No horário do jantar todos estavam à mesa, até mesmo o pequeno Adrien. Já que o dia havia sido corrido para todos Louise preparou crepes para o jantar. Lysandre e a esposa conversavam sobre como havia sido o pediatra de Adrien e que a criança deveria tomar alguns remédios e vitaminas, Adeline não sabia se deveria ou não contar para os pais sobre Adam. Ao reparar uma brecha na conversa dos pais respirou fundo e questionou o homem:

— Papa, o senhor se lembra do nome do filho do seu amigo Castiel?

Lysandre arqueou uma das sobrancelhas e encarou a primogênita intrigado. Ela nunca havia perguntado nada sobre seu amigo de adolescência.

— Adam, ma chérie — cortou mais um pedaço da crepe — por que?

Ela encarou o pedaço da crepe com queijo em seu prato e decidiu omitir o que aconteceu na lanchonete naquele dia.

— Ele está estudando na Sweet Amoris

Viu seus pais se encararem. As sobrancelhas castanhas de sua mãe se arquearam e um sorriso apareceu nos lábios finos da mulher. Se Adam estava estudando no mesmo colégio de Adeline, Castiel obviamente estava de volta na cidade.

— Mais tarde ligue para ele, mon amour

O restante do jantar fora novamente sobre Adrien e as vitaminas. Adeline até agradeceu pela fácil dispersão dos pais, não fazendo-a fazendo passar vergonha ao falar sobre o primeiro dia de aula.

O dia seguinte Louise deixou a filha na escola. Dessa vez ela não se atrasou e se sentou no mesmo lugar do dia anterior, ao lado de Nicole, que contou tudo o que aconteceu com ela e suas irmãs mais novas.

— Como foi o restante das aulas?

Adeline engoliu em seco. Ela não prestou muita atenção nas aulas após o intervalo, já que sua atenção ficou voltada para Adam, após aquela súbita demonstração de intimidade.

— Igual as outras — conseguiu se sair bem, dando de ombros e voltando a conversar sobre irmãos mais novos. Nicole estava dizendo o quão assustada ela havia ficado ao ver sua irmã caçula subir na prateleira de livros de sua mãe quando dois rapazes se aproximaram delas e se sentaram sobre as mesas delas, as interrompendo.

— Eu lembro quando eu e meu irmão subimos no lustre da casa da vovó — eles eram gêmeos, ambos de cabelos pretos e bagunçados. O rapaz que estava sentado na carteira de Adeline possuía os olhos azuis e o outro sentado na carteira de Nicole tinha heterocromia, sendo um azul e o outro verde escuro.

— Você tem olhos de cores diferentes — Nicole interrompeu os dois. Ela encarava o menino curiosa, como se nunca tivesse visto aquilo antes.

— Meu pai também tem isso.

—“Isso” se chama heterocromia — o rapaz com os ambos olhos azuis disse aparentemente irritado. Talvez tratassem diferente o outro gêmeo por causa dos olhos.

— Eu acho muito bonito — Adeline ignorou o comentário, ela sempre achou os olhos do pai maravilhosos.

— Eu sou o Aaron e este é o Roger — o menino sentado na carteira de Nicole sorriu se apresentando as meninas. Antes da aula finalmente começar os quatro continuaram a conversar sobre irmãos.

Adam Roux chegou do mesmo modo do dia anterior, atrasado e causando uma má impressão para a professora de geografia que se apresentava naquele momento.

Adeline apoiava o queixo na mão enquanto a professora falava, mas ao ver o moreno entrar pela porta endireitou sua postura e engoliu em seco, o vendo se sentar na única carteira vaga. Bem na sua frente.

Ela conseguia sentir o forte perfume masculino que vinha do rapaz sentado a sua frente. Conseguiu prestar atenção em boa parte do que a professora falava, metade sendo totalmente chato e desnecessário e a outra metade prestando atenção nas costas de Adam.

Ao tocar o sino do intervalo todos os alunos se levantaram e como no dia anterior Adeline convidou Nicole para comer na lanchonete e dessa vez ela aceitou.

— Um cappuccino cremoso light, por favor — uma garota loira, de cabelos curtos e batom vermelho era a única pessoa na fila da lanchonete da escola. Quase derramou o cappuccino quente em Nicole ao se afastar rápido demais do balcão do lugar. Enviou um olhar raivoso para as duas garotas e saiu do local bebendo o líquido.

— Quem é essa? — Adeline perguntou olhando para a menina se afastar.

— Jaqueline Tissot Perrin, A Insuportável — uma garota mais velha que as outras duas, de cabelos tão brancos quanto os de Adeline se colocou atrás delas na fila da lanchonete — Olá prima!

Sophie era prima de Adeline e era dois anos mais velha que ela. Sorriu ao finalmente encontrar a mais nova no colégio, abraçando-a e comentando a quantidade de tempo que fazia não vê-la.

— Como estão seus pais? — Adeline perguntou feliz, deixando que Nicole passasse sua frente na fila.

— Tudo ótimo. Maman está em Milão para o próximo desfile de moda e papa está administrando muito bem as lojas.

Continuaram a conversar, Nicole participou as vezes fazendo alguns comentários.

— Tomem cuidado com a Jaqueline, ouviu? — Sophie disse se levantando da mesa para voltar à aula — Ela é la reine desse colégio; não tirem-na do sério.

Minutos depois de mais conversa entre Nicole e Adeline elas finalmente voltaram para a sala de aula.

Era aula do Professor Saymon, porém as duas garotas não conseguiam parar de falar. Adeline ria de todos os comentários que a quatro-olhos fazia, o que fez o professor chamar a atenção das duas inúmeras vezes, até que ele se irritou.

— Garotas! Detenção para as duas! Vocês ficaram rindo alto a aula toda.

Adeline encarou o professor boquiaberta. Nunca havia ficado de detenção na vida. Como iria explicar aquilo para seus pais?

— Mas professor, não fizemos nada — Nicole tentou contestar e teve sua fala cortada pelo mais velho, que apenas repetiu o que havia falado antes.

— Meus pais vão me matar — Adeline comentou ao colocar todo seu material no armário. Ela encarou a nova amiga, que apenas concordou.

Caminharam com calma até a sala do diretor. Havia uma fileira de quatro cadeiras estofadas na frente da porta daquela sala, porém todas as cadeiras estavam sendo ocupadas. As garotas reconheceram os quatro de cara, já que Aaron fez questão de cumprimenta-las de forma escandalosa.

— Por que estão aqui? — Nicole questionou os gêmeos, porém Jaqueline sentiu que aquela pergunta também deveria ser feita a ela, que encarou as duas meninas e bufou com ódio.

— Professora estúpida e velha! Como pode me colocar de detenção só por passar batom na sala de aula?

Adeline quis rir, porém se manteve com o olhar sereno. Encarou os gêmeos, que sorriram marotamente.

— Tentamos colocar uma bomba caseira no banheiro masculino do primeiro andar.

Nicole franziu o cenho e tentou dar uma bronca nos meninos, que simplesmente riram da cara da menina.

— E você? — Adeline os ignorou encarando Adam.

— Desde quando é interessante à vocês saberem o por quê estou aqui?

Adeline suspirou cansada e revirou os olhos com aquela resposta. Rapidamente o diretor apareceu e pediu que eles acompanhassem-no até o banheiro dos professores.

Aquele lugar estava um caos. Totalmente sujo e fedido.

— Como punição terão de limpar o banheiro e ai de vocês se irem embora antes.

— Vocês não tem pessoas para fazer isso não? — Jaqueline estava indignada. Os braços balançando para cima e os olhos castanhos dourados arregalados de frustração.

O diretor simplesmente a ignorou e saiu do local, antes deixando todos os utensílios necessários para a limpeza.

— O dia está ficando cada vez melhor, não é mesmo? — Nicole resmungou pegando o balde com água e entregando uma esponja de cozinha para Adeline.