Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 45
Perdendo algo precioso


Notas iniciais do capítulo

Voltei, pessoas! Reta final da fic! Beijos!



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Eu nunca tinha me sentido tão mal como naquele dia.
Era uma missão e tanto assimilar que meu nome estava estampado em uma coluna de fofoca e que muitas pessoas estavam pensando coisas absurdas sobre mim.

—Por que demoraram tanto?

Minha avó veio ao meu encontro. Sem hesitação, ela me abraçou fortemente.

—Muito obrigada por trazê-la, Dylan. – Falou por cima do meu ombro. Minha cabeça estava enterrada em seu abraço forte.

—Ela precisa muito de você nesse momento.

—Eu sei, querido.

Minha avó agradeceu a gentileza dele mais uma vez e me levou para o quarto. Passado algum tempo, consegui me acalmar um pouco, mesmo que a tensão ainda me consumisse por inteira.

—Não consigo compreender. – Fora a primeira frase que disparei enquanto minha avó acariciava meus cabelos. –É como se eu enxergasse a verdade, no entanto... ela não faz o menor sentido.

Respirei profundamente.

—Acho que está na hora de você começar a pensar com seriedade em sua vida. – Katherine estava calma, embora muito pensativa. –Querida, se envolver com esse rapaz não vai te levar a lugar algum.

—Não se trata disso. Eu não entendendo como...

—Stella, chega de acreditar que vai ficar tudo bem! Não vai! Bryan e você não vai acontecer! – Ela fora categoricamente áspera. –Ainda que você consiga viver com ele, Kristen não permitiria isso, de forma alguma! – Ela engoliu a seco. Seu ataque de honestidade a levou ao estado crítico de nervos à flor da pele. –Você está construindo uma relação verdadeira com seu pai, conserve isso! Não estrague tudo por um mero capricho do coração!

Ouvi-la dizer que meus sentimentos não passavam de um mero capricho inflamou a minha alma.

—Foram essas mesmas palavras que atingiram a minha mãe e meu pai? – Perguntou possessa. –Sei o que aconteceu no passado, Katherine. No mínimo, você poderia ser franca comigo, não acha?

De repente, a figura sólida da bela senhora se desmoronou. Eu estava enfiando o dedo em sua maior ferida.

—Sei o que aconteceu no passado.

—Você ouviu coisas que pessoas como o seu pai quer que você escute. – Ela se desviou do meu ataque. –William se tornou um homem frustrado por não ter conseguido realizar o sonho de viver feliz para sempre com a namoradinha do colegial. O que eu tenho a ver com isso?

—Vai continuar menosprezando os sentimentos dos meus pais?

—Que sentimentos? Muitos anos se passaram! William é um homem de negócios agora e a sua mãe é uma mulher casada! Eles não estão mais naquele passado distorcido!

—Distorcido por que a minha mãe não era uma garota branca, de família nobre?

Ao ouvir minha pergunta irônica, minha avó me encarou friamente. Por longos segundos nos fitamos, completamente desconhecidas.

—Naquela época, eu estava criando o filho de um homem branco, inteligente, insaciável por fazer dinheiro. – Ela encarou o chão, rapidamente. –Aparentemente, nossa família era perfeita aos olhos dos outros e era assim que deveríamos nos conservar. – Ela respirou, pesadamente. –Hoje, entendo que todo aquele protocolo ridículo não me serviu de nada, ele apenas deixou uma marca profunda na minha família. – Eu a via culpada e isso era tudo. –Errei por tentar proteger o meu filho.

Sentei na cama, com a cabeça baixa. Passeei os dedos entre os cabelos, sem ter coragem de encarar minha avó.

—Você destruiu sentimentos que eram inocentes. William realmente queria viver com a minha mãe e você não permitiu isso. – Levantei a cabeça para observá-la. –E você nunca pediu perdão por isso, sequer pensou um dia em arrumar a bagunça que você mesma causou!

—Você acha que não tenho convivido com esse erro por todos esses anos? Deus é testemunha que penso na figura tímida da sua mãe. – De repente, Katherine se tornou impaciente. –Não posso mudar o que eu fiz. Está feito!

Realmente não tinha como voltar mais ao passado. Uma grande parte da minha história estava arruinada e ela nunca mais seria remodelada.

—Stella... – Katherine ficou de joelhos diante de mim. Sua ação repentina me deixou atônita. –Por favor, me perdoe!

Não me comovi com seu pedido. Por alguma razão, meu coração achava pouco todo aquele ressentimento. Minha avó precisava sofrer mais um pouco para sentir na pele a dor dos outros.

—Talvez um dia eu possa perdoá-la. – Ela não esperava minha relutância. –É meus pais que precisam da sua franqueza, Katherine. Não hesite mais em conseguir o perdão deles.

Peguei minha bolsa, desviando de toda lamúria.

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O tempo passou devagar naquele dia. Em busca de refúgio, voltei ao meu antigo bairro, para ficar ao lado de pessoas que realmente não me fariam mal.

—Você fica na minha cama. – Brigitte praticamente me empurrou para a cama que ela, cuidadosamente, trocara os lençóis. –Eu durmo no chão. – Disse puxando o velho colchonete.

—O que está fazendo? – Tirei o colchonete das mãos dela. –É sua melhor amiga aqui. Por que está me tratando como uma riquinha?

—Mas, você é uma garota rica! Sem mimimi, mas é! – Travamos uma batalha de puxa, puxa para ficar com o colchonete. –Stella, relaxa! – Ela me obrigou a sentar na cama. –Você está péssima, amiga. – Ela parecia está preocupada com a minha aparência abatida. –De repente, você se tornou uma celebridade. – O noticiário de fofocas estava em sua mão. –Como isso chegou a esse ponto?

Observei o teto. Pensativa, suspirei alto. Era tudo que eu estava fazendo nas últimas horas.

—Tenho cara de vadia que transa com o irmão postiço?

—Ninguém escreveu isso.

—É preciso escrever? – Fechei os olhos, balançando a cabeça. –Você acha que Bryan tem a ver com isso?

—Acho que não! Ele pode ser um canalha, mas não a esse ponto.

—É. Também penso assim. – Abri os olhos. –Katherine ousaria difamar a neta que ela diz amar profundamente?

—Sem chance!

—Uh. – Eu concordava com Brigitte, mas reservei meus pensamentos em relação a minha avó. –Dylan não teria motivos para fazer algo assim, mesmo ele mantendo intenções convictas de namoro comigo.

—Precisamos falar sobre isso.

—Outra hora. – Brigitte resmungou algo como ‘cretina’. –Devo pensar que isso foi ideia de Kristen?

—Como ela soube do seu paradeiro com Bryan naquele dia?

—Ela é uma mulher esperta, certo? – Brigitte acenou, concordando. –Naquela época eu não tinha percebido, mas Kristen já estava me vigiando.

Os pensamentos começaram a ganhar forma.

—Por que ela poria o filho em um escândalo?

—Ela faria qualquer coisa para me afastar de Bryan. – Houve silêncio no quarto. –E ela nunca irá parar de afastar o filho de mim.

Brigitte entrelaçou os dedos. Ela pigarreou antes de falar o que pensava.

—Por mais que você ache a oposição do seu pai e da sua avó irritante em relação ao Bryan, no fundo você sabe que eles estão certos. – Olhei-a de esguelha. –Se não for para ser feliz, então não vale a pena perder tempo, não acha?

—Está me aconselhando a desistir do Bryan?

—Eu quero que você seja feliz, Stella. – Ela deu um beijo na minha testa. –Boa noite.

O abajur foi apagado. A penumbra no quarto me deixou ainda mais acordada.

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No dia seguinte alguém bateu na porta de Brigitte. Estávamos escolhendo séries para assistir, enquanto nos empanturrávamos de panqueca e mel.

—Quem será a essa hora? – Brigitte reclamou indo à porta. Ela espiou pelo olho mágico. –Tem um coroa gato do lado de fora. Acho que seu pai está aqui.

Dei um pulo do sofá. –Não diga que estou! – Cochichei.

—Se ele está aqui, é por que sabe que você está aqui!

—Invente qualquer coisa! – Saí correndo para me esconder no quarto. Graças à loucura da mãe de Brigitte, minha amiga não tinha uma porta para trancar.

—Como vai senhor, Griffin?

—Bem, obrigado. Estou procurando minha filha. – Senti que ele já observava todos os cantos do pequeno apartamento.

—Ela não está aqui.

Idiota! Brigitte se deixou intimidar com a presença do meu pai.

—Não está? E o que a bolsa dela está fazendo aqui?

Droga! Eu tinha deixado a bolsa no sofá!

—Stella tá escondida no quarto!

Eu mataria a Brigitte! Não era para ela me proteger?

—Vim busca-la, Stella! Por favor, se aprece!

Ouvi a intimação do meu pai. William tinha um jeito grosso e irritante de falar. Por mais terno que ele tentasse ser, ainda assim o seu jeito desajeitado parecia predominante.
Sem alternativa, acabei saindo do meu ‘esconderijo’.

—O que faz aqui?

Cruzei os braços, sem conseguir encará-lo. Eu não tinha pensado que seria tão problemático encarar William depois dos rumores entre Bryan e eu na mídia.

—Por que você nunca tem a delicadeza de pensar que seus sumiços me deixam preocupado? – Eu não estava esperando uma abordagem calorosa. –Por que não me ligou?

Engoli a seco. Eu estava ficando desajeitada. –Eu queria ficar sozinha.

Para minha surpresa, William se aproximou e segurou meus ombros, olhando-me ternamente.

—Você não está sozinha. – Ele tirou o paletó e cobriu meus ombros. –Muito obrigado por recebe-la. – Agradeceu a Brigitte, me conduzindo até a porta.

—Te ligo mais tarde. – Falei passando por Brigitte.

—Ok.

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Somente quando o carro atravessou o portão da mansão Eu pude respirar aliviada. Era estranho dividir o pouco espaço com William, ainda mais tendo em mente que seu comportamento se igualava a uma figura protetora. Aquela sensação nova e confortante me fez pensar que era o mais perto que eu tinha chegado de uma relação sadia de pai e filha.

Saindo um pouco dos devaneios, observei uma grande movimentação na porta de casa. Parecia que a casa estava sendo esvaziada.

—O que está acontecendo?

—Decidi que já era de fazer uma grande mudança nesta casa. – Respondeu saindo do carro.

Os homens não paravam de encher o caminhão estacionado.

—Mas... – Fiquei ao lado dele, observando o vai e vem de passos. –São móveis de quarto. – Olhei-o atordoada. –O seu quarto!

—Exatamente! – Disse em meio a um sorriso. –Vou muda-lo a tal ponto que não sobre uma única pintura, um único detalhe de como ele era.

Ao ouvi-lo, fiquei sem entende-lo. William adivinhou meus pensamentos.

—Estou oficialmente separado de Kristen!

—O quê? – Balbuciei incrédula. –Ela foi embora?

—Só depois de eu assinar um xeque de meio milhão de dólares. – Respondeu de bom humor. –Teria saído mais caro se eu não tivesse feito ela assinar o acordo pré-nupcial antes do casamento. – Ele ainda se atreveu a sorrir. –Você não achou que Eu daria metade da sua fortuna para alguém como ela, não é?

—Eu ficaria muito chateada se Kristen conseguisse se aproveitar de você. – Pus toda a minha sinceridade naquele comentário. –Você acha que ela se contentará com tão pouco?

—Não me importa como será a vida dela de agora em diante. – Um brilho determinado cresceu em seus olhos. –Precisamos conversar seriamente sobre você e Bryan. – Sua voz se tornara exigente. –Não quero fazer o mesmo que minha mãe fez comigo na juventude, no entanto...

—Não se preocupe mais com esse assunto. – Uni as mãos em frente ao corpo e entrelacei os dedos com força. –Não existirá nenhuma relação amorosa entre Bryan e eu. Eu prometo!

William ficara estupefato com a minha decisão. Para ele, a maneira como eu havia tomado aquela decisão parecia rápida demais, entretanto, cheia de objetivos a serem cumpridos.

—Você tomou uma decisão sábia. – Ele beijou minha testa e sorriu para mim, retribuindo minhas afeições.

—No entanto... – Observei William, seriamente. –Não quero que você se afaste dele. Bryan o ama como pai, do fundo do coração. Seria um golpe para ele ver você se afastar. – William pensou a respeito. Ele estava emocionado. –Pode me prometer que nunca se afastará dele?

—É realmente o que você quer?

Se ele soubesse das minhas certezas jamais permitiria que eu desistisse dos meus sentimentos. Mas, era o certo a fazer. Não havia cabimentos pensar em Bryan como um homem que eu poderia amar e construir uma família. Por mais que me doesse, do fundo da minha alma, eu nunca mais tentaria pensar o contrário.

 Como se fosse preciso firmar nosso acordo, um abraço desengonçado surgiu entre nós, fortalecendo laços que não mais poderia ser rompido.

—De agora em diante, Stella... tudo será diferente.

Com a cabeça afundada em seu abraço, chorei em silêncio, inundada de felicidade e tristeza.


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