Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 43
Passado doloroso


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap. Espero que gostem! Bjs!



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Bobagem ou não, me vesti com elegância e até me maquiei naquela tarde ensolarada de quinta-feira. O jantar em breve seria servido e Eu queria está pronta para o momento, mesmo sendo um jantar comum e sufocante.

—Com licença. – Eva adentrou o quarto. –A senhora Katherine está à sua espera.

—Avise-a que já vou descer. – Falei terminando de pôr os brincos. –William já chegou?

—Não sei ao certo.

—Uh. – Pensei a respeito. –Mudança de planos. Diga a Katherine que irei falar com William antes do jantar.

—Ele está mesmo precisando conversar com alguém que não seja a esposa. – Ela chegou mais perto de mim. –Ele se trancou no quarto ontem à noite. A senhora Kristen dormiu no quarto de hóspede.

—Ai! – Suspirei alto, levando a mão à testa. –O que prende William à Kristen? Por que ele não se divorcia dela? – Eva deu de ombros. Ninguém seria capaz de responder aquela pergunta, nem mesmo o próprio William. –Vou falar com ele. – Respirei fundo. –Que Deus me ajude!

Meu salto agudo ruía no corredor iluminado. De frente à porta do quarto de William parei, observando minha súbita ansiedade. Bati na porta e, impulsionada, girei a maçaneta, sem ser convidada a entrar.

—Olá. – O quarto estava mal iluminado, William ocupava a cama desarrumada. Ao me ver, ele esfregou os olhos e passou as mãos no cabelo desgrenhado.

—O que faz aqui?

Ele ainda estava com a roupa do dia anterior. O quarto todo cheirava a álcool.

—Pensei que você foi trabalhar hoje.

—Voltei por cima do rastro. Não estou com cabeça para lidar com pessoas.

—Espero que isso não seja uma indireta para mim. E, se for, não vou sair daqui.

Fui às cortinas, abrindo-as. O sol estava se pondo.

—Stella... não é o momento de você está aqui.

—Não é a primeira vez que vejo alguém de porre.

—Só que esse alguém é o seu pai. É constrangedor me expor assim para você.

—Sempre querendo manter as aparências. – Balancei a cabeça, me sentando na beira da cama. –Espero você tomar banho. Vamos descer juntos para jantar.

Ele me observou fixamente. Minha persistência estava confundindo sua resistência.

—Não vou descer.

—Então, também não vou descer! – Cruzei os braços. –Sei como você está se sentindo.

—Você não sabe. É uma garota ainda. Não tem ideia de como a vida das pessoas na minha idade é complicada.

—Uh. – Pigarrei. –Você é um homem adulto e ainda não sabe viver. – Observei um porta-retratos dele, quando adolescente. –Por que você não dá um ponta pé no traseiro na Kristen de uma vez por toda? Essa mulher está sugando a sua vida!

Ele coçou as têmporas, cansado. –Não vou falar sobre o meu casamento com a minha filha.

—Você não quer falar sobre nada comigo! – Mostrei indignação. –Deveria, ao menos, se interessar pelos meus sentimentos, não acha?

Ele respirou fundo, observando meus olhos raivosos. –Eu me interesso por qualquer assunto relacionado a você.

—Não acho que isso seja verdade.

—É a mais pura verdade! – Disse categórico. –Então, está mesmo decidida a ter uma conversa adulta comigo?

—Não estou aqui para jogar banco imobiliário!

—Pois bem! Vamos ter uma conversa de pai e filha! Então, vou começar perguntando a você o que está acontecendo entre você e Bryan?

Minha única reação foi de engolir a seco. Não sei como e nem quando os olhos dele se abriram para meu envolvimento com seu enteado.

—Como assim? – Perguntei sem ar.

William coçou os olhos novamente. Ele não sabia como proceder aquela pergunta, mas estava claro que ela seguiria adiante.

—Kristen me revelou muitas coisas. – Confessou um tanto impaciente. –Ela disse que você está seduzindo o Bryan para atingi-la.

—O quê? Como ela é cretina! – Saltei da cama. –Bryan é um cara adulto! Ele decide quem vai amar!

—Pode me jurar que você nunca o procurou?

William me encurralou. Eu não iria esconder meus sentimentos.

—Não posso. – Decepcionado, William observou o teto, pensativo. –Mas, nunca me aproximei dele com o intuito de prejudica-lo. Eu seria incapaz de pôr você e Bryan um contra o outro! – Ele me observava, intensamente.

—Não estou aqui para acusa-la, porém, está no meu direito enxergar com transparência tudo o que está acontecendo debaixo do meu teto!

—Eu sei! Isso não é fácil para o Bryan e nem para mim! Ele respeita você, te idolatra como um pai, e é esse sentimento que o impede de se aproximar de mim como mulher!

—Já basta! – Gritou alterado. A conversa tensa me deixou nervosa. Comecei a chorar silenciosamente. –Eu amo o Bryan como filho! Como Eu entregaria minha única filha a um homem que enxergo como filho? – Gritou novamente, me deixando mais nervosa. –Tive uma conversa franca com Bryan hoje de manhã. – Eu não esperava por aquela confissão tão abrupta. –Ele não negou está apaixonado por você. – Foi estranho para ele dizer aquelas palavras. –Porém, o próprio Bryan está ciente de que esses sentimentos entre vocês precisam acabar, definitivamente!

—E viveríamos como você e a mamãe todo esse tempo? – Perguntei com ironia. –Não sou fraca como você, William! Posso aguentar firmemente uma avalanche de consequências por ficar com Bryan!

—Está pensando somente em você. O futuro de Bryan estará em jogo se você persistir nessa relação!

—Está encarregando o fracasso financeiro dele a mim? – Indaguei descrente. –Teria coragem de deixa-lo na pior só para não nos ver juntos? Você já parou para pensar que nós dois poderemos nos desfazer da sua fortuna para seguirmos nossas vidas? – Eu o desafiei.

—Você está apaixonada. Ainda não se deu conta de que, nem tudo aquilo que idealizamos se torna algo real. – Ele foi à garrafa de Uísque. –Mas, vou fazê-la pensar melhor a respeito de suas convicções. – Se virou para mim, com o copo cheio em mãos. –Você quer me ver longe da Kristen, certo? Consegue se imaginar convivendo com ela como nora e sogra? – Perguntou me sondando. –Bryan pode gostar de você, mas ele jamais se casaria com você sem o consentimento de Kristen. – Suas palavras eram duras, machucavam a fundo, porém elas eram precisas. –Bryan se tornou uma espécie de protetor para a mãe e a irmã. Eles passaram por muita coisa enquanto Kristen mantinha um relacionamento abusivo com o pai de seus filhos. Por diversas vezes, Eu a vi com os olhos inchados pelo choro e as cicatrizes de surras que nem mesmo ela sabia explicar o motivo. Em um belo dia ensolarado, Bryan presenciou uma briga calorosa entre os pais, e defendeu a mãe prontamente, empurrando o pai escada abaixo. Ele quebrou o pescoço na hora. Fraturou duas costelas e perfurou o pulmão. – Ele bebeu o uísque concentrado no passado. –Kristen teve que lidar com a morte do marido e o processo judiciário contra o filho menor de idade. Tive compaixão dela e a ajudei em tudo o que ela precisava. No entanto, Eu a usei para confrontar a minha mãe. – Como Eu imaginava que fosse desde o começo. –Eu nunca a amei, mas aprendi a sentir culpa por usar ela e os filhos em minha vingança pessoal contra a sua avó.

—Foi por isso que você nunca conseguiu se divorciar dela?

Ele suspirou alto. –Talvez. – Respondeu pensativo. –Mas, acho que chegou a hora de me livrar desse fardo. – Meu coração tamborilou de felicidade. –Mas, Stella, deixe-me falar um pouco sobre a sua avó.

—Eu não quero ouvir. – Para que comprovar minhas suspeitas?

—Ela foi responsável pela minha separação com a sua mãe. Katherine Griffin tirou de mim os meus planos de ter a Kimberly como a minha esposa e me impediu de reconhecer você como filha; de cria-la! – Voltei a chorar, como uma criança desolada. –Eu a odiei por muitos anos e nunca consegui perdoá-la! – Disse aliviado por me contar suas lamúrias. –Ela nunca havia sentido remorso por isso, até você entrar na vida dela. – Meus olhos inchados o observavam. –Somente você pode decidir se vai perdoá-la.

Arrebatada por tantos sentimentos ruins, caí sentada, confusa e inesquecivelmente abalada.

—Estão tão confusa! Não sei o que tenho que fazer!

De repente, William estendeu sua mão para mim. Observei seu braço estendido, enquanto as lágrimas caíam freneticamente. Sem muito pensar segurei a mão dele e fui ajudada a levantar, em uma firmeza como se ele jamais fosse soltar a minha mão.

—Perdão por Eu nunca ter sido um pai de verdade para você.

Nossas mãos continuaram conectadas, sem intenção de nos afastarmos um do outro. William me observava contendo as emoções que ele jamais permitiria revelar, no entanto, naquele dia, suas emoções foram mais fortes que seu propósito rígido.

Minha filha!

E, pela primeira vez em nossas vidas, abraçamos um ao outro, como pai e filha. Nada dissemos, tampouco sussurramos, apenas choramos juntos, despertando um sentimento que Eu não pensei existir na nossa conturbada relação filial.

 


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