Aquele pedido (Revisada) escrita por Gabriela


Capítulo 9
9




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A água ainda borbulhava quando jogou na xícara cheia de especiarias para dor. Foi ideia da sua tia, e como não tinha mais nada o que tentar se jogou. E funcionava. Por algum tempo. Por isso, estava se tornando viciada naquilo. Era o que podia fazer sem ninguém intervir, além de ler. E se não sentisse tanta dor, já teria fugido algumas vezes. Estava ficando louca naquela casa.

—De novo? –A voz do seu primo a assuntou, mas não seus passos.

—Que eu saiba a minha única restrição é sair de casa e andar a cavalo. –Atacou, deixando claro seu mal humor.

O cárcere estava a deixando irritada, e entendi o porquê. – Pode andar de carro escoltada pelo Art. Não vai porque não quer. –Ela precisava se sentir livre, dona das suas ações, e não um fantoche sendo usado.

—Você só liberou isso porque sua amiga pediu pessoalmente para eu estar na reunião de hoje. – O “amiga” saiu com um tom pejorativo. Quem ela pensava que era?

—Ela fez isso porque se preocupa com você. –E lá estava o campo minado de novo. –E ela sabe que eu sou o único que ouve.

Isso é uma mentira. –Ela se preocupa com o grupo, e apenas com ele. – Não estava ressentida. Era como a vida era.

Aquele olhar não era de alguém que não se importava. -Se fosse antes, eu diria sim. Hoje, sei que ela se importa com você. Se tivesse visto o olhar dela no hospital, também chegaria a essa conclusão. – E se afastaria por completo. Era isso que sua prima fazia quando alguém que gostava começava a gostar dela. Fugia.

Era uma corredora.

As palavras a pegaram, e se não fosse o gosto ruim do chá, mergulharia ainda mais nelas. -E? –Precisava ser racional. – Namoraríamos? Nos casaríamos? Se uma das duas fosse um homem, talvez isso acontecesse. Mas, não somos. – Havia nascido no tempo errado.

A verdade em suas palavras fez seu primo suspirar alto. –Lembra quando você me contou de Londres? – Ela assentiu. – Havia uma frase que você me disse, que me fez mudar tudo sobre o que eu achava que conhecia sobre você. Nos só conquistamos algo quando não temos medo de tentar. E você nunca teve. Com exceção de agora.

Por que ele tinha que ter razão? – Eu vi meus pais gritarem, se autodestruir no relacionamento autodestrutivo deles. E eu sou como eles. Eu sou autodestrutiva. Eu não sei o que quero. Eu sou instável demais. –Sua honestidade era quase palpável. –Eu não quero puxar alguém para isso, principalmente, nesse caso.... quando o mundo estará completamente contra nós. E ela nunca desistiria do seu noivado por mim. Então, segue a vida.

Se todos pudessem ver quem ela era... –Eu posso adiar minha ida por mais um ano... se quiser.

Um raro homem no mundo. – Não. Você merece começar sua vida com ela. Ela é quem te faz feliz. – Ele merecia.

Assim, como ela. –Ela vai entender. Aquela mulher é a pessoa mais tranquila no mundo, e ela gosta de você. Podia ir ficar um tempo com a gente quando tudo se resolver aqui.

Não. Ele precisava de um pouco de espaço dela e de seus problemas. –Nossa tia já está com um quarto pronto para mim. E assim que tiver outra oportunidade, estarei na américa.

Não havia um lugar real para ela, e no fundo, ele sabia. –Só não faça outro desenho no corpo. –Tatuagem. – Ela ficou horrível.

O comentário a fez rir alto e sem qualquer um dos pesos, que estavam em seu ombro. E demorou para ter um momento como aquele novamente. Principalmente porque estava sendo obrigada a andar de carro escoltada por Art.

Seu olhar sem brilho foi refletido no vidro do veículo enquanto olhava para as casas próximas a da Kate. Diferente das últimas vezes, ela a esperava do lado de fora da casa, vestindo o seu conjunto, camiseta e calça, como sempre. E foi ela que abriu a porta quando Art parou o carro. Se fosse um dia comum, reclamaria, mas estava dolorida demais para isso, por isso, disse: -obrigada. Esperou muito?

A mulher estava calma demais... ou com dor. Não sabia dizer. – Não. Era o mínimo que podia fazer depois de obrigar você sair de casa desse jeito.

Quebrada. –Claro! Deve ter sido difícil convencer meu primo. – Atacou sem esconder a ironia forte em suas palavras.

E isso pegou Kate desprevenida. – Eu não queria... eu não achei que quisesse conversar comigo. – Ou ela que queria se preservar?

—Eu não importo em falar com você mesmo quando não quero. O que eu me importo é quando as pessoas acham que sou estupida e não posso lidar com o que eu sinto. –Ironizou antes de entrar na casa, deixando Kate sozinha na entrada. Não queria explodir assim. Mas, odiava quando as pessoas usavam pessoas que amava para fazê-la fazer algo.

Pelo menos, Kate pareceu entender o que havia dito. E começou a ter menos cuidado com seu frágil vidro de sentimentos, que achava que tinha. Reconhecendo-a como uma mulher forte como ela. E isso durou até sentir vontade de se afastar daquela sala, e daquelas palavras que não dariam em nada.

—Senhorita Donaval, como está? –A mãe de Kate perguntou quando entrou na cozinha.

Era uma senhora gentil. – Quebrada a maior parte do tempo. – Era uma verdade.

—Depois do que passou, estar viva já é uma sorte. – Sim, era. – Ah! Meu marido trouxe uma vodka a pedido de Kate... e acho que era para você. – A mulher falou enquanto procurava a vodka nos armários, a qual encontrou logo depois. E em um copo, a despejou pura.

Aquela mulher a confundia demais. – Obrigada. – Falou quando a senhora lhe entregou o copo, e imediatamente, bebeu o líquido incolor.

A bebida passou pela sua garganta queimando e abafando seus sentimentos. E foi desse cristal quente vindo das terras do urso, que tirou forças para voltar a sala. Pelo menos agora, as mulheres pareciam mais decidida em fazer algo. –Então, fica decido uma passeata daqui a três dias. Com mulheres e homens de todas as idades, que já sofreram alguma injustiça desses babacas. – Kate falou com o seu tom de líder. –Vamos atacá-los pelo povo e não pela destruição. – Atirou e isso atingiu completamente ela. –E precisamos de Eliza lá. E você também, Beatrice. – Seus olhos se encontraram pela primeira vez. –Eles precisam ver você do nosso lado.

Para evitar emboscadas como aquela.


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