Aquele pedido (Revisada) escrita por Gabriela


Capítulo 7
7




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A cidade dormia sob as estrelas. Os poucos que se mantinham acordados não desejavam aquilo. Até elas. Tudo o que queriam eram voltar para casa, fingir que nunca tiveram aquela ideia, mas a picareta na mão dela a impedia. Kate, ainda podia fugir, e esquecer. Mas, ela não. Já estava condenada. Algo que a outra mulher não sabia.

—Você tem certeza, Kate? –Sussurrou enquanto se aproximavam do prédio. Não queria demostrar aquela fraqueza, mas uma parte dela estava apavorada.

E, isso chamou atenção da outra mulher. –Agora ela pergunta isso... –Falou quando deu uma leve pausa para olhar para seus olhos. Estavam próximas demais. –Eu nunca voltaria agora. Se quiser, fique à vontade.

Não, não iria. Veio aqui e não deixaria seu medo a parar. Ele nunca a parou. –Você primeiro.

O sorriso se espalhou pelos lábios de Kate enquanto ela deixava uma careta se formar no seu. Como chegou realmente ali?

Seus passos ecoaram pela sua mente enquanto se aproximavam da prefeitura da cidade. Um prédio atualmente deserto e bem trancado. Mas, ela tinha a picareta. E a usou com experiência no lugar onde Kate apontou. Naquela brincadeira, havia se tornado o braço direito da líder sem notar. Parecia ser seu dom.

O aço machucou a madeira ao mesmo tempo que a empurrava para cima, e com um estralo, a janela se levantou. -Eu primeiro. – Sua voz saiu firme e, sem esperar uma confirmação, se apoiou na abertura, se contorcendo no pequeno espaço. Jogando-se para o interior escuro. E não demorou para Kate ficar ao seu lado, batendo a marreta no chão de madeira.

A escuridão a circularam enquanto davam o primeiro passo a procura da sala principal. E sem qualquer dificuldade encontraram a porta dela. –Pronta? – Perguntou a Kate e o sorriso brilhoso que recebeu valeu todas as suas incertezas.

Um brilho se acendeu nos olhos verdes e isso puxou ainda mais o sorriso de Kate. Era pólvora a espera de uma fagulha, e Beatrice era uma bomba. As duas ampliavam a intensidade uma da outra. Segurou com mais forças a madeira da marreta enquanto a seguia para o interior. E quando a advogada bateu a picareta na mesa principal como um martelo lotado de injustiça, ergueu o seu próprio aço.

A marreta desceu, quebrando a madeira por onde passava. E quando tudo se partia sentia a raiva escondida se partir, deixando cada vez seu sorriso mais leve. Mais leve. Beatrice estralou os vidros enquanto imitava uma valsa solitária. E na luz do luar, parecia um fantasma do caos. Do seu caos.

Os pés bem treinados tropeçaram, e quando ela notou estava se apoiando em Kate para não cair. E por um segundo se olharam antes de uma longa gargalhada inflamar sua voz. Mas, a jovem não riu, continuou a olhar com intensos olhos marrons. Seria tão fácil... se aproximar ainda mais em tom de brincadeira... e beijá-la ali. Seria.

Seu rosto se aproximou de Kate, aproximou dos seus lábios, mostrando exatamente o que tinha desejo. E como imaginava, o medo empurrou a mulher para longe enquanto seu coração perdia um pedaço. Mas, não a deixaria notar isso... não deixaria. Por isso, riu fingindo ser uma brincadeira.

Kate sorriu e sua ação fez Beatrice destruir as janelas daquela sala. Não havia necessidade destruição além daquele cômodo... era só um alerta. Ainda era só isso.

Vidros caíram, se espalhando pelo chão assim como os livros, enquanto elas revezavam nos golpes. E de alguma forma, se tornou quase uma dança, com seu ritmo e sua melodia, e seus risos.  Kate nunca se sentiu tão livre. E ela? Nunca tão segura. Bateu no móvel derrubando os livros, que estavam nele; e parou. Estava feito.

Kate bateu em mais algumas coisas, antes de andar com dificuldade até seu lugar. E junto com ela, se apoiaram na parede. Uma ao lado da outra. Com respirações pesadas, e a certeza que não tinha mais volta.  –E disseram que não seria divertido. –Brincou após um longo suspiro e isso puxou o olhar de Kate para o dela.

O marrom encantou o verde, e sem notar se aproximava lentamente da outra mulher; e ela dela. Não! Sua mente gritou, mas a falta de oxigênio bagunçou por completo seus pensamentos. Por isso, ficaram a um centímetro novamente, sem nenhum tom para protegê-la dessa vez. Estava indefesa. E quase como uma brincadeira do destino, um livro caiu no chão, e força do seu som, as empurram. Acordado suas defesas. 

—Precisamos ir. –Apontou enquanto se distanciava ainda mais. Era melhor assim.

Merda. –Sim! –E da mesma maneira que entraram, saíram.

A sua bagunça foi ouvida, mas ninguém chegou a tempo de encontrarem elas lá. Minutos a salvaram desse contato. Minutos que se perderam quando o dia clareou, e antes de todos saberem o que houve, já era a principal suspeita. Afinal, ela tinha histórico.

Suspirou alto antes de erguer a mão e bater na porta do seu primo. Por favor... esteja aqui! Desceu a mão, e sem pensar, empurrou a maçaneta. Por favor.

 -B. – Foi a primeira expressão dele quando ela abriu a porta. Não podia esperar. – Qual o problema? – Perguntou enquanto se arrumava na cama, sem deixar o calor dos cobertores.

—Eu depredei uma sala do governo local. – Seu primo empalideceu com aquelas palavras. –Preciso que fale que eu estava em casa. Eles confiaram em você.

Sua prima era louca. -E o que fazíamos? –Ajeitou o cabelo enquanto registrava tudo.

—Nada. Eu lia na biblioteca e você fazia o que sempre faz. –Essa era sua única opção.

Um jogo perigoso, mas não deixaria sozinha. -Tenho certeza que não destruiu nada a noite. –Apontou. Eles não cairiam naquela desculpa.

—Meu cavalo está com Art. Como eu iria sem ele para a cidade? –Sua voz afinou e sua desculpa estava feita.

Mulher esperta. –Mas por que sairia? Conversamos até a tarde antes de irmos dormir. – E foi essa desculpa que ousou quando eles chegaram.

Os três homens bem arrumados a olhavam como se fosse uma bruxa. Talvez fosse. –Você tem certeza que ela estava aqui? –O principal deles falou, um homem alto e com uma barba volumosa.

—Sim. Minha prima teve suas peripécias no passado, mas está limpa hoje em dia. Estou aqui para evitar isso. – Jon puxou mais um fumo do seu cigarro. Por isso, estava tão calmo.

—E a deixou se unir a aquelas mulheres? –Falou para ele, negligenciando sua existência na sala. Era uma menina mimada aos olhos dele, e não merecia sua atenção.

—Minha prima entediada é a pior pessoa no mundo. –Riu e isso fez um dos homens ri.

A risada se perdeu, mas não conseguiu tirar o franzido do rosto do policial principal. –Então, desculpe o engano. Só estava conferindo. –Pela segunda vez, ele olhou em sua direção, e nesse momento, soube que ele já a havia condenado.

Ele era um bom investigador.

—Acha que despistamos eles? – Jon perguntou quando a porta bateu, e o som deles deixando a propriedade ecoava.

Ele fez o máximo que pode. Não podia deixá-lo preocupado. –Sim. –Mentiu suavemente enquanto sua mente borbulhava. Precisava alertar a Kate.

Precisava.

Era um assunto urgente. Mas, se segurou, até aquela região do mundo escurecer, para ir até a casa dela. Um pouco cedo. Sabia que, quanto mais tempo passasse, melhor seria; no entanto, não podia deixar a mulher no escuro por um ou dois dias. Isso poderia abrir portas para algum deslize. Para um erro fatal. E foi longe demais para isso acontecer.

Montou o cavalo, e juntos começaram a cortar as estradas de terra e de pedra. O único som que ouvia por esses caminhos era o do galope e de suas respirações. E ficou assim por um tempo, até ouvir assobios. Um aviso para os soldados se aproximarem e ela correr. E antes de notar, cavalos se aproximavam do dela. Um atrás, e outro em linha vertical em colisão com ela, com um único objetivo, guiá-la para a outra estrada. E sem poder evitar, foi levada até ela. Uma armadilha.

Um cavalo veio em sua direção, em linha de colisão, enquanto seu cavalheiro erguia uma barra de ferro. Não tinha como escapar mesmo se saltasse da sela, só podia se segurar... e se segurou.

O homem bateu a barra de ferro no centro do seu corpo, a fazendo perder o equilíbrio. E em sua última linha de proteção, se deixou cair pela lateral do bicho, se chocando bruscamente com as pedras espalhadas pelo chão. Uma linha cruzou seu rosto, se tornando rapidamente vermelha, enquanto o ar mal entrava seus pulmões.

—Isso foi um aviso. –O homem falou antes de guiar o cavalo para longe de sua visão. Enquanto o seu relinchava. E entre os sons de choro e galopes, tudo se tornou um mar escuro.


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