Eu estava exausta, a minha cabeça doía tanto que achei que ia explodir a qualquer momento. Sem contar que o meu corpo parecia pesado por conta da noite mau dormida.

Lição número um: não durma tarde se tiver que acordar cedo. Definitivamente não!

Bem devagar, sento na cama, os cotovelos apoiados no colchão enquanto tento a todo custo acostumar os meus olhos com a pouca claridade que vinha da janela. Dou um longo bocejo antes de seguir para o banheiro dando uns pulinhos para me animar.

Após alguns minutos no banho, visto uma roupa mais arrumada - já que da faculdade iria direto para a entrevista -, sem saltos, claro, não arriscaria quebrar outro em um momento importante como aquele.

Lição número dois: se teve problemas com o salto no dia anterior, nem pense em usar no dia seguinte. Vai que você quebra o pé de brinde?

Solto os meus longos cabelos róseos - ele caía sedosamente pela minha cintura - e passo uma maquiagem leve, valorizando meu rosto e tentando o máximo possível esconder minha cara de sono.

Tomo um rápido café da manhã e sigo para o ponto, pegando um táxi e logo chegando na faculdade.

Ainda faltava alguns minutos para o sinal tocar, anunciando o início das aulas, então espero sentada em um dos bancos de madeira com mesas do mesmo tipo no pátio externo, debaixo de umas árvores, em frente aos portões. Pego meu fone de ouvido e me distraio com a música que toca.

Começo a cantarolar baixinho observando sem muita atenção as pessoas que passavam por ali. Nem noto quando Naruto senta ao meu lado, balançando as mãos freneticamente na frente do meu rosto.

— Ei Sakura, terra chamando - ele dizia com o cenho franzido. - Você está bem?

Saio do meu torpor o olhando sem graça. Tiro um dos fones, meus olhos fitando os azuis intensos do loiro.

— Ah, er.. Desculpe, estava distraída.

— Percebi - ele dá um sorriso, colocando seu braço em meu ombro. - E aí, você não me retornou ontem, fiquei preocupado - Ri do bico que ele fez pra mim.

— Sei disso, acabei esquecendo - suspirei, encarando os outros alunos. - Estive muito ocupada procurando emprego, a hora passou voando e quando vi tinha que terminar de estudar e dormir - torço o nariz cansada, esfrego o rosto. - Minha cara está péssima, pareço um zumbi.

— Que nada - ele ri segurando meu rosto para olhá-lo. Naruto era um garoto gentil e fofo quando queria. - Você está linda Sakura, como sempre. Até soltou os cabelos, é um milagre.

Sinto meu rosto esquentar e sorrio sem jeito, desviando meus olhos dos seus. Balanço a cabeça rindo baixo.

— Você não existe, mas obrigada. Sou um zumbi moderno agora - zombo de mim mesma.

— Conseguiu alguma coisa ontem? Digo, de emprego, essas coisas - ele se atrapalha e me olha esperançoso.

— Bem, digamos que sim, vou fazer uma entrevista hoje depois das aulas. Mas to meio que incerta, faltava muitas informações sobre a vaga e a empresa contratante - faço uma careta com força. - Isso é estranho.

— Odeio essa cara que você faz, parece que está fazendo o número dois - nós rimos. Reviro os olhos, dando um leve soco em seu braço. - Relaxa. O homem ou a mulher que vai te entrevistar, não deve ser nenhum assassino da serra elétrica.

— E se tentarem me estuprar? - estreito os olhos para ele, com um leve tom de ironia em minha voz. - Se for uma armadilha, onde eles me sequestram, me levam para uma floresta onde sou atacada por um urso que faz parte de um ritual diabólico? - faço um drama gesticulando com as mãos. Solto uma gargalhada após ver a cara de espanto de Naruto para mim, surpreso pela minha imaginação fértil.

— Então você deveria gritar e sair correndo - ele diz fazendo uma cara de espanto, imaginando a cena. - Por que se eles realmente te pegarem pra fazer essa loucura toda, é pelo seu corpinho sexy e nu.

Mais risadas. Balanço a cabeça o olhando.

— Eu adoro você, sabia? Obrigada pela ajuda -  dou um beijo singelo em sua bochecha. - Me sinto mais animada.

— Vai dar certo, eles não devem ser psicopatas nem nada do tipo - ele acaricia meu ombro com os dedos, sorrindo. - Tem empresas que preferem manter a discrição - ele dá de ombros. - Só cuidado, você é muito bonita e isso atrai pessoas de má índole - ele diz em deboche.

— Pode deixar que qualquer coisa eu enfio algo bem pontudo na auréola anal deles - dou língua, rindo em seguida.

Ele me dá um pequeno beijo no topo da minha cabeça. Sorrio com o gesto e enrosco minha cabeça na curva do seu pescoço. Ele coloca o meu fone solto em seu ouvido e começamos a cantar juntos. Rio da desafinação dele e não me seguro ao ver ele dançando animado logo em seguida, as mãos agitadas por cima da cabeça. Acompanho ele, desajeitada, e gargalhamos juntos, atraindo um pouco a atenção de algumas pessoas ao nosso redor.

Nosso constrangimento é interrompido por conta do sinal que toca, ecoando por toda a faculdade.

— Aqui fica minha deixa - suspiro para Naruto, que afirma com a cabeça. - Até o intervalo. Nos separamos e sigo para a minha sala.

Naruto faz Administração, seus horários são mais reduzidos que o meu, mas ainda assim dava para nos vermos nos intervalos e tinha dias que íamos para casa juntos.

Entro na enorme sala e sento na segunda fileira, as cadeiras distribuídas uma do lado da outra. Era como um grande auditório, onde as dez fileiras se dispunham em um declive, que levava ao grande quadro branco digital e uma mesa em cima do palanque, disposta exclusivamente para os nossos professores.

Logo a sala enche, quase não deixando uma carteira vazia e o professor de Infectologia entra, já mandando abrir na página cinquenta e quatro do livro, explanando sobre as formas de tratamento de doenças causadas por vírus e protozoários. As horas se passavam quase que lentamente.

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Depois de mais dois tempos seguidos de Neurologia - maneiras de como diagnosticar e tratar principais doenças no sistema nervoso -, o sinal toca e saio, aliviada por poder esfriar a cabeça por alguns minutos e fugir daquela tensão que as aulas me ocasionavam.

Avisto Tsunade, uma das minhas professoras prediletas - ela dá aulas de Cardiologia, além de exercer a função num dos mais reconhecidos hospitais de Nova York.

— Olá Sakura - ela me cumprimenta assim que me aproximo. - Está ótima, não me lembro de te ver com os cabelos soltos - ela os toca levemente.

— Obrigada - digo, provavelmente com um rubor crescente no rosto. Não estava acostumada a tantos elogios em um só dia. - Eu tenho compromisso mais tarde, então resolvi me arrumar um pouquinho mais.

— Hum, e quem é o sortudo? - ela se aproxima murmurando baixo, um sorriso malicioso nos lábios.

— N-não é nada do qu.. - sinto meu rosto esquentar mais que o normal. Faço caretas, me enrolando mais que o normal. Ela ri. - Não é um encontro, Tsunade, é apenas.. - a olho nervosa.

— Já entendi, você não quer me contar? - ela ri cruzando os braços e me dá uma piscada discreta. - Vou ficar de olho nele, você é a minha pupila mais preciosa, se ele tentar algo, dou logo um tiro na cabeça do moleque - diz mais descontraída.

— Não é nada disso - rio balançando a cabeça. Mesmo sendo bem mais velha, madura e formada, Tsunade era tão doida quanto eu. Nem parecia ter seus trinta e poucos anos. - Eu vou fazer uma entrevista apenas. Aliás, quem olharia para mim? - a olho torcendo o rosto, fazendo uma pequena cena.

— Não se menospreze tanto assim, minha querida - ela me dá um sorriso, revirando os olhos. - Você é linda Sakura, não apenas por fora.. sabe disso - ela acaricia o topo da minha cabeça. - De qualquer forma, tenha uma boa entrevista, você vai se sair bem, mesmo sendo impulsiva na maior parte do tempo - ela diz em ironia, me fazendo rir.

Mesmo Tsunade sendo minha professora, tínhamos uma intimidade bem intensa, como mãe e filha - minha relação com meus pais não era das melhores, só pra constar. Eu não tinha tanta liberdade para falar da minha vida com eles como tinha com Tsunade.

Havia me aproximado mais dela assim que descobri a minha paixão por medicina, principalmente quando me decidi especializar na mesma área que a minha digníssima professora: Cardiologia, o estudo sobre o sistema cardiovascular e suas doenças e tratamentos.

Assim, ela me dava aulas extras quando podia, me tirava dúvidas sobre outras matérias e até me explicava e contava como era o seu cotidiano no hospital.

— Pode deixar, dessa vez não vou fazer nenhuma besteira como agredir alguém - a olho com um sorriso forçado. Ela me dá um olhar surpreso.

— Calma aí, você disse "agredir"?! - sua boca se abria em um "oh" perfeito.

— Bem, se dar um tapinha de nada na cara de alguém for uma agressão, então sim - dou de ombros, uma risada sacana saindo dos meus lábios.

— Depois quero saber disso mocinha, agora tenho que ir. - Ela acena pra mim, um sorriso brincando nos lábios. - Você é única mesmo Sakura, somos muito parecidas. - ela balança a cabeça, ainda surpresa com o que havia dito. - E aquilo que te disse antes ainda está valendo, mesmo não sendo um encontro. - Não resisto e acabo rindo concordando, vendo-a se afastar.

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Depois do término das aulas, fico perto da entrada esperando por Naruto. Seguiríamos juntos para casa se eu não tivesse que ir para a entrevista.

Ele me vê e dá uma pequena corrida até mim, ofegando baixo quando chega perto o suficiente. Respira fundo e me dá um lindo sorriso.

— Eu estive pensando se você não gostaria que eu te fizesse companhia, que tal? - ele pergunta coçando a nuca, sem graça. - Eu to com tempo livre, se você não se incomodar...

Arqueio as sobrancelhas, surpresa pela proposta. Dou uma risada baixa, desejando por um momento que ele fosse comigo. Eu estava nervosa, mesmo não querendo admitir isso para mim mesma. Uma distração seria bom.

— Ótima ideia, Naruto. Eu adoraria - sorrio para ele. - Podemos almoçar juntos antes e conversar para passar o tempo. To um pouco ansiosa, acho que vai me ajudar.

Ele concorda, me oferece o braço, e logo seguimos para a direção oposta a das nossas casas. Quase chegando ao ponto, mexo na bolsa, lembrando de algo.

— Esse é o endereço - dou a ele um papel com o nome do local escrito. Ele franze o cenho, lendo o papel em mãos. - Que foi, algum problema?

— Eu conheço esse lugar - ele faz uma careta, parecia perdido em pensamentos.

— Você conhece a empresa? - dou um olhar curioso para ele, me sentindo um pouco animada. - Então você poderia me dizer alguma coisa sobre e..

Eu não esperava a resposta do meu querido amigo, que me pegou totalmente de surpresa. Confesso que senti medo. A confusão pela mudança repentina do meu amigo me deixou zonza.

— Sakura - ele chama minha atenção. - Acho melhor você não ir à essa entrevista.

Lição número três: não sair para uma entrevista usando calça muito apertada, porque acho que me borrei toda.