Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 1
Liberdade aprisionada


Notas iniciais do capítulo

Fics original, pessoas! Mais uma aventura! Beijos, beijos!



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Se um único desejo me fosse concedido, Eu desejaria acordar todas as manhãs, tomar uma boa xícara de café quente e mastigar um simples pedaço de bolo de milho, em paz, cercada de silêncio e ordem. Seria um desejo mais que simplório, havendo uma única oportunidade de, um dia para o outro, se tornar uma jovem milionária. Talvez, realmente houvesse cobiça para tal façanha, se eu não fosse uma garota entretida com causas que, nem mesmo os meus pais conseguiam resolver.

—O aluguel vai vencer em dois dias. – Um papel xerocado caiu sobre a mesa. –Não quero o senhor Bruce me olhando torto novamente.

Obviamente, minha mãe não estava falando comigo, mas fiz questão de observá-la, para que ela percebesse que eu me importava.

—Você se incomoda à toa com o olhar das pessoas.

Meu pai, mais uma vez, fez o desabafo de sua esposa parecer ingênuo aos nossos olhos.

—Faça como quiser! – Enraivecida, embora contida, minha mãe deu a volta na mesa, para limpar a bochecha de minha irmã caçula.

—Preciso de cadernos e canetas. – Falou meu irmão, mais uma vez naquela manhã.

—Pega emprestado com suas irmãs. – Aconselhou o meu pai.

—No meu estojo ninguém toca!

Uma troca de olhares hostis deu início a uma batalha de pirraça entre os gêmeos, Peter e Anna.

—Aqui. – Entediada abri minha mochila e joguei meu estojo na mesa. –Não precisa me devolver.

Levantei, jogando a mochila nas costas.

—Não pode dá suas coisas para ele!

Ouvindo o reclame de Anna, me virei para ela, e gentilmente passei a mão nos seus longos cabelos pretos.

—Se não nos ajudarmos... Quem vai nos ajudar?

Por instinto, observamos nosso pai à direita, lendo o jornal casualmente, e era como se ele não estivesse lá.

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Desci o lance de escadas rapidamente. Não havia nenhum lugar para ir, mas a urgência em me ver livre da minha própria casa acelerou os meus passos.

—Liguei três vezes para você hoje!

Sempre explosiva, minha amiga de infância me abordou. Julgando-a, eu diria que ela estava pior que Eu em termos de infelicidade.

—Foi mal. Meu celular descarregou por completo.

—Você sempre se esquece de carregar a bateria do seu aparelho! Como isso é possível? Não consigo ficar um minuto sem celular!

—Isso acontece quando se é popular.

—Popular... Eu? – Ela riu abrindo a porta de acesso à rua. –As vadias não costumam ser popular positivamente, lembra?

—Você não é uma vadia, só se relacionou com caras que, aparentemente, eram amigos de infância.

Aquele era um fato que minha amiga Brigitte lutava a esquecer.

—Como Eu ia saber que eles eram amigos, tipo irmão? – Perguntou revoltada. –Os homens deveriam sair por aí com uma etiqueta pessoal, para não existir tantas fraudes!

—Você os caça o tempo todo. É por isso que sempre está encrencada. – Sentamo-nos na calçada e observamos e vai e vem de pessoas atarefadas. –Deveria tentar ser um ser humano mais leve.

—Como você? Não, obrigada. Minha vida é muito melhor que a sua.

—Diz isso pela banheira que sua mãe comprou em trinta prestações, sem juros? – Ela sorriu, nossas vidas não era muito diferente. –O aluguel vai atrasar de novo. – Suspirei alto. –É a mesma merda todo mês!

—E seu emprego aos fins de semana?

—A pizzaria faliu. – Dei de ombros. –E... já não me importo tanto com a situação lá em casa. Já carrego responsabilidades demais o tempo todo.

—E você só tem dezoito anos. Como vai ser aos trinta?

Provavelmente, pensei, Eu estaria morando em um apartamento de quarto e sala no Brooklin, numa rua onde os carteiros temessem a própria a vida.

—Meu futuro não será tão diferente das garotas daqui. – Havia várias delas, afundadas no desespero tanto quanto eu.

—Você é a garota mais inteligente que conheço. Devia ser otimista.

—Isso não tem nada a ver com otimismo.

—Tem razão. Tem a ver com ‘esperteza malandra’ e você não é muito boa nisso, sem ofensa. – Disse cheia de sinceridade. –Não está na hora de você ser uma garota normal?

—O que você quer dizer com normal? – Eu a segui pela calçada. A resposta de Brigitte foi um assovio sem sentido. –Atravessar o país com uma mochila nas costas me faria ser normal, é isso?

—Mais ou menos! – Ela bateu de leve nas minhas costas. –Deveríamos tentar. É o que eu penso.

—Sem chance! – Brigitte visivelmente ficara decepcionada. –Se quiser realmente fazer uma loucura sem volta, você deveria engravidar de um cara qualquer na balada. Que tal?

—Credo! – Ela tombou seu corpo no meu, fazendo que eu me desequilibrasse. –Olha só! – Brigitte me puxou para um beco qualquer na esquina. –É o pessoal interessado no terreno baldio de nossa infância.

Há cem metros de nós, dois carros de luxo se encontravam estacionado. Havia certa movimentação no lugar.

—O que será que planejam fazer? – Indaguei, observadora.

—Ouvi dizer que é um prédio comercial. – Brigitte focou nas pessoas à nossa frente. –A família Griffin é a nova proprietária agora.

—Griffin? – Matutei o sobrenome em questão. –Nunca ouvi falar sobre eles.

—É por que você não se importa com nada, a não ser a sua irmãzinha de um ano, os gêmeos terríveis, e o aluguel do apartamento em ruína. – Ela segurou meu braço. –Vamos embora.

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Fechei o livro de romance e tive como foco a trabalheira da minha mãe na pia cheia de louça suja. A vida real era bem diferente dos contos de fadas que, toda noite, eu lia para minha irmã Anna.

—Hora de dormir, mocinha.

Obediente, ela saiu em direção ao quarto.

—Estou mesmo precisando de uma máquina de lavar louça!

—A senhora está precisando de um Spar. – Comecei a guardar a pilha de pratos limpos e secos. –Posso te fazer uma pergunta?

—O que é? – Perguntou sem importância.

—Por que se casou com o papai? – Eu estava certa de que ela não responderia.

—Por que essa pergunta estranha?

Como previ, ela desconversaria.

—Andei vendo seu álbum da faculdade. – Confessei meio apreensiva. –Você era muito bonita e, pelo que pude perceber, era muito popular também.

—Isso faz muito tempo. – Ela sorriu da forma mais desagradável. Minha mãe não sabia esconder suas emoções.

—Também era muito inteligente... Por que desistiu da faculdade no quarto semestre?

—Stella! – Também imaginei que ela se irritaria. –Esquente a mamadeira da sua irmã. Já são dez horas! Ainda tenho coisas a fazer!

Furiosa, minha mãe tirou a pequena Lucy do carrinho e a entregou a mim.

 


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