Aquele pedido (Revisada) escrita por Gabriela


Capítulo 3
3




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Os violinos tocavam junto com as notas firmes do piano. Uma música sensível, e agradável. O único ponto agradável daquela noite.

—Então, está afiliada a esse grupo? –Demitrie questionou enquanto provava mais um pouco do seu champanhe. –Achei que havia parado.

—A vida sempre uma caixa de surpresa. Nem eu imaginava que iria voltar. –Falou com honestidade antes de beber seu quinto copo de vodka pura.

—Seu pai sabe? Ou seu primo? –Como se precisasse deles para sair das suas enrascadas.

—Ainda não. Uma hora conto. –Bebeu mais um gole, notando pela primeira vez os risos destinados a seu pai. –O que me diz? Há alguma chance disso dar em algo? –Seu pai ria sem entender o que diziam. A doença havia tirado isso dele.

—Pode e não pode. O governo está pressionado porque outros já fizeram, mas há tenções piores que essa. –Isso não era bom. Para ninguém.

—Meu pai fala sobre a guerra. –Talvez ele estivesse certo.

—Seu pai é um pessimista sem a sua razão. E não é bom falar sobre isso. –Não com uma mulher.

—Ok. Mas pode me ajudar? Mesmo assim? –Estava se humilhando como seu pai, por migalhas.

—Talvez... –Seu olhar de canto olhou para ela, cheio de malicia e desejos ocultos. –Eu possa fazer muito mais se... aceitar a ir a um encontro comigo. –A aliança nem pesou no dedo dele, ou a existência dos seus dois filhos. Honestamente, ele nem lembrou. Naquele momento só se recordou das noites no internato que a desejou; e isso fazia um encontro ser algo bem diferente do que um encontro deveria ser.

Aquelas palavras fizeram seu sangue borbulhar, a fez querer dar um soco na cara. Seria tão fácil! Sua mão se fechou, pronta para fazer isso, mas a sua razão falou alto. Não. –Tem que ser corajoso para propor isso. –Bebeu um longo gole do seu álcool favorito para se segurar. –Quanto tempo espera por isso?

—Não aja como se fosse algo terrível. –Não seria. –É uma proposta. Apenas isso... e pode dizer não. –Filho da...

—Com licença. –Falou com um sorriso falso antes de se levantar e andar pela festa.

O violino ainda era tocado, e o som penetrou sua alma, puxando lágrimas aos seus olhos. Sentia-se ofendida, mas lá no fundo, sabia que precisava aceitar. Onde isso estava a levando?

Respirou profundamente assim que chegou na varanda, puxando um pouco de força e retirando um pouco da raiva. Queria pegar o seu cavalo e fugir antes... –Filha. Conheça Henrique River. Veio das américas. –Seu pai se aproximou junto com o galante homem loiro.

— E de onde é dê lá? –Fazia tempo que não via alguém do outro continente.

—Canadá. –Falou com um sorriso galante enquanto observava lentamente ela.

Estava sendo analisada. Muito agradável. –Lugar lindo. Fui uma vez para lá.

Ela estava linda naquele vestido azul. -Por que não ficou?

—Não existe lugar para mim. –Olhou para seu pai em busca de um escape, mas o olhar dele já estava distante. Ótimo. –Sou uma mulher sem lugar nesse mundo.

—Eu entendo. Sinto o mesmo. Mas, acho que se encontrar a pessoa certa... –Vai encontrar seu lugar. –Vai encontrar seu lugar. –Já conhecia esse discurso muito bem.

—Por que acha que procuro alguém? –Precisava ser cordial, era o seu papel ali, ser um rostinho agradável. No entanto, a vontade de se distanciar dele a fez caminhar até o final da varanda. Mas, ele não entendeu; apenas a seguiu.

—Ninguém quer ficar sozinho. Principalmente uma mulher... como você. –Como ela? Cada vez melhor.

—Quer dizer velha? –Parou bruscamente e olhou para ele em busca de um desafio.

—Não e sim. Não é mais nenhuma jovem mulher para se dar o luxo para esperar. –Cada vez melhor.

—E você? Por que esperou até agora? –Seu limite estava chegando e isso iria ficar feio.

—Não encontrei a mulher certa. –Mentira.

—Ou você prefere outra coisa? –Cutucou sem qualquer pretensão, mas foi o suficiente.

Quando notou, a mão dele estralou em seu rosto, fazendo as estrelas brilharem em seus olhos, e seu lábio inchar. –Não você é o do outro tipo. –Sussurrou enquanto se distanciava mais dele.

—Sinto muito. –Implorou em uma tentativa de reverter o que havia feito, porém, não havia volta.

Antes dele conseguir se aproximar dela, se distanciou por completo dele e mergulhou na festa, evitando o contato com todo mundo. E funcionou até a cozinha, onde encontrou a cozinheira do seu pai, e por muito tempo, o único laço afetivo que teve. –Meu Deus! –Seu rosto estava tão feio assim? –Quem fez isso?

—Não importa. – Sentou-se em uma das cadeiras de madeira, perto da pequena mesa de serviço, sentindo a cada segundo seu rosto queimar ainda mais, e inchar. –Um boçal que meu pai achou que seria interessante para mim.

—Me pergunto o que disse para fazê-lo perder o controle no meio de uma festa. –Lilian pensou alto enquanto molhava um lenço.

—Só cutuquei de leve. –A mulher se aproximou dela, e bateu levemente o pano em seu rosto já com pontos roxos.

—Isso vai ficar feio amanhã. –A coisa estava feia.

—Eu posso sentir. Pelo menos me livrei dele. –Riu, puxando um leve sorriso da sua tia.

—É. –Parou o pano, depois de constatar que não podia fazer nada por ela. –Vai ter uma péssima noite.... ainda bem que há uma garrafa de vodka esperando por você. –Isso fez a moça sorrir, e um beijo estralou suas bochechas quando puxou de um canto escondido a bebida.

—Você é a melhor. –E era mesmo.

Antes da sua tia dizer algo, deixou o local com a bebida e se escondeu nas árvores do terreno. Bem longe da festa. Foi só ali, distante, com os cantos distantes do violino e sobre as estrelas, que bebeu o forte líquido até desmaiar.

—Bea? –Uma voz sussurrou longe.

—Hummmm! –Só podia ser do Arthur. Art.

—Uma moça chamada Kate quer falar com você. –O gentil homem cutucou seu ombro tentando puxar alguma vida dela.

—Diz que não estou. –No fundo, havia morrido naquela noite. Ou pelo menos seu fígado e sua face. Não sentia nenhum dos dois.

—Que bom que eu subi. –Droga. Levantou as pálpebras, chocando com a luz clara demais do dia.

—Art, nos deixei a sós por favor. – A ordem o fez sair rapidamente do quarto enquanto se levantava. Ainda estava com o mesmo vestido, e sem qualquer conhecimento de como chegou ali. –O que está fazendo aqui?

—Iriamos nos encontrar as onze. –Não podia ser tão tarde. No máximo meio dia.

—E que horas são? –Perguntou procurando a posição mais confortável sentada. Não precisava ser assim.

—Quatro da tarde. - Kate atacou enquanto a observava. –Ainda está vestida com o vestido da noite?

Olhou para ela, e quase revirou os olhos, mas seu corpo não permitiu. –A noite não foi tão boa.

A mente dela mal notou suas palavras, sua atenção estava completa no hematoma em seu rosto. –Quem fez isso em você? – O sangue dela borbulhou. Quem ousou fazer isso nela?

—Não importa. O que quer?

Piscou os olhos, segurando as emoções que atravessavam seu corpo. –Saber. Conseguiu algo?

Um tapa. –Talvez sim. Talvez não. É difícil dizer agora. Mas se confia em mim. Espere.

—Eu confio. –Sentou-se ao lado dela na cama. Uma ação que fez seu coração falhar. –Queimaram nossos panfletos. Nosso comício está quase morrendo. Estou a três anos nisso, e vejo cada vez mais desistências do que agregados.

—Imaginei que isso iria acontecer. Pessoas se vão quando não veem resultados. –Falou com honestidade, deixando de lado qualquer ironia ou provocação. Mas, não foi assim que Kate entendeu.

—Eu imaginei... –Ela sussurrou enquanto se levantava da cama. –E diz a bêbada.

Esse foi um golpe baixo. –Ok. Se acabou... preciso me higienizar e gosto muito de privacidade nesses momentos.  Então... –Apontou para a porta. –Se retire.

—Nem precisa pedir duas vezes. –E se retirou.

Quando saiu, bateu a porta com força. Aquela mulher a irritava. Respirou fundou enquanto andava em direção a escada, e quando a desceu, encontrou a cozinheira com uma bandeja farta, com mais deliciosos alimentos. –Já vai? –A mulher perguntou enquanto ela andava até a porta.

—Desculpa. Eu não tenho paciência. –Apontou para onde veio, reconfirmando de quem falava.

—Poucos tem. Ela é uma pólvora, que só precisa de uma fagulha para explodir. –Era uma mistura do pai e da mãe.

—Com o tanto de álcool que ela bebeu, com certeza explode. –A cozinheira riu enquanto segurava a bandeja com destreza. –Ela bebeu antes ou depois de acertarem ela? –Por que aquilo a incomodava tanto?

—Depois. Eu mesmo dei a bebida. –Era o mínimo que podia fazer.

—Quem fez isso? –Perguntou mais uma vez em busca de alguém para odiar. Precisava saber.

—Não sei. E ela nunca vai dizer. –Suspirando, olhou brevemente em direção do quarto. –Então, ela bebe. É a maneira dela lidar com esses encontros, além de fugir. Foi um milagre ela ficar nesse...deve ter sido muito convincente.

Não foi nenhum pouco. –O que quer dizer com ‘esses encontros’?

—Você não sabe. É a maneira do pai dela e dos tios tentarem conseguir algum acordo, e um casamento para ela. –Falou tão casualmente que casou calafrios em Kate. –Desculpa preciso ir antes que esfrie.

Assentiu antes de verbalizar. –Ok.

—Kate? –A mulher chamou antes dela se distanciar muito, obrigando-a a virar o rosto e encarar a senhora mais uma vez. –Aparências enganam. -Ela falou, confirmando algo que a jovem descobria lentamente.

Aquela mulher era perigosa, e isso a cativava profundamente.


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