu odeio é lembrar da minha morte. Foi vergonhosa, cara! Eu quase não entrei pro exército de Odin. Existe todo um protocolo pra morrer e ir pra Valhala, e, aparentemente, eu quase não consegui cumpri-lo.

— Desculpem, é só que não costumo falar isso pras pessoas desde o dia em que todos de Valhala tiveram que assistir ao vídeo da minha morte. - expliquei - Todos ficaram rindo da minha cara por uns 15 minutos. Mas enfim... eu estava lutando com um cara flamejante idiota, encontrei uma espada falante que pertencia a meu pai (longa história), fui empalado por uma coisa bem grande e atirado a um rio.

Eles ficaram em choque, como se tentassem entender se era mentira ou não.

— Bem... wow. - disse Percy.

— Pois é. Ei, vocês nunca disseram quais são seus pais divinos.

Annabeth e ele trocaram olhares rapidamente. Aquilo tinha virado um hábito entre eles. Minha prima foi a primeira.

— Minha mãe é Atena, deusa da sabedoria. Meu pai é mortal, como você já deve saber.

— O meu pai é Poseidon, o-

— ... deus dos mares. - complementei - Sabe, isso é bem esquisito. Meu avô é Njord, o correspondente ao deus dos mares na mitologia nórdica.

— Sério? Você consegue fazer coisas com a água também?

Arqueei as sobrancelhas. "Fazer coisas com a água" parecia ser um talento bem legal. Pelo menos, não foi isso que herdei do meu parente divino, claro. Nego com a cabeça, internamente querendo saber mais sobre o que o garoto podia fazer.

Chegamos finalmente no chalé de Apolo, mas confesso que aquilo não me fazia sentir bem. Só do lado de fora, ouvi várias cantorias (mal entoadas, por sinal) e me senti meio ofendido. Frey não fazia isso nas horas vagas, não é? Por Odin, me diga que não.

— Bem... aqui é o seu chalé, digamos assim. - disse Annabeth, dando-me um olhar encorajador ou pelo menos tentando me convencer que as coisas ficariam melhores daqui a pouco - Se preferir, pode ficar no de Hermes, como te falaram.

— Tudo bem. Valeu, caras.

Eles sorriram pra mim e me convidaram para conhecer um pouco mais do acampamento. Quando estávamos visitando a quadra de esportes ao ar livre (pelo menos foi assim que eu apelidei o lugar onde os filhos de Apolo usavam para jogar basquete contra os filhos de Ares), vi um garoto esteticamente diferente dos outros vindo em nosso caminho. Ele tinha olhos e cabeleira negros, era pálido e andava como se estivesse procurando alguma coisa pelo chão. A presença de Percy e Annabeth deveria deixá-lo feliz, pois deu um sorriso modesto para ambos. Não poderia dizer o mesmo no meu caso. O garoto lançou-me um olhar perverso tão apavorante que senti como se minha alma estivesse saindo do corpo. Um arrepio atravessou por minha espinha.

— Nico, oi! - Percy é o primeiro a cumprimentá-lo. Apesar de o filho do deus do mar estar de bom humor, o estranho garoto ainda estava me assassinando com o olhar - Tudo bem por aí?

— Por que ele está aqui?

O casal olha para onde o menino estava apontando (duh! É claro que era para mim). O fato de Nico ter falado "ele" como se já me conhecesse me deixou ainda mais apavorado. Queria poder dizer que eu ia com a cara dele, mas, bem... eu definitivamente não ia com a cara dele.

— Qual é, Nico! - Annabeth o repreendeu, indignada - Magnus acabou de chegar. Não precisa ser rude.

Nico ignora, pela segunda vez, e continua falando apenas comigo com escárnio.

— Eu sei o que você é. Eu vi quem você é, Magnus Chase.

— Nico, entendo que deva estar cansado de viajar pelas sombras e tal - interrompeu Percy, meio nervoso -, mas dá uma chance pro cara.

— Esse cara, Percy, não é confiável!

Todos olharam para Nico como se ele tivesse acabado de dizer que amava dançar tango com elefantes voadores. Ele ficava mais raivoso conforme o tempo passava.

— Quer saber? Quando as coisas estiverem ruins, não venham dizer que não avisei! - ralhou Nico - Anotem o que eu digo: Ele trará a ruína para o acampamento.

E então ele voltou para seja lá onde ele estava, deixando-nos repletos de dúvidas e incômodos na barriga.


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