POV Bella

Minha primeira noite no apartamento havia sido muito prazerosa, um bom vinho acompanhado de uma seleção de queijos frente a um bom filme e coberto com um bom cobertor não poderiam ter desejado nada melhor.

Ainda me surpreendia meus próprios gostos mas não era algo que eu pudesse dividir com outra pessoa. Afinal, eu nem mesmo sabia se tinha amigos para isso... Claro que haviam Alice e Edward, os estudantes que conheci no dia anterior, mas o que eu diria? Eu acabara de conhecê-los; além do mais, eu não podia simplesmente dizer “Eu não faço idéia do que gosto porque não me lembro de nada antecedente ao mês passado, legal não?”, eles certamente me julgariam louca, e com razão. Este seria um segredo meu, e só meu.

O dia se passou tranqüilo, mantive-me todo o tempo no apartamento, desfrutando-o, como eu não conseguia me lembrar de nada nem ninguém a solidão era algo até mesmo reconfortante para mim, eu não precisava ficar fingindo nem forçando-me a lembrar de coisa que não pareciam existir em minha mente.

Próximo as seis da tarde fiz uma refeição leve e me pus a me arrumar para a festa. Liguei uma música alta, sendo possível ouvi-la de qualquer lugar do apartamento e comecei pelo banho, um banho demorado e relaxante, ao sair vesti apenas uma lingerie preta e passei meu creme, com essência de morango por todo meu corpo, em seqüência busquei em meu closet algo para usar na festa.

Eu não sabia ao certo o que usar, mas sabia que se usasse algo confortável e bonito seria mais do que suficiente. Acabei por optar por uma saia de pregas, meias sete-oitavos, bota de cano baixo e uma blusa aberta até o umbigo com um top no busto, fiz uma maquiagem um pouco forte, mas sem exageros, e no cabelo, prendi apenas duas mexas com presilhas de brilhantes. Brincos de pedra e uma pulseira de brilhantes, coloquei meus documentos e meu batom dentro de uma bolsa de mão vermelho vinho e eu estava pronta.

No mesmo instante a campainha tocou. – Se tivéssemos combinado não daria tão certo. – comentei enquanto me dirigia a porta, ao abri-la lá estava Edward, todo elegante em uma calça jeans e uma camiseta pólo, um sorriso deslumbrante em seus lábios, apoiado no batente da minha porta. Seus olhos percorreram meu corpo dos pés a cabeça. -Olá. – disse-me ele com aquela voz de anjo. – Você está linda!

-Oi! -sorri dando-lhe passagem para entrar. Edward entrou observando o local. – Obrigada. – agradeci levemente constrangida, mas logo me recompus. Edward não pareceu notar meu deslize.

-Ficou muito bom nosso trabalho. – comentou satisfeito. Assenti concordando.

-Realmente. Ficou ótimo! – ele se virou ficando de frente para mim, sem nunca tirar o sorriso dos lábios. - Obrigada mais uma vez.

-Não há de que... – um sorriso torto maravilhoso surgiu em sua face, fazendo-me ofegar. – Você está pronta? – indagou ele.

Assenti, mas não me movi. -Você vai mesmo me trazer a hora que eu quiser? – indaguei desconfiada, pelo pouco que conhecia Alice eu já poderia ver que ela era uma festeira de carteirinha e não me deixaria sair de lá tão cedo.

Edward não parecia preocupado com a irmã. – A hora que você quiser! – garantiu ele. – Eu prometo. – Sorri relaxando, por algum motivo, eu sentia que podia confiar nele, ele me transmitia segurança.

-Ok. Deixe-me apenas pegar minha bolsa no quarto. – pedi e sai rapidamente para o quarto, olhei-me no espelho conferindo uma ultima vez se tudo estava certo voltei, Edward se encontrava no mesmo lugar, mas seu olhar estava fixo em alguma coisa que não consegui identificar o que era. – Vamos?

Ao som da minha voz, Edward pareceu despertar do transe e me olhou, sorriu e assentiu. – Vamos. – como um cavalheiro, abriu a porta e permitiu que eu passasse primeiro, me aguardou trancar a porta e abriu a porta do carro para mim.

O percurso foi silencioso e agradável, Edward colocou uma música tranqüila para ouvirmos. Ele dirigia com calma e responsabilidade, algo que me agradou muito, a ultima coisa que eu queria era ter que estar em um carro em alta velocidade, eu era a prova viva que isso não era uma boa idéia. 

Recostei minha cabeça no encosto do banco e fechei meus olhos, todas as vezes em que minha mente me levava para o acidente e meu passado desconhecido eu sentia meu peito apertar, convidando as lágrimas a banharem meu rosto, a dor era grande, mas eu não poderia demonstrar nenhum desses sentimentos. Por mais que Alice e Edward tivessem se mostrado pessoas muito agradáveis, como reagiriam ao saber que eu não sabia quem era?

-Então, - a voz suave de Edward arrancou-me de meus devaneios melancólicos; abri meus olhos e o fitei. – Está animada para a festa? – um sorriso terno reinava em seus lábios e seus olhos variavam entre a estrada e eu.

Dei os ombros. – Honestamente? Acho que eu preferia ter ficado em casa e descansado, mas acredito que será divertido. – sorri e Edward assentiu satisfeito.

-Tenho certeza que sim, e podemos ir embora a hora que quiser, basta pedir. – garantiu ele mais uma vez e eu assenti satisfeita, Edward era muito atencioso e cavalheiro.

-Obrigada. – Não demorou muito mais tempo para chegarmos ao local da festa, Edward estacionou o carro e me ajudar a descer. Ficamos alguns instantes frente a porta da casa.

Me vi ofegando, a tensão crescendo dentro de mim, eu não sabia o que esperar, na verdade, eu nem sabia se já havia comparecido a alguma festa, senti o medo começando a me tomar, estava prestes a pedir que Edward me levasse embora com a desculpa de estar indisposta, mas ele tomou minha mão com gentileza. – Vamos. – e me guiou para dentro da casa, antes que eu pudesse dizer não.

O lugar estava cheio, pessoas conversando ou dançando para todos os lados, música alta e ao final da sala pude ver uma mesa repleta de bebidas, Edward parou por momento, procurando alguém ou algo e quando finalmente pareceu encontrar me guiou até lá, estranhamente, Edward parecia nem reparar os olhares de cobiça que todas as mulheres lhe lançavam.

Inicialmente não compreendi a onde íamos, mas logo avistei Alice abraçada a um moço loiro deslumbrante, ao lado deles estavam um casal tão majestoso quanto eles, uma loira e um moreno musculoso. Eles eram deslumbrantes, todos eles, e chamam consideravelmente a atenção para si, era intimidante.

-Bella! – Alice se alegrou ao me ver, se desvencilhou do loiro e veio me abraçar. – Que bom que veio! – ela sorriu e eu retribui.

-Como se o Edward fosse me deixar ficar em casa. – brinquei fazendo-a rir abertamente.

-Ele não seria louco! – concordou ela bem-humorada. – Oh, deixe-me apresentar meus irmãos. – Ela se afastou e voltou a abraçar o loiro. – Este é Jasper, meu namorado.

Sorri tranquilamente, por mais maluco que pudesse parecer Jasper parecia me transmitir uma paz tão grande, eu me senti feliz naquele instante. – É um prazer. – declarei sorrindo, mas me mantive no mesmo lugar.

Jasper sorriu e também se manteve onde estava. – Ouvi dizer maravilhas sobre você, Bella. – senti minhas bochechas corarem, e m vi obrigada a desviar o olhar, isso causou um riso leve por parte de todos ali.

-Alice parece ser uma mulher exagerada às vezes. – respondi ainda constrangida, Edward envolveu minha cintura e beijou o topo de minha cabeça.

-Não se preocupe, ela realmente é, e todos sabemos disso. – declarou ele, Edward removeu uma mecha de cabelo de meu rosto, seu sorriso me passando tranqüilidade, segurança. Gostei disso.

-Bom. – Alice forçou-me a voltar minha atenção para ela. – Estes são Rosalie e Emmett. – ela gesticulou a loira e ao musculoso, sorri novamente.

-Muito prazer. – foi tudo que disse, eles sorriram de volta e então todos entramos em uma animada conversa.

Descobri que Rosalie estava fazendo engenharia, Jasper direito e Emmett administração, também pude perceber que embora todos se denominem irmãos e possuíssem o mesmo sobrenome, Alice e Jasper assim como Rosalie e Emmett eram um casal, o que me deixou um pouco confusa, mas não me senti no direito de levantar o assunto.

Edward foi muito protetor para comigo e se manteve ao meu lado todo o tempo, não sei bem se por minha companhia ou por medo de se perder de mim e depois não conseguir cumprir sua promessa de me levar embora a hora que quisesse.

Quase uma hora mais tarde eu me vi com a garganta seca de tanto falar e dar risada. – Eu vou pegar algo para beber. – declarei já me virando para sair, Edward me acompanhou.

-Eu vou com você. – declarou ele sorrindo, não fiz objeções. Rapidamente chegamos a mesa de bebidas e eu optei por pegar uma dose de tequila. – Vai beber? – perguntou Edward com o cenho franzido.

A verdade é que nem mesmo eu sabia que gostava de bebida, mas a idéia de ingerir um pouco de álcool me agradava, embora eu não soubesse o porquê. Dei de ombros fingindo indiferença e normalidade diante do fato. – Você não? – perguntei agora a curiosidade surgindo, um homem que não bebia em uma festa com tudo liberado? Isso soava muito estranho.

Foi então que me chamou a atenção o fato que nenhum dos Cullens havia comido ou bebido algo, não que eu tivesse comido, mas eu beber parecia quase que uma obrigação. Edward deu de ombros. – Estou dirigindo caso não se lembre? – ele tirou as chaves do bolso e as chacoalhou diante de mim. – E se a senhorita pretende beber, agora que preciso estar mais sóbrio ainda. – ri diante de sua preocupação e virei a primeira dose.

A tequila desceu queimando dentro de mim fazendo uma careta se formar em minha face, de repente tudo ficou quente. – Não sabia que gostava de beber. – comentou Edward seu olhar visivelmente desagradado com minha bebida.

Aquelas palavras me incomodaram, nem mesmo eu sabia que gostava de beber, contudo, isso era algo que eu jamais poderia falar para Edward, ou qualquer outra pessoa, ninguém entenderia. – Socialmente. – fingi desinteresse e peguei uma nova dose, virando-a em seguida.

-Ok, vai com calma Bella. – pediu Edward retirando o copo vazio de minhas mãos e me guiando para longe das bebidas.

-Não seja tão certinho, Edward. – reclamei já sentindo o efeito do álcool sobre meu estomago vazio.

-Apenas não vamos abusar, está bem? – pediu ele parecendo irritado com alguma coisa que eu não fazia idéia do que era.

Dei de ombros sem me importar realmente com as palavras dele, Edward me guiou para perto de seus irmãos, nem mal cheguei Emmett já me puxou para dançar com ele. Enquanto nos afastávamos eu pude ver Edward e Alice discutindo com fervor, quis voltar e saber o que estava havendo mas sabia que não tinha esse direito.

POV Edward.

Quando Bella dissera que queria algo para beber nunca me passou pela cabeça algo alcoólico, Bella odiava bebidas alcoólicas e de repente eu vejo-a virando duas doses de tequila de uma só vez, tentei ao máximo esconder o incomodo que aquela cena me proporcionara e guiei Bella de volta para perto de meus irmãos.

Quando estávamos nos aproximando sibilei rapidamente para Emmett – Chame Bella para dançar.

Emmett franziu o cenho e me respondeu em pensamento. “Pra que?”, novamente sibilei que explicava mais tarde, sem que Bella nada notasse nosso dialogo Emmett tirou-a para dançar.

Esperei que estivessem a uma distancia segura e encarei Alice, bravo, sentindo meu veneno borbulhar de raiva para com ela. – Pra onde você mandou Bella? – rosnei ameaçadoramente.

Alice não pareceu se intimidar, dando de ombros. – Para a casa de uns amigos.

-Uns amigos? O que eles fizeram com ela? – me exaltei. – Desde quando Bella gosta de decoração ou moda? Desde quando Bella gosta de álcool? Pelo amor de Deus, Alice! O que eles ensinaram para ela?

Alice trincou o maxilar, raivosa. – Ensinaram o que foi preciso para conseguir minimizar o dano que você causou, caso não se lembre Edward!

Suas palavras me atingiram como lanças em chamas, eu sabia que ela estava certa, mas ver Bella tão receptivas a hábitos danosos a si mesma me consumia, mas o que eu diria? Eu sabia que haviam feito a cosia certa, e agora cabia a mim modificar seus hábitos ou ao menos impedir que eles lhe causassem mais danos.

Sem dizer mais nada e virei e fui até Emmett e Bella, esta já havia dado um jeito de conseguir um pouco de vodka, causando uma irritação e frustração maior ainda, era melhor levá-la para casa.

-O que acha de irmos Bel? – sussurrei em seu ouvido devido a música alta. Com um gesto dispensei Emmett. - Precisamos dormir cedo, lembra? Amanhã começam as aulas. – eu sabia que responsável ela ainda era e eu acabaria por convencê-la.

Bella suspirou e virou o resto de sua bebida. – Acho que você tem razão. – ela tentou andar mas cambaleou, ótimo, estava bêbada.

Envolvi sua cintura e ajudei-a a ir para o carro. – Cuidado. – pedi temendo uma queda ou uma colisão.

-Não deveríamos nos despedir dos outros? – perguntou ela quando já estávamos dentro do carro. Dei de ombros e afivelei seu cinto.

-Eles vão superar. – foi tudo que disse e comecei a dirigir para o apartamento de Bella, não precisei nem mesmo olhar para saber que Bella adormecera no caminho.

Quando chegamos retirei Bella do carro carregada, não achei prudente acordá-la, ela precisava descansar. Peguei as chaves em sua bolsa e abri a porta, coloquei-a deitada em sua cama, retirei seus sapatos e soltei as presilhas do cabelo, retirei cada jóia e por fim cobri-a com as cobertas.

Bella nem mesmo percebeu nada daquilo, estava imersa em um sono profundo e sereno, sua feição era tranqüila como a muito eu não via e me satisfez vê-la daquela maneira, desprendida de toda e qualquer tormenta que havia jurado acompanhar-lhe o resto da vida.

Acariciei seu rosto, retirando uma mecha de cabelo de seus olhos. – Senti tanto a sua falta, meu amor... – sussurrei permitindo que os sentimentos tomassem conta de meu ser. – Espero que um dia você possa me perdoar. – beijei-lhe a testa e rocei meus lábios nos seus, cientes de que agora eles eram proibidos para mim, a não ser agora, na calada da noite, enquanto a inconsciência a tomava. – Eu amo você.

E antes que meu auto-controle me traísse eu me afastei, deixando na casa de Bella tudo de mais valioso que eu tinha, mas ciente de que poderia vê-los no dia seguinte, mesmo que não pudesse tocar.