As únicas pessoas que estavam realmente fazendo alguma coisa que o diretor mandou no banheiro eram Nicole e Adeline. Os gêmeos ficavam brincando entre eles, jogando espuma ou qualquer outra coisa que encontravam no caminho um no outro; Adam estava encostado na porta do banheiro, com os braços cruzados e com os fones de ouvido enfiados nas orelhas, apenas observando as duas meninas ajoelhadas, limpando o chão; já Jaqueline estava chocada de olhos arregalados, abraçando o próprio corpo com medo de encostar em algum lugar sujo.

— Vocês podiam ajudar né? — Adeline disse tirando uma mexa de cabelo branco de frente dos olhos e encarando os outros alunos. Apenas Jaqueline não era da sua turma, o que a deixava um pouco apreensiva em falar com ela.

— Nunca que irei me ajoelhar em um banheiro imundo como este — foi a resposta mais calma que Jaqueline havia dado para Adeline naquele dia, a novata já estava começando a se acostumar com o jeito arisco da loira.

— Vocês estão fazendo um ótimo trabalho garotas — os gêmeos responderam vendo o olhar irritado de Nicole. Ela finalmente havia conseguido prender os cabelos castanhos em um coque com a ajuda de um lápis de cor azul que encontrou no banheiro.

— Vocês são imprestáveis! — ela rangeu os dentes encarando os gêmeos, que apenas riram. Adeline suspirou sentindo os joelhos doloridos e se levantou, encarando a única privada que estava totalmente limpa naquele local. Não havia sido eles que  fizeram o favor de limpá-la, antes mesmo do diretor dar aquela tarefa ela já estava limpa.

Ouviu ao fundo a voz de Nicole irritada com os gêmeos que só riram, porém ela estava encarando seriamente o vaso sanitário, como se algo estranho estivesse pairando sobre ele.

— Garota, perdeu sua dignidade ai? — Jaqueline disse notando o quão fixo era o olhar de Adeline.

Fora nesse momento que Adam finalmente parou de ouvir música e prestou atenção em sua volta. Seu cenho franziu e sua curiosidade foi atiçada ao ver Adeline entrar no box daquele vaso sanitário.

Todos pararam de falar e prestaram atenção no que Adeline estava fazendo, que cada vez mais se aproximava da privada que brilhava como nova. Com a curiosidade florando nos poros os cinco adolescentes se posicionaram na frente da porta do box onde Adeline estava.

Um barulho alto ecoou de dentro dos encanamentos, assustando a todos e retirando a platinada do transe. Jaqueline deu um grito fino e se agarrou no braço de Roger. O barulho cada vez ficava mais alto e mais assustador.

Adam cobriu os ouvidos quando o som ficou alto demais, viu Adeline paralisada encarando uma mulher de cabelos roxos e um sorriso assustador sentada no vaso. Aquela mulher não estava lá antes!

— Tia Agatha? — Adam teve de gritar graças ao barulho de aço batendo em aço.

— Olá crianças — assim que a voz doce da mulher saiu de sua boca pintada de batom o barulho que vinha do encanamento do banheiro parou. Aquela mulher era tia de sua mãe, ou seja, sua tia-avó. Ela parecia conservada demais para uma mulher de quase  setenta anos — Como estão?

— O que está fazendo aqui? — quem perguntou fora Jaqueline, Adam estava assustado demais para perguntar alguma coisa.

— Vim propor uma aventura para vocês.

Ela estava sentada sobre a privada encarando todos, os cabelos roxos e longos soltos sobre o ombro e o vestido rosa impecavelmente liso sobre suas pernas cruzadas. Ela não parava de sorrir.

Jaqueline ainda agarrava o braço de Roger, que não se importava com aquilo, apenas apreciando o perfume forte da loira. Adam mantinha seus olhos arregalados, querendo puxar Adeline para longe da mulher, já que ela era a mais próxima do vaso sanitário.

Nicole e Aaron não conseguiam entender nada do que estava acontecendo. Se entreolhavam periodicamente enquanto olhavam para a Tia Agatha.

— Precisam voltar para casa, precisam ser discretos, precisam ser um time, precisam achar a flor amarela, caso contrário tudo estará perdido — foi a única frase que a mulher disse antes de sumir diante dos olhos de todos. Foi a vez de Nicole gritar, tão assustada com o fato da mulher ir embora tão misteriosamente quanto apareceu.

De repente, o vaso sanitário na frente de todos começou a dar descarga sozinho. Adam puxou o braço de Adeline com força, obrigando-a ficar próxima dos outros alunos; ele ficou perto o suficiente do vaso para encarar a água se mexer em sentido anti-horário.

— Adam — Adeline disse assustada — Se afaste!

Era tarde demais, Adam já havia se transformado em líquido e descido privada a baixo. Não demorou muito para que Nicole e Aaron fossem também, seguidos por Jaqueline e Roger.

Cada vez que um deles desapareciam Adeline gritava e tentava segurar as mãos da pessoa, em vão. Ela já estava aos prantos, sozinha no banheiro dos professores quando viu seus dedos virando água e sendo sugados pela força do vaso sanitário.

Estava com os olhos fechados com força e abraçava o corpo tentando se proteger quando sentiu uma mão em seu ombro a assustando.

— Ouvre les yeux Adeline — Nicole disse com a voz tremula. A platina obedeceu a voz, notando que se tratava da nova amiga. Sem pensar abraçou a morena, que riu sem animo. Todos estavam ali inteiros, porém muito assustados.

— Onde estamos? — Roger se pronunciou encarando ao redor. Jaqueline não estava mais agarrada em seu braço. Era o mesmo banheiro, tudo era igual sem tirar nem pôr, porém tudo estava limpo e organizado.

Não havia nenhum balde ou esponja, não havia a jaqueta escolar que Nicole deixou no chão para poder se ajoelhar, não havia lembrança nenhuma de que os seis adolescentes estiveram naquele lugar segundos antes.

— Que brincadeira é essa? — Aaron resmungou alisando os cabelos escuros.

Jaqueline bufou irritada e andou com os pés duros até a porta, porém encarou a maçaneta engolindo em seco.

— Não era essa maçaneta.

— Que? — Adam franziu o cenho.

— Era uma maçaneta redonda, esta é diferente — Jaqueline encarou os mais novos e saiu de frente da porta para que todos pudessem ver a maçaneta.

— Isso é tão ridículo, nós devemos ter batido a cabeça e esquecemos que fomos nós que limpamos esse banheiro — Nicole disse ríspida, indo em direção à porta e finalmente abrindo-a.

Aquele banheiro dava para um corredor paralelo ao corredor principal da escola, porém havia uma janela bem na frente da porta onde mostrava os jardins. Aquela janela deveria estar escura e sem nenhuma visão para as árvores, porém o Sol iluminava tudo do lado de fora da escola.

— O que está acontecendo? — Roger já estava irritado demais. Ele foi o primeiro a finalmente sair do banheiro, encarando a janela com atenção — Não ficamos a noite inteira na porcaria desse banheiro!

Adeline e todo o restante saíram e checaram a janela para conferir se realmente estava de dia. O sinal de troca de aula soou e assustou aos seis, que decidiram em grupo olhar o corredor principal.

Todos os alunos estavam com roupas casuais, sem uniformes e andando para cima e para baixo com os materiais escolares em mãos.

— Por que não estão usando uniformes? — Jaqueline disse sentindo inveja da situação. Odiava usar aquele uniforme brega.

— Eu acho que não estamos no lugar certo — Aaron disse encarando em volta. Tudo parecia igual, porém diferente ao mesmo tempo.

— Não — Adeline respirou fundo — Não estamos no ano certo — ela encarava um rapaz de roupas escuras e estranhas, com os cabelos platinados e um sorriso galanteador. Ele conversava com um rapaz de cabelos tingidos de vermelho e nenhum dos dois notaram a presença daqueles jovens de uniforme.

— Aquele é meu pai, só que quando ele tinha 16 anos — foi a única coisa que ela disse antes de desmaiar para trás, tendo de ser segurada por Adam e Nicole.