Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 21
Proposta


Notas iniciais do capítulo

Voltei, pessoas! Boa leitura! Bjs!



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Acordei mais bem disposta que o normal naquela manhã. Estranhamente chovia muito, quando, segundo a previsão do tempo, o dia seria de sol intenso.
Fiz coisas que não se enquadravam na minha rotina desordenada, como por exemplo, usar um vestido curto, vermelho, pôr um salto alto que me deixou dez centímetros mais alta, e pentear os cabelos, até que cada fio negro permanecesse intocavelmente no mesmo lugar. Agradavelmente me olhei no espelho, depois de longos minutos na frente deste, e percebi que ainda faltava algo: um batom vermelho para realçar meus lábios carnudos.

—Senhorita?

—Pode entrar, Eva. – Cautelosa, a mulher adentrou o quarto, fechando a porta lentamente, enquanto seus olhos arregalados me observavam. –Estou pronta!

Pus as mãos na cintura, e deixei que toda a descrença sobre meu estilo rebelde fosse retraído.

—Minha nossa! A senhorita está fabulosa!

—Obrigada. – Sorri para ela, andando com plena perfeição em cima do salto agulha. –Eu não esperava um jantar com convidados. Será que William decidiu me revelar para o mundo?

—Talvez, sim. Essa casa não costuma receber muitos convidados. – Disse me dando passagem. –Todos a esperam lá embaixo. Ouvi rumores de que a senhorita já possui belos pretendentes.

—Eu não esperava toda essa popularidade em pouco tempo.

Senti um frio na espinha e o estômago revirou. Eu ainda era criança diante daquela gente. Faltava-me experiência, sabedoria, e, o mais importante, requinte.

—Está nervosa? – Não foi difícil para Eva notar meu embaraço.

—Nervosismo faz parte do ser humano. – Respirei fundo. –Vá e diga a todos que descerei em breve.

Sozinha, entrelacei os dedos, e dei passos curtos. O medo não me incomodava em nada, porém, a incerteza, me era um grande desafio.

—Nervosa?

Levemente assustada, dei de cara com Bryan.

—É como se Eu estivesse prestes a subir no palco.

Um jogo de olhares se iniciou entre nós. Não havia elegância e descrição nos olhos dele, havia aprovação e conflito.

—Noventa por cento dos convidados são jovens cobiçados e ambiciosos. Será difícil driblar todos eles.

—E isso te preocupa?

—Nunca me preocupou. – Ele chegou mais perto e irresistivelmente enlaçou minha cintura. –Eu deveria me preocupar? – Seus lábios roçaram os meus, sedutoramente.

—Jamais. Meu amor!

Acordei sobressaltada. Olhei para os quatro canto do quarto e me perdi na penumbra. De coração acelerado e rosto suado, acendi o abajur, e caí sobre o travesseiro. Num leve toque, rocei os dedos nos lábios que haviam sido capturados com desejo no recente sonho provocante.

—Tudo bem?

Brigitte estava confusa.

—Tive um pesadelo, por sua culpa! – Levei as mãos no rosto.

—Minha culpa? O que Eu fiz de errado?

—Você...! – Não. Não seria nada sensato da minha parte revelar a ela que tive um sonho, um tanto, picante com... Bryan. –Vou dá no pé.

—Pera aí! Pra onde você vai?Vamos tomar café juntas.

—Sua mãe vai me questionar e a minha mãe vai me encher depois. Volte a dormir. Vou sair pela janela.

—______________ᵜᵜᵜ______________

De todas as vezes que me senti estranha ou longe de ser Eu mesma, aquela era a primeira vez que me vi, verdadeiramente, sem foco algum para voltar ao meu estado de coerência.

—Foi só um sonho idiota! – Chutei uma latinha de cerveja e, em seguida, me sentei na calçada. –Aquele estúpido! Agora ele vai começar a perturbar os meus sonhos? – Questionei a mim mesma. –Flerte ousado... um beijo fora de série... Teria sido um sonho normal se Eu estivesse atropelando ele!

—Sem companhia, princesa?

Uma sombra tomou a luz do sol sobre o meu corpo.

—Você? – Levantei de supetão. –Luke... O que faz aqui?

Ele sorriu. Aquela pergunta não precisava de uma resposta.

—Você sumiu. Achei que estava em cana.

—Pois é. Fugi ontem da prisão, já que você não foi me fazer uma visita. – Ironizei arrancando um riso divertido dele. –Vou nessa!

—Espera! – Ele impediu minha saída, bloqueando minha passagem. –Vamos sair um dia desses.

—Dá um tempo! – Dei um passo, mas ele me fez recuar.

—Qual é, Stella? Ainda magoada pelo que aconteceu na mansão? Você tem que entender que nem sempre as coisas saem como ‘planejamos’.

—Não tenho mágoa. Não sinto nada. Você pode sair da minha frente ou tenho que dá a volta?

—Calma. – O sorriso desdenhoso tinha desaparecido, ficando apenas um semblante meio irritado. –Isso é sério mesmo? Você está meio esquisita.

—Você não me conhece. Não pode achar que estou diferente.

—Stella... Pera aí, gata! – Persistente, Luke bloqueou meu caminho, quando tentei me desvencilhar dele. –Eu...

—Stella! – Ouvi o meu nome, perto demais para ter total certeza quem me chamava, com certa urgência. –Você está bem?

A pergunta espontânea se originou pela forma petulante de Luke está bloqueando minha passagem.

—Como me achou? – Foi o que consegui perguntar.

—Venha comigo. – Disse ele, encarando Luke com toda seriedade que lhe era possível.

—A gente se vê, gata! – Escondendo o rosto com um capuz, Luke desapareceu em um beco escuro.

—Como me achou? – Perguntei mais uma vez, recebendo um olhar crítico.

—Liguei para a sua mãe.

—Você não fez isso!

—Fiz sim. – Confirmou, para a minha indignação. –Eu disse a ela que precisava do endereço da sua amiga. Inventei uma desculpa qualquer.

—Nunca mais engane a minha mãe!

—Você acha que Eu gostaria está aqui, cercada de gente estranha?

—Eu não pedi para você me encontrar! – Gritei, sem muito perceber que Eu estava ficando nervosa.

—Você não pode simplesmente sumir! É uma Griffin agora! Tem que tomar cuidado por onde anda, com quem anda e com quem conversa!

—Uma Griffin... – Repeti me dando conta de que fora a primeira vez que alguém me reconheceu com legitimidade.

—Precisa esquecer lugares como esse e tão pouco deve visitá-los! Você escolheu uma vida diferente.

—É verdade, mas nem por isso tenho que esquecer minhas origens! Tenho amigos de verdade nesse lugar! Não conseguiria esquecê-los nem mesmo se Eu tentasse!

—Está falando do rapaz que estava bloqueando a sua passagem?

—Ele é um idiota!

Passei por ele, decidida a andar sem rumo, o dia inteiro.

—Espera. – Bryan tocou meu braço, fazendo todo o meu corpo estremecer.

‘Jamais. Meu Amor’.

—Não! – Confusa, pulei para trás, sendo observada com estranheza.

—Você esqueceu o celular no meu carro. – Ele me entregou o aparelho aleijado de muitas quedas. –Posso te levar para casa.

Peguei o aparelho com rapidez. –Valeu. – Não consegui olhá-lo nos olhos, pois não enxerguei naturalidade nas minhas ações. Stella Johnson estava severamente envergonhada. –Eu vou matar a Brigitte! – A culpa era toda dela! Minha relação com Bryan não estaria tão embaraçosa se não fosse as palavras dela. –Pode ir. Eu vou andar um pouco.

—Não posso te deixar aqui.

—Bryan, Eu nasci aqui! Ninguém vai me fazer mal! Já você, é outro esquema. Não tinha um carro menos chamativo para entrar no gueto?

O carro esportivo de luxo estava lá, servindo de outdoor para àqueles que sonhavam alto.

—Não se preocupe com isso. O carro está no seguro.

—Sua vida também? – Ironizei tentando afrontar o psicológico dele. –Relaxa! Ninguém aqui vai arrancar a sua pele. – Ele não parecia está preocupado com o cenário fora de seus padrões luxuosos.

—Eu tenho uma proposta. – Falou intervindo minha fuga.

—Duvido que vou me interessar por ela, mas... manda aí! – Dei de ombros.

—Eu te levo aonde você quiser, mas você terá que voltar para a mansão depois.

Analisei a proposta. –William te mandou aqui, não é?

—Não. Ele sequer sabe que você passou a noite em outro lugar.

—Se Eu não conhecesse você, diria que você está se culpando.

—Pelo quê?

—Por ter tentado me afastar de sua vida? – Indaguei cheia de sarcasmo. –Um motorista? Sério, Bryan? É só me dá um carro e Eu nunca mais vou te incomodar. O que acha?

Ele me olhava avaliativo. Eu sei que ter um carro não dependia dele, mas Eu jamais pediria isso a William.

—Um carro? – Questionou, sem saída.

—É. – Cruzei os braços, olhando-o cara a cara. –Um carro esportivo, como o seu.

—Você quer comprar um carro igual ao meu?

—Da mesma cor. – Obviamente, era uma brincadeira para deixá-lo ainda mais sem chão. –Tô zoando com a sua cara! – Ri como uma criança sapeca. –E então? – Aguardei a resposta, já esperando ele me mandar ter mais atitude e cobrar meus caprichos para William.

—Ok.

—Quê? – Engoli a seco. –Vai me dá um carro?

—Tem carteira de habilitação? – Perguntou sem rodeios.

—Não. – Quase chorei de decepção. –Minha mãe achou que sou meio descontrolada no volante.

—Não tenho a menor dúvida! – Provocou indo ao carro. –Você vem ou não?

—Tá! Você venceu! – O segui, quase correndo para acompanhá-lo. –Quero ir à praia. –Bryan se virou para mim, surpreso. –Você disse que me levaria para qualquer lugar.

—Impossível! Não posso abandonar o escritório para ir à praia!

—Pode sim! William está lá! Vê se relaxa! – Tratei logo de me acomodar no banco. –Você vai adorar os restaurantes de lá!

Todo estresse que senti no início daquela manhã estava se dissipando. Eu não consegui dá importância ao meu nervosismo devido os conflitos internos que estavam me perturbando. Para mim, foi muito gratificante poder dar a Bryan um pouco da simplicidade e paz que ele não via há cinco anos.


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