Charlotte a Herdeira da Trapaça escrita por MJ Triluna


Capítulo 4
Capítulo III - Clube de Misticismo e Mitologia


Notas iniciais do capítulo

Olá terráqueos!

Como sumi muito tempo do nyah e a história aqui ficou para trás das postagens do Wattpad e do Social Spirit, estou arrumando tudo hoje para no dia 19/01 todas as três bases receberem o capítulo V, "Coelhinho Indefeso", juntas! Sinto muito pelo desaparecimento aqui, obrigada pela atenção e boa leitura a todos (as) !



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O típico ônibus amarelo logo apareceu na linha do horizonte vindo pela estrada de terra. Naquela parte da cidade não havia asfalto nem calçamento, fosse por montaria, carroça ou motorizado, para as pessoas que viviam ali aquilo estava bom, era o preço a se pagar pelo ar puro do campo, pelo silêncio e pelas noites estreladas graças a pouca iluminação local.

Viver ali era uma dádiva que poucos compreendiam, Charlotte demorou a entender isso, na primeira semana tudo parecia maravilhoso, na semana seguinte ela estava quase colocando a cara no escapamento de um carro pela poluição. Só então ela notou que a cidade grande era bela, um lugar que ela amava, porém, tinha um ar viciante, uma atmosfera tóxica, percebeu a dádiva que era viver ali tão simplesmente, naturalmente e livremente.

O campo tem a desvantagem de estar longe de tudo e ao mesmo tempo, tem a vantagem de estar longe de tudo, longe do CO2 que os carros entopem as cidades, longe do barulho das sirenes dos carros, metrôs e pessoas para lá e para cá, longe de toda a confusão da cidade.

A vida ali era calma, pacífica e leve, e ela passou a amar isso.

Olhando da janela de sua casa o ônibus amarelo gritante, ultrapassado, vinha levantando poeira com algumas dezenas de alunos dentro, todos com cara de sono. Alguns preferiam estar no inferno a estar naquele ônibus outros dormiam com a baba escorrendo por seus rostos exaustos.

Mas duas pessoas em especial dotadas de enormes olheiras e mãos calejadas, também seguiam no ônibus, querendo chegar logo a escola, pois aquele parecia ser o único lugar no mundo capaz de lhes dar um futuro melhor do que o presente. Dakota e Mark Callaghan tinham uma mãe doente. Para sorte de ambos, Dakota foi emancipada e assim eles não foram atirados ao disfuncional sistema de adoção. Eles trabalhavam num bar local mesmo sendo menores, viviam do salário péssimo que o dono lhes pagava, ainda tinham que ir a escola e pagar as despesas da mãe.

A vida sabe ser dura para todos, mas tem o estranho dom de escolher alvos. Esses alvos costumam experimentar do quão dura a vida sabe ser, porque para eles, ela é o dobro das dificuldades.

Os irmãos nunca tinham pego aquele caminho durante sua vida escolar. Claire comentava que haviam três alunos daquela região que vieram de Nova Iorque, o que surpreendia a todos, a cidade que nunca dorme era o destino dos recém-formados que deixavam o campo, mas ali estava o caso oposto.

Não houve muita cerimônia da parte dos alunos, exceto a costumeira mania de encarar todos os novatos como se fossem extraterrestres. Mark estava com sono demais para reparar nas atrações do momento, já Dakota se sentiu menos tensa quando a loira sentou ao lado dela, com cara de tédio e olhos distantes, ela suspirou aliviando a tensão.

Dakota observou Charlotte com cuidado, reparando nas olheiras e no sinal de cansaço, também em estranhas cicatrizes pelos braços finas e de tamanho considerável seguindo um padrão reto, indicando que foram cortes. Mas para ela a loira não parecia o tipo de pessoa que se auto-mutila, ainda mais que havia cicatrizes em diversas posições e de diferentes ângulos. Por serem finas e apagadas, só vendo de perto alguém poderia notar. Ela duvidava muito que a loira feito aquilo consigo mesma.

— Então, são novos por aqui? — Tentou puxar assunto, algo a instigava em Charlotte.

— Nem tanto, já fazem uns meses que moramos aqui, mas as aulas começam hoje né. — Deu de ombros, não parecendo a vontade com a conversa.

— Entendo, sou a Dakota. — Se apresentou dando um leve sorriso, o qual fazia aquela maquiagem escura parecer menos pesada.

— Charlotte, mas pode chamar de Charlie — respondeu vendo que não ia se livrar da colega de viagem. — Tá em que ano?

— Segundo, repeti uma vez. — Coçou a cabeça em sinal de vergonha. — E você?

— Segundo também — Deu de ombros novamente, reparando numa garota sentada mais a frente olhando para ela estranho.

Os diálogos se reduziram a aquilo e Dakota tentando de modo falho puxar assunto até a escola. Charlotte estava com a cabeça longe, Phelipe tinha lhe dado uma linda bronca pelo seu comportamento com o amigo dele, como se ele não conhecesse o trauma que álcool gerou nela. Após achar seu horário com uma secretária mal humorada, seguiu para sua primeira aula, tensa, sabendo que ia ser o centro das atenções.

***

A casa que um dia foi residência da grande e próspera família Parker hoje era um entulhado de armas brancas, livros, comida no meio de tudo isso, roupas e garrafas de bebida. Arthur procurava seu tênis no meio de toda a bagunça, com apenas um pé calçado desvia dos obstáculos pelo caminho, ainda com o pão que estava sendo seu café da manhã na boca. Parecia um doido correndo dentro de casa atrás do próprio sapato e comendo enquanto isso, até que pisou num pedaço velho de pizza no chão e caiu, desgrenhado e por cima da mesa de centro cheia de livros.

— Sua irmã vai ter um infarto quando ver a situação que você deixa esse lugar — comentou olhando em volta com certo nojo.

— Eu não acho que ela vá ter a chance — respondeu cabisbaixo, tentando amenizar a dor que se instalou nas costas devido a queda, seu pão tinha caído em algum lugar da bagunça e estava perdido para todo sempre.

— Como está indo o trabalho? — perguntou fitando o rapaz por cima. Devido a diferença de altura e o olhar superior que nunca deixava as feições do sujeito, era raro sua presença não causar certo desconforto a Arthur.

— Bem, ela não se meteu em mais nenhum problema sério, mas o Aaron esteve na casa dela e isso me leva a crer que...

— Aquele filho da mãe está jogando no time inimigo — constatou irritado, ele já esperava aquilo vindo de Phelipe, mas ele estava pondo a pessoa errada em perigo.

— Vai me dizer o que a garota tem de tão especial, Kai? — indagou esticando as costas e analisando o "amigo" que se encontrava encostado numa parede longe da bagunça maior e com os braços cruzados.

— Quando for a hora, garoto. Por ora se atenha a vigiá-la de longe. O guarda-costas oficial dela ainda está se organizando para vir para cá, acho que você sabe de onde ela veio. — Ele transparecia certa irritação. Apesar da expressão calma, mas aqueles olhos varrendo o nada como se montassem um plano invisível não enganavam a Arthur.

— Sim, senhor — afirmou e colocou o pé no tênis depois de xingar o mesmo. — Vou nessa, uma dama indefesa me espera. — Pelo olhar que recebeu teve noção que se fizesse alguma brincadeira mais uma vez perderia a língua.

— Você que é o cavaleiro indefeso perto dela garoto, cuidado — alertou antes de sumir, Kai tinha aquela estranha mania de sumir e aparecer nos lugares.

***

Já estava na hora tão temida do intervalo, onde a maior preocupação de Charlotte era sentar num lugar onde pudesse não ser o centro das atenções do refeitório; já que seus irmãos já estavam perfeitamente entrosados. eles podiam ser as celebridades. Quando entrou no refeitório foi puxada por Dakota, a morena do ônibus que insistia em ser amiga dela; pegaram seus lanches e sentaram juntas numa mesma mesa vazia mais ao canto.

— Então, como é a cidade? — perguntou Dakota de boca cheia.

— Grande — respondeu entediada e olhando em volta, estava com uma sensação estranha.

— Mark! — Dakota gritou acenando para o irmão que tinha acabado de entrar no refeitório, alguns pedaços de comida voaram pela boca dela ao fazer isso. Mark logo estava com uma bandeja indo sentar junto a elas.

— Você é a Chloe não é? — perguntou se sentando.

— Charlotte — respondeu observando algo estranho no ombro do garoto.

— Vou te chamar de Chloe — disse indiferente. — Estavam falando que você é de Nova Iorque, virou estrela por isso. — Deu risadas.

— Não é como se eu tivesse opção — comentou olhando para trás novamente.

— Você vai comer esse pudim? — Dakota estava com os olhos brilhando de olhar a sobremesa de Charlotte.

— Não, pode ficar. — E finalmente conseguiu achar, um garoto a encarava sem parar. Ela devolveu o olhar irritada e incomodada com um desconhecido a encarando. O rapaz apenas ficou com uma expressão debochada e continuou o que estava fazendo. — Certo... — Se virou para Dakota. — Quem é o imbecil ali? — Indicou com a cabeça.

— Quem? — Mark indagou enquanto Dakota terminava de devorar o pudim.

— Aquele loiro, caramba, o que tá olhando pra cá!

— Ah, é o Arthur ele é da minha sala de francês. — A morena deu de ombros. — O Aaron diz que ele é perigos...

—Aaron? O que fede a bebida? — interrompeu, falando baixo como se aquilo fosse um segredo.

— Esse mesmo, Chloe — Mark riu e a garota viu novamente o pequeno animal verde no ombro dele.

A criatura parecia conversar com o garoto sem parar e a parte que deixa tudo mais estranho aos olhos dela era o fato de Mark interagir com a coisa em seu ombro.

— O que você está olhando? — Dakota perguntou com o cenho franzido.

— Nada. — Sorriu torto tentando disfarçar, não queria parecer louca.

Se virou e o garoto ainda a olhava. Irritada e frustrada com tudo que vinha acontecendo em sua vida decidiu ir até lá, por que não arrumar inimizade no primeiro dia de aula?

Se levantou e começou a andar na direção dele, desviando das pessoas pelo caminho com dificuldade. Arthur não esperava que ela fosse reagir assim partindo para o ataque, foi estupidez ficar encarando no meio do refeitório, mesmo que ele quisesse descobrir o que aquela garota tinha de tão especial. Ele também se levantou e começou a andar a passos longos, não se importando em empurrar as pessoas pelo caminho querendo sair do refeitório.

Então, antes que a loira pudesse chegar perto, ele já estava longe. Conhecia cada corredor da escola, diferente dela que ao sair do refeitório não sabia onde procurá-lo.

Se o rapaz não estava fazendo algo errado não teria fugido. Agora era causa pessoal prensá-lo o mais rápido possível em busca de quaisquer informações. Depois de um tempo pensando e encarando o corredor praticamente vazio voltou para o refeitório, onde Dakota e Mark pareciam tão curiosos quanto ela.

— Quê que rolou aqui? — Dakota indagou arqueando uma sobrancelha. — Tipo, você levantou e foi... Dae o cara saiu correndo.

— Ele é estranho, mas isso já foi demais! — Mark dava risadas da situação.

Ela ia responder, mas o ser no ombro de Mark começou a balançar as pernas feliz, como uma criança. Ela franziu o cenho tentando assimilar todas as coisas em sua cabeça. O que estava acontecendo? Que doença ela tinha arrumado para estar vendo tudo aquilo? Ela não entendia mais nada, não havia um manual "Como reagir ao ver coisas inexplicáveis" afinal.

Naquele momento uma chama dentro de seus olhos se acendeu, um arrepio correu sua espinha e num piscar de olhos ela viu uma árvore gigante e dourada, seu tronco parecia ser feito de mármore robusto e suas folhas reluziam como ouro, era bela e mágica.

Ali ela se viu à beira de um abismo, abismo cujo qual não havia escapatória ou maneira de contornar. Atrás dela havia um mundo normal onde tudo é muito lógico e previsível, mas no abismo não havia certezas, magia irradiava lá dentro, criaturas se movem nas sombras, batalhas são travadas entre luz e trevas naquela fenda escura, não havia certeza se no final haveria um chão que a despedaçaria ou água para amenizar a queda; podia haver até mesmo um dragão pronto para engolir ela lá embaixo.

Sim ou não, ir ou ficar, quando se viu à beira do abismo ela não soube se recuava ou se jogava.

Nesse momento uma figura sombria e de olhos vermelhos surgiu, tendo a forma de um lobo. Ele rosnou alto e cercou sua presa, mas quando avançou não a mordeu, apenas a derrubou no abismo. Ela ainda pôde ver o animal tomar a forma de um homem a observando cair, onde não havia lugar para se segurar, não havia chão por base; não havia lógica e qualquer coisa podia lhe acontecer.

Ao piscar estava de volta ao refeitório da escola, olhando para o nada com uma expressão perdida.

— Chloe, você está bem? Chloe? — Mark chamava enquanto Dakota cutucava a amiga.

Ela balançou a cabeça e suspirou, aquilo que viu a sufocava e parecia rasgar algo dentro dela.

— Estou. — Tentava acalmar seu coração, que lhe dava a sensação de querer pular do peito. — Que é isso no seu ombro? — perguntou já não tendo mais medo de parecer louca. Ela não entendeu ao certo, mas cair daquele abismo não pareceu tão ruim.

— Você... vê? Vê isso no ombro dele? — Dakota queria gritar, mas se conteve.

— Se você tá falando disso verde... Vejo sim — comentou desconfiada, esperando que alguém mandasse lhe chamar um psiquiatra.

— Ela é... — Começou Mark e não terminou a frase.

— Sim é — Confirmou Dakota — O que fazemos? Porque o Arthur tá rondando, aí tem coisa...

— Dá pra parar de falar como se eu não estivesse aqui ouvindo tudo?! — reclamou. — E eu sou o que? O que tem aquele garoto? Alguém me dê um pouco de luz.

— Amanhã depois da aula, esteja aqui na escola e vamos explicar, você tem que ver uma coisa — Dakota explicava calma, deixando Charlotte mais curiosa.

— Não me vem com esse papo furado não, se eu não estou louca é bom me explicar agora! — Ela se controlava para não elevar o tom e chamar atenção. — Eu preciso saber o que está acontecendo e porque aquele cara me encarando é perigoso, preciso agora! — Ela faltava pouco rosnar e seus olhos assustavam Dakota e Mark, não eram diferentes dos olhos normais, mas pareciam tomar um tom vermelho que os arrepiava a espinha.

— Nós não... — Mark engoliu seco, a garota indiferente que estava a sua frente alguns segundos atrás sumiu dando espaço a alguém agressivo, com um olhar que parecia querer tocar fogo nele. — Não é... Nós... — Começou a se atrapalhar.

— Certo, não querem falar. — Havia veneno naquelas palavras, não era possível entender como alguém tão normal tinha se tornado aquilo num piscar de olhos — Eu me viro!

— É que não dá pra explicar! — Dakota falou meio atrapalhada. — O Aaron vai saber explicar direito, ele quem entende de Shee.

— O infeliz que fede a álcool? Ele entende de bourbon, Dakota, não disso que está rolando comigo!

— Estou te falando, o Clube de Misticismo e mitologia é o lugar certo para você. — afirmou convicta, segurando a mão de Charlotte para de algum modo demonstrar que ela não precisava agir como um animal encurralado.


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Notas finais do capítulo

Vlw a leitura até aqui! Obrigada *0* comentem e favoritem se gostaram! Até a próxima!



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