Charlotte a Herdeira da Trapaça escrita por MJ Triluna


Capítulo 7
Capítulo VI - Geração Coca-Cola


Notas iniciais do capítulo

Em cima da hora, mas cheguei! haha terminei minha matrícula na faculdade lol, em suma ai vai mais um cap de Charlotte como o combinado, obrigada pela atenção e boa leitura a todos (as)!



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Desespero.

Era a palavra chave, ela não tinha certeza de como entrou em casa sem fazer barulhos ou sujar nada arrastando Arthur como podia, nem do como conseguia se manter ignorando o fato de que Phelipe não demonstrava ser quem realmente é.

Mesmo depois de tomar um banho, o cheiro do álcool não tinha deixado sua pele, Arthur estava de cara amarrada na cama dela encarando um urso de pelúcia com um dos olhos tendo espasmos de indignação.

Ela olhou novamente pela janela, Phelipe ainda não tinha voltado e pelo silêncio na casa seus irmãos tinham dormido há muito tempo, o único som persistente no quarto era o do porquinho do guiné¹, Legolas, correndo sem parar na roda de sua gaiola.

Mordeu o lábio, começou a esfregar o anel em seu dedo, ansiosa. Então puxou uma caixa de debaixo da mesa onde Legolas reside, parecia uma mala de ferramentas aos olhos de Arthur.

— Tire sua camisa — falou calma, levantando com a caixa em mãos e acendendo a luz do abajur ao lado de sua cama.

Estava exausta e dolorida, também se encontrava no mais profundo estado de negação possível. Não cabia em sua cabeça que Phelipe poderia, algum dia, fazer mal algum à ela. Caminhou inexpressiva até a cama onde ele se encontrava com uma sobrancelha arqueada.

— É pra hoje ou tá difícil? — rosnou impaciente, abrindo a mala sobre a cama e o fuzilando com o olhar por notar que ele permanecia com a camisa.

Ele bufou e tirou a camisa que estava toda rasgada sem pestanejar, assim como um falcão, Arthur analisava cada milímetro do quarto. O que só o deixava perplexo, alguém com o gênio de Charlotte, o jeito de falar e agir e até mesmo sua fragilidade acima da média quando posta sob muito stress.

Aquilo tudo não batia com aquele quarto. Apesar dos ursos de pelúcia, havia um animal estranho vivendo numa gaiola, os cobertores e cortinas eram todos de cores neutras e a única decoração que ele encontrou eram posters de algumas séries, nenhuma que ele julgou normal para garotas da idade dela assistirem.

Não apenas pela maioria ser para maiores de idade, mas por serem de temas pesados. Histórias que abordavam problemas sociais sérios, que até mesmo num mundo de fantasia pintavam a crueldade da realidade.

Por mais que ela agisse como uma mula empacada, ele já sabia que ela não era aquele "escudo" que criou para si mesma, não era difícil entender o porquê depois de ver Phelipe entregando a garota que ele criou, sua filha, alguém que o ama e respeita ao ponto de não crer no que seus olhos viram. Como se fosse nada.

— Você andou, sei lá, brincando de ser atropelado? — Soltou um riso de nervoso, encarando os hematomas que estavam num tom azulado e alguns inchados por todo o tórax dele, assim como cicatrizes em suas costas faziam-na pensar que aquilo eram marcas de chicotadas.

Ele não respondeu ou fez menção de que pretendia fazê-lo, ela bufou irritada, agora que sua curiosidade estava em ação era chato não ter respostas. Mas para se distrair do fato que tanto negava em sua mente, apenas continuou tratando das feridas do rapaz, até que todo o tórax dele estava coberto por faixas e ele já devia ter tomado cerca de cinco remédios diferentes.

A garota se jogou para trás na cama, era impossível não notar em seus olhos que ela estava segurando lágrimas com tudo de si. Colocando um dos braços por cima do rosto de forma que lhe cobria os olhos completamente, ela mordeu uma ferida já existente no lábio inferior que obviamente fora causada pela mania de fazê-lo.

— Você pode dormir no puff ou no tapete, tanto faz. Só não faça esforço para não abrir essas feridas. Amanhã dou um jeito de arrumar roupas limpas e um banho pra você, está fedendo como aquela mulher. Insuportável — Ela não falou aquilo num tom cortês, mas sim num tom de extremo nojo.

Ele resolveu não arrumar briga naquele instante, ela estava parecendo uma bomba prestes a estourar. Quando ele deitou dolorido no puff, ela sacudiu sem nenhuma delicadeza um cobertor e um travesseiro em cima dele e então apagou todas as luzes do quarto e fechou as cortinas da janela.

Por mais exausto que ele estivesse, não conseguia dormir, a imagem de Kai rondava sua mente. E os arranhões por mais leves que fossem nas pernas de Charlotte, a dor psicológica que ele não precisava ver para saber que estava ali, não deixavam sua mente menos pesada.

Estava a ponto de gritar consigo mesmo quando ouviu um soluço abafado, não podia enxergar nada naquele escuro, nem que forçasse sua vista, mas o barulho baixo e quase imperceptível de um choro sofrido mostrava que aquela garota encolhida na cama estava sofrendo e não era pouco.

Não se intrometeu, ficou onde estava fingindo estar dormindo. Tentar fazer algo ali, só iria irritar e machucar mais alguém evidentemente mal, podia imaginar a confusão na cabeça dela e, ainda mais, pelo pouco que sabia dela, apesar daquela fachada de garota mimada, da situação financeira estável e da presença de pessoas importantes para ela, seus problemas eram muito maiores do que ele poderia compreender, problemas fora do mundo mágico, problemas que não podiam ser resolvidos por uma boa estratégia e uma dose alta de agressão física. 

Não, doenças da alma, que só o tempo poderia dizer se iriam se curar.

Charlotte demorou a agarrar no sono em meio às suas lágrimas, com a estranha e anormal sensação de que havia alguém ali do lado dela, a consolando naquele instante. E com aquela sensação quase desconhecida de conforto, ela conseguiu cair num sono profundo sem sonhos com lobos, abismos e correntes.

Já Arthur continuava acordado, irritado com ele, com a Seita, com Phelipe que ele nem conhecia e com medo de continuar acordado assim como dormir, não havia como fugir de Kai de jeito algum.

O rapaz engoliu seco ao ver íris azuis brilhando como os olhos de um gato em meio a escuridão do ambiente, se sentou mesmo que não quisesse fazê-lo, estava em pânico e não conseguia sequer pensar numa desculpa plausível, o melhor que sua cabeça processou foi "Oi, então, eu meio que fiz sua filha ter um ataque de pânico e ter recaídas em alguns dos muitos distúrbios mentais dela. Foi mal aí".

— Você tem noção do que fez?! — ralhou sem rodeios, o ódio em seus olhos arrepiou a espinha de Arthur. — Tem noção do que aquela criança assustada está passando por sua culpa?! Eu devia te esfolar vivo e salvar o mundo da sua burrice, Parker. Você não tira o chão de um ser humano com sentimentos desse jeito, você não faz ela correr como condenado de cães mágicos floresta adentro com medo de não haver um amanhã e contando com uma ecolocalização que ela nem tem noção que tem, VOCÊ NÃO FERE MINHA CRIANÇA!

Arthur ficou estagnado onde se encontrava, sua única ideia era correr dali para o mais longe possível. Em tanto tempo "trabalhando" com Kai — para ele na verdade — nunca o tinha visto tão furioso, mesmo que entendesse muito bem o porquê de tamanho ódio, era de se espantar ver tanta fúria exalando de uma só pessoa.

— E-eu... — Se engasgou com as palavras, não sabendo o que falar e com medo de dizer algo errado. — Ela foi muito bem, conseguiu se virar contra um inimigo que eu não escaparia, ela sabe se cuidar bem até demais sozinha.

E quando se deu conta, já tinha dito a coisa errada. Ele não era cego para não ver que alguém naquele estado psicológico não devia, não podia, lutar sozinho. Ele só teve tempo de notar isso, porque antes que pudesse remediar a situação, um tapa na cara o fez quase entender o pescoço de uma coruja, ele quase caiu do puff onde estava sentado com a força do tapa.

— Você passou de qualquer limite, garoto — O homem arfava de raiva, evidentemente se segurando para não gritar. — Você sabe para quem vai a conta dos seus atos, sua irmã vai ganhar umas férias nada agradáveis. Veremos se ela dura muito tempo por conta própria.

Não havia mentira naquelas palavras, mesmo se tratando dele. Aquele era um assunto que não se usa num blefe ou para assustar.

— Faça o que quiser comigo, me queime vivo, eu não me importo. Mas deixe a Sarah em paz! — pediu com voz baixa, não ousando erguer o olhar.

— Muito engraçado — Abriu um sorriso macabro, colocando uma das mãos na cabeça de Arthur e se debruçando para encará-lo nos olhos. — Acha que só ser queimado vivo dói tanto assim?

A dor que correu por seu corpo o fez começar a chorar como uma criança de prontidão, ele teria urrado de dor se conseguisse fazer algo, pânico era pouco para seu estado, o mundo parecia estar em câmera lenta, ele se sentia plenamente sozinho, com um vazio enorme o comendo de dentro para fora no peito, a dor não era apenas física, era uma exaustão mental, uma dor excruciante e insuportável para um ser humano se manter sano.

— Que diabos... — disse quase sem ar, quando a mão do homem tinha saído de sua cabeça levando aquela agonia da morte.

— Isso, Parker, não é ¼ do que ela já sentiu e sente. Enquanto você brincava por aí de montar falcões gigantes e causar problemas, ela escondia os irmãos como podia e era espancada como nem um animal merece. Então sugiro que você cale a maldita boca antes que a situação da sua irmã piore, por sua culpa.

[Os primeiros raios de luz já cortavam os céus, e Arthur não tinha conseguido descansar nem um mísero segundo]        

Os primeiros raios de luz já cortavam os céus, e Arthur não tinha conseguido descansar nem um mísero segundo. Estava exausto e dolorido, preocupado com a irmã e se lamuriando pelos próprios erros. Mas continuava alerta com o fato de Phelipe ainda não ter chego, e assim ele notou uma presença que não devia estar ali.

Talvez por ter ficado horas olhando um porquinho do guiné, comer, cochilar e depois correr sem parar numa roda, ele tenha se desligado o suficiente da realidade para não perceber.

Charlotte não tinha exatamente parado de chorar, apesar de estar dormindo ainda soluçava baixo e lágrimas ainda corriam, ele nem sequer entendia como aquilo era possível. Mas, dessa vez, ela não estava sofrendo sozinha.

A figura bem conhecida por ele, Kai, sereno como uma criança centrada em algo. Estava sentado na cabeceira da cama, apenas ali olhando, como se seus olhos fossem capazes de dizer para aquela mente tão frenética que ela não estava sozinha, que sempre houve alguém ali por ela, que apesar de tudo parecer tão distante, tão temporário, aquela presença de espírito regada de tanta paz e conforto. Não só era, como sempre seria, permanente.

Aos olhos dele, nem parecia o homem autoritário e rigoroso que ele conhecia. Nem de longe o lembrava da figura que algumas horas atrás o socava como se fosse um saco de pancadas, realmente parecia um pai preocupado.

No ponto que ele ouviu o motor de um carro, a figura sumiu e Charlotte começou a coçar os olhos resmungando algo que ele não pôde compreender.

O motor do carro ronronava manso, já começando a parar. E a medida que ele parava, o desespero aumentava, mesmo que ainda negasse, algo lhe dominava para que desse o melhor jeito possível de se livrar da aula do dia e do pai, ele tinha chego praticamente na hora que deveria sair para o trabalho. Fazendo-a temer que ele poderia ficar em casa devido ao cansaço, mas aquilo ela não podia prever.

— Não saia de onde está. — Se dirigiu a Arthur, já tendo notado que ele estava desperto e atento. — Vou dar um jeito! — falou mais para si do que para ele.

Saiu descalça se incomodando com o chão frio, sorrateira e silenciosa como um gatuno, saiu do quarto e das vistas de Arthur sem produzir nem sequer um ruído. Ela com toda certeza era muito familiarizada com ter que sair de fininho pela casa.

Seguiu silenciosa pelo corredor, nem sua respiração produzia som, o carro ainda estava sendo estacionado na garagem. Ela tinha o tempo que precisava, agarrou a maçaneta da porta, entrou e fechou a porta atrás dela sem barulho algum. Seus irmãos se encontravam num sono pesado, cada um em sua cama talvez disputando quem roncava mais alto.

Sem poder fazer barulho para acordá-los, nem assustá-los por poderem acordar gritando, coisa que eles faziam com frequência. Se aproximou rápida primeiro de Jace, tapando a boca dele com uma mão e tentando o despertar com a outra. Logo seus olhos se arregalaram e com toda certeza queria gritar, ela gesticulou para fazer silêncio, mas de nada adiantou.

— Silêncio, caralho! — cochichou eriçada. — É importante!

Ela levantou as mãos, suspirando, no fundo pedindo para que ele não gritasse. Ele se ergueu na cama murmurando xingamentos, não era a primeira vez que era desperto daquele jeito pela irmã.

— Qual a crise da vez? — bocejou. — Eu acordo o Jason... — disse olhando para o lado, tentou se levantar, mas caiu no chão se enganchando nas cobertas.

Fazendo todo o barulho que ela não queria. O deixou reclamando da dor no chão e acordou Jason da mesma maneira, com a diferença que ele mordeu a mão dela por estar tapando a boca dele.

— Qual o seu problema?! — ralharam em uníssono.

Jace se permitiu rir antes de conseguir levantar ainda cambaleando, embriagado pelo sono. Charlotte não sabia explicar de onde viera aquela audição, mas ela tinha acabado de ouvir o freio de mão do carro ser puxado, confirmando que estava a alguns minutos de seu pai adentrar a casa e subir as escadas.

— Não dá pra explicar agora, que tal fingir estarem doentes? coisa que vocês fazem muito bem e vão ganhar um dia em casa e... meus chocolates escondidos — falava tão rápido que se atrapalhava, não tinha tempo. — Eu explico tudo depois, certo? só deem um jeito de não irmos a aula hoje.

Os dois se entreolharam com um sorriso de lado, arqueando as sobrancelhas em sincronia.

— Gripe comum, virose, febre mediana o suficiente pra ficar em casa, sem hospital. — Jason começou, abrindo uma das gavetas do guarda roupas dividido pelos dois.

— Ou quem sabe vômito de mentira? Olhos inchados, ficar pálido, ou até meu predileto: uma dor de barriga daquelas que só o cheiro mata alguém? — continuou Jace abrindo a gaveta logo ao lado.

Ela deu uma olhada por cima no conteúdo das gavetas, rindo de nervoso e internamente agradecendo.

— Vocês são terroristas. — Revirou os olhos. — O que conseguirem em menos de dez minutos, obrigado mesmo.

— A crise deve estar feia, ela está agradecendo por sabermos forjar ótimos motivos pra faltar a escola — constatou Jace, enquanto Jason balançava a cabeça concordando. — É bom ir explicando tudo direito depois, mana!

Ela soltou um riso nasal antes de voltar para o próprio quarto tão silenciosa quanto tinha o deixado minutos antes, para ódio dela, Arthur tinha tirado o pobre Legolas de sua gaiola e agora o pequeno roedor corria louco pelo quarto enquanto o loiro desengonçado parecendo uma múmia tentava o capturar em silêncio.

— Eu falo grego por acaso?! — rosnou, o lembrando mais do que ele mesmo gostaria de outra pessoa.

Ela assobiou o mais baixo que pôde e o animal foi resmungando um "kiu kiu kiu" direto para seus pés. Ela segurou o mascote tentando o acalmar, se dirigiu até a gaiola onde ele sempre viveu e o deixou lá.

— Ele tem o coração fraco, assuste o Legolas mais uma vez que eu te deixo morrer no meio da floresta na próxima! — Se jogou direto na cama, massageando as têmporas.

— Legolas? — perguntou-se baixo, procurando o que aquele roedor tinha haver com um elfo de filme.

A garota murmurava coisas incompreensíveis de uma vez, ora saiam números de sua boca, ora saiam perguntas que ela mesma respondia, ora algum xingamento dirigido a ela mesma. Uma confusão total, até ela parar de murmurar feito louca.

— Já pro armário, agora! — Levantou o empurrando para o armário acoplado a parede, onde pelo lado de dentro da porta ela tinha suas investigações quanto às coisas mágicas e tudo que tinha informação. — Nem. Um. Piu! — mandou quando ele demonstrou dúvida.

Voltou numa corrida sossegada para sua cama, se espalhou na cama, enroscou-se no cobertor exatamente como ela fazia enquanto dormia e passou a babar no travesseiro como um cão, parecia um anjo no sono mais profundo possível.

Arthur estava confinado num guarda-roupas que não tinha muito espaço para ele, podia ver a sua frente todos os papéis, fitas, pesquisas, runas interligadas num enorme quadro de investigação organizado.

Ele ouviu barulho no corredor, passos firmes. Então ouviu batidas numa porta, seguida por cochichos e lamúrias, logo em seguida a porta do quarto de Charlotte também estava sendo incomodada. Batidas e batidas, a atriz permanecia fingindo que estava dormindo em sua cama, o quarto foi invadido por Phelipe que coçou a cabeça vendo a situação da filha e olhando a bagunça no lugar.

Depois de muitas tentativas falhas, ele "acordou" Charlotte de seu sono pesado, as olheiras advindas de uma noite tenebrosa com fuga em meio a floresta, com direito a um choro silencioso e abafado pela madrugada.

— Mais cinco minutos — resmungou coçando os olhos, e com a cara amarrada. Dando tudo de si para parecer no seu normal.

— Você deixou os seus irmãos tomarem sorvete de noite?

— Hã?

— Os dois estão quase morrendo com a garganta inflamada e febre. Eu sei que não é exatamente sua responsabilidade, mas toda vez que eles tomam sorvete de noite acaba nisso.

— Mas, eu...

— Estou morto de cansaço, não adianta reclamar agora, não é? Não quero nem saber, daqui a pouco tenho que sair e não sou eu quem vai cuidar deles, você sabe bem como são dramáticos quando estão doentes e, além do mais, você deve ter ido dormir tarde para estar nessa situação. Ainda teima em parar com os remédios e...

— ESTÁ BEM! — Se levantou num pulo, bagunçando o próprio cabelo. — Já entendi, a culpa é minha, eu vou resolver, pronto, chega e acabou!

O homem se virou com um leve sorriso, indo em direção a porta, tudo tão natural que para garota não podia ser real a hipótese de que aquele sujeito que a conhecia tão bem, e vice-versa, cogitar feri-la de qualquer modo.

Antes que ele terminasse de fechar a porta, não se conteve, a dúvida era mais forte que ela, só a ideia daquilo doía, doía tanto que talvez a morte fosse uma boa opção naquele instante, contudo, ela só queria matar a dor, não a si mesma e assim matar a dúvida era a fonte, tinha que haver uma explicação para aquilo, ele apenas não podia contá-la, então o menor dos confortos seria suficiente.

— Pai — Agarrou o braço dele, angustiada, ainda assim segurando as lágrimas que insistiam em querer jorrar. — Você nunca faria algo para nosso mal, não é? Para machucar meus irmãos e eu...

Phelipe se virou espantado, um tanto atônito com a pergunta repentina. Mas logo se recompôs, exibindo um sorriso calmo e compreensivo.

— Algum pesadelo? — indagou brincalhão. — Só no mundo dos sonhos e pesadelos mesmo. Charlie, vocês são tudo para mim na vida, meus filhos, eu morreria antes de lhes desejar mal.

Não se conteve, sorriu aliviada. Aquilo bastava, não eram necessárias provas ou esclarecimentos, aquelas simples palavras eram suficiente.

Ela continuou parada ali, sorrindo abestalhada. Tempo suficiente para fazer Arthur ficar com dó dela, e Phelipe sair de casa contando algo sobre seus empreendimentos. Aquela alegria com a qual ela mesma se iludia, não podia persistir e, mais que isso, não podia se pôr em risco.

Respirou, fechou os olhos tendo um péssimo vislumbre de seu "patrão" mal humorado. Pensou também no que viu minutos antes, um Kai calmo e sereno, atencioso como ele nunca havia visto, era pegar ou largar.

E muitas coisas e pessoas dependiam daquilo, não apenas ele e sua irmã, muito menos a loira que irritaria até um monge em minutos. Era algo muito maior.

— Tire esse sorriso de merda da cara! — rosnou, não tinha outra escolha. Não era como se tivesse qualquer prazer naquilo. — Realmente acredita? Achei que a senhorita muralha de aço não mentiria para si mesma só porque a realidade dói demais.

— Quê? Qual seu pro...

— Oh céus, a princesa em sua torre de cristal. Guardada por um dragão que ela mesma criou, chamado mentira, porque ali é tão mais seguro não é mesmo? — Usava tom de deboche, por mais que não acreditasse nas palavras que saiam de sua boca. — Vamos todos dar as mãos e fingir que não temos gravações que provam que o homem te quer comendo grama pela raiz! Fantástico! Aproveite e cante uma canção com um arco-íris de fundo!

Seu sentimento era ódio puro mesclado de uma tristeza imensurável. Quem era ele para falar dela? Quem era para saber de qualquer coisa? Mas de sua boca não saíam as palavras rudes que ela queria dizer, talvez estivessem saindo na forma das lágrimas que jorravam de seus olhos.

— Más notícias, gracinha, o príncipe desencantado matou o dragão e a princesa ou acorda ou vai morrer e levar muita gente junto, não vou deixar você fazer isso!


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Notas finais do capítulo

Porquinho do guiné: Nome certo do famigerado "porquinho da índia" ou "preá da índia" aqui no Brasil, eles são nativos do Guiné e de parte da america latina, e também, os americanos os chamam de "guinea pig"

Obrigada pela atenção, até a próxima, espero que tenham gostado, me contem oq acharam nos coments lol See ya terráqueos.



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