Aquele pedido (Revisada) escrita por Gabriela


Capítulo 11
11




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A fumaça deixou seus lábios ao mesmo tempo que pintava a imagem daquela varanda, vazia e silenciosa. Enquanto seus olhos vermelhos tentavam decifrar o que acontecia a sua volta. Onde se encontrava no tempo. No passado ou no presente. –Beatrice, saia da chuva! –Os raios cortaram o céu em suas memórias, e seu eu criança continuou a correr sob a fúria do verão.

—Então, é com você que meus cigarros estão... –A voz do seu primo pontuou enquanto botas se aproximavam mais dela.

Depois daquele dia, precisava de um escape. –Desculpe. Não conseguir ver eles na biblioteca e não pegar. –Puxou mais um pouco da calmaria do cigarro antes de jogar a fumaça no tempo. –Acho que sobrou alguns... na mesa. –Sem virar apontou para a mesa com a mão.

Entre suspiros, seu primo parou ao seu lado. –Que bom. Vou precisar mais tarde. –Na verdade, precisava de alguns agora, mas ela precisava mais. –Achei que te encontraria bebendo...

Como queria poder beber. –Acho que no meu estado de espírito atual causaria problemas se ficasse bêbada. –E só ela sabia o quanto queria evitar problemas.

Suspirou mais uma vez. –Quer que eu mande um telégrafo para nossos tios e meu pai? Vou ter que ir na cidade de qualquer forma.

Mais problemas. Ainda bem que seu pai foi gentil em deixar um testamento que a assegurava. – Por favor. Tenho certeza que eles não querem ouvir isso de mim. E não se esqueça de trazer alguns cigarros também.

— Sim, senhora. –A fumaça saiu dos seus lábios mais uma vez enquanto o dia amanhecia. –Ouvi dizer que ouve problemas no protesto. –Também havia ouvido. Sua tia era uma mensageira nata. –Pretende falar com elas? –Ela?

Em algum momento, sim. –Sim. Mas, não hoje. Eu não quero ouvir o que ela tem para falar hoje. –Sussurrou enquanto seu antigo eu, em suas memórias, corria sem medo pela chuva. Mais feliz do que um dia já foi.

E assim ficou por quatro dias. Evitando falar de qualquer coisa, evitando o mundo. Mesmo no enterro do seu pai, se manteve longe; e quando a presença dele se perdeu debaixo da terra aceitou finalmente que isso era um adeus. –Adeus, pai! –Tocou a lápide enquanto se distanciava e criava forças para ver quem precisava ver.

Por isso, no quinto dia, se encontrou na porta de fora da casa de Kate. Sem qualquer vontade de entrar, e com toda a necessidade para resolver isso. E foi essa sensação de urgência que a fez bater levemente a mão na madeira, que logo foi aberta por um homem. O pai de Kate. –Senhorita Donaval? –Sim, essa era ela.

—Bom dia, senhor Turner. –Ele sorriu para sua cordialidade e abriu completamente a porta. Era o seu momento.

Os finos saltos da sua bota bateram na madeira da casa, alertando a todos da sua presença, e para seu azar, o pequeno grupo estava reunido. Que azar! Todas olharam-na, e pelo olhar estavam com raiva. Muita raiva. – O que faz aqui senhorita Donaval? –Kate falou enquanto se levantava do sofá com hostilidade. – Achei que sua mensagem foi bem clara quando fugiu do protesto.

Isso seria mais difícil do que imaginava. - Eu não fugi. Algo aconteceu e eu precisava ir embora. –Falou calmamente. Não sentia realmente nada a alguns dias.

—Como o que? –As notícias da morte do seu pai ainda estavam presas a sua casa. A cidade ainda não sabia, e não queria dizer o porquê precisou ir. Não queria quebrar naquela sala. –Eu confiei em você mais uma vez. E você cuspiu em meu pedido.

E nada daquilo importava quando seu pai estava morrendo. – Sinto muito. Mas, não havia opção para mim.

Como ela pode? – Sabe o que eu ouvi.... Que você saiu porque seu motorista havia a alertado do que iria acontecer. Que você sabia que o protesto seria barrado. E eu duvidei. Mas, olhando para seus olhos, agora, acho que errei. –  Estava com raiva. Havia confiado nela, havia a protegido e na primeira oportunidade ela virou as costas.

As palavras a atingiram, e em uma autodefesa, cruzou os braços. –Eu não sei quem falou isso para você, mas... –Quantas vezes já se explicou para ela? Muitas. Hoje, não seria esse dia. –Quer saber... não importa. Você já concluiu tudo. Eu não importo com o que você pensa ou deixa de achar sobre o que eu fiz ou deixei de fazer. –Atacou. –Não mais!

—Realmente você não se importa. Você nunca se importou com isso. Era tudo sobre você. E a todo o momento você tentou fazer isso ser sobre você. –Kate gritou as palavras enquanto se aproximava. E mesmo sendo a única que falava do grupo, todas estavam com ela. – O meu pior erro foi ter pedido para você se juntar a mim!

Talvez fosse. – Não. O pior erro foi meu... por ter aceitado. Mas, esse não é um erro que cometo duas vezes.

—Nem eu. –Kate se aproximou ainda mais dela. – Saia! Não há mais lugar para você aqui. Nunca houve. E talvez nunca aja em lugar nenhum. Ninguém aguenta sua superioridade.

Esse foi um golpe desnecessário. –Ok.

Foi sua última palavra naquela sala para Kate. E mesmo machucada, não deixou suas emoções brilharem em suas expressões. Não havia necessidade. Sairia daquela cidade com a cabeça erguida. E sairia logo.

O que não sabia era que, nessa mesma noite, Kate seria presa pela depredação da prefeitura. E ela seria vista como a principal culpada por aquilo acontecer.


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