All Out Of Love escrita por Jullie Santana


Capítulo 7
Segredos Revelados


Notas iniciais do capítulo

Olha ai os milagres de Natal acontecendo.



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Steve não dormiu àquela noite. Mesmo com seu corpo implorando por descanso, ele sabia que não conseguiria apenas fechar os olhos e deixar o sono leva-lo nem se quisesse. Foram dez anos longe de Tony, dez anos desejando poder toca-lo outra vez e sonhando com um futuro em que ele o deixaria segura-lo nos braços. Agora que, por um milagre do destino, ele estava finalmente ali, Steve não queria perder nem um misero segundo.

Ele passou a noite pensando. Elaborando em sua mente formas de dizer a Tony toda a verdade, resgatando cada mínimo detalhe particularmente doloroso do passado que tinha os levado até sua ruptura. Não seria fácil, Steve sabia. Ele só esperava que fosse o bastante para fazer Tony ficar. Convence-lo a lhe dar uma segunda chance, porque Steve mal tinha sobrevivido a primeira vez em que foi obrigado a deixar Tony para trás, ele não achava que seria capaz de passar por isso de novo, não depois de tê-lo em sua cama e em sua vida de todas as formas possíveis.  

Outra de suas muitas preocupações era o dispositivo mecânico no peito do moreno. Em uma análise superficial, o aparelho parecia bastante profundo. Completamente enterrado no meio do osso esterno de Tony. Ele fazia um leve zunido, fraco o bastante para que Steve sequer o notasse se ele não estivesse prestando atenção e, agora que Tony estava sem roupas, a luz azul fria que o aparelho emitia fazia pequenas sombras dançarem no rosto adormecido. Era lindo, com certeza. Mesmo com as cicatrizes rosadas e intrincadas que o adornavam, como uma pintura abstrata feita de tecido cicatricial.

Obviamente, Steve sabia que não havia qualquer possibilidade que Tony tivesse implantado aquilo no próprio peito apenas pela estética robótica alternativa.

A lembrança dos três meses em que o moreno passou no Afeganistão, alguns anos atrás, o atingiu como uma batida de trem. Steve havia passado todo aquele tempo em total e completa angustia, se arrastando pelos cantos e grudado nos canais de notícias para se atualizar sobre o caso. Foi um alivio gigantesco quando Tony finalmente apareceu na televisão, são e salvo, após todos aqueles dias de agonia e desespero. E, ainda que a equipe de segurança do moreno não tivesse deixado que Steve se aproximasse dele naquela época, apenas o vislumbre do homem de longe foi o bastante para acalmar seu coração. 

A verdade, era que todos eles tinham mudado muito naqueles dez anos. Todos eles passaram por coisas demais e tinham cicatrizes para provar isso. Steve só esperava que essas cicatrizes não fossem grandes nem profundas o bastante para mantê-los longe um do outro.

Tony se moveu em seus braços, virando-se em seu sono e enfiando o rosto no peito largo de Steve. Ele se esfregou ali, como se quisesse agarrar cada pequena parte do loiro e nunca deixa-lo ir outra vez. Como se pensasse que ele desapareceria a qualquer momento. Steve apenas apertou seus braços ao redor do corpo dele e distribuiu beijos pelo cabelo fofo e encaracolado a sua frente.

Não demorou muito para que Tony percebesse que aquilo não era um sonho e, finalmente, despertasse. Os olhos castanhos pareceram confusos apenas por um instante antes de se localizarem e ele se moveu nos braços de Steve, fazendo com que suas ereções matinais roçassem uma na outra deliciosamente.

Steve enfiou o próprio rosto no cabelo de Tony e gemeu alto. Ele queria aquilo. Ele queria sexo matinal, caricias antes de escovar os dentes e punhetas desleixadas e sonolentas. Ele queria beijos de despedida e brigas bobas pelo controle remoto da televisão. Ele queria um anel em seu dedo e queria que todas aquelas pessoas que o cercavam em seu bar, dia após dia, soubessem que ele tinha dono. Que ele tinha alguém para quem voltar. Queria dormir todos os dias sentindo o peso de Tony em seus braços e acordar com os beijos preguiçosos dele em seu peito.

Steve queria Tony Stark. Seu homem. Seu marido. Seu amor.

E foi por isso que ele se afastou, deixando um moreno muito confuso para trás:

— Nós precisamos conversar, Tony. – A frase saiu muito mais firme do que ele mesmo esperava. – Antes que a gente caia nesse ciclo infinito de duvidas outra vez, eu preciso que você saiba de tudo o que aconteceu a dez anos atrás.

Tony suspirou e assentiu. As mãos dele agarraram a peça de roupa mais próxima, que coincidentemente era a camiseta de Steve, e ele a enfiou sobre a própria cabeça, sem se importar com o tamanho excessivamente grande.

Steve também colocou as próprias calças antes de se abaixar e puxar uma caixa de baixo da cama e empurrá-la para Tony. O baú era marrom escuro e maior que uma caixa de sapatos simples. A tampa estava ligeiramente deslocada, evidenciando o fato de que o objeto estava muito cheio.

O moreno abriu a caixa, a curiosidade se sobrepondo ao sono ainda em suas feições. Diversos envelopes se espalharam pelo colchão, cartas seladas que nunca tiveram qualquer chance de chegar a seu destino, logo abaixo era possível reconhecer diversos outros papeis e fotografias antigas.

— A primeira vez que seu pai veio me ver ele me falou sobre como ele estava interessado em reconstruir as relações com a família e sobre o seu distanciamento de casa... – Steve começou pelo que, ele pensava, ser o início do fim. – E, naquela época, eu sequer consegui pensar em como ele escolheu exatamente um horário que você, com certeza, não estaria em casa, para nos visitar...

Tony assentiu, as pontas dos dedos correndo pelas dezenas de envelopes endereçados a ele.

— A segunda vez que ele veio, ele me fez uma proposta... – Steve continuou, sentindo o gosto amargo daquela lembrança queimar em sua língua. – Eu havia descoberto que minha mãe tinha câncer apenas alguns dias antes, e ele se ofereceu para pagar todo o tratamento dela, se eu deixasse você.

— Mas o que diabos, Steve! – Tony largou as cartas na cama imediatamente, os olhos castanhos arregalados pela revelação.

— Foi pra isso que eu precisei daqueles sete milhões de dólares, porque o quadro dela estava piorando a cada dia e eu não podia deixar que nada acontecesse com ela, Tony... – Steve completou, tentando assiduamente não chorar apenas com as lembranças daqueles dias.

— Deu certo? – Tony perguntou, a voz tremendo, as mãos apertadas em punhos. – Sarah está bem?

— Sim. Seu pai pagou o melhor tratamento possível para ela e, assim que ela entrou em remissão, eu resolvi entrar para o exército para conseguir pagar de volta para ele cada centavo desse dinheiro, mas isso nunca aconteceu porque seus pais sofreram aquele acidente e então Bucky perdeu o braço e nós precisávamos de dinheiro para o tratamento e quando nós pedimos dispensa do exército, a gente precisava começar um negócio para nos manter... 

— Foi por isso, não foi? – Tony questionou, a voz mais sombria do que Steve já havia ouvido em toda sua vida. – Eu li sua ficha militar Steve, foi por isso que você se ofereceu como cobaia para os testes militares que te fizeram crescer...

— Esses documentos são confidenciais.

— Foda-se, Rogers! Você aceitou a chantagem desumana do meu pai para pagar o tratamento do câncer da sua mãe e depois deixou que o exército fizesse testes em você, como se você fosse um maldito rato de laboratório só para tentar pagar de volta o dinheiro daquele desgraçado. – Tony se levantou da cama, a raiva queimando em cada uma das palavras enquanto ele procurava as próprias roupas espalhadas pelo quarto e se vestia. – Foda-se você e a sua moral de merda!

— Tony, por favor... – Steve levantou-se também, a conversa não estava indo da maneira como ele esperava, mas ele faria qualquer coisa para fazer Tony ficar, implorar era apenas o começo disso.

— Eu teria dado esse dinheiro para você a qualquer momento! – Tony continuou gritando e abotoando as próprias calças. – Eu teria cuidado de vocês dois, mas você simplesmente não pode confiar em mim!

— Não foi assim, – Steve o cortou, tentando se aproximar do moreno. – Não foi assim e você sabe muito bem disso.

— Então me diz como foi, Steve! – Ele finalmente parou, os braços descendo ao lado do corpo, sua voz quebrou e os lábios tremeram quando as lagrimas finalmente transbordaram dos olhos castanhos. – Me explica porque eu passei dez anos da minha vida pensando que o homem que eu amo era um maldito caçador de ouro enquanto ele estava no exército tentando se matar apenas para conseguir dinheiro e pagar o monstro do meu pai!

Steve finalmente chegou até ele e o puxou para seu peito, apertando os braços no corpo do homem menor, tentando confortá-lo, enquanto o mundo dele desmoronava.

— Me explica, porque eu acabei de descobrir que a minha família de merda destruiu minha vida de muito mais maneiras do que eu pensei inicialmente e eu não sei lidar com isso, Steve. – Tony soluçou alto, a cabeça enfiada no peito de Steve, a voz quase irreconhecível. – Me explica, por favor...

Steve firmou o corpo de Tony enquanto e o segurou enquanto ele chorava, tudo o que ele queria naquele momento era absorver a dor do moreno, toma-la para si. A culpa o corroeu, como uma floresta em chamas.

— Não chora, por favor Tony. Eu era jovem e idiota e eu simplesmente não sabia o que fazer, meu amor, me desculpa. – Steve disse no cabelo dele, seus próprios olhos se encheram de lágrimas e ele apertou ainda mais o outro homem contra si. – Eu não consigo ficar sem você, Tony, os últimos dez anos tem sido um inferno para mim, por favor, por favor, me perdoa.

— E-eu preciso ir. – Ele disse enquanto se afastava em direção a porta. Os sapatos e a própria camiseta deixados para traz.

— Tony...

— Por favor, Steve, eu só preciso de um tempo pra pensar. – Ele não se virou enquanto falava.

— Espera, só... – Steve correu até a cama e enfiou os envelopes de volta na caixa antes de fecha-la outra vez. – Leva isso com você, ok? Elas são suas, sempre foram...

Os braços trêmulos aceitaram a caixa e sem dizer outra palavra Tony se foi, fechando a porta suavemente atrás de si. E Steve desmoronou, os joelhos batendo no chão e as lagrimas caindo sem qualquer controle enquanto seus dedos puxavam o próprio cabelo.

Tony tinha saído de sua vida outra vez, e ele simplesmente não sabia como seguir em frente a partir dali.  

 


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Notas finais do capítulo

Me contem o que estão achando da história, tá?