Eu sou fotógrafa, me mudei recentemente para New York (Sterling PI, 518 - Brooklyn), o Brooklyn é um lugar bem acessí­vel para se morar. Venho do Brasil tentar a vida por aqui, quase ia me esquecendo, meu nome é Dani, tenho 24 anos, fiz uns cursos, peguei uns Jobs, juntei uma grana e vim parar aqui. Há algumas semanas tenho corrido atrás de trabalhos, mas admito que não tem sido nada fácil, apesar de achar meu trabalho muito bom para algumas pessoas aqui ele não é o suficiente.

Aproveitei a tarde para procurar alguns cursos ou oficinas gratuitas para me aprimorar, desde que vim pra cá me sinto sozinha, não fiz nenhuma amizade até o momento. Todas as vezes que saio são para ver algum possí­vel trabalho, ir ao mercado e voltar para o apartamento. Meu prédio tem escadas pelo lado de fora, gosto de sentar nelas a noite e tomar uma caneca bem quente de café, olhar para o céu e suspirar feliz, desempregada, mas feliz por estar aqui. Antes que todo meu dinheiro acabe preciso encontrar algo, preciso aprender a me socializar se não, não vai funcionar.

— Vamos, sua cabeça oca, mexa-se! - Costumo murmurar para mim mesma, saudades da Jojo, minha melhor amiga e a única que não ligava para minhas esquisitices.

Na manhã seguinte, acordei entusiasmada e determinada a conseguir qualquer trabalho, coloquei a melhor roupa casual que tinha e saí­. Caminhei a manhã inteira em todos os possíveis estúdios próximos, peguei o metrô até a Galeria de Arte The Bushwick Collective para ver se conseguiria tentar algo por lá, por sinal bem longe de casa. Costumo pensar coisas negativas sobre minha vida como, por exemplo, são tão inútil que nem um trabalho temporário sequer vou conseguir? Mas sou brasileira, não é mesmo? Vamos em frente!

Entrei na galeria e avistei um homem, bem vestido, terno em um tom de azul escuro, gravata, cabelo penteado para trás e castanhos, bem moderno, sapatos socias, celular caro nas mãos, pele clara, definido fisicamente, perdi o compasso, tropiquei em meus próprios pés até chegar a ele.

— Oi! Desculpe incomodar, mas estou procurando por empregos. Qualquer evento... Quer dizer sou fotógrafa...- ele ergueu um dedo indicando para que eu parasse de falar, mas continuou olhando para seu telefone, enfim ergueu os olhos, verdes, e me encarou.

— Desculpe, não estamos contratando no momento, não posso lhe ajudar. - virou as costas e sai caminhando atendendo seu telefone que vibrava loucamente.

— Grosso - sussurrei e sai caminhando.

Eu deveria ter pensado nisso antes, eu deveria ter planejado isso antes, como pude ser tão tola? Parabéns Danielle, mais um dia fracassado e já eram quase 17hs da tarde. Não havia comido nada até então e percebi que estava morrendo de fome, decidi parar para comer algo, uma refeição mais "decente". Cheguei até o The Rookery Bar, ficava a mais ou menos 15 minutos da galeria, entrei e sentei sozinha próximo a umas das janelas fiquei contemplando a vista até chegar alguém para anotar meu pedido.

— Boa tarde! Posso anotar seu pedido? - Uma menina, aparentava ter uns 19, 20 anos. cabelos cheio de cachinhos, negros, ela era muito linda.

— Claro, quero esse aqui e um copo de suco natural - apontei para ela no cardápio e logo complementei - Se tiver uma vaga de emprego como sobremesa eu aceito! - ela anotou, sorriu e foi em direção a uma porta, acredito que seja a cozinha.

Não demorou 10 minutos e ela retornou, meu pedido já estava pronto? Mas que tipo de lugar é esse, virei a cabeça para encará-la e ela vinha de mãos vazias em minha direção, talvez tenha esquecido de anotar algo.

— Você está precisando de trabalho? - ela perguntou apoiando uma de suas mãos na mesa, olhei em volta do bar vazio e concordei com a cabeça - Bem, estamos precisando de uma Barista para ficar ali no Bar - ela apontou para o centro onde havia uma mesa em formato de U com muitas bebidas atrás e uma espécie de caixa para pagamento. - Pelo seu sotaque não é daqui, vem de onde? - ela questionou

— Sou do Brasil, cheguei a duas semanas, mas sou fotógrafa acredito que não tenho habilidades com drinks - balancei as mãos fingindo misturar bebidas

— Que pena! Não teria a necessidade de misturar bebidas, mas apenas servi-las e pegar os pagamentos..

— Eu quero, por favor, é meu! - Falei num suspiro só, sem pensar, apenas saiu

— Perfeito! O trabalho é seu, aliás me chamo Alyssa. - ela falou com um sorriso no rosto - John é nosso chefe, ele chega às 19hs se quiser esperar para conversar com ele e definir quando começa, pode esperar por aqui.

— O meu nome é Danielle - ela fez uma careta - Apenas Dani e obrigada, vou esperar, estou sem planos para mais tarde.

Enquanto esperava por John, fiquei saboreando minha comida e pensando no que tinha acabo de fazer. Minha mente não estava em ordem, espero que esse tal de John não se atrase não quero chegar muito tarde em casa. Depois que terminei de comer voltei a encarar a vista da janela e algumas pessoas começaram a chegar, já eram 19h26 minutos e eu já estava levantando-me para avisar Alyssa que não iria esperar quando ela apareceu me dando um pequeno susto.

— Dani, desculpe esse é o John nosso chefe, ele vai acertar os detalhes do trabalho contigo. - Não poderia ser, não mesmo! O tal John era o mesmo cara da galeria, aquele que foi grosso comigo, não poder ser! Minha cabeça gritava de raiva e eu dei meu sorriso mais forçado que tinha e apertei sua mão e pelo visto fui reconhecida também porque seu rosto se fechou assim que me viu, como se visse um fantasma.

— Desculpe o atraso - ele falou apontando para a mesa, nos sentamos e ele me encarou - Você esteve na galeria mais cedo, correto? - ele questionou e fez sinal para Alyssa, pediu uma bebida para ela e eu não quis nada.

— Sim, era eu. Parei aqui para comer algo e Alyssa me falou do trabalho...- falei um pouco intimidada com a beleza dele, era meio desnorteante.

Conversamos mais sobre os detalhes da vaga, tirei algumas dúvidas e estava tudo certo, eu iria fazer o trabalho da noite, assim teria as manhãs e tardes livres para tentar achar algo no meu ramo

— Combinado então, te espero amanhã as 18hs para começar a te mostrar as coisas, como funciona tudo. - John disse me encarando seriamente, larguei um sorriso de alí­vio e levantei-me, ele fez o mesmo porém sério.

— Obrigado e desculpe por hoje mais cedo, não quis parecer rude. - ele falou apertando minha mão "Você foi muito rude, mas seus olhos compensam" pensei.

— Eu que agradeço a oportunidade John, é muito importante para meu começo aqui. - nós estávamos segurando as mãos um do outro ainda, larguei e tenho certeza que corei timidamente com o toque.

Cheguei tarde em casa, tomei um banho quente e essa foi a primeira noite que dormi mais aliviada desde que cheguei aqui em New York. Trabalharei um tempo até encontrar realmente um trabalho na fotografia, depois de hoje não sei mais o que me espera. Dias incertos nos dias certos. Boa noite!