Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 27
Precipitado


Notas iniciais do capítulo

Voltei, pessoas! Espero que curtam o capítulo! Beijos!



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O tão aguardado final de semana havia chegado, – e ele não poderia ser mais agitado e apreensivo; ou será que podia?
Seguindo as instruções de Bryan, acordei bem cedo na manhã de sábado, especificamente às seis e meia. Verifiquei tudo que Eu tinha no guarda-roupa e, para o meu desânimo, não tinha nada lá parecido com um uniforme de quadra de tênis. Então, sem muitas opções, escolhi uma regata cinza e uma calça legging preta, – que tinha sido esquecida por Brigitte no verão passado.

—É isso!

Respirei fundo, levando o boné surrado à cabeça. Quando achei que estava pronta, fui à porta, mas me faltou impulso para passar por ela. Demorados cinco minutos de pura enrolação, tomei coragem e deixei o quarto. No fim do corredor, impecavelmente decorado, esbarrei em Bryan, caracterizado como se fosse a um jogo profissional. Naquele dia, fora a segunda vez que o vi arredio a imagem séria de terno e gravata. Ele estava ainda mais bonito, tanto que não consegui desafixar meus olhos sobre o seu porte físico atlético.

—Pensei que seria só William e Eu.

—Seria o correto, mas, pensando bem, é melhor garantir que vocês não desperdicem essa chance de se aproximarem.

—Hun. – Murmurei acompanhando ele. –Eu não tinha o direito de fazer especulação sobre a sua vida amorosa.

—Se vai me pedir desculpa, saiba que não vou desculpá-la. – Disse sem pestanejar.

—Achei que você fosse uma pessoa civilizada. – Ele não me deu ouvidos. –Qualquer pessoa ficaria confusa com o seu relacionamento!

—Você é a única pessoa confusa e interessada na minha vida pessoal. – Ele se virou bruscamente para mim, de forma que não consegui evitar que nos esbarrássemos. –Desculpa.

—Não te desculpo também! – De cara amarrada, passei por ele como um trem bala.

De passos fundos cheguei à quadra de tênis, depois de ter andado em círculos, por que Eu não sabia onde ela ficava. Ao longe, era possível ouvir as bolas baterem contra a raquete. William já se encontrava na quadra, cheio de adrenalina e garra contra a máquina lançadora de bolas.

—Posso jogar com você?

E foi exatamente assim que cheguei nele, graças ao cara egocêntrico de nome Bryan!

—Claro. – Aceitou meu convite, mesmo encabulado. –Sabe jogar tênis?

—Não deve ser difícil. É só acertar a bola e mandar ela de volta, certo? Mas, não sei as regras muito bem.

William pegou uma das raquetes deixadas perto da máquina lançadora e me entregou.

—Vamos só jogar.

—Não precisa ser bonzinho comigo. – Ocupei o outro lado da quadra, dividido por uma rede. –Não se deixe enganar, tenho muita força nesses braços. – Preparei para lançar a primeira bola.

—Foi você quem disse. – Ele rebateu a primeira bola e ela passou direto por mim, como um vulto.

—Essa não valeu! – Bryan assistia a disputa com cara de quem queria rir. –Eu estava conversando com você. Não me concentrei direito.

—Está bem. – William aceitou minha ‘desculpa’. –Pronta?

—Manda vê!

Não tive a famosa sorte de principiante. Jogar tênis parecia ser um esporte simples, se não fosse a experiência de William na quadra. Mesmo ‘jogando’ contra alguém que não era habituada a praticar esportes, ele mostrou todo o seu desempenho e desenvoltura, enquanto me explicava como funcionava cada etapa do jogo, que, precisamente, acabei me empenhando para que ele se tornasse uma derrota menos vergonhosa.

—Você é muito bom. Deveria participar de competições.

—Não tenho mais idade para isso.

—Não estou vendo nenhum velho aqui. – E ele estava longe de envelhecer. William era o tipo de pai gato que minhas amigas do Brooklin ‘pegaria’.

—Foi o Bryan que te contou sobre o meu hobby nos fins de semana, certo?

—Foi ele sim. – Confessei sorridente. –Você tem um enteado maravilhoso. Deve se orgulhar dele o tempo todo, não é? – Não muito distante, Bryan duelava contra a máquina lançadora.

—Ele é um rapaz excepcional. – Revelou observando o enteado. –Vejo que vocês estão se dando muito bem. – Seus olhos voltaram-se para mim, atentos.

—Não foi fácil nos aproximarmos. – Continuei focando em Bryan. –Ainda assim, nós brigamos muito... o tempo todo. – Sorri descontraída.

—É assim que irmãos costumam agir. – Ele sorriu, Eu, desanimei tragicamente. –Ele me disse que vocês foram à praia. – Não havia mais ânimo no meu rosto, nem resquícios de felicidade.

—Ele disse? – Indaguei como uma boba. –Você não ficou bravo?

—Claro que não. Só fiquei surpreso por que Bryan nunca deixou o escritório para se aventurar. – Contou mantendo o bom humor que Eu nunca tinha visto antes. –O meu celular está tocando. Com licença.

Em um canto reservado da quadra, William permaneceu se esquecendo de que Bryan o aguardava para mais uma disputa. Praticamente a sóis com o rapaz excepcional, não perdi a oportunidade de lhe fazer uma única pergunta:

—Contou a William sobre termos ido à praia?

Sem desviar os olhos da máquina lançadora, ele respondeu minha pergunta:

—Não seria correto esconder isso dele.

—Mas, não contou para a sua namorada. – Cruzei os braços.

—William achou melhor ninguém mais saber.

—Por quê?

—Por que não se trata de algo importante, além do mais, não foi responsável da minha parte abandonar o escritório sem a permissão de William. – Respondeu áspero.

—Você não ia contar! Deve ter acontecido alguma coisa para você mudar de ideia!

—Quer mesmo transformar um passeio qualquer em um segredo? – Ele bateu a raquete contra a bola com toda a força que tinha. –Foi só uma aventura boba! – Se voltou para mim, olhando-me exasperado. –Você não deveria levar momentos banais a sério!

—Agora são banais? – Indaguei sentindo vontade de chorar. –Pode ter sido bobo, mas o Bryan que estava comigo deu importância a cada minuto daquele momento!

Atirei a raquete no chão e, inevitavelmente, saí correndo.

—_______________ᵜᵜᵜ_______________

Eu estava certa de que o tão sonhado final de semana poderia ser um desastre total na companhia de William, mas foi Bryan a dá o xeque-mate do desentendimento.
A princípio, saber que Bryan tinha contado a William sobre o nosso passeio improvisado me deixou, ligeiramente, desapontada. Era como se Bryan e Eu tivéssemos uma coisa só nossa para lembrar e, de repente, ele intitula essa ‘coisa’ de boba e banal. De fato, não foi nada demais termos curtido um dia de lazer, mas... a mente e o coração não sabem diferenciar essas coisas.

—O jantar vai ser servido.

Eva chegou de mansinho na piscina, invadindo minha área de solidão.

—Já vou indo.

O dia se foi tão rápido quanto a minha alegria. Era hora de estar com os Griffin novamente, fingindo está interessada nos assuntos que nem mesmo eles suportavam.

Ao chegar à sala de jantar, cruzei o olhar, primeiramente, com Bryan, que disfarçou a encarada bem-sucedida.

—William disse que vocês jogaram juntos hoje.

Kristen me convidou para se sentar ao seu lado.

—Foi um jogo rápido. – Comentei observando William ligeiramente. –Ele não me deu trégua.

—Ela disse que não queria que Eu fosse bonzinho.

E, pela primeira vez, William tinha sorrido verdadeiramente para mim, sem contenções e timidez. Vê-lo sorridente me trouxe a alegria de novo.

—Você nunca me convidou para jogar. – Disse Stephany, claramente ressentida com o padrasto.

—Você nunca se interessou por esportes, Stephany. – William, prontamente, a calou.

—Mas, haverá muitas oportunidades ainda, querida. – Kristen incentivou a filha. –Eva, pode servir o jantar.

Em geral, as refeições naquela casa se sucedia de forma silenciosa. Um ou outro assunto surgia de maneira minuciosa, até mesmo discussão e mal-estar. Mas, exclusivamente, o jantar do sábado estava semelhante a um velório. Todos, discretamente direcionava olhares, no entanto, guardavam pensamentos ou comentários à sete chaves.

—Quando volta à Paris, Grace? – Kristen não era a única incomodada com o silêncio ou, possivelmente, só queria fuçar a vida da nora mesmo.

—Talvez, daqui a um mês. – Disse sem muita empolgação. –Bryan não pode viajar com frequência, então, Eu quero diminuir o máximo possível as minhas viagens.

—Se estivessem casados não existiria problema de distância. – Disse Kristen.

—O Bryan pode se casar, mas Eu ainda sou muito jovem, não é mamãe? – A pergunta irônica de Stephany despertou o interesse de William.

—Eu não sabia que você quer tanto se casar, aos vinte anos, no meio da faculdade.

—Stephany só está tentando chamar atenção. – Kristen conseguiu ofuscar o comentário impensado da filha. –Eu só acho que vocês têm tudo para se darem bem no matrimônio. – Filho e nora voltaram a ser o seu foco.

—Por mim, Eu já estaria casada, mas Bryan ainda é muito resistente ao casamento. – Suspirou incomodada. –Por hora, já está valendo irmos morar juntos.

Irmos morar juntos.

Foi um grande choque para mim aquela notícia.

—Morar juntos? – Indagou William, também surpreso. –Por que essa decisão repentina? – Questionou ao enteado, sem se importar com a deselegância com Grace.

—Já está mais que na hora de Eu investir em um imóvel. – Disse Bryan, firme em cada palavra. –Além do mais, Grace e Eu estamos pensando em nos casar.

Cada palavra dita, era um soco certeiro no meu rosto anestesiado de surpresa.

—Você só tem vinte e três anos.

—William! – Kristen interviu no disparate do marido. –Você está sendo muito indelicado com a Grace!

—Isso não tem nada a ver com a Grace! – De repente, William Griffin perdera toda a paciência e serenidade. –Não me oponho a ele querer sair de casa e se casar, mas isso está acontecendo rápido demais! Só quero entender o porquê dessa decisão radical!

—Ele está apaixonado! É normal querer se casar! – Kristen rebateu o marido.

Diante de uma discussão generalizada, Bryan ainda achou intervalo para me direcionar o olhar, por segundos que considerei eternos. Ele parecia distante, inacessível e perdido nas próprias decisões. Seu semblante não era de alguém que estava prestes a dar um grande passo na direção de independência e privacidade, mas sim, de alguém que estava tomando outro rumo na vida obrigatoriamente. Perguntei-me, abalada e desesperançada: O que o levou a tomar uma decisão tão precipitada? O que estava incomodando sua mente?


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