Dia dois do mês de Abril de 1975.

Uma semana antes do dia em que o futuro se colide com o passado.

Os olhos de Anne se cruzaram acidentalmente com os olhos azuis de Armin enquanto ela entrava na sala de aula. Os cabelos ruivos estavam presos em maria chiquinhas e os lábios vermelhos por causa do vento gelado que havia sido atingida.

Aquilo fez Armin sorrir involuntariamente. O fato da namorada ficar sempre tímida ao trocar olhares com ele lhe dava vontade de rir; mas então um pensamento lhe desfez o sorriso.

Esconder o namoro de Alexy lhe incomodava muito. Ele não sabia como o irmão iria reagir e tão pouco como as outras pessoas iriam reagir sobre o namoro entre os estudantes. Sempre ouviu seus pais aconselharem ele e seu irmão de que não seria saudável namorar com garotas na escola, para pensarem sobre aquilo quando estivessem mais velhos; porém, seu coração não aguentou acatar as ordens de seus pais e se apaixonou perdidamente pela ruiva mais linda do colégio.

Estava pensando em ir até a loja de Arcade e jogar até todo seu dinheiro acabar no seu jogo favorito:Gun Fight. Passaria horas matando os inimigos que aparecessem no jogo. De vez em quando parava de pensar no quanto ansiava estar jogando e começava a pensar em Anne, que prestava atenção na aula de Matemática.

Assim que o intervalo foi anunciado pelo sino e o professor liberou todos os alunos Armin e Alexy se dirigiram até a cantina e comeram em silêncio um delicioso croissant de chocolate.

Alexy parecia inquieto, tentava arrumar a roupa que usava todo momento e olhava ao redor como se procurasse por alguém. Ele encarou o irmão engolindo em seco e disse:

— Armin, preciso de contar uma coisa, depois do horário de aula.

Armin franziu o cenho e balançou a cabeça, enquanto mastigava. Questionou-se internamente se era necessário logo depois da aula, já que era aquele momento único que podia ficar com Anne.

Após o intervalo, os gêmeos voltaram para sala de aula e tentaram prestar atenção na aula de Francês. Armin só pensava no jogo que poderia jogar depois da conversa com Alexy, já o outro gêmeos só pensava na conversa que teria com o irmão; e em como ele iria falar aquilo que precisava.

Anne arrancou um pedaço da folha cor-de-rosa do caderno e escreveu uma mensagem para o namorado, dobrando o pedaço em algo ainda menor e pedindo para Rosalya e Priya passassem até chegar em Armin.

Assim que o papel pulou das mãos de Priya para a carteira de Armin, Alexy encarou o irmão com o cenho franzido e os braços cruzados. O moreno pareceu não prestar muita atenção no gêmeo, desdobrando o papel e lendo o recado, permitindo que um sorriso bobo nascesse no seu rosto.

Alexy sabia que Anne sentia algo pelo irmão, ela já havia comentado sem querer, porém não sabia que Armin sentia algo pela ruiva; e ver aquele sorriso foi praticamente uma confissão.

Deixou sua mente vagar pelo discurso que iria despejar no colo de Armin, ignorando o fato de que havia descoberto a poucos segundos que o Gamer gostava de uma colega de turma.

Quando finalmente a aula acabou Alexy recolheu seu material e pediu para o irmão encontrá-lo no porão da escola, deixando o outro para trás. O Gamer estava ficando desconfiado de que Alexy sabia sobre o namoro às escondidas, não havia outro motivo para que ele fizesse tanto mistério para conversar.

Esperou todos sairem da sala de aula, sobrando apenas Anne e Armin no local. Ele gostava de observar a garota terminar de anotar as coisas do quadro negro e arrumar todo o material de forma atrapalhada. Foi graças àquilo que eles começaram a conversar; foi por ficar observando Anne, que Armin se apaixonou por ela.

— Anne, hoje Alexy quer conversar algo sério comigo — ele comentou, notando que realmente ninguém poderia ouvir a conversar —  Se quiser pode me esperar perto da escadaria, assim vamos juntos até a loja de Arcade.

Ela apenas concordou, colocando a mochila nas costas e caminhando com o moreno até a escadaria para o primeiro andar.

— Vou passar na biblioteca antes. Não se preocupe — Anne disse parada na porta da biblioteca. Armin concordou e procurou pela porta escondida sob a escada.

Descendo a escadaria para o porão logo encontrou a cabeleira azul do irmão gêmeo. O rapaz estava inquieto, apreensivo e ansioso. Quando viu Armin relaxou os ombros e abriu um belo sorriso.

— O que queria falar? — Armin questionou-o observando o porão. Um lugar com muito pó e muita coisa velha que a escola não usava mais.

— Eu não sei muito bem como falar isso…

— Alexy — Armin notou como o irmão estava, aproximando-se do azulado e colocando as mãos nos ombros dele e sorrindo amigavelmente — Eu sou seu irmão.

— Eu sou gay.

Foi rápido e indolor. Alexy nunca havia se declarado homossexual para ninguém a não ser ele mesmo. Morria de medo da reação dos seus familiares e dos amigos mais próximos.

Sabia que iria ouvir várias palavras de ódio e apanharia seu irmão mais velho que era militar. Sabia também que era jovem demais para admitir alguma coisa daquela, porém ele sempre soube que nunca gostou de garotas; atrasar aquilo era apenas mais uma bobagem.

Armin então sorriu e abraçou o irmão. Acolheu-o com amor e foi compreensivo. Armin entendeu que o irmão iria precisar de alguém para lutar ao seu lado, já que iria ter tantos que iria lutar contra ele.

— Vá para casa — o moreno disse se afastando, ainda com sorriso nos lábios.

Alexy estava com os olhos cheios de lágrimas, vendo a atitude do irmão.

— Não vou contar para ninguém — deu uma pequena pausa — Prometo.  

Alexy limpou os olhos rapidamente e balançou a cabeça positivamente. Subiu as escadas sentindo os ombros leves e o ar que entrava em seus pulmões parecia mais limpo.

O azulado pareceu não notar, já que no inicio da escada do porão, quase na porta de saída, estava Anne ouvindo tudo que os irmãos Bélier conversaram.

Ela desceu as escadas vendo que Alexy já havia saído do porão e encontrou o namorado parado no meio de todos aqueles móveis inúteis.

— Armin? — sua voz saiu falha. Ele virou o corpo para encarar a ruiva, sentindo um arrepio na espinha.

— Você ouviu tudo?

Ela balançou a cabeça negando. Era melhor mentir naquele momento.

— Entrei no porão quando vi Alexy saindo.

Ele apenas suspirou e sorriu. Não queria falar sobre aquilo no momento e Anne respeitava a situação.

— Muito interessante aqui — aproximou-se dele — Nunca soube que a escola tinha um porão.

— Quando mudei de escola com Alexy, Melody mostrou para nós tudo, até mesmo o porão.

Anne arqueou uma sobrancelha fina e parou de se aproximar do rapaz. Melody era declaradamente apaixonada por Nathaniel, porém como ele também era declaradamente apenas amigo Melody adorava atirar para qualquer lugar, torcendo para atingir em algum alvo.

— Está com ciúmes? — Armin riu. Aproximou-se da ruiva e abraçou-a com força. Ela odiava pensar no fato de qualquer mulher próximo demais de Armin; e ele adorava ver o rosto emburrado de Anne por ciúmes.

Rapidamente os lábios dele tocaram nos dela e o selinho se transformou em um beijo apaixonado. O porão da escola se transformou no esconderijo dos pombinhos. O segredo de Alexy estava salvo com o casal.