Desentendimentos escrita por Marry Black, grupo_FCC


Capítulo 20
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Visão de Bella

Eu corri floresta à dentro, as lágrimas que escorreriam por meu rosto, nada eram comparadas as lágrimas de sangue que meu coração derramava; o ódio, a raiva, a solidão, a desilusão me atingiam com tanta força que eu me sentia fisicamente golpeada. Edward não me amava! Nunca me amou... Fui mais um brinquedo para ele, fui mais uma diversão.

Por mais que eu quisesse pensar racionalmente, por mais que eu quisesse deixar minha dor de lado e pensar no que fazer, eu não conseguia, minha mente passava, repetidas vezes, a cena que eu temi por tanto tempo presenciar.

Minhas pernas já sentiam o sinal de cansaço, já estavam debilitadas, eu não duraria muito tempo, na verdade, eu não sabia nem como não havia caído ainda, sendo que usava um salto muito perigoso para uma pessoa sem o menor senso de equilíbrio como eu.

Não levou mais que alguns minutos para meu orgulho comigo mesma desaparecer, minhas pernas cederam, fui ao chão de uma vez só, a pancada foi forte, senti meu rosto, meus joelhos e meus braços serem arranhados por galhos e pedras pontiagudas, não liguei. Não importava. Nada mais importava. Meu mundo havia sido destruído, meu sol havia se apagado, eu havia perdido o sentido de viver.

Não fiz menção de me levantar, nem ao mesmo queria poder conseguir, não havia sentido para isso. Não havia sentido para mais nada.

Continuei a chorar meus soluços certamente denunciavam minha posição a qualquer animal com uma audição aguçada. Apertei minha mão com força, tanta força que chegou a me machucar. Não fazia diferença. Quem se importava se eu estava machucada? Quem haveria de se importar se eu sofria? Edward certamente não!

Olhei para os céus, a copa das árvores presenciavam a cena deplorável que ali acontecia. Uma noiva desolada, ferida, não só fisicamente, mas emocionalmente também. Uma brisa leve encontrou meu rosto, a qual eu me entreguei, fechei meus olhos novamente, mas mantive minha cabeça erguida, apontada para cima.

-Leve-me... – pedi desesperada. – Por favor, leve-me agora! – eu gritei, eu queria isso. Rezei. Pedi. Implorei, para que a morte viesse ao meu encontro, só ela conseguiria aplacar minha dor, só ela conseguiria fazer a dor que perfurava meu peito amenizar.

Eu queria morrer. PRECISA morrer. O destino havia me dado a prova final que eu não mais deveria viver. Como podia alguém, mesmo sendo tão azarada como eu, passar por tantas desgraças num período tão curto, num intervalo ínfimo de dois meses? Como podia Deus, ou quem quer que controle o destino das pessoas, brincar tão cruelmente com alguém cujo único pecado fora amar intensamente um homem? Não... Edward não era um homem... Edward era um vampiro! Desprovido de todo e qualquer sentimento de bondade, desprovido de qualquer sentimento humano! Agora eu tinha certeza disso... Ninguém, que sentisse um ínfimo de qualquer sentimento bom que fosse, faria o que ele fez comigo.

Uma vez, há um tempo que parecia longüincuo demais para o que realmente era Edward me dissera que ele não era o mocinho das histórias, mas sim o vilão, o cara mal. Como eu fui ingênua. Quem me dera tivesse escutado-o. Afinal, ele estava certo. Edward era o cara mal, era o vilão... Era o vampiro.

Eu me deixei cair ao chão novamente, esperando que a morte fosse piedosa para comigo, esperando que o destino tivesse um pingo de piedade e atendesse a aquele pedido desesperado. A morte precisava me encontrar. Precisava me envolver me acolher, precisava ter a serenidade que Edward não fora capaz de ter.

Não sei quanto tempo se passou, não sei o que ocorreu, também não estava interessada em saber. Não importava mais. Foi quando senti mãos quentes me envolvendo, sem o mínimo de esforço, tais mãos me ergueram do chão, embalaram-me em seu colo.

Seria a morte? Se fosse, por que a dor não havia se amenizado? Por que a ferida tão grande criada desde o dia em que Charlie atirara em Edward, a ferida que crescia a cada nova dificuldade que surgia, e dilacerara de vez meu coração com o beijo de Edward e Tanya, não havia diminuído? Seria este o inferno? Oh em nome de Deus, alguém tenha piedade de minha alma e diminua essa dor!

Não podia ser a morte, não era algo que entrasse em minha cabeça, eu ainda me sentia viva, infelizmente, eu me sentia muito viva, mas também muito morta.

Forcei-me a abrir os olhos, precisava saber quem era meu salvador, ou seria meu condenador? Eu já não mais sabia...

Quando meus olhos focalizaram da melhor maneira possível, quando eu finalmente consegui enxergar através das lágrimas que, insistentes, banhavam meus olhos, eu vi, não era a morte, não era quem eu queria que fosse, mas ainda sim, foi reconfortante vê-lo ali.

Seth. Um grande amigo, um companheiro, por mais que pareça estranho, era agora, um conforto, um porto seguro em meio a tanta turbulência.

-Bella... – sua voz era repleta de dor, pena e compaixão. Ele queria me confortar e estranhamente, eu já me sentia confortada, estava segura com Seth.

Fechei os olhos e deixei que me levasse para onde quer que fosse, sem mais me importar com o que viria a seguir, pois por mim, nada mais viria.

Seth me carregou por algum tempo, eu não me importava para onde estávamos indo, nem há quanto tempo estávamos nos locomovendo, nada mais fazia diferença. Alguns sons impediam meus ouvidos, mas eu fazia questão de não identificá-los, eu realmente não queria saber.

A dor que eu sentia era inigualável, eu estava desolada, como Edward fizera aquilo comigo? Por quê? Em nome de Deus, POR QUÊ? Qual era a grande graça em me humilhar tanto quanto ele havia feito?

-Seth, me deixe falar com ela! – ouvi a voz terrivelmente conhecida de Alice. Oh em nome de Deus porque esse inferno não podia acabar? Por que eles não podiam me deixar me afundar na minha dor em paz? Por que eles insistiam em me maltratar mais?

-Eu... Eu não acho uma boa idéia... – Seth estava temeroso, suas mãos me apertaram mais ainda contra seu corpo. – Ela... Ela está frágil...

-Seth, - Alice estava agitada, isso não era normal. – Preciso falar com ela, por favor, coloque-a no chão...

-Mas... – Seth tentou argumentar, mas Alice interveio.

-Seth, faça o que eu disse, por favor! – exigiu ela. Oh não! Ele iria fazer o que ela havia pedido. Não Seth, não!

Mas é claro que Seth não ouviu minhas suplicas mentais, ele me colocou sentada no chão. Eu não queria conversar com Alice, eu não queria saber, não queria olhar para a cara dela; ela havia me traído, havia zombado da minha cara, me machucado tanto quanto Edward, ela com certeza tinha visto tudo aquilo e nada vez, não se dignou a me avisar.

Nada, não havia feito nada... Apenas assistido à trouxa humana, Isabella Swan ser humilhada pelo poderoso vampiro Edward Cullen.

Tapei meu rosto com as mãos, dobrei meus joelhos e apoiei meu rosto nele, o choro voltou a se intensificar.

-Bella... – senti as mãos de Alice começarem a me envolver num abraço, rapidamente eu me desvencilhei com toda a brutalidade que conseguia.

-NÃO TOQUE EM MIM! – Grite na cara dela, olhando, pela primeira vez, o rosto de Alice Cullen.

Ela estava em choque com minha reação, ficou assustada com meu nível de grosseria, pareceu até um pouco ferida.

Puf! Ferida estava eu! Ela havia me traído! Edward havia me traído! TODOS haviam me traído! Oh, meu mundo estava desabando...

-Bella... – sua voz era triste, na verdade, tive a impressão dela estar chorando, um choro sem lágrimas obviamente. – Bella fale comigo!

Ela só poderia estar de brincadeira comigo! Depois de tudo ela ainda queria que eu FALESSE COM ELA? PQP!

-FALAR O QUE, ALICE? FALAR O QUE? – Explodi, novamente ela tentou encostar em mim, mas novamente eu não permiti.

-Bella, eu não sabia... – a voz de Alice estava desesperada. HIPOCRITA! – Eu juro que não sabia Bella!

Com essa eu tive que rir, ela era muito sínica.

-Não me faça rir, Alice! – falei com sarcasmo. – Você? A senhorita Vidente, que consegue ver cada movimento meu, MAGICAMENTE não viu EDWARD BEIJANDO TANYA! – Ri com sarcasmo. Incrível como aquelas palavras queimaram como brasa ardente. Era como brasa cravando para sempre uma ferida em meu coração. – VOCÊ FOI CUMPLICE ALICE! CUMPLICE! TENHO CERTEZA QUE VOCÊ SABIA! C-E-R-T-E-Z-A!

Era tão doloroso saber que Alice tinha feito isso comigo, eu poderia ter esperado isso de Rosalie, mas não de Alice, ela era como uma irmã para mim...

-CLARO QUE NÃO BELLA! – Gritou Alice com um evidente desespero. Ela era uma boa atriz, como todo vampiro. – Eu juro que não sabia!

-Poupe-me suas palavras, Alice! Eu não esperava que você chegasse a esse nível, assim como não esperava que seu irmão fizesse o que fez – A ferida em meu peito aumentou significativamente ao lembrar do que Edward fizera. – Mas, ao que parece, eu não conheço os Cullens, não é mesmo? – fui sarcástica, novamente.

-Bella, por favor, me deixe tentar explicar... – pediu ela.

-Vá pro inferno Alice! – me doía estar tratando-a daquele jeito, mesmo ela tendo feito o que fez. – Se você tem um pingo de consideração por mim, vá embora, vá zombar da minha cara com o restante da sua família! Pare de me torturar! Vá embora daqui, Alice, vá embora! – aquilo já não era nem uma exigência, era um pedido, uma suplica.

Eu já estava magoada o suficiente, a ferida dentro de mim já era maior que meu próprio corpo, eu não precisava mais ser humilhada. Eles não podiam parar? Não podiam ter um pouco de pena que fosse? Será que vampiros não tinham sentimentos?

Alice me olhou com olhos feridos, ela parecia magoada, mas eu não me enganaria não desta vez.

-Vá de uma vez, Alice, por favor, vá! – falei sem olhar para ela.

-Eu... Eu sinto muito, Bella... – foi tudo que ela disse antes de partir.

Com isso, eu desabei novamente, o rombo dentro de mim de alguma maneira aumentou, oh por Deus, eu queria muito morrer!

Novamente, as mãos se Seth me ergueram e começaram a me levar para longe dali.

Minha mente ainda estava confusa, meu coração estava cada vez mais destruído, eu queria morrer, queria esquecer tudo aquilo, queria esquecer aquele amor doentio e desmedido que só me fizera sofrer até agora. Eu queria esquecer Edward Cullen!

Não abri os olhos durante todo o percurso, mas tão logo ou horas depois, eu não sabia mais quanto tempo se passara; Seth me deitou em algo macio e suas mãos quentes sumiram do meu corpo. Senti-me desprotegida, desamparada, não queria ficar sozinha, não queria que Seth fosse embora, por conta disso, me forcei a abrir os olhos.

E lá estavam os olhos castanhos de Seth perante mim, uma evidente preocupação emanava de seu olhar, na verdade, me senti pior ainda ao olhá-lo, sem ele nada dizer, eu sabia que ele tinha presenciado a humilhação que Edward me fizera passar.

Olhar para ele só me fez ver o olhar de piedade que eu veria de todos que viessem, a saber, do ocorrido. Eu não queria isso. Não queria ser motivo de dó, não queria que me vissem como uma coitada, tão pouco queria a repreensão de idiotas que viriam a dizer "Eu disse que ele não prestava.", oh em nome de Deus, eu não queria nada daquilo.

Fechei os olhos fortemente e rezei, mesmo não sendo muito religiosa, eu rezei, pedi a Deus que me ajudasse, que não permitisse que aquele futuro tão certeiro pairasse sobre mim, eu não precisava de mais dor do que já sentia, eu mal agüentava a que me dominava no momento.

As mãos de Seth afagaram meus cabelos e meus braços, tentando, inutilmente, me passar apoio, mas isso não daria certo. Nada daria.

-Eu sinto muito Bella... – sussurrou ele finalmente. – Sinto muito mesmo...

Eu abri os olhos novamente, e outra vez, eu vi naquele olhar chocolate a sinceridade tão pura quanto à de uma inocente criança.

Eu quis dizer-lhe para não ter pena de mim, quis xinga-lo por me mostrar o futuro que viria a seguir, mas Seth fora tão generoso comigo, estava fazendo todo o possível para me ajudar que não tive coragem.

Sentei-me na cama e o encarei, Seth era um bom amigo, mesmo com a grande rivalidade entre vampiros e lobisomens ele não se afastara de mim, e agora, provava mais do que nunca que era um amigo de verdade. Estava ali, ao meu lado, me dando suporte no momento em que o chão me faltou. Instintivamente, abracei-o.

-Obrigada, Seth, obrigada... – e então eu voltei a chorar em seu ombro. Não tinha como evitar, as lágrimas era a demonstração mais simplória de minha dor; para o nível de sofrimento que me tomava, eu desejava, no mínimo, chorar lágrimas de sangue.

Seth me permitiu chorar pelo tempo que quis nada perguntou, nem mesmo me repreendeu, apenas afagou minhas costas, o tempo passou e meu choro não diminuiu, mas a súbita vontade de ficar sozinha, o desejo ardente de me acertar comigo mesma começou a me tomar.

Eu precisava pensar, precisava me estruturar, mesmo despedaçada eu queria entender o que acontecera, queria organizar meus pensamentos, eu precisava de um tempo para mim; por isso, muito educadamente, eu agradeci ao pequeno lobo e pedi que me deixasse só.

Seth pareceu temeroso com meu pedido, mas não me questionou, depositou um beijo em minha testa e deixou o quarto.

Assim que fiquei sozinha eu fechei meus olhos, respirei fundo e me preparei, era agora. E precisava deixar minha mente vagar, precisava que ela me mostrasse tudo que aconteceu, tudo que Edward e eu passamos. Eu QUERIA rever. Queria entender como as coisas chegaram ao ponto que chegaram, queria saber quando foi que Edward deixara de me amar. Queria saber onde foi que eu havia errado...

E foi o que eu fiz; deixei minha mente vagar por cada lembrança que tive relacionada a aquele vampiro que tanto amei...

Fui passando lentamente por tudo; nossa primeira aula de biologia, o acidente com a van, sua indiferença, nossa amizade desesperada, nossa primeiro beijo, meu encontro oficial com a família Cullen, o jogo de baseball, James, o estúdio de balé, o hospital, o baile...

Em algumas lembranças eu acabava por sorrir, era gostoso lembrar de momentos tão maravilhosos, outras vezes, eu sentia as lagrimas rolando rosto a baixo, eram lembranças tensas, difíceis, lembranças que ficariam melhor se estivessem perdidas no passado. Sem perceber, eu passei a mão sobre a cicatriz que ficara em meu pulso por conta da dentada que James me dera.

Então minha mente rumou para tempos muito difíceis para mim; passou por meu aniversário e chegou ao dia em que Edward me largara... Então ela começou, em câmera lenta, a me mostrar o quão magoada eu fiquei naquela época, todas as burradas que fiz... A noite em Port Angeles, as motos, Laurent, os lobos, Vitoria e finalmente, o penhasco...

Eu mal me lembrava como havia sido doloroso para mim aquela época, eu não me permitia lembrar ate então, mas agora, ali, diante de toda aquela situação, a lembrança veio, e com ela, a dor insuportável que se alojava no fundo de meu peito. Uma dor tão aguda e sufocante que eu quis arrancá-la dali a todo custo, eu quis não, eu PRECISAVA. Era extremamente insuportável.

Eu tentei gritar, tentei clamar por socorro, tentei desesperadamente pedir ajuda, pedir que alguém me livrasse daquela dor, que alguém fizesse alguma coisa para diminuí-la, mas não consegui, minha garganta parecia fechada, eu não conseguia emitir nenhum som.

Eu tentei novamente, tentei com todas as minhas forcas pedir para que se não fosse possível aliviar essa dor que me matassem, eu não estava suportando, eu queria morrer se fosse para todo aquele fogo que meu queimava sem a menor do, de dentro para fora, cessasse. Nada. Não consegui novamente.

Eu estava entrando em pânico, aquela dor estava me arrebentando de dentro para fora, era como se eu tivesse ingerido acido sulfúrico e o veneno estivesse corroendo meu corpo, era uma dor intensa demais.

Eu sabia de onde vinha a dor, eu sabia que era por conta do meu estado emocional e da maldita lembrança, então eu tentei desviar meus pensamentos daquilo, eu tentei pensar em qualquer outra coisa, tentei esquecer aquela dor infernal, mas foi inútil.

A única coisa que consegui foi focar, com muita nitidez Edward e Tanya se beijando, e então, minha mente começou a trabalhar e começou a criar imagens que não haviam acontecido.

Edward abraçou Tanya, olhou para mim e riu, riu da minha desgraçada, debochou da minha cara, me chamou de defeituosa e disse que preferia estar no inferno a ficar comigo. Ele e Tanya riam, todos os Cullens riam, todos riam.

-Pare... – eu pedi, entre lagrimas para que aquilo acabasse, mas minha voz não passou de um sussurro. – Pare, por favor, pare... – pedi novamente, nada adiantou. – PARE, PARE!

Entrei em desespero, eu não queria mais ver nada daquilo, não queria mais sentir aquela dor, abri meus olhos, e procurei desesperada por algo que colocasse fim a minha dor, a primeira coisa que vi foi uma tesoura em cima da escrivaninha, sem pensar duas vezes eu a peguei, e com toda a forca que consegui reunir, eu a enfiem em meu pescoço para permitir que o ar entrasse em chegasse ate meus pulmões tão necessitados daquilo, em segui parti meus pulsos, para por um ponto final, naquela dor infernal.

Não levou mais que um minuto e a escuridão me tomou, levando com ela toda minha dor.

A escuridão era intensa, não havia nada ali; não havia um único rastro de luz, não havia vozes, não havia dor. Então isso era o outro mundo? Era todo esse vazio? Eu não conseguia sentir nada, não me sentia triste, nem feliz; não sentia medo, tão pouco coragem, não sentia nada. Eu estava... Vazia. Isso deveria ser triste, deveria ser motivo de desespero, mas não, perceber tudo isso não me surtia efeito algum.

O que isso queria dizer? O que todo aquele vazio dentro de mim representava? Eu não sabia e me admirou perceber que também não me importava. Aparentemente, a morte havia me roubado tudo, todos os meus sentimentos, todos os meus sonhos. Isso deveria ser ruim, deveria ser algo trágico, mas não era. Muito pelo contrário, eu estava grata; ali, em meio a todo aquele vazio eu não sentia dor, não sentia o buraco que parecia me engolir a pouco. Será que toda aquela escuridão era aquele buraco que crescera em meu peito?

Se fosse, eu estava grata a ele, ou a morte, ou a qualquer que tenha sido o responsável por me afundar naquele mar de trevas. Ali não era possível sentir a dor que Edward me fizera passar, nem a dor dele nem a de ninguém. Ali eu estava indiferente a tudo...

Isso era bom? Talvez sim, talvez não... Não importava, não vazia diferença...

Olhei a volta, procurando algum sinal de dor, ou de alegria, buscando algum sinal de alguma coisa além da escuridão, mas não existia nada, eu estava banhada em trevas.

Estendi meu braço para tentar agarrar alguma coisa, nada alcancei, não havia nada ali. Em qualquer outro momento, eu teria entrado em desespero, teria tentado deixar toda aquela escuridão, teria me aterrorizado, mas não, nada me abalava ali. Nada tocava meu coração que parecia não existir.

Eu quis sorrir, quis ficar feliz por estar ali, quis me alegrar por estar em um lugar onde a dor finalmente tinha me deixado, mas não consegui também. Nada. Nada me atingia. Não tinha problema, talvez fosse melhor ficar isenta de qualquer sentimento, seja ele bom ou ruim.

Cansada de tentar entender o incompreensível, fechei os olhos e deixei que o vazio tomasse minha mente, tomasse todo o meu corpo, me levasse novamente para uma inconsciência onde eu não precisaria pensar...

 


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Notas finais do capítulo

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