Servitutem escrita por Kaline Bogard


Capítulo 5
Epílogo - O sabor da felicidade


Notas iniciais do capítulo

Esse é o último!

Espero que gostem ♥



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— Fantástico! Meu genro faz um churrasco fantástico! — Tsume agitou o espetinho cheio de carne no ar antes de levar aos lábios e arrancar os três primeiro pedaços com as presas afiadas.

— Obrigado — Shino agradeceu.

— Devia enfiar uma carne nesse bucho, moleque!

— Sou vegetariano.

— Sei, sei. É branco que nem um defunto, isso é falta de carne.

— Não…

— Se eu souber que broxou e deixou meu bebê na mão… você vai se ver comigo! Um Inuzuka nunca deve recorrer ao cinco contra um, fui clara?

— Sim, senhora. Kiba não corre tal risco — falou solene. Àquela altura já não se surpreendia mais com o comportamento da matriarca Inuzuka. Mas dez anos atrás, quando a conheceu, levou um belo susto. Kiba era exótico, mas nem de longe se comparava a Tsume!

Foi até o pai, sentado debaixo de um guarda sol, e ofereceu uma nova garrafinha de sake.

Seu quintal dos fundos estava bem diferente. Agora o gramado acomodava não apenas a estufa, mas uma churrasqueira e uma pequena piscina. Exigências de seu marido, claro.

E por falar em marido… Kiba estava muito quieto.

Quando ficava assim, só significava uma coisa!

E nem dez anos de convivência amenizavam o humor de Shino nessa hora, pois ele sentiu uma veia saltar em sua testa. Logo ele, que sempre foi muito controlado e racional, se cansava de repetir o mesmo discurso e não ter nenhum efeito. Seria muito diferente se usasse a causa que os uniu: nenhuma de suas ordens era negada. Porém nunca faria algo tão covarde com alguém a quem amava.

Acabou por ir servir Hana também, oferecendo a moça a segunda garrafinha com sake. Hana observava o jardim, bem cuidado e florido.

— Ótimo trabalho, parabéns! — ela elogiou.

— Obrigado.

Hana sorriu.

Era uma mulher tão madura, um contraste com o irmão caçula! Quando estavam lado a lado era impossível não comparar. Tudo o que Hana tinha de elegante e graciosa, Kiba tinha de estabanado e desastrado. Ela era calma, responsável e educada. Kiba era impulsivo, imprudente e desatinado. Cada um único em seu jeito de ser, que Shino aprendeu a amar de jeitos diferentes. Nutria por Hana a mesma afinidade que sentiria por uma irmã mais velha.

Para Kiba, ofertou aquele espaço reservado para o amor de enamorados.

A família estava reunida para comemorar uma data especial, algo que vinha acontecendo pelos últimos cinco anos. E a grande estrela da ocasião estava, com toda certeza do mundo, enfiada na estufa cavocando e comendo os raros legumes élficos que Shino plantava para suas poções!

Garantindo que Tsume, Hana e seu pai estavam bem servidos e a vontade, Shino resolveu ir logo dar um flagra antes que ficasse (de novo) sem poder fazer o seu trabalho pela falta de ingredientes.

Pediu incensa aos três e foi até a estufa.

E lá estava o Pastor-da-Mantiqueira, cavando um canteiro de nabos com as patas dianteiras e fazendo terra voar para longe. O canteiro das beterrabas já tinha sido devidamente saqueado.

— Kiba — falou baixo.

O cachorro paralisou-se no ato. E foi imitado pelo Dogue Alemão preto que estava ao lado dele e abria um buraco ainda maior. Quase em simultâneo eles se viraram na direção de Shino, parado a porta com a mão na cintura e expressão de quem estava prestes a dar uma bronca monumental. Do mesmo modo, as orelhas se dobraram. O Dogue ainda teve a coragem de balançar a cauda, com esperança. Mas Shino continuou sério e ele viu que estava enrascado.

Sem alternativa, o Pastor-da-Mantiqueira foi o primeiro a tornar-se humano. Em segundos o chacra se agitou e quem estava ali, sujo de terra era Kiba, com seus cabelos castanhos bagunçados, as marcas vermelhas no rosto e a grande coleira no pescoço.

Cada livro que liam, cada especialista que interrogavam, cada pista que surgia… acabava em um beco sem saída, em conclusões semelhantes: a coleira era impossível de se retirar. A maldição só findava com a morte de um deles.

Não desistiram, mas o ímpeto inicial diminuiu bastante. Shino conseguiu se adaptar a condição de “dono”, podia se comunicar a maior parte do tempo sem impor alguma ordem. Às vezes acontecia, ele era humano, se distraia e errava. Kiba relevava, porque sabia que não era de propósito. E sempre (sempre mesmo) vinha por causa de uma arte que aprontou…

“Não coma meus chinelos, Kiba”.

“Não faça xixi na bicicleta do carteiro!”

“Não rosne para a vizinha, ela não está flertando comigo”...

Situações que em três quartos das vezes envolviam traquinagens e malvadezas na versão animal.

Kiba era mais do que um shifter apaixonado. Ele era alguém muito grato, que no começo foi arisco. Que recebeu a chance de se mudar para a casa ao lado, quando os vizinhos foram embora. E escolheu ficar ali, apegado demais e com sentimentos desabrochando.

— Não resisto! — foi dizendo enquanto recolhia as peças de roupa para se vestir. Já se sentia bem confortável nu em frente ao marido, claro. Mas estavam em meio a uma festa! Não queria que Aburame-san ou Hana-nee o vissem ao natural como veio ao mundo. Com uns pelos a mais… uns instrumentos mais crescidos, que fique claro — Esses legumes são muito gostosos!

Shino suspirou. Os olhos severos moveram-se para o Dogue, que também se tornava humano. Mas bem menos descarado que Kiba, correu para colocar as roupas antes de levar uma bronca.

O motivo da festa, Zachary. Ou Zacky, como sua família o chamava. Era um jovem que completava quinze anos naquele dia, de constituição forte para a idade, que apesar de ser adolescente já alcançava Shino em estatura. A pele escura remetia ao pelo negro do Dogue, assim como os grandes e irrequietos olhos.

Zacky era filho de um gaijin. Seu pai veio morar no Japão, se apaixonou por uma Tanuki e se casou. Era um shifter que passou a herança genética para o filho. Porém a família foi vitima de caçadores, que exterminaram todo o Pack em que viviam.

Poucos escaparam com vida.

O triste fato aconteceu quando Shino e Kiba investigavam uma lenda sobre magia que poderia quebrar a coleira, num clã vizinho. Foi impossível não se envolver quando o pedido de socorro chegou onde estavam.

Shino e Kiba ajudaram a evitar o extermínio total e descobriram que um dos caçadores era Kabuto.

Inimigo que, em via de regra, aparecia ao menos uma vez ao ano na casa de Shino, em busca de vingança. Ele não conseguiu o antídoto a tempo, porque fez transformações alquímicas no corpo que reagiram com o veneno dos insetos ayakashi. Como resultado, ao elevar o Chacra para aplicar algum golpe sentia dores horríveis, castigo particular que carregaria até o fim de seus dias.

Era um fracassado que só conseguia alguma coisa ao agir à traição ou em grupo. Nunca ofereceu perigo real, toda vez sendo rechaçado antes que fizesse mal a Kiba.

O casal viu de perto a devastação que a maldade podia fazer, sendo Zacky, o garotinho de dez anos na época a se tornar órfão, o que mais conquistou o coração de Kiba.

Sem que Shino se desse conta, estavam tão afeiçoados ao pequenino que acabaram por adotá-lo. Zachary não tinha mais ninguém no Japão para quem voltar. E o mundo sobrenatural facilitava muita coisa, inclusive que ambos o agregassem à família Aburame.

— Sinto muito — Zacky sussurrou, quase perdendo o equilíbrio ao vestir a calça depressa — Os legumes são mesmo gostosos!

— Seu castigo eu vejo depois — Shino disse para o rapaz, que nem ousou retrucar. Aquele tom de voz de Shino-tousan era pior que uma ferroada de abelha no traseiro. Escapuliu depressa, indo em busca de, quem sabe, alguma proteção da avó e da tia. Elas sempre entendiam seu lado!

A convivência entre Zacky e seus pais era ótima. Apesar da constituição física robusta, o garoto era dócil e fácil de tratar. Apesar de, de quando em quando, se deixar levar pelas traquinagens de Kiba-touchan.

— Pega leve com ele — Kiba gracejou terminando de vestir a camisa.

— Com ele sim — Shino grunhiu.

A voz rouca fez Kiba se arrepiar todinho. Ele aproximou-se do marido, com um sorrisão cheio de dentes (e duas presas afiadas) e enlaçou o mago pelo pescoço.

— Dependendo do castigo eu fico bem feliz em aceitar…

Shino ainda susteve a pose de bravo por alguns segundos, mas o calor do corpo de Kiba derreteu qualquer irritação que poderia ter tido. Afinal, legume é só plantar que nasce de novo, não? Mas aquele sorriso traquinas era algo que protegeria a qualquer custo.

A postura zangada desapareceu enquanto as mãos grandes iam para a cintura de Kiba e o puxavam de encontro ao próprio corpo. Os lábios se encontraram para um beijo que tinha uma pitada de “desculpas”, uma grande dose de “paixão”.

Beijo que veio com sabor de beterrabas e muita felicidade.


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Notas finais do capítulo

Jutuca, adorei fazer essa história! Desejo de coração que tenha gostado, pois foi digitada com carinho ♥

Até a próxima!