Venom escrita por Lua Chan


Capítulo 2
01. Sou mais babaca que Dionísio




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PERCY

 Se eu tinha certeza de algo era que nada seria capaz de tornar Dionísio menos babaca. Ele tinha essa habilidade incrível de insultar os campistas de qualquer chalé - principalmente os de Apolo quando tentavam, inutilmente, entoar poesias sobre a natureza - e ignorar quase que completamente qualquer pessoa que atrapalhasse seu "Momento da Diet Coke" (já que se angustiava o bastante por não poder tomar vinho). Mas quando o Sr. D interrompia as próprias atividades para prender sua atenção em alguém, ainda mais sendo esse um campista, sabíamos que tinha algo de errado acontecendo. Foi como eu me senti, assim que o encontrei conversando com uma recém-acordada Annabeth Chase na Casa Grande. Tentei ser o mais furtivo possível, mas a preocupação por Annabeth não estar bem martelava minha cabeça.

— Quem chamou você aqui, Peter Johnson? - questiona Dionísio, num tom agressivo. Ele esquece Annabeth por alguns segundos e me olha como se eu fosse um tentador cálice de vinho (eca!) - Pensei que tivesse tarefas para fazer hoje ou qualquer idiotice que vocês, estúpidos delinquentes, fazem por aqui.

— Soube que Annabeth estaria aqui. - suspiro, olhando para ela, sonolenta - Ela está bem?

A garota ergueu-se subitamente, como se eu tivesse xingado seus ancestrais (se o fizesse, tenho certeza que Atena iria pessoalmente me trucidar). Annabeth estava estonteantemente linda, como sempre, sem fazer nenhum esforço. Seus cabelos loiros tentaram se comportar assim que fez um rabo de cavalo. Ela me dá um sorriso simples, semelhante a um "esqueça que eu estive aqui e vamos apenas tomar café" e cruza os braços.

Ela pode falar por si mesma, Cabeça de Alga. E a propósito, ela está muito bem. - diz, cambaleando após ter levantado do sofá. Só não caiu porque eu a segurei firmemente - Droga. Eu deveria ter voltado a dormir.

— O que houve?

— Nada, Percy. Só foi uma noite mal dormida...

Annabeth bocejou. As protuberantes olheiras debaixo de seus olhos cinzas anunciavam que ela não estava, de fato, mentindo. Mesmo assim, havia algo errado. Eu sabia disso.

— Uma noite repleta de visões, eu diria. - complementou Dionísio, bebericando uma taça do que presumi ser Coca - Annie Bell-

— Annabeth. - corrigi.

— Que seja. Ela estava me falando sobre um certo rapaz de cabelos loiros, olhos claros e bastante charmoso. Não é mesmo, querida Annie?

Meu estômago se contrai, sinto o rosto queimar. Odeio quando isso acontece. Eu normalmente não era de sentir ciúmes por alguém, mas desde o dia em que cumprimos a Grande Profecia, estava certo de que eu e Annabeth estávamos namorando. Por que, de repente, ela sonharia com um cara bastante charmoso? Eu não era, sei lá... bom o suficiente?

— Ah, olhe só como ele fica mais idiota com essas bochechas vermelhas! - Sr. D ri como se eu fosse a coisa mais engraçada que ele já viu. Annabeth se perde entre revirar os olhos ou rir junto do deus do vinho.

— Não ligue pra ele, Percy. De fato, eu sonhei com alguém assim, mas ele é um garoto bem mais específico.

— Como assim específico?

Ela morde o lábio (o que, particulamente, eu achava fofo nela) e me chama para sentar ao seu lado. Annabeth lança um olhar sugestivo para Dionísio, que apenas se distancia de nós com a postura presunçosa que sempre ostentava. Deveria ser importante, pensei. Não era do feitio do Sr. D atender ordens de outras pessoas (além de Zeus, é claro. Mas essa era outra questão).

— Eu já te falei sobre meu primo, Percy?

— Aquele que vive em Boston?

— Ele mesmo. Magnus. - ela encarou os próprios sapatos por um tempo, como se fossem mais interessantes do que qualquer coisa.

— Qual é o problema, Sabidinha?

— Bem... eu tive uma visão sobre ele. Magnus estava caindo, Percy. Ele estava prestes a... a morrer.

Seus olhos começam a ficar úmidos e vermelhos (não. Mais vermelhos do que já estavam). Ela estava prestes a chorar e eu não tinha ideia do que dizer. Visões como essas eram perfeitamente normais para um semideus. Tive uma delas, inclusive, antes de vir para cá, quando tinha 12 anos. Quando eu sequer sabia que fazia parte desse louco universo. De qualquer forma, sabia igualmente que seria estupidez minha deixá-la mais nervosa.

— Talvez tenha sido só um pesadelo, sabe? - insisti, hesitante - V-Você sabe... ontem mesmo sonhei com Ares fazendo uma declaração de amor pra mim e-

— Agradeço seu esforço em me ajudar, Cabeça de Alga. - ela interrompe, soando mais resistente do que normalmente já era - Mas não foi apenas a visão que me visitou ontem à noite. Nico esteve em meu quarto. Ele estava viajando pelas sombras, por isso não foi tão difícil entrar no chalé da minha mãe.

— Eu ia perguntar isso.

— Eu sei. - ela sorri de novo, dessa vez com menos vontade de fazê-lo - Ele me disse que havia algo de errado no acampamento. Que sentiu um tipo de aura diferente ao chegar perto da antiga árvore de Thalia. Além disso, ele... ele sentiu um cheiro de morte.

Fiquei em silêncio, mentalmente concordando com Annabeth sobre seus sapatos serem a coisa mais interessante daquela conversa. Eu gostaria muito de contrariá-la. De contrariar Nico di Angelo, principalmente. Infelizmente, era impossível, levando em conta que o garoto podia sentir a morte como ninguém.

— Sabe muito bem que pode ser qualquer coisa, não é? - tentei - Talvez era apenas uma harpia procurando por comida de graça...

— Nico não viria até aqui por qualquer coisa, Percy! Qual é!

Sua voz soava escorregadia. Só então percebi que estava sendo tão babaca quanto Dionísio. Annabeth, certamente, não estava tendo seu melhor dia e eu só estava piorando (mesmo tentando meu máximo para fazer o contrário). Eu então a puxei para um abraço. Em poucos segundos ela estava chorando, o que me deixou surpreso. Eram raras as situações que ela fazia isso. Era como se sua bolha de proteção tivesse finalmente estourado. Annabeth me apertou, como se eu fosse seu porto seguro.

— Ele era só um garoto órfão, Percy. - soluçou - Tio Randolph e eu fomos visitá-lo e ele estava em péssimo estado, morando na rua. Por que não fui forte o bastante para levá-lo a um lugar seguro?

— Ei, a culpa não é sua, Sabidinha. - seguro seu queixo, fitando seus olhos vermelhos. Céus, ela continuava tão linda - Você fez o seu melhor, assim como seu tio. Além disso, não temos certeza absoluta do que houve com ele.

— Promete que vai ficar ao meu lado até que eu entenda o que está acontecendo?

Fico em silêncio novamente, sem desgrudar meus olhos dos dela. Sinto que ela estava tentando ficar mais calma, mesmo com o medo de ter perdido alguém como seu primo. Annabeth Chase tinha, muitas vezes, controle sobre suas emoções, e essa era uma das coisas que eu admirava nela.

— Não. Prometo estar ao seu lado a qualquer momento, Sabidinha.

Ela sorri (com sinceridade. Yay!) e me beija com paixão. Seus lábios quentes só se distanciaram dos meus quando uma das crianças do chalé de Hefesto nos interrompeu. Era uma garotinha em seus 11 ou 12 anos de idade. Ela tinha algumas manchas de óleo na testa que contrastavam perfeitamente com sua pele, apesar de estar vermelha (presumi que fosse de tanto correr). Por outro lado, eu deveria estar bem mais vermelho que ela.

— É a árvore de Thalia! - disse ela, sem ligar tanto ao fato de ter acabado de atrapalhar um casal - Vocês precisam ver.

Eu e Annabeth trocamos olhares e corremos até o local exato. Uma forte sensação de nostalgia embriagava meus sentidos, deixando-me menos leve. Eu já estive em uma situação semelhante àquela antes. Nós todos já estivemos. O dia em que os campistas se dirigiram feito loucos até a árvore de Thalia e viram que ela estava viva novamente - talvez há uns 3 ou 4 anos - foi, no mínimo, memorável. Eu esperava, igualmente, que esse novo chamado fosse de boas notícias, mas ainda tinha minhas incontáveis dúvidas.

Quando chegamos na árvore de Thalia, nos demos de cara com vários campistas tão curiosos quanto eu e um preocupado Quíron. Com a mão repousando debaixo do queixo, ele nunca havia parecido tanto um professor como naquele momento (tudo bem que ele já fora meu professor, mas isso não vem ao caso). Ele mudou a postura assim que nos viu.

— O que houve, Quíron? - pergunta Annabeth, primeiramente - Por que todos estão aqui?

Ele suspira, cansado, provavelmente. Não era fácil cuidar de mais de 40 adolescentes ao mesmo tempo. O centauro aponta para cima, onde o Velocino de Ouro estava e o que parecia ser duas pessoas descendo da árvore. Forcei a visão, mas tudo o que eu conseguia perceber era Clarisse e mais alguém que não reconheci.

— Algo atingiu o Velocino pela manhã. - Quíron prosseguiu - Houve um impacto por todo o acampamento e descobrimos ser um garoto.

Annabeth aperta minha mão e quase quebra uma falange minha. Ela estava mais confiante, pude sentir, principalmenre quando Clarisse desceu da árvore, carregando um inconsciente garoto pelos ombros. Assim que a filha (mais irritante) de Ares o jogou no chão, Annabeth caiu de joelhos. Eu a acompanhei, sem tirar os olhos dela. Tiro uma mecha que atrapalhava seu campo de visão, apesar de ela não parecer ligar nem um pouco.

— Annabeth. O que houve?

Os olhos da garota estavam congelados. Ela, assustadoramente, parecia ter sido afetada pelo olhar da medusa (tirei isso da cabeça, pois sabia que teria pesadelos por pelo menos 2 noites). Annabeth ajeita o delicado rosto do garoto e limpa algumas manchas de terra que o contornava.

— É impossível... - diz ela, perplexa. Pelo terror em seus olhos, pude deduzir de quem se tratava.

— É Magnus, não é? Magnus Chase.

O garoto abriu os olhos lentamente, como se o seu nome o tivesse tirado do sono profundo. Ele olha para todos os lugares possíveis, piscando sem cessar. Por último, ele me encara, confuso.

— Pelas cuecas de Odin... - sussurra - Onde estou?


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