Aquele pedido (Revisada) escrita por Gabriela


Capítulo 12
12


Notas iniciais do capítulo

Postando enquanto a internet não é censurada



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A luz do novo dia entrou pelas janelas abertas enquanto uma brisa suave levantava as cortinas. Elas iam e vinham em um ritmo constante, em uma tentativa de trazer vida de volta para aquele lugar. Mas, falhavam. Tudo parecia apagado, parado, fúnebre. A casa estava morta assim como seu dono, por isso, um nobre senhor andava por ela caçando o que poderia levar; enquanto o seguia.

Era só o que fazia ultimamente. Seguia.

—Pretende vender a mansão? –Wells perguntou no grande salão, onde seu eu criança sempre estaria dançando com seu pai uma valsa desengonçada.

Honestamente, não conseguiria mesmo se quisesse. –Não. Pelo menos não por muito tempo. Essa casa era o orgulho do meu pai, quase uma parte dele. Vender seria cuspir na memória dele. –Nunca faria isso.

O senhor passou o dedo na madeira da mesa, a qual se encontrava no centro da sala. –Poucos teriam essa posição. Você é uma boa filha. –Afirmou enquanto pensava no que podia ganhar com aquelas tralhas. Era um urubu. –Realmente. São peças de valor. Quando eu poderia pega-las?

Sabia que eram, e pelo preço que ele estava cobrando, daria quase graça. O lucro seria mínimo. -Quando quiser. –O preço de ir embora logo e não deixar nada para seus tios. –Quanto mais cedo, melhor. Pretendo partir assim que der.

Perfeito. –Ótimo. Mando amanhã mando meus funcionários... se o protesto não piorar. –Como odiava aquelas ativistas.

—Achei que era pequeno? –Pelo que Art havia falado, era só um grupo tentando fazer uma pressão para liberarem Kate. Mas, não foi na cidade. Não sabia muito.

—Era. –Confirmou antes de caminhar até uma das janelas. –Mas, parece que a garota Turner começou uma greve de fome, e isso aflorou mais os ânimos. Só espero que acabe logo. Já perdi dinheiro nesses cinco dias.

Todos estão perdendo. –Todos perdem com isso. Mas, logo será resolvido.

Wells sorriu enquanto puxava um charuto. –Sabe... fez bem em sair daquele grupo. –Riscou o fósforo, fazendo a brasa acordar para queimar seu vício.

—Por que acha isso? –Questionou enquanto se aproximava mais um pouco dele.

—Você é... uma mulher de classe e não uma delas. Seu lugar é em lugares como esse... –Ele girou as mãos enfatizando ainda mais o lugar e seus luxos. –Elegantes. Requintados.

Seu lugar era onde queria estar. –Não me importo com luxos. Viveria com bem menos do que tenho tranquilamente.

—Imagino. –Fumou longamente seu charuto antes de começar a andar para a saída. –Será uma ótima esposa. O homem que a conquistar terá sorte.

Com certeza, ela não era um homem.

Sorriu enquanto ocultava os pensamentos soltos. –Obrigada. Te vejo então amanhã. –Falou quando pegou o chapéu dele, deixado em uma cadeira perto da porta da entrada.

—Com certeza, senhorita. –Wells soltou mais um pouco de fumaça enquanto a observava se aproximar. –Até amanhã. –Pegou o chapéu oferecido, e como veio, foi.

Era um homem do seu tempo, diferente dela.

Respirou profundamente, sentindo a brisa entrar pela porta. Um vento quente que tentava contar o que acontecia na cidade, mas não podia ouvir. Não podia ver. Sabia que Kate fazia, havia feito antes. Havia sentido na pele. Por isso, seu coração se apertava. Aquilo foi seu erro. E essas palavras, ecoaram por todo o caminho de carro até a cidade, até o banco.

—Art? –Chamou antes de sair do carro. –Pode voltar para casa. Não volto cedo.

—Ok, B. –Ele concordou antes dela sair.

O banco era um dos lugares que mais odiava, mas lá estava um dos amigos do seu pai e seu dinheiro. Por isso, entrou nele e deixou seu salto alertar a sua presença, que logo foi notada por Leonard, um senhor de setenta anos de barba bem aparada. –Beatrice. –Seu tom era gentil e quase amoroso. –Sinto muito pelo seu pai. Se tivesse na cidade teria ido no enterro. –Acrescentou quando se aproximou dele o suficiente para dar um aperto gentil em suas mãos.

—Eu entendo, e agradeço pela vodka que enviou. –Era uma ótima pessoa.

Suas palavras o fizeram sorrir. –Imaginei que isso seria melhor do que um vinho. Mas, não é por isso que veio aqui.

Não havia como evitar essa conversa. -Não. Pretendo ir embora... logo. E eu queria saber sobre o dinheiro parado do meu pai.

—Sim. Seu primo deixou as pendências resolvidas a alguns dias. Venha comigo. –Falou apontando para a sala pequena, cheia de livros e papeis jogados em uma mesa simples; e quando entraram nela, continuou. –Seu pai tem... –Puxou um papel da mesa. –Meio milhão aqui.

Um belo dinheiro. –Gostaria de tirar cem e deixar o restante ainda aqui com o senhor.

Uma garota sábia. –Perfeito. –Puxou uma caneta e marcou no papel tudo o que dizia. –Daqui a alguns dias pode tirar. Posso te ajudar em algo mais, Bea?

Só havia mais uma coisa. –Quero que tire dez mil, e use para liberar a senhorita Turner da prisão. –Isso o fez levantar as sobrancelhas.

 -Tem certeza? –Essa era uma boa pergunta. –É um bom dinheiro.

—E o suficiente para apagar o que houve. –Era seu erro. –Foi meu erro, e essa é à minha maneira de concertar o que fiz. Se fosse um texto, eu reescreveria, mas como não é, acho que esse dinheiro tenha capacidade de fazer.

—Um ato honrado da sua parte. Mas, por que não faz isso você mesma? –Perguntou enquanto deixava o papel e a caneta na mesa bagunçada da sua sala.

Ela não aceitaria. –Ela não aceitaria minha ajudada. Ela provavelmente acha que foi eu que coloquei ela lá. Então, é melhor que seja você. Se puder é claro... –Odiava pedir, mas esse era um dos momentos de necessidade.

—Eu farei. Sempre te considerei uma filha. –Mais uma vez, Leonard segurou suas mãos, fazendo-a quase acreditar em dias melhores. –Hoje mesmo resolvo.

E como havia dito, no final do dia, Kate saiu da delegacia, magra e cansada, direto para os braços da multidão que a esperava. Transformando todo o caos em uma festa cheia de aplausos e com beijos do seu namorado. Era uma linda imagem que contemplava de longe.

Agora podia ir.


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