Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 11
Breu


Notas iniciais do capítulo

Voltei, pessoas! Mais um cap. Beijos!



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Observei aquele homem se afastar, levando com ele toda autoconfiança que Eu tinha armazenado nos poucos minutos que decidi segui-lo.
Suspirei alto, mantendo o foco na fachada vistosa do edifício. Bryan já me aguardava em algum lugar lá dentro. Eu só precisava respirar fundo, deixar o carro de luxo, e ir ao encontro daquele que perturbava meus sonhos: William.

—Merda! – Saí do carro, meio lenta. –O que minha mãe diria se me visse aqui agora? – Continuei observando o edifício, de cima abaixo. –Vamos lá, Stella!

Dei meus primeiros passos à recepção. O mesmo segurança que me impedira de entrar olhava-me com fixação.

—Olá. – Parei de frente a ele. –Eu...

—O senhor Bryan a espera na recepção. – Disse ele, liberando a porta de vidro automática.

—Obrigada.

Respirei fundo novamente, seguindo a orientação do segurança. Meus olhos estavam atentos ao movimento de funcionários e clientes. Todas àquelas pessoas estavam vestidas formalmente. Todas elegantes e muito apressados.

—Não tenho o dia todo, senhorita.

Bryan surgiu na minha frente, tirando-me do transe deslumbrante do lugar. Fui conduzida ao elevador. O homem de expressão impaciente fora cavalheiro a me convidar a entrar.

—Não é melhor subirmos pelas escadas? – Sugeri, relutante a entrar no elevador.

—Até o trigésimo andar? – Indagou incrédulo. –Não me diga que tem medo de elevador?

—Não é medo. – Falei desconcertada. –Só que não confio em elevadores.

Bryan olhou o relógio no pulso. –Estamos perdendo tempo.

—Você pode ir de elevador. Eu vou pelas escadas. – Havia me decidido.

—Espera um pouco! – Ele coçou a nuca, demonstrando impaciência. –Elevadores são seguros. Há cabos de aço potencialmente fortes para agüentar mais de trezentos quilos. Além disso... Isso é ridículo! – Suspirou alto. –Não posso ficar aqui segurando essa porta enquanto falo sobre elevador.

—Obrigada pela aula. Vou pelas escadas.

—Senhorita Johnson! – Falou alto, perdendo toda paciência. Bryan manteve seus olhos furiosos em mim, provavelmente pensando em um plano. –O que a faz pensar que esse elevador vai despencar, do nada?

Também mantive meus olhos fixos nele. Um nó se formou na minha garganta.

—Eu... – Engoli a seco. –Já fiquei presa em um elevador. –Encarei o chão, constrangida por ter revelado a ele um trauma sofrido há mais de um ano. –Nunca mais entrei em elevadores. – Ergui a cabeça lentamente. Bryan ainda me olhava, um tanto surpreso.

—Entendo. – Como se saísse de um transe, ele deu passos seguros para fora, deixando o cubículo de aço. –Então... subiremos as escadas.

Meus lábios se entreabriram, num êxtase de espanto.

—O quê? Você não precisa fazer isso.

Bryan parou de frente a mim. –É melhor Eu está por perto caso você desmaie.

—Tenho um preparo físico muito bom. – Gabei-me seguindo-o no primeiro lance de escadas. –Fui a melhor da turma do segundo ano em educação física.

—Isso não quer dizer nada. Nosso condicionamento físico está mudando constantemente, a não ser que você pratique esportes ou faça academia com freqüência.

—Como no seu caso? – Bryan e Eu nos olhamos. –Não que Eu me importe com caras sarados, mas... – Estava ficando cada vez ruim aquele assunto. –Você é um cara forte. Não sou cega.

Ele nada disse, simplesmente passou por mim, e seguiu firme, escadas à cima.
Quinze minutos de andança íngreme tinha dado cabo às minhas forças. Cansativa, parei.

—Que andar estamos?

—No vigésimo. – Bryan virou para mim, cinco degraus abaixo dele. –Não estava se gabando de ter sido a melhor da turma em educação física? – Ele disfarçou o riso debochado.

—Você é sempre maldoso assim? – Sentei, tomando fôlego. –Vou descansar um pouco.

—O quê? – Indignou-se. –Você faz idéia de quanto tempo já perdemos?

—É por isso que estou cansada. – Retruquei. –Você deve andar por essa empresa feito um louco. Por que não descansa um pouco?

—Por que não estou cansado!

—Duvido!

—Escuta aqui...! – Ele desceu mais dois degraus, possesso. –Você é sempre assim irritante?

—Não sou irritante! – Respondi alterada. –Você que é estressadinho demais! – Levantei, retomando a caminhada. –Deveria tomar cuidado com enfarto.

—É você que está me enfartando! – Afrouxou a gravata. –O que Eu fiz para merecer isso?

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De dedos entrelaçados e com o corpo trêmulo, conferi, minuciosamente, cada detalhe exuberante da recepção da presidência. Até mesmo a secretária, que a todo instante atendia ao telefone falando três ou quatro idiomas diferentes, era dotada de elegância e beleza. A dinâmica do trabalho a impedia, até mesmo, de saborear um simples café. Calada, testemunhei o quão corrido e responsável era trabalhar ali.

—Vamos aguardar na minha sala. – Bryan voltara, com uma novidade inesperada.

—E o senhor William?

—Ele vai atendê-la depois da reunião. – Abriu a porta de sua sala, dando passagem para mim.

—E você com tanta pressa de chegar aqui em cima. – Ri da cara dele. –É sua sala? – Indaguei vislumbrada com tudo que existia no amplo âmbito de trabalho.

—É. – Respondeu sem importância.

—Fiquei observando o comportamento das pessoas aqui. – Comentei indo aos objetos de decoração. –Todos parecem loucos, principalmente a loira lá fora. – Bryan nada disse. Continuei bisbilhotando a sala. –É por isso que você é assim, tão sério?

—Vou pedir alguma coisa para você tomar. – Desviou da minha pergunta.

—Nada de água ou café. Tem Vodka? – Seu olhar sobre mim era reprovador. –Não sou uma garota desnaturada, se é o que está pensando. Estou nervosa e preciso acalmar os nervos. – Sentei de frente para ele. –E aí?

Ele me olhava duvidoso. –Você não tem cara de ser maior de idade. – Confrontou-me. –Quero ver seu documento.

—Está brincando, não é?

—Não. Não estou! – Estava mais sério que nunca.

—Não acredito nisso! – Alterei o tom de voz. –No meu bairro...

—Não estamos em seu bairro, estamos na empresa Griffin. As pessoas aqui costumam ser muito responsáveis. – Disse categórico.

—Claro que são. – Fui sarcástica. –Vai me dá a bebida ou não?

—Vai me mostrar o documento?

—Como se você fosse autoridade!

—Aqui dentro sou!

Uma batalha de olhares iniciou. Eu estava pouco me importando de Bryan ser um dos manda-chuva da empresa. Ficara claro para ele que minha personalidade não era tão diferente da sua.

—Você é tão presunçoso, cara! – Fui à porta. –Vou buscar água.

—Tem água ali. – Apontou para a mesa contendo tudo que ele precisava.

—Mesmo assim...

—A secretária trará o que você pedir.

—Não preciso de babá! – Mostrei a língua, deixando-o confuso e mais indignado que nunca.

Um riso divertido surgiu nos meus lábios, afinal, não era tão ruim está no território Griffin, confrontando um cara que agia como um Deus no local de trabalho. Sem dúvida, aquela seria a primeira e a última vez que Bryan e Eu interagíamos. Eu não deixaria escapar a única chance que Eu tinha de provocá-lo, mesmo que sua atitude de andar comigo escadas acima tenha sido... fofo. Eu realmente não esperava aquela atitude. Ele pareceu me entender perfeitamente bem naquele momento. Será que Bryan também carregava um trauma?

—Senhorita? – A secretária neurótica me tirou dos devaneios. –O senhor Bryan quer que você aguarde na sala dele.

—Oh! Só vim buscar água.

—Vou pegar para a senhorita. – Levantou pronta para me atender.

—Não precisa se incomodar, Eu... – E num instante ela me serviu.

—Algo mais?

Peguei o copo, estranhando tanta eficiência.  –Estou bem. Obrigada.

—É meu trabalho. Agora, por favor, se dirija à sala do senhor Bryan.

Sua rapidez estava ligada ao fato de Eu não ficar por lá.

—Ok! – Voltei à sala. Bryan estava concentrado no computador. Digitava rápido demais, sem tirar os olhos da tela. Aquilo tinha me impressionado. –Puxa! – Puxei a cadeira e me sentei. –Você é bom. – Ele me olhou desdenhoso. –Pode parecer bobo para você.

Cinco minutos se passaram. Estávamos calados, o único barulho eram os dedos ágeis de Bryan sobre o teclado.

—Até quando vou ter que aguardar aqui? – Não tive resposta. –Você é o cara mais ignorante que já conheci na vida!

Sem consegui a atenção dele, desocupei a cadeira, e, mais uma vez, voltei a bisbilhotar a decoração cara. Uma escultura de cristal despertou meu interesse. Ela parecia muito protegida das pessoas, embora estivesse tão perto de mim. Não resisti e a tirei da caixa de vidro.

—É uma miniatura do prédio! – Analisei embasbacada. –Como fizeram isso?

—O que você está fazendo? – Bryan levantou, em abrupto.

—Só estou vendo.

—É para olhar e não pegar! Devolva!

—Calma! Só estou vendo! – Nervosa, abri a caixa. –Quem não ficaria maravilhado? – Infelizmente, bati a escultura na portinha de vidro. –Será que quebrei?

—Você é mesmo petulante! Dei-me aqui!

—Vou ver se não quebrou! – Fugi dele.

—Se estiver quebrada você vai pagar! – Andou atrás de mim.

—Com que dinheiro? – Dei a volta na mesa.

—Não me importa como! – Quando ele me alcançou, puxou a escultura com força das minhas mãos. –O que diabos você fez aqui? – Perguntou aos berros.

—O que está acontecendo?

Um homem invadiu a sala.  Ao vê-lo, Bryan respirou fundo, ajeitou o cabelo, e se recompôs.

—A garota... – Falou Bryan apontando para mim. –Fiz o que você me pediu, agora, leve-a para a sua sala ou ficarei louco!

Estática, olhei fixamente o homem de estatura alta que se atrevia a retribuir o olhar. Vê-lo no Google não era a mesma coisa que vê-lo pessoalmente.

—Você me lembra muito a sua mãe na faculdade. – Foram suas primeiras palavras. –Vamos à minha sala, Bryan parece exausto.

Demorou Eu entender que era para acompanhá-lo, na verdade, Eu sequer estava raciocinando direito.

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Acanhada e visivelmente sem jeito algum, fui convidada a entrar na sala principal da empresa. Era como está na sala de Bryan, porém, notava-se um lugar mais amplo, e mais familiar. Alguns porta-retratos davam boas vindas à visitante de primeira viagem.
Fiquei impressionada com todas as pessoas nas fotos. A família Griffin, aparentemente, fora numerosa, e sempre unida.

—É uma longa geração. – William despertou minha atenção. –A maioria deles foi grandes engenheiros. – Confessou, observando as fotografias. –Enfim... Já não existem famílias numerosas como antigamente.

Respirei fundo, sem ter o que comentar.

—Sente-se, por favor. – Indicou a cadeira.

—Prefiro ficar de pé. Obrigada. – Estava praticamente encolhida em um canto.

—Já ouvi muito a seu respeito, Stella. – Contou enfiando as mãos nos bolsos. –E, pelo que pude apurar, você tem a mesma personalidade da Kimberly.

—O senhor fala como se conhecesse bem a minha mãe.

William calou-se por segundos. Claramente pensava no que diria.

—Provavelmente a conheci um pouco. – A expressão passara de suave para tensa. –O fato é que Kimberly... É... – Ele pigarreou. –Estou me desviando do motivo de você está aqui.

Vi William se fechar em sete chaves. Falar sobre a minha mãe o incomodava, desconcertava-o de uma maneira patética.

—Não tive oportunidade de agradecer o senhor por ter... me livrado de um processo. – Engoli a seco. –Sei que minha mãe o procurou para convencê-lo.

—Não houve relutância da minha parte. Só me espantei por se tratar da filha de uma ex-colega invadindo minha casa.

Colega... O que ele queria insinuar ao se referir a minha mãe como uma colega? Eles tiveram um caso na juventude, muito além de um namoro convencional.

—Senhor William...

—Isso é passado agora. – Interrompeu, pensativo. –Você sabe por que está aqui, certo?

Eu poderia explodir naquele momento e lhe dizer tudo que Eu pensava sobre ele, no entanto, estava claro que havia algo muito errado na tranqüilidade daquele homem. No mínimo, uma reação desconfortante nasceria nele, pois era a filha dele, pela primeira vez, o visitando.

—Vai falar sobre Stephany? – Fui realista.

Ele respirou fundo, como se tivesse cansado. –Sei que ela é mimada e arrogante, mas...

—Não a machuquei. – Meu humor fora ultrajado pela impaciência. –Ela me odeia pelo fato de Eu ter invadido sua casa.

Ele coçou o queixo. –É uma situação extremamente delicada. – Tamborilou os dedos na mesa. –As câmeras mostram você saindo....

—Não perca o seu tempo falando de coisas que já sei. – Era minha deixa. –Não resta outra escolha senão aguardar a verdade, ela sempre vem à tona!

Deixei a sala sentindo o coração tamborilar. Minhas pernas estavam mole e minhas vistas turvas. Imaginei um encontro difícil, longe de uma retratação, mas acabei me deparando com um homem distante dos vestígios de seu passado. Minha mãe queria se manter sempre ausente de qualquer lembrança vinculada ao ex namorado, William, agia como se não houvesse fatos marcantes de sua relação  com minha mãe.

—E se ele não for o meu pai?

Aquela pergunta me desconstruiu por completa. Não que Eu desejasse William como pai, mas minha história precisava de acertos. Um ponto final tinha que ser dado.

—Ai, meu Deus!

Um desequilíbrio confundiu corpo e mente.

—O que faz aí parada?

Bryan surgiu na minha visão, confuso, e rápido.

—Não estou me sentindo bem.

De repente, nada parecia fazer sentindo. Minha mente se calou no breu.  

 


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