Aquele pedido (Revisada) escrita por Gabriela


Capítulo 6
6




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/767375/chapter/6

Um longo raio cortou o céu clareando parcialmente as densas nuvens de chuva, cinzas e raivosas, antes de alto som dominar o silêncio. Um rugido que parecia ser capaz de vibrar o vidro da sua janela. Puxou um suave sorriso quando uma linha clara desceu o céu, iluminando a sua forma entre gotas em choque. Se fosse mais nova, estaria escondida na fofa coberta, esperando aquele grande espetáculo passar. Mas, o tempo passou, assim como o seu sono pesado. Por isso, se encontrava em mais uma madrugada acordada, assistindo o temporal. E não era a única.

Seu pai estava inquieto. Andava de um lado para o outro a procura de algo, ou tentando se livrar de algo. Pensamentos tendem a ser cruéis na madrugada. Eles dizem o que não quer ouvir, fantasiam o irreal, buscam o que não pode ter. E, não havia como fugir deles. Só dormindo. Mais nesses dias, o sono nunca vinha.

A madeira rangeu mais uma vez enquanto seu pai passava pela segunda vez pelo seu corredor, sempre resmungando. E dessa vez, ela reconheceu a existência dele. Um novo raio cortou a escuridão, dando um tom sombrio ao seu quarto enquanto abria a porta.

O rangido o fez parar, e se virar. - Algum problema, pai? –Perguntou quando seus olhares se encontraram.

—Não. – Ele não a esperava ali. Queria ficar sozinho com a casa. – Não dorme?

— Às vezes. –Quando não estava pensando nela. – A chuva me acordou.

O sorriso dele quase foi apagado pela escuridão da casa. – Ainda tem medo?

—Não... tenho outros medos agora. –Muito outros. A natureza se tornou aliada contra o pânico que aquele mundo a causava.

— Você cresceu. – Pontuou rápido, deixando o silêncio reinar. Não havia mais nada que queria falar para ela.

E ela tinha tanto, mas nunca falaria. – Tente tomar um chá para relaxar. Precisa descansar. –Disse antes de fechar a porta, lacrando novamente seu mundo interno.  

Os raios ainda cortavam o céu e cortaram por toda a manhã.

A chuva bateu em sua janela, alertando-a do tempo. No fundo, seu desejo era ficar em casa e curtir aquele dia molhado em sua sala. Mas, havia uma reunião, e depois do que houve no restaurante, precisava aparecer. Precisava lidar com a situação... ou finalizar. Por isso, deixou sua zona de proteção e montou mais uma vez seu cavalo.

As patas bateram no barro, na água empossada, enquanto sua cruzava o temporal. Enquanto raios cruzavam o horizonte.

A luz clareou suas afeições enquanto a gelada água descia além do seu rosto, e dos seus fios vermelhos. Descia. Por que estava realmente indo? Seu fiel amigo relinchou alertando a sua chegada a cidade, e assim que chegou na casa tão conhecida, saltou. Sentido seu corpo gelado, congelando.

Talvez ganhasse uma pneumonia nessa brincadeira.

Seu cavalo resmungou... ele também desejava a secura. Por isso, o puxou o mais próximo possível do telhado, tirando daquela tempestade. – Desculpa, amigo! Prometo que vou te recompensar. –  Comentou antes de ergueu a mão, e isso só o agitou ainda mais. Ele sentia seu desconforto?  Baixou lentamente, deslizando pela longa crina dele. Acalmando-o. -Eu já volto.

Piscou antes de se separar dele, e se aproximar da casa. A casa dela. Coragem. Mordeu os lábios antes de ergueu a mão, e bater na porta levemente. O som quase se perdeu naquele caos, e no fundo desejava que não ouvissem, mas ouviram. E em segundos, ela se abriu. Ela abriu. – Tem alguma toalha? – O olhar de Kate brilhou em choque.

Definitivamente, não esperava ela ali... muito menos completamente encharcada. - Tem sim. Entre. – Falou rápido enquanto se colocava longe da porta, dando passagem a moça. E quando notou o que fazia, estava levando a para seu quarto.

E ela a seguiu cegamente, e quando realmente tomou posse as suas ações, estava no quarto de Kate, com uma toalha enquanto a mulher pegava algumas roupas. – Precisa tirar esse vestido. Acho que tenho algumas roupas boas para você. – Boas para ela?

— Honestamente, só quero algo quente para beber. – Brincou sentindo o primeiro tremor rugir pelo seu corpo. Ok. Precisava mais do que bebidas.

A vibração da voz dela e o suave som de dentes de batendo a fez acelerar. - Você nunca deveria ter vindo de cavalo. – Atacou com raiva enquanto puxava uma calça e uma blusa do guarda roupa.

— E como viria? Andando? –Argumentou antes de começar a tirar seu vestido enquanto se secava. – Por que você se importa?

Por quê? – Não desejo seu mal e sei que seu pai tem um carro. – Revirou os olhos, virando-se. Parando bruscamente quando seu olhar se chocou com a mulher semi nua em seu quarto.

— Que está com o Jon. – Deixou seu tom de deboche sair. Mas, isso não teve efeito na outra mulher. Ela, apenas a olhava fixamente. – O que? – Encolheu-se notando seu estado atual. –As roupas estavam me causando calafrios.

— Tome. – Desviou o olhar enquanto estendia as roupas na direção dela. – Não é seu estilo, mas vai esquentar.

Não tinha um estilo. - Ok. – Sorriu antes de ergueu o braço, buscando as peças, mas no meio do caminho encontrou a mão dela primeiro. Sua pele fria se acomodou na quente enquanto seus dedos se tocavam sutilmente. Traindo-a. E no pequeno descuido, seus olhares se atraíram, mesclando o claro com o escuro. Tirando suas camadas.

Mergulhou no indiferente olhar da Beatrice, e naquela imensidão azul, viu calma... e honestidade crua, que a chamava. E ela queria ouvir... Seu estômago entrou em queda livre enquanto se virava, dando privacidade a ela, e a seu caos.

O movimento a tirou da sua própria pausa. Seu coração bateu, pedindo por algo que estava além das suas possibilidades. Colocou as roupas na cama antes de tirar o resto do vestido, quebrando a ilusão. Assim, o tecido molhado se esparrou pelo chão enquanto continuava de costas.

E por algum motivo, desejou virar... desejou. - Quem é Jon? – De costas, perguntou enquanto a outra mulher colocava as calças. – Seu noivo?

Definitivamente, não. –Você é única com um noivo. – Tinha uma personalidade muito singular para ter alguém. – Jon é meu primo. Começou a morar na minha casa a cinco anos, mesmo ele trabalhando fora da cidade.

— Então, por que ele está aqui? – Fixou o olhar em seu quadro favorito, deslizando sua atenção pelos detalhes do barco no rio... enquanto seu coração acelerava. Batia alto.

— Porque eu sou uma mulher. – Colocou a camiseta com raiva. – Essa é a maneira dos meus tios ficarem de olho na fortuna do meu pai. Para minha sorte, consegui trazer meu primo para o meu lado. Passou as mãos pelos tecidos, tirando os amassados de movimentação. –Pronto.

Imediatamente, Kate se virou, e aquela visão quase a fez perder a estabilidade. Beatrice conseguia ficar mais linda com aquelas roupas e cabelo molhado do com seus deslumbrantes vestidos. – Você tem um dom de fazer as pessoas fazerem o que quer, não é?

Nem todos. – Não com você. – Suas palavras saíram com honestidade ao mesmo tempo que a porta do quarto se abria.

— Senhorita Donaval. – Cumprimentou a senhora e mãe de Kate. – Todas já chegaram. Secas. –Brincou quando notou o vestido molhado jogado no piso.

—Já estou descendo. Obrigada mãe. – Kate falou, e assim como disse desceu. E por mais que quisesse ficar naquele quarto, acabou seguindo seu exemplo. Ainda precisava acabar com isso.

Um erro.

Quando a reunião começou, notou que aquela noite não seria como as outras. No momento que disseram, Eliza está presa, um flashback aconteceu em sua mente. A enviando para uma sala cinza enquanto chorava sozinha. 

—Precisamos fazer algo. Agora! – Palavras perigosas. – O que você faria? Beatrice? – Uma das mulheres a perguntou.

No fundo, não queria responder. – Eles acham que vocês são fracas. Que isso é passageiro. Mostre a eles que não é. – Falou pausadamente enquanto tomava um pouco do uísque da casa. – Só façam.

Todas ficaram em silêncio. Não eram como os outros grupos. Queriam seguir um caminho melhor. Mas, não havia. Toda a revolução tinha que ter seu caos.

Levantou quando nenhuma delas tomou a iniciativa para dizer algo. Não era seu problema. Não era a líder. Se fosse, Eliza nunca estaria presa.

Um raio cortou o céu enquanto as últimas gotas da chuva caiam, deixando a água deslizar calmamente pela janela da cozinha. Aquele alojamento lembrava suas antigas casas, e suas viagens; quando acreditava que a expressão “é impossível” era apenas um termo da linguagem. – Vamos fazer uma manifestação. – O tom da frase era baixo e incerto.

—Sabe que não vai funcionar, Kate. –E não iria. Mas, queria tirar aquele olhar cheio de dúvidas dela. – Precisa atacar.

— Aonde? O prédio do governo? –Sussurrou enquanto se aproximava da outra mulher, segurando seu olhar no lugar certo. Em seus olhos. –Eu seria pega, e nenhuma delas irá me ajudar. Eu nunca conseguiria fazer isso sozinha.

Geralmente, essa era frase que causava problemas para ela, porque sempre respondia: -Eu vou com você... se você quiser.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aquele pedido (Revisada)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.