Charlotte a Herdeira da Trapaça escrita por MJ Triluna


Capítulo 10
Capítulo IX - Cair para subir


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura a todos (as)! :*



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Levantou da cama, tomou um banho de lavar a alma, vestiu suas roupas, engoliu toda a dor e as lágrimas, pôs um sorriso no rosto. Usou de maquiagem para esconder machucados que tinha arrumado nos últimos dias, assim como as olheiras. Depois de usar um pouco de soro fisiológico, a vermelhidão de seus olhos tinha desaparecido, então estava pronta. Ergueu a cabeça, deixou um sorriso leve e sobrancelhas erguidas, apesar dos olhos vazios, estava pronta para sair e viver.

Seus irmãos não fizeram perguntas, por mais que quisessem. Tinham noção de que quando ela ficava tanto tempo se arrumando antes de ir para escola era devido a esse tipo de coisa, esconder feridas superficiais ou internas. Era o jeito dela, por mais triste que fosse assistir aquilo sem poder mover nem um dedo sequer, poderiam insistir e tentar ajudar, mas isso só ia piorar a situação. Dependência e vulnerabilidade. Duas coisas que ela odiava, não gostava de depender de ninguém para nada como detestava se mostrar vulnerável para qualquer um.

Tinha escondido todos os problemas atrás de uma porta azul em sua mente, muito bem trancados. Por ora tinha de se preocupar com aquilo que podia mudar, o presente. Pensar no passado ou no futuro era perda de tempo, quanto a eles nada poderia fazer, mas tinha tudo para mudar o agora e ia morrer tentando se necessário.

Precisava da informação, ainda articulava em sua mente como roubar livros sem ser pega. Também precisava encontrar Arthur sem ser notada, ele tinha algumas respostas à dar.

Seu corpo estava de fato sentado no refeitório da escola, mas sua mente estava longe, muito longe, pensava no pesadelo que tinha tido com um homem-lobo, aquelas correntes e um poema que parecia ter saído de um filme infantil.

— Chloe, você tem que nos ouvir — Mark insistia junto a Dakota, mas ela mal lhes dava atenção. Os irmãos Callaghan eram intermediários em algo que parecia ter a intenção de matar ela, ainda por cima usando seus irmãos.

Só não os odiava por saber que estavam cegos de confiança, do mesmo jeito que ela estava antes de Arthur abrir-lhe os olhos. A confiança que ela tinha com o pai, era a mesma que eles têm em Aaron, não tinha prova alguma nem relação com eles para poder fazer algo sobre sua cegueira, então simplesmente ignorava.

“Informação”. A palavra ecoou em sua mente pensativa. Que a levou para uma breve história sobre a Guerra Fria, informação entre os dois lados de Berlim — separados pelo muro —, informação da URSS para os EUA, dos EUA para URSS. Tudo isso vinha de uma mesma fonte, que não eram livros ou pesquisas na internet, a fonte eram pessoas.

O modo arcaico de conseguir informações numa conversa entre dois seres humanos, ou até mesmo conseguir um espião. Convença alguém de algo quando ela já está de dentro do “território inimigo” e ela lhe dará muitas informações, e informação é vantagem em qualquer batalha.

— Exceto quando você tem um bando de bêbados com armas de fazendeiros contra o exército mais bem treinado do mundo — murmurou fazendo piada da guerra pela independência dos EUA.

Ela ia colocar seu plano em ação, os Callaghan pareciam pessoas boas, e ela apesar de se mostrar anti social tinha habilidades sociais consideráveis, conseguiria “amizades” com um estalar de dedos, bastava usar as palavras certas. Mesmo assim preferia as amizades verdadeiras que aturavam seu lado pessimista que xinga todos. Todavia, viu uma pessoa fixada nela como um cão na ração, um rosto conhecido

Piscou algumas vezes para ter certeza que não estava alucinando, ao ver a pessoa dar risada sabendo o que ela estava fazendo teve certeza de quem se tratava. O que só a deixou mais confusa.

Do nada o ambiente cheio e barulhento do refeitório ficou silencioso e se resumia a uma figura reconfortante e ela, apenas os dois ali, dois amigos de infância. Quando ela arqueou as sobrancelhas pronta para sorrir de verdade, algo mais surgiu, a presença reconfortante de um amigo a tinha arrancado um sorriso singelo de lado, mas notar que Arthur estava numa mesa afastada, emburrado e cheio de curativos no rosto e nos braços a fez abrir um sorriso de orelha à orelha.

Ele ficou bem. Pensou aliviada, estava realmente preocupada com as feridas que tinha visto naquela noite, mas ele parecia bem melhor e normalmente entediado na escola.

Aquela reação não tinha escapado dos olhos de Leo, mas não adiantava se irritar agora. Arthur notou aquilo de soslaio, dando um leve sorriso quase imperceptível de volta, os olhos de Charlotte mostravam preocupação então tentou por meio de expressão facial dizer que estava tudo bem. Vendo aquilo ela desviou os olhos de volta para Leo, não podia ser notada encarando Arthur.

Mesmo assim Dakota notou o sorriso besta no rosto dela, que agora encarava Leo, então a fez crer que Charlotte estava, em suas palavras “caidinha”, pelo garoto transferido também de Nova Iorque. Ela nunca tinha visto aquela expressão na garota tão centrada, mas conhecia de longe aquele olhar com aquele sorriso besta, ou pelo menos era o que ela achava.

— Também estou feliz em te ver, Charlie — brincou se sentando na mesa onde ela estava com os Callaghan. — Vocês fariam o favor de irem me procurar na esquina?

Charlotte deu risada, alto e chamando atenção dos outros. Arthur se conteve onde estava para não rir junto, era uma gargalhada gostosa e contagiante, dava vontade de rir junto simplesmente pela risada, sem nem saber seu motivo. Jace e Jason que se encontravam na mesa mais barulhenta do refeitório até riram um pouco, sempre faziam aquilo, não era normal Charlie rir alto.

Ela notou que Dakota estava pronta para iniciar uma discussão.

— É mais fácil procurarem no inferno, ele nunca está na esquina — continuou a piada por mais que não tivesse graça. — Caiam fora, estão me amolando há dias. Pelo amor de Deus.

Quando ambos os irmãos fizeram sinal de responder, ela os encarou irritada, a estava irritando demais. Charlotte costumava estar com uma expressão vazia ou distraída, raras vezes uma realmente feliz, mas quando ela estava irritada até mesmo as pedras ao redor levantavam suas saias e correriam para mamãe. E foi o que ocorreu, muitas pessoas se incomodaram e saíram de perto, incluindo Dakota e Mark.

— Nunca vou me preocupar em socar algum namorado seu — comentou olhando em volta, ele mesmo estava desconfortável.

— Que diabos você está fazendo aqui?! quem vai cuidar do Stev…

Ela começou a dar um sermão gigante do qual ele simplesmente não deu a mínima atenção.

— Já terminou, mãe?

— Vou te bater… — Apoiou o queixo com a mão.

— Steven é um homem, pare de tratar ele como criança e você, minha cara, precisa bem mais de mim no momento que ele — Deu de ombros. — Estou errado?

Ela desviou o olhar, notando que muitas pessoas assustadas com ela. Aquilo era estranhamente familiar, até a fez soltar um riso nasal.

— Não me faça repetir — Franziu o cenho. — Volte para Nova Iorque, não me atrapalhe. Em nome da nossa amizade, vá embora.

Ela tinha aproveitado que Arthur tinha saído do refeitório para perseguí-lo e ainda conseguiu dispensar Leo, foi andando o mais rápido que podia pelos corredores, tentando acompanhar o passo de Arthur, achando que ele nem tinha notado que ela o estava seguindo. Ainda não estava familiarizada com o labirinto de corredores da escola, então seguia o garoto sem saber para onde estava indo.

Já tinha constatado que aquilo era estupidez, mas notou Leo vindo bem atrás, seguindo ela que seguia Arthur. Se sentiu no desenho animado do Scooby-Doo vendo aquela “perseguição”, seguiu por tantos corredores que perdeu a conta, quando apertou mais o passo por ter perdido Arthur de vista se assustou.

Um solavanco forte em seu braço quase a fez gritar, mas uma mão tapava sua boca enquanto outra a puxava de maneira brusca para dentro de um armário, aquilo ocorreu tão rápido quanto a porta se fechou atrás dela, que se debatia e mordia a mão que lhe impedia de gritar.

— Shh — Ouviu próximo demais de seu ouvido, a fazendo se arrepiar. — Fique quieta!

Era a voz de Arthur cochichando, enquanto a soltava devagar tendo certeza que ela ia continuar quieta. Esperou cuidadosamente o barulho dos passos de Leo se distanciarem para fazer qualquer coisa.

— Ela me persegue descaradamente e ainda morde minha mão, eu mereço…

— A culpa é sua, quantas vezes tenho que explicar para não sair puxando, sequestrando, ou sei lá mais o que que você anormal faz!

— Você estava me perseguindo e eu que sou anormal?!

— Pare de gritar, anormal! — rosnou agarrando a gola da camisa dele.

— Eu não sou anormal, anormal!

Eles se encararam rosnando como animais selvagens por alguns segundos, naquele armário apertado e de baixa luminosidade a tensão era tanta que o ar pesava, ambos estavam a ponto de sairem no murro sem um motivo aparente, apenas para solucionar quem era o anormal de fato.

— O que você quer, afinal? — resmungou tirando a mão dela de sua camisa com um tapa.

— Não bate em mim…

— Não aja como um moleque querendo briga então! francamente — bufou —, nem todos têm dinheiro de papai para comprar roupas então não vá estragando o que me vale alguns dias de trabalho!

— Que seja, por que diabos me arrastou pra um armário que está fedendo por sinal!

— Ah, você ainda não conhece esse armário. Ponto pra você — Deu risada. — Fale logo, por que estava me seguindo?

Porque sou idiota. Pensou.

— Eu… er, você começou a gritar do nada no meu quarto e sumiu que nem fumaça então eu…

— Eu estou bem, não se preocupe — respondeu antes que ela terminasse a pergunta.

— Pode calar a maldita boca?! obrigado, não é isso sr. Egocêntrico, você tem algumas respostas e eu preciso de respostas, meio óbvio.

— Então você estava me seguindo pela escola, com aquele seu amigo insuportável atrás, só por algo que você mandou nas 300 mensagens? Tempo, Charlie, tempo é algo que você não tem e se notarem que eu estou nesse armário com você, você vai querer ter morrido, ENTÃO FAÇA LOGO A PORRA DA PERGUNTA!

Ela quis bater a cabeça dele numa daquelas prateleiras velhas e vazias, mas ele estava certo num ponto, não tinham tempo. Estalou a língua, nervosa.

— Eu não sei porquê ou o que está acontecendo de verdade… — Abaixou a cabeça para esconder os olhos cheios de lágrimas.  — Não posso negar que meu pai está fazendo algo ruim, aquelas pessoas não pareciam querer me dar um susto ou sei lá, falavam em me matar, eu não sei com o que estou lidando, com quem, mas sei que preciso aprender a me defender…

— A escola tem alguns clubes de atividades extra-curriculares, recomendo o Aikido pra você que é pequena, aquilo deve servir pra defesa pessoal.

— Okay, qual golpe de aikido consegue derrubar um falcão que tem umas dez vezes o tamanho que deveria ter?!

— Nessa você me pegou, mas não posso fazer muita coisa, não agora que aquele insuportável está aqui…

— Quem?

— Não importa, não tente começar como os personagens dos seus livros que sem treinamento algum conseguiram não morrer. Porque você vai morrer se enfrentar qualquer porcaria. — Ela resmungou um “obrigado pela confiança”. — Aquilo é o básico pra lutar contra pessoas, pra você andar por ai com um canivete com certeza sabe usar facas, então é algo para somar com isso. Mas uma dica, bata e corra. Como eu disse, você vai morrer se continuar nesse ritmo.

— Você está me subestimando…

— Na verdade estou superestimando em achar que você teria a oportunidade de bater pra correr! inferno, quer que eu desenhe? nem se seu oponente estiver cego com as mãos amarradas você conseguiria fazer um arranhão nele com a porcaria do seu canivete e a força quase inexistente dos seus braços!

Ela se irritou mais, porém não tinha resposta para aquilo, era verdade. Seus punhos se cerraram, continuou de cabeça baixa, tinha noção que não podia fazer muita coisa, era ótima em se meter em brigas com bêbados quando estava irritada, mas normalmente apanhava muito até Leo aparecer e a tirar daquela situação, nunca tinha derrotado nem mesmo um bêbado cujos sentidos são torpes. Ela exalava desespero.

— Não entre em pânico, acredite, tem mais gente do que você imagina te protegendo vinte e quatro horas. Mesmo que você não note…

— Meu próprio pai, ele vive na mesma casa que eu, pode entrar no meu quarto a hora que quiser. Como não vou entrar em pânico?

— Eu vou me ferrar por essa — resmungou. — Phelipe, sim ele poderia fazer isso se não usasse a cabeça, ele não é seu pai de verdade. E não grite! — alertou já conhecendo as reações dela. — Você vai entender quando for a hora, ou foi isso que ele disse, não importa agora, só não pense que seu próprio pai te traiu ou não se preocupa, porque ele não é aquele homem.

Ela não conseguiu formular uma resposta, na sua mente confusa aquilo fazia sentido de alguma forma, mas só a deixou mais confusa ainda. Arthur abriu a porta, ia sair, mas não podia deixar alguém naquela situação.

— Ei, olhe pro chão — disse antes de sair, sabendo que daquele jeito ela não ia ficar estatelada naquele lugar até algum frequentador chegar. — Esse armário é famoso entre os veteranos, eles gostam de se divertir nas aulas vagas…

Ela notou que o chão estava forrado por embalagens de preservativos e teve certeza que haviam alguns usados pelo chão também. Deu um pulo para fora do lugar sem pensar duas vezes.

— Devo ter pego aids só por respirar ali, que diabos?!

Arthur deu risada, seguindo seu caminho pelo corredor da esquerda.

— Não me persiga de novo, ou eu te tranco ai dentro — ameaçou olhando por cima dos ombros.

— Nem nos seus sonhos! — O segurou pelo punho. — Não vá achando que pode fazer isso de novo, jogar a bomba e sair correndo!

— Eu falei demais…

— Sim, falou, e tem uma porcaria de ditado budista sobre as coisas que não podem ser desfeitas: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Você não pode desdizer o que disse, mas eu não vou perder a oportunidade por isso! — ralhou, estava em pânico de tão ansiosa. — Você começou a falar… agora termina, não sou criança pra ouvir meia história!

Seus olhos estavam cheios de lágrimas, e ela não se importou em escondê-las. Arthur odiava ver alguém chorando, não sabia o que fazer direito, além da certeza de que tinha que acabar com aquelas lágrimas o mais rápido possível.

— Lembra que eu comentei que eu trabalho pra alguém, ficando de olho em você, quer dizer trabalhava — Se atrapalhou. — Essa pessoa, e não vai adiantar me perguntar quem, onde ou porquê. Essa pessoa, é seu pai de verdade e eu notei isso nos primeiros dias, pelo modo de agir dele. O Phelipe é seu padrasto, eu não sei se ele algum dia soube disso, mas acho que sim já que ele quer te matar, aparentemente ele só quer usar seus irmãos pra chegar até você, mas não posso garantir que eles estejam seguros.

“Você provavelmente já conheceu ele, deve estar bem escondido aí na sua cabeça ou você nem notou de quem se tratava, mas, que tipo de pai deixaria a mulher fazer o que sua mãe fez com você em silêncio? que tipo de homem deixa uma criança lutar até não poder mais contra uma mulher adulta bêbada… sim, eu sei que sua vida também não foi fácil. Eu não devia estar falando isso no meio do corredor, mas dane-se, pare de chorar por um homem que sempre foi indiferente à você, não derrame lágrimas por um crápula que mente na cara de pau para alguém claramente em desespero, ele não merece que você fique triste por conta dele. E eu já disse, você não está sozinha.”

Para surpresa dela, as lágrimas tinham parado. A dor ainda estava lá, mas não parecia mais o fim do mundo, a confusão tinha diminuído o suficiente para deixá-la em paz, ela ficou ali parada no corredor depois de sussurrar um “obrigado” que foi difícil até mesmo para Arthur que estava perto ouvir, sem reação, perdida na própria mente, seus pensamentos por algum motivo estavam em paz.

Ainda no intervalo, ela passou correndo no grupo de Aikido onde conseguiu um enorme formulário a ser preenchido, o item “me responsabilizo por qualquer dano físico” a assustava um pouco, mas a pior parte era precisar de autorização do responsável, aquilo seria um sinal para seus inimigos? podiam ligar os pontos, mas acabariam sabendo de qualquer jeito. Não tinha muito o que fazer e, apesar de tudo, aikido não poderia ser visto como muita vantagem, era mais defesa pessoal do que ameaça para outrem, ao menos é assim que é visto pela maioria.

Precisava dos livros, mas como os conseguiria sem chamar atenção? qualquer livro faltando seria notado em alguns dias. O que fazer?

Difícil, não conseguia achar uma palavra-chave melhor e mais própria que àquela. A situação estava difícil, numa vida difícil, com movimentos restritos, arriscados e difíceis. Parecia-lhe uma partida de xadrez onde seu exército se encontrava encurralado, não importando qual movimento fosse feito a consequência poderia ser game over.

Não sabia metade do que gostaria de seu oponente, enquanto seu oponente sabia mais que o triplo da metade sobre ela do que ela gostaria. Inferno, outra palavra-chave. Sua mente estava pensando tanto que não conseguia pensar em silêncio, murmurava tão rápido que estava indecifrável para qualquer outro a seu redor, parecia um esquizofrênico falando sozinho.

Afinal, de quê adianta pensar?

Ela ficou confusa, ela pensou aquilo ou pareceu mais um sussurro em seu ouvido? Não se deu o trabalho de pensar numa resposta, o que quer que fosse, tinha razão.

Estava ali pensando e pensando, até murmurando e assustando pessoas. Estava sendo covarde? Talvez. Ia fazer algo sobre isso? Com toda certeza. Todas as ofensas e palavrões possíveis passavam por sua mente turbulenta enquanto simplesmente “chutava o balde”, não era tempo de pensar em cada mínimo movimento, era tempo de agir.

Não deu tempo ao tempo, pois sabia que parada não podia mudar nada, não deixou as coisas se ajustarem sozinhas porque sabia que aquilo era fantasia. Fez daquele instante o seu tempo, o seu agora.

— Tenho que fazer algo, não. Eu vou fazer algo! — gritou, assustando mais pessoas ainda e chamando mais atenção do que gostaria.

Pouco lhe importou os olhares estranhos e murmúrios, até mesmo Leo não sabia dizer que diabo tinha dado nela, seus surtos de prepotência só costumam ocorrer quando álcool estava envolvido na situação, não podia ser esse o caso, mas ele estava muito ocupado pensando em como ia bater em Arthur mais tarde depois de ouvi-lo contar para Charlotte sobre Phelipe, para dar atenção a qualquer outra coisa.

Seus passos largos eram a única coisa que ecoavam em seus ouvidos decididos, indo a uma única e precisa direção. Biblioteca. O lugar mágico que pode ser encontrado em várias partes do mundo onde você adquire uma coisa que não tem preço, mas tem o maior valor do mundo: conhecimento.

Novamente forças maiores que tudo se apadrinharam de Charlotte, de maneiras sorrateiras e talvez até incompreensíveis.

Ao entrar na biblioteca que parecia o paraíso avistou Arthur entediado e bagunçando os livros, ele pegava um livro qualquer de uma seção qualquer e colocava na seção errada depois e assim saia colocando culinária em história, livros de astrologia propositalmente iam parar em astronomia, havia ficção e aventura em história humana.

Arthur tinha a estranha e irritante mania de quando estava com a cabeça “fora do lugar” começar a desorganizar tudo, quando isso ocorria no âmbito escolar, a biblioteca acabava sendo sua vítima. A bibliotecária que aparentava beirar seus quarenta anos o fitava com profundo ódio, ela tentava há muito tempo instalar uma regra na escola que pudesse deixá-la espancar Arthur por fazer aquilo, mas se ele o fazia em silêncio não estava infringindo nenhuma regra e, portanto, não podia matar ele.

Palavras não foram necessárias, uma simples troca de olhares foi tudo. Com Arthur virando a biblioteca de cabeça pra baixo a bibliotecária mantinha os olhos fixos nele, o terreno já era propenso apenas por isso, mas livros espalhados têm um ponto positivo e um negativo. O positivo é que você não chamaria atenção tirando fotos dos livros de X assunto, afinal eles estariam em A assunto. O negativo é que encontrar eles se torna um tarefa bem mais difícil que o comum.

Um sabia exatamente o que fazer para cooperar com o outro sem nem sequer se encararem, afinal isso poderia ser notado pela bibliotecária.

Então como quem não quer nada ela seguiu pelos corredores, pegando livros pequenos de assuntos comuns, assuntos da escola em sua maioria e se atreveu a pegar até mesmo um livro de auto ajuda. A bibliotecária pigarreou indicando a placa “apenas três livros por vez” quando ela ja estava com uma pilha enorme em mãos, sorriu sem jeito e refez o caminho de volta pondo os livros onde tinha encontrado.

Algo que a bibliotecária não notava por estar ocupada demais de olho em Arthur para saber o que teria de arrumar mais tarde, foram as vezes que enquanto colocava um livro aqui ou ali, Charlotte pegava sempre um mesmo livro que nunca tinha tirado da mão esquerda e fotografava algumas páginas, numa fração de segundos e depois saia pegando livros e fazendo todo o processo de novo.

Tinha fotografado aquele livro em questão de minutos, todas as partes que conseguiu ver que lhe interessavam, não tinha tempo de buscar mais do que algumas palavras-chave. No final levou um romance clássico até a mesa da mulher que demorou alguns minutos para notar ela ali de pé, esperando para retirar o livro.

Ouviu a senhora resmungar “rodou e rodou pra pegar uma porcaria”, aquilo irritava Charlotte: chamar um livro de porcaria. Ela não gostava particularmente de romances, muito menos dos clássicos, mas seria útil para sua aula de literatura e deu o pretexto que precisava, agora devia ter um pouco mais de informação.

Arthur continuava bagunçando os livros, ela saiu e perambulou pelos corredores até achar sua sala, o sinal do final do intervalo nem tinha tocado quando ela se xingava olhando as fotos, algumas tinham ficado embaçadas em decorrência da pressa.

Era algo, ponderou. Mais do que tinha antes e isso podia ajudar muito, havia tirado fotos de um livro específico sobre mitologia e outras de um livro sobre a história da cidade, o livro em questão mais parecia uma apostila de tão fino.

Ia entrar para o clube de aikido, já tinha uma possível base de defesa pessoal. Continha mais informação e pretendia expandir a mesma. Tinha informação do inimigo, infelizmente não na mesma medida que eles tinham dela. Porém, ela tinha o xeque-mate naquele tabuleiro e os contemplou na hora da saída.

Os irmãos Callaghan, dois seguidores cegos de confiança de Aaron. Eles não perdiam por esperar, ia estudar cada detalhe da vida deles, poderia revirar o lixo deles se fosse preciso, mas precisa do suficiente para saber por onde chegar e como, a ponte que ia ligar ela a dois “peões” do tabuleiro antagonista, estava decidida a não perder aquela jogada por nada, só não sabia como ia conseguir espionar alguém que se mora tão longe deles e está sendo vigiada.

Ao menos não sabia ainda, aqueles olhos azuis estavam fixados nela, um sorriso leve no rosto e um brilho nostálgico no olhar, era chegada a hora de mostrar a Charlotte quem ela realmente é, ou ao menos a parte que é necessária.


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