Desentendimentos escrita por Marry Black, grupo_FCC


Capítulo 24
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Mais dias se passaram e Melissa tanto fez que conseguiu me ensinar todos os tipos de dança conhecíveis, por mais que possa parecer irônico, uma garota sem equilíbrio como eu dançar qualquer tipo de musica sem o menor problema e ainda, dançar bem, era assim que acontecia comigo. Digamos que Mel cumpriu o que prometeu e me ensinou o "jeitinho brasileiro", dançar passou a ser algo natural para mim.

Outra coisa que me tornei experiente foi falar a língua portuguesa, mesmo sendo uma das línguas mais difíceis do mundo, Melissa e Guilherme me ensinaram rapidamente a falar português; se tornou algo tão natural para mim que de um tempo para cá eu já nos pegava em conversas em português.

Mas o mais importante de tudo é que eu fui aprendendo a esquecer a dor, ela nunca se foi, sempre continuou ali, mas eu aprendi a ignorá-la, ao menos por hora. Aprendi também a minimizar minha raiva, afinal se... Ele, queria aquela mulher, não havia nada que eu pudesse fazer a respeito. Porém tudo isso não passava de uma teoria, logo completaria um mês que eu estava isolada numa ilha, onde as únicas pessoas com quem eu tinha contato eram Melissa e Guilherme, eu não certeza se todo esse meu equilíbrio se manteria no momento em que eu interagisse com outras pessoas, muito menos no momento em que eu encontrasse com... Ele.

Por mais que a idéia me desse náuseas, eu sabia que mais cedo ou mais tarde teria que encará-lo, afinal, não podíamos ficar assim para sempre, precisamos tomar algum rumo nas nossas vidas; esse era o principal motivo por eu permanecer ali, naquela ilha, eu ainda não sabia o que eu queria da minha vida.

Eu daria a Ele a chance de se explicar? Pediria o divorcio de uma vez? Gritaria com Ele? De que adiantaria enfrentá-lo, permitir que o buraco tão doloroso em peito retornasse a tona se eu ao menos sabia o que deveria dizer a Ele?

O que eu não sabia é que todas essas dúvidas, toda essa falta de rumo, mudariam naquele mesmo dia, quando Melissa em seu momento Alice, conseguiu me convencer a finalmente sair da ilha...

-Eu ainda não acredito que você conseguiu convencê-la a sair daquela ilha... – disse Guilherme para Melissa enquanto estávamos na lancha, a caminho do continente.

-Eu planejei isso por meses, eu precisava sair da ilha! – explicou Mel, sem nem ao menos levantar a cabeça do meu colo, ainda estava apoiada. – E não deixaria Bella sozinha.

-Ei! – defendi-me. – Isso não tem nada a ver! Eu poderia muito bem ficar sozinha.

-Poder poderia. – concordou Mel. – Mas eu realmente quero que você participe disso, é algo totalmente gratificante, Bella. – ela se levantou do meu colo e fitou-me nos olhos. – Quando vemos esse tipo de coisa é que percebemos como temos sorte.

Dei uma risada sem humor, Mel não do que falava, ela não viveu o que eu vivi, mas eu não criaria polemica, se ela queria tentar me provar que existia dor maior do que a minha, eu não faria objeção, afinal, ela e Gui tem sido como anjos para mim, se ainda estou viva, é graças a eles.

O resto do trajeto foi tranqüilo, fizemos muitas brincadeiras, conversamos muito sobre os assuntos mais inúteis possível, tudo foi bastante agradável. Ao chegarmos ao continente, seguimos para um carro lotado de coisas, Gui assumiu a direção e nos levou até uma cidade no interior, era pequena, e muito bonita ao centro, mal percebi o que se passava, pois estava deslumbrada com a paisagem que passava por meus olhos.

Paramos em frente ao que me pareceu uma escola, apesar das condições da mesma serem muito precárias, eu não tinha certeza se uma infra-estrutura daquelas estava apita a servir de escola.

Descarregamos tudo de carro e levamos para dentro do que descobri ser realmente uma escola. Mel e Gui não pareceram compartilhar do choque que tive com aquilo.

-Serio, o que estamos fazendo aqui? – perguntei ao colocar a ultima caixa dentro do colégio, eu não conseguia compreender o que poderíamos fazer ali, aliás, eu nem tinha certeza se aquele local era seguro.

-Uma vez a cada dois meses, eu arrecado alimentos, material escolar, roupas, tudo que consigo e venho aqui. – Mel explicou observando o local. – Aqui é uma escola Bella. – completou ela ao perceber que eu ainda não havia compreendido.

Sua explicação me fez abrir a boca tamanha a descrença. Como ali poderia ser uma escola? Era um local deplorável!

–Eu sei... – ela sorriu triste. – Abala qualquer um na primeira vez.

-Como um pai ou uma mãe pode colocar o próprio filho num lugar assim? – perguntei incrédula. Não fazia sentido.

-Bella... Nós temos uma condição de vida privilegiada! Mais pessoas do que você possa imaginar colocam seus filhos em lugares assim, pois não tem dinheiro para colocar num colégio em condições melhores. Isso é um colégio público, Bella! Colégios públicos são assim...

-Mas... – agora que não fazia sentido mesmo. – Mas EU estudei em colégio publico e era mil vezes melhor! – minha confusão pareceu divertir Mel, pois arrancou dela uma gargalhada.

-Ora vamos, Bella! Você está num país de terceiro mundo! A corrupção aqui não é tão discreta quanto no seu país. – Mel fez uma breve pausa eu perceber que sua frase havia me perturbado. – Mas se te consola. Existem colégios públicos beeem melhores que estes, mas bem, se você vai fazer caridade, vai fazer pra quem realmente precisa. Eu só escolho colégios assim. – Ela deu os ombros e voltou a organizar tudo.

Finalmente a compreensão começou a invadir minha mente, finalmente compreendi o que viemos fazer ali. Caridade. Um dia inteiro em função de ajudar o próximo, a quem realmente precisa. Ao mesmo tempo em que uma sensação incrivelmente boa e desconhecida por mim me atingiu; outra temerosa também me dominou. Mel pareceu perceber isso e veio ao meu encontro, segurou forte minhas mãos, reconfortando-me.

-Fique tranqüila. – disse-me ela. – Se você se sentir desconfortável, basta falar e Gui vai pra ilha com você. Mas não há o que temer, serão só crianças! Entre 5 e 12 anos, ninguém que vá deixá-la desconfortável ou algo do tipo. – assenti bem mais aliviada, se seriam crianças, eu acho que conseguiria lidar com aquilo.

Então eu despertei e fui ajudar Gui e Mel, eles estavam na cozinha, Mel estava preparando lanche para as crianças e Gui estava arrumando alguns quites com material escolar, resolvi ajudá-lo. Gui prontamente me entregou um saquinho e me explicou como fazer.

-Coloque um item de cada dentro, apenas o lápis, este você pode colocar dois. – assenti e comecei a fazer. – Só fique atenta para não colocar nenhum a mais ou a menos, se não as crianças irão brigar. – assenti fazendo. Mel colocou uma música leve de fundo e trabalhamos em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

Não conseguia compreender como aquilo poderia existir, parecia tão errado. Claro que eu já havia estudado sobre pobreza, claro que já havia ouvido falar sobre as crianças na África que morriam de fome, mas aquilo sempre me pareceu tão distante, tão irreal. Como se fosse outro planeta. Mas estar ali, era diferente, eu chegava a me sentir mal por ter tanto e elas tão pouco. Meus pensamentos me fizeram pensar no quão egoísta eu era por simplesmente ter tudo que tinha.

-Mel. – eu quebrei o silêncio quando mais uma dúvida surgiu em minha mente.

-Diga... – Mel olhou-me rapidamente.

-Hoje não é sábado? – perguntei refazendo as contas em minha cabeça. Eu não podia estar tão fora de sintonia assim. Eu tinha certeza que era sábado.

-É sim. – confirmou ela, ainda atenta a seus afazeres.

-As crianças têm aula de sábado? – perguntei surpresa, crianças nessa idade já tinham aulas aos sábados? Isso era maldade!

-Não, não tem não.

-Então como isso vai dar certo? – não fazia sentido, vir para o colégio num sábado apenas para brincar?

-Elas sabem que estaremos aqui... – respondeu Mel simplesmente.

-E por isso elas virão? Apenas para brincar? – minha cabeça ficava cada vez mais confusa.

Mel finalmente virou-se para me encarar, seu olhar era cheio de tristeza, talvez até um pouco de dor. Alguma coisa me dizia que a resposta não seria boa.

-Você ainda não se perguntou por que crianças vêem todos os dias a um lugar precário como este, Bella? – desta vez foi Gui quem falou. Eu o fitei e vi o mesmo olhar triste que Mel possuía. Tinha algo ali que eles sabiam e eu não.

-O que estão querendo dizer? – perguntei receosamente.

-Eles vêem para a escola, porque é o único horário do dia em que comem. – Mel explicou. – Os pais não têm dinheiro para alimentá-los, então eles vem para a escola para poder comer.

O choque transpassou por mim, instantaneamente senti meus olhos marearem. Como isso poderia existir? Como poderia existir um mundo tão frio e cruel onde crianças inocentes passavam fome? Como uns poderiam ter tanto quando outros não tinham nada?

A dor me atingiu em cheio, mas não foi aquela dor que fazia eu mergulhar dentro de mim mesma, foi uma dor diferente, uma dor que fazia com que eu me sentisse envergonhada por ter tudo que tinha quando existiam crianças que não possuíam nada.

Como deveriam ser suas vidas? Como deveria ser a vida desses pais? A sensação de impotência que não sentiam. Como deve ser seu próprio filho olhar para você e dizer que esta com fome, e você não ter nada para dar de comer a ele... A vida é tão... Cruel e injusta.

-Impressiona eu sei... – disse Gui trazendo-me de volta a realidade. – É por isso que estamos aqui, para dar um dia de felicidade a essas crianças, um fio de esperança.

Com as palavras de Gui eu senti algo brotar dentro de mim, senti necessidade de querer ajudar aqueles pequeninos. Senti-me forte, para assim poder proteger aqueles que eram mais fracos. Acredito que era assim que Mel e Gui se sentiam. Meus problemas eram pequenos demais, só agora eu começava a ver isso.

Voltei a montar os quites, mais determinada e motivada que nunca, mais perturbada e enxergando as coisas com mais clareza.

O silêncio voltou a reinar entre nós, um silêncio nada incômodo, eles sabiam que todas aquelas informações haviam mexido comigo, e sabiam também que eu precisava de um tempo para colocar as idéias no lugar.

Pela primeira vez eu me permiti pensar no nome de Edward. E por mais que algo apertasse dentro de mim, não foi tão ruim. Edward havia me traído. Em nossa festa de casamento. Era doloroso lembrar-me disso, mas eu não poderia me esconder para sempre, a vida seguia em frente, se ele queria ficar com ela, que fizesse bom proveito.

Pela primeira vez eu percebi o quão egoísta eu estava sendo, a meu ver, minha vida era horrível porque eu perdi os movimentos de uma das mãos por alguém que me traiu em nossa festa de casamento. Mas eu tinha tão mais que isso. Minha vida não podia se resumir a Edward! Minha vida não poderia parar por ele.

Por Deus, eu estava desistindo da minha vida por um homem! Eu queria morrer porque um relacionamento não dera certo... Isso parecia tão errado, tão egoísta.

As crianças que estavam ali com certeza tinham uma vida muito mais sofrida que a minha e estavam ali, lutando a cada dia, indo para a escola para poder comer!

Meus problemas não eram nada... Eram pequenos demais... Eu tinha tudo! Eu podia recomeçar! Eu tinha condições para isso...

Será que era isso que Melissa e Guilherme queriam me dizer? Queriam me mostrar que minha vida é muito boa apesar do que Edward me fez? Eles queriam me mostrar o quão pequenos eram meus problemas?

Conhecendo-os, como passei a conhecer, eu sabia que sim... E a única coisa que eu sabia, é que eles haviam conseguido transmitir a mensagem e algo dentro de mim me dizia que o dia de hoje, mudaria muito dos meus conceitos e eu finalmente encontraria um rumo para dar a minha vida.

 


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Super fofo, não é?

Comentem, ok?

;*