A ruiva me olha em surpresa e me oferece sua mão, dando - sugiro eu - um de seus mais singelos sorrisos.

— Você está bem? Desculpe por isso - ela diz com uma enorme simpatia. A olho sem jeito, aceitando sua mão. - Sasuke é bruto na maioria das vezes - ela ri.

Respiro fundo, com vontade de me afundar em um buraco. Me ajeito, um pouco vermelha pelo constrangimento.

— Não, que isso, eu que.. - dou de ombros, sem saber como terminar a frase. Suspiro.

Percebo Sasuke calado, me fitando intensamente. Sua mente parece divagar em vários pensamentos que eu não consigo distinguir. Seus olhos apertados para mim me deixavam nervosa.

— Bem, sou Akari - ela diz suave. - Você é a..?

— Sakura - respondo rápido. - É um prazer, mas agora tenho que ir e..

— Não quer uma carona? - a voz grossa e cortante do moreno chega aos meus ouvidos. O encaro firme. - Eu não me importo de te deixar em casa.

Seus olhos parecem me queimar por dentro de tão penetrantes ao me analisar, como se tentasse decifrar minhas palavras e ações.

— Não precisa - engulo em seco. - Eu já pedi um táxi.

— Está bem, mais uma vez, peço desculpas Sakura - Akari diz com um sorriso, terminando logo o assunto. - Nos vemos por aí. Vamos amor - ela puxa Sasuke pelo braço, com uma graciosidade que dava vontade de vomitar.

Como que um ogro chamado Sasuke poderia se relacionar com uma mulher doce como Akari?

Suspiro observando os dois se distanciarem, vendo que Sasuke passa por mim calado e com a testa franzida. Provavelmente irritado com minha recusa.

Balanço a cabeça, reprimindo um choro e lembro de que Naruto estaria me esperando na frente do prédio. Respiro fundo algumas vezes antes de entrar no carro do pai do loiro.

Dou um dos meus melhores sorrisos forçado.

— Vamos?

— Você está bem? - ele toca meu rosto preocupado, tirando a mão do volante. - Seu rosto está vermelho.

— Não.. - suspiro. - Mas vou ficar. Me leve pra longe daqui!

¥¥¥

Mais ou menos uma semana havia se passado. O relacionamento de Naruto e Hinata parecia entrar nos eixos aos poucos. O loiro por fim estava enxergando seus sentimentos amorosos pela menina.

Era engraçado ver ele contando piadas idiotas e a morena rindo sem graça. Sua cara de apaixonada a entregava, mas o loiro ainda era lerdo o suficiente para perceber. Faziam um belo casal.

Falando em relacionamento à dois, Tenten me contou no dia seguinte do seu encontro com Neji. Segundo ela, foi tudo maravilhoso. Depois do restaurante, passearam por um parque e ali deram o primeiro beijo. A morena não parava de sonhar acordada enquanto me contava o restante da noite com o amado cabeludo.

Já eu e Itachi, não havíamos nos visto muito essa semana. Reuniões e eventos tem ocupado a mente dele, assim como a minha. Sem contar que combinamos - na verdade, eu que insisti - de não transparecermos nada sobre nós para os outros da empresa, por enquanto.

Quanto à Ino, ela tem parado de me ligar e mandar mensagens. Confesso que tem me aliviado um pouco, mesmo que eu sinta saudade dela.

Assim que termino o trabalho no notebook e meu expediente chega ao fim, Itachi para na porta da minha sala, um sorriso lindo brotando de seu rosto. O olho toda boba.

— Como vai minha princesa? - diz se aproximando. - Estou com tantas saudades de você, sabia?

Ele segura meu queixo com delicadeza e depositiva um beijo em meus lábios.

— Melhor agora - sorrio olhando em seus olhos.

— Que tal sairmos um pouco? Não temos passado algum tempo juntos - ele acaricia minha bochecha com o polegar. - Quero te levar à um lugar especial.

— Uma ótima ideia - sorrio, o puxando pela nuca e dando-lhe um beijo calmo. - Só vou terminar de arrumar minhas coisas.

— Tudo bem, te espero lá fora - ele pisca pra mim e sai.

Rio baixo observando ele sair. Ele conseguia fazer com que eu me sentisse viva e eu amava isso. Itachi me fazia bem, isso era suficiente para mim.

Após alguns minutos terminando de arrumar minha mesa, pego minha bolsa e sigo para a porta que dá para o escritório de Sasuke. Bato de leve, ouvindo a voz do moreno em seguida.

— Senhor Uchiha - entro sem encará-lo, controlando o nervosismo de minha voz. - Meu expediente já terminou, precisa de mais alguma coisa?

Ele continua com suas orbes negras fincadas na tela do notebook. A cara fechada.

— Sim, senhorita Haruno - sua voz gélida preenche a sala. Engulo em seco, esperava que me desse um "não". - Quero que refaça os contratos dos funcionários admitidos no mês passado.

— Mas.. - o olho sem entender. - Por quê?

— Porque eu mandei - ele me olha finalmente, o rosto contorcido. - Porque eu quero a senhorita aqui, se dedicando ao seu trabalho. Foi para isso que a contratei senhorita Haruno, para fazer o que mando, entendeu? Lembre-se que o seu sonho depende disso, do seu esforço e merecimento. - ele agora já estava de pé, sua voz alterada e grave, seus olhos faiscando.

O olho assustada e sem palavras. Ele estava certo, não poderia botar tudo a perder, eu dependia desse emprego. Mas não entendia o porquê dessa atitude inesperada. Será que ele havia descoberto algo sobre Itachi e eu?

— Já errou duas vezes comigo e quase perdemos um acordo por conta de suas falhas - ele continua firme. - Não vou tolerar erros. Entendeu bem, Sakura?

Engulo em seco. O que ele tinha afinal?

Eu estou bem ciente do que fiz, mas é realmente necessário esse purgatório?

Eu me sentia mal. Por um momento pensei em retrucar, abrir a boca e dizer que eu não precisava dele nem do emprego, mas seria mentira. Eu precisava disso. Era minha última chance.

Suspiro apenas, derrotada, abaixando a cabeça e fechando os olhos. Seguro algumas lágrimas. Teria que cancelar a saída com Itachi.

O ar tornou-se pesado, o silêncio se instalando aos poucos. Assim que sinto uma lágrima teimosa cair por meu rosto, a limpo rapidamente e levanto a cabeça.

— Desculpe, eu.. Vou voltar ao meu trabalho..

— Está chorando? - ele me fita franzindo a testa, interrompendo minha saída. Sua voz sai engasgada, como se reconhecesse o que acabara de fazer.

Ele pisca algumas vezes suspirando e se sentando. Suas mãos cobrem sua cabeça enquanto ele segura o peso do corpo sobre a mesa.

— Sakura, não precisa fazer nada disso hoje - ele diz parecendo mais calmo. - Foi um dia cansativo para mim e para você. Eu.. esquece! O que.. eu falei.

Apenas o olho cabisbaixa. Era difícil engolir certas coisas vindo dele. Me sentia humilhada.

— Eu.. - ele continua, mas não termina a frase. O encaro confusa, esperando. Seu rosto o denunciava estar perdido em pensamentos. - Tenho machucado você?

A pergunta me pega de surpresa. Abro a boca sem saber o que dizer. Ele pergunta de novo, mais firme agora.

— Me responda, Sakura. Eu machuco você?

— O-o quê? - é a única coisa que consigo murmurar.

Ainda não conseguia entender onde ele queria chegar. Por que ele me faria uma pergunta dessas?

Ele se levanta e se aproxima devagar. Sigo cada um de seus movimentos com os olhos, o ar fugindo aos poucos de mim, a vontade de gritar e falar poucas e boas, entalada na garganta.

— Eu não quero Sakura - ele diz sério e firme. - Machucar.. Você!

— Então por quê? - digo por fim. Fungo baixinho o olhando nos olhos. - Por que você faz isso? Por acaso gostaria de ser tratado assim como trata os outros?

Ele demora um pouco pra responder e suspira.

— Tanto faz, não sou nenhuma mulherzinha - diz frio. - Isso não é pergunta que se faça. Que idiotice.

Rio em deboche.

— Você não é, mas adora maltratar uma mulher - ironizo irritada. - Eu admirava você no começo, só que agora eu te desprezo. Se quiser me demitir por isso, vai em frente.

Seu rosto se contorce. Parece que feri seu ego.

— Não sei como aquela mulher tão doce aguenta um cara como você! - digo já me arrependo das minhas palavras. Cavei minha própria cova.

— Eu poderia te demitir agora mesmo - ele se aproxima mais, seu rosto há centímetros do meu. Sinto seu hálito fresco de menta e me seguro o máximo que posso. Engulo em seco. - Mas sei que você não tem pra onde ir. Você está me devendo essa Haruno.

— Como? - estreito os olhos para ele, incrédula. - Por.. Por quê? Você não é o tipo de cara que ouve essas coisas e deixa impune. O que você quer de mim afinal? Por que faz isso tudo por mim? Vamos, vai em frente, me manda embora! - o olho mais confusa do que nunca.

O encaro, esperando que ele fizesse uma loucura, tipo me beijar depois de uma discussão - como nas cenas de filme -. Mas pra minha infelicidade, ele nada fez.

— Assunto encerrado. Você já falou demais, já me xingou demais, agora saia da minha sala, antes que eu me arrependa - ele diz irritado e se vira com as mãos nos bolsos.

Balanço a cabeça sem ainda acreditar e murmuro antes de abrir a porta.

— Ninguém merece.

¥¥¥

Eu comia sem muito ânimo os pãezinhos com queijo, observando as estrelas.

Itachi havia me levado à um lugar alto, no topo de um morro, com vista para toda a cidade. Com o céu limpo, podíamos contemplar melhor a beleza do ponto de onde estávamos, sob a luz da lua.

— O que foi? Desde que chegamos não tem falado muito - ele fala. - Aconteceu algo?

— Nada, estou apenas.. Pensando - digo baixo.

— Sobre? - ele insiste.

— Sobre minha vida, meu futuro.. - suspiro. - Essas coisas..

— Hum.. - ele balança a cabeça devagar, digerindo as minhas palavras. - E.. Por algum acaso, isso me inclui?

O olho arqueando as sobrancelhas, analisando sua pergunta. Sinto o suco de laranja descer como fagulhas pela minha garganta. O que responder?

— Acho um pouco cedo para pensarmos nisso, Itachi - desvio o olhar.

— É, talvez seja - ele ri, claramente chateado. Seus olhos de desviam também, observando as ruas lá embaixo.

Suspiro o observando com o canto do olho. O queeu quero afinal?

Estou com Itachi, um cara ótimo, atencioso e que gosta de verdade de mim. Então, por que meu coração cisma em querer alguém que só me trata mal e me humilha?

Eram perguntas demais e poucas respostas. Preferi terminar aquela noite quieta como estava, me deliciando com o suco e os bolinhos.