— A senhorita não prefere esperar no bar? Lá poderia ficar muito mais a vontade…

— Vou esperar aqui, obrigada mais uma vez. — Ela respondeu irredutível.

— Como quiser, senhorita… — A recepcionista estava com um tom de voz descontente.

Lily conseguia sentir os olhares dos garçons e da recepcionista nas suas costas. Já era a terceira vez que vinham perguntar se ela não preferiria esperar no bar para desocupar a mesa que a mesma havia reservado há uns dias para essa noite. Fazia uma hora que estava esperando seu namorado para jantar e nem sinal dele.

Nenhuma mensagem, nenhuma ligação…

Na conversa deles só haviam mensagens dela e o nome dele em cima, sem notificação de quando ele havia aberto o aplicativo pela última vez. Um lado de seus pensamentos tentava acalmá-la dizendo que ele só estava atrasado por um imprevisto e quando chegasse teria uma ótima explicação sobre o atraso de uma hora. Enquanto o outro lado dizia para Lily esquecer, ele a estava evitando e quando aparecesse, seria para terminar com ela.

Se ele aparecesse.

Uma hora e meia depois um garçom veio até a mesa para perguntar se Lily não preferia já fazer o pedido para ela e para o namorado. Lily negou mais uma vez oferecendo um sorriso sem graça para o garçom que foi embora sem nenhum pedido.

Não é possível que ele tenha esquecido.

Desde o começo da semana ela falava sobre esse jantar para ele. Faz um pouco menos de um mês que ele recebeu a promoção na empresa, e graças a promoção ele não chegava mais em casa no horário e Lily só conseguia vê-lo aos finais de semana. Eles nem sequer dormiam juntos mais, por conta da exaustão e dos horários dele. Lily sabia como o namorado estava atarefado e compreendia como o emprego era importante para ele, eles estavam tendo conversas mais longas pelo telefone do que frente a frente. Esse jantar seria para eles matarem a saudade.

Ela olhava para as pessoas no restaurante e no bar, tentando em vão encontrar o rosto dele, mas ela sabia que era inútil. Lily já estava na metade da sua segunda taça de vinho rosé enquanto olhava para o celular. Logo estaria bêbada e nem sinal de seu namorado.

Duas horas e sua taça já estava cheia mais uma vez, ela ligava pela sexta vez para o número dele.  E mais uma vez caiu na caixa postal. Lily suspirou alto colocando o celular ao lado do prato vazio com certa força, assim chamando a atenção da senhora da mesa ao lado que estava jantando com o marido. A senhora lhe direcionou um olhar de pena.

O que ela fizera de errado? Será que ele a estava punindo? Lily definitivamente não merecia aquela humilhação. Tinha um bom emprego, era carinhosa, educada, nunca o envergonhou na frente dos amigos... Sempre tentou ser uma namorada digna dele, mesmo ele sendo um pouco exigente quanto a aparência dela, ela nunca deixou nada a desejar.

Provavelmente aquela situação era culpa dela, só podia ser…

Com quase três horas de espera e a recepcionista foi até a mesa mais uma vez sugerindo para que  Lily esperasse no bar ou fizesse os pedidos. Dessa vez a moça não estava mais tão simpática assim. Lily suspirou mais uma vez antes de se levantar.

— Não precisa se preocupar, eu já estou de saíd-

— Me perdoa pelo atraso, meu amor, o trânsito estava um inferno!

Um rapaz que Lily nunca vira na vida se aproximou dela lhe tocou a cintura e depositou um beijo na bochecha.

— Obrigado por deixa-la esperar na mesa, Susan. Pode ir agora.

A recepcionista olhou torto para o rapaz que estava de pé ao seu lado antes de voltar ao seu posto. Lily não sabia ao certo o que fazer, ela olhou para o rapaz, que lhe oferecia um sorriso discreto e que parecia querer acalmá-la.

— Sou James, a propósito. — Ele disse baixinho a olhando nos olhos — Por favor, sente-se.

Ela resolveu seguir com aquilo quando o rapaz puxou a cadeira para ela. James se inclinou perto do ouvido dela assim que ela se sentou.

— Não sei porque alguém te deixou esperando por tanto tempo, mas seja lá quem for, não passa de um completo idiota.

Lily riu enquanto via ele se sentar na cadeira que estava em frente a sua.

— Então o que vamos pedir? Imagino que graças ao meu atraso você esteja faminta... — James disse sorrindo para ela enquanto pegava o menu que o garçom acabara de entregar a ele.

Ele estava sendo fofo e educado com ela. Lily não sabia como agradecer, então continuou como se aquilo tudo tivesse sido planejado.

— Eu não sei, o que sugere? — Lily perguntou abrindo o cardápio também. Ela estava ali há tanto tempo que nem sabia se ainda estava com fome.

— O que acha de camarões de entrada?

— Se esqueceu que sou alérgica, amor?

James fez uma encenação batendo a mão na testa.

— Mil perdões, meu anjo. Minha cabeça anda uma bagunça esses dias.

— Tudo bem, mas preste mais atenção da próxima vez. — Lily disse tentando conter um sorriso.

James sorriu de volta para ela enquanto passava uma das mãos pelos cabelos.

— O que acha de pularmos a entrada? — Lily sugeriu virando a página.

— Minha garota. — James disse fazendo um sinal para o garçom mais próximo.

Logo após fazerem os pedidos, a senhora que estava jantando com seu marido já estava de saída, mas antes de ir, ela se aproximou de James e lhe tocou o ombro.

— Eu e meu marido achamos que você não fosse chegar nunca! Da próxima vez, trate melhor sua namorada, meu jovem. Se continuar dessa forma qualquer garanhão pode aparecer e tentar roubá-la de você.

Lily não sabia se ria ou se chorava para a senhora.

— Pode deixar, madame. Ela nunca mais será tratada dessa forma.

A senhora sorriu e foi embora. James virou os olhos para Lily e piscou por trás dos óculos. O celular de James vibrou no bolso da calça, ele o puxou para olhar a notificação e responder. Lily ficou olhando para ele por mais tempo do que deveria, queria entender o que deu naquele homem para ele estar fazendo aquilo por ela.

Os olhos de Lily foram em direção as mãos de James, não havia aliança ali, então provavelmente ele era solteiro… Queria saber o que ele estava fazendo no restaurante, já que não o havia visto em nenhuma mesa nessas três horas que estava ali.

James viu que Lily o olhava e sorriu discretamente para ela, passou a mão nos cabelos arrepiados e ajeitou os óculos que usava.

— Então, como foi sua semana?