All Out Of Love escrita por Jullie Santana


Capítulo 2
Voltar para casa


Notas iniciais do capítulo

GENTE, EU ESQUECI QUE TINHA POSTADO ESSA FANFIC AQUI, DESCULPA

Boa leitura.



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Tony estacionou seu Tesla Roadster vermelho no meio fio da rua movimentada do Brooklyn para a qual seu GPS o havia trazido e pegou a pasta de documentos no banco do carona antes de descer do carro. O vento fresco do fim da tarde desalinhou ligeiramente seus cachos cor de chocolate enquanto ele caminhava até a calçada do outro lado da rua. O local em que estava era um sobrado de tijolinhos vermelhos com escadas de incêndio pintadas em um tom escuro de vermelho queimado serpenteando pelas laterais e enormes portas francesas de vidro colorido em forma de mosaico. Logo acima da porta, um letreiro simples e artisticamente pintado dizia “Comando Selvagem” e, por algum motivo estupido, o nome do local fez com que um calafrio estranho subisse por sua espinha.

Ele respirou fundo algumas vezes e apertou a pasta entre os dedos. Já fazia uma semana desde que Pepper havia entrado em seu escritório com as notícias sobre seu atual estado civil e desde então, sua vida havia se resumido a reuniões intermináveis com advogados desesperados e noites em claro, tentando inutilmente não mergulhar a caixa de memórias cuidadosamente lacrada dez anos atrás. Tudo o que ele queria no momento era resolver aquela bagunça e voltar a sua vida normal.

— Eu consigo fazer isso, é só entrar lá, entregar a pasta para ele e sair. Simples. – Encorajou-se em voz alta e respirou fundo outra vez antes de empurrar a porta do pub.

Por um momento, pareceu que Tony havia entrado em uma brecha no espaço tempo e voltado direto para os anos cinquenta. Toda a decoração do local era feita em madeira escura e objetos retrô, desde as canecas altas até os moveis artisticamente esculpidos. As paredes estavam lotadas de fotos de pin up’s e artigos esportivos que pareciam gastos e, de alguma forma, amados. Uma garota de cabelos escuros e batom vermelho e um homem negro estavam tomando cerveja sentados em banquinhos altos e atrás do longo balcão de madeira polida, uma mulher ruiva arrumava canecas de vidro.

— Desculpe senhor, nós ainda não estamos aber-... Você é Tony Stark? – A mulher ruiva pareceu chocada por um instante.

— Sim, esse sou eu. – Ele se aproximou e estendeu a mão para ela através do balcão. – Você é?

— Natasha Romanoff. – Ela se recompôs imediatamente e apertou a mão dele, firme e breve, como o aperto de mãos de um homem de negócios bem sucedido. – Em que posso ajuda-lo, senhor Stark?

— Hum, eu preciso falar com Steve Rogers... – Tony respondeu, mas soou mais como uma pergunta do que uma afirmação em si.

Não lhe passou despercebido o momento em que uma sombra dura de desconfiança se instalou nas feições de Natasha. Ela o encarou outra vez, analisando desde suas roupas casuais caríssimas até a pasta de papel pardo em suas mãos e ergueu uma das sobrancelhas interrogativamente por um instante ou dois.  

— Steve, tem alguém aqui querendo falar com você. – Chamou através das portas de madeira atrás do balcão, sem tirar os olhos do visitante nem por um segundo.

Tony moveu o peso do próprio corpo desconfortavelmente através de uma perna para a outra. O casal sentado no bar o estava encarando abertamente agora e de repente o ambiente parecia muito escuro e abafado. Ele respirou fundo da maneira mais discreta possível e apertou a pasta ainda mais em seus dedos. Ele poderia fazer isso. Já faziam dez anos, pelo amor de deus.

Só percebeu que havia parado de prestar atenção ao ambiente quando a porta de madeira se abriu e o homem alto e loiro veio através dela.

Inicialmente, foi como estar preso em um sonho estranho ao algo parecido. O homem que veio da cozinha, enxugando as mãos em um guardanapo branco, não tinha a menor possibilidade de ser seu Steve. Ele era, pelo menos, quinze centímetros maior que Tony, ombros largos acompanhados de braços musculosos, coxas que poderiam esmagar sua cabeça facilmente e uma barba completa e bem cuidada. Com um suspiro de alívio, Tony pensou que talvez Jarvis tivesse cometido um erro em suas buscas. Talvez houvesse mais de um Steven Grant Rogers (descendente de irlandeses, com a idade compatível e que já viveu em Boston), no mundo. Talvez esse cara fosse apenas um homônimo. O pensamento lhe trouxe uma sensação estranhamente agridoce ao peito, o cara era, com todo certeza, muito gostoso, mas ele não era o homem que quebrou seu coração. Consequentemente, também não era o homem que ele havia amado mais que tudo no mundo.  Só então, Tony finalmente olhou para o rosto dele por trás de todo o pelo facial e seu mundo desmoronou outra vez.

Steve paralisou no meio do caminho entre o balcão e a cozinha.

A boca ligeiramente aberta e os olhos azuis tão claros quanto o céu em um dia de verão, que Tony não poderia esquecer mesmo tentando ativamente por anos a fio, presos em Tony, como se não acreditassem nem por um segundo na própria visão.

— Tony? – Foi apenas um sussurro, mas pareceu ecoar por todo o bar, como um copo de vidro se estilhaçando no instante em que toca o chão.

Apenas um palavra. Um nome. O nome dele. Mas soou como a resposta para uma oração feita todos os dias à muito tempo. Ou talvez, Tony estivesse apenas ouvindo o que diabos ele queria ouvir.

— Oi, Steve... – E quando foi que a voz dele começou a se parecer com essa coisa crua e quebrada?

E então Steve estava se movendo, com os olhos presos em seu alvo, mãos estendidas e passos firmes. E quando os braços dele embalaram Tony em um abraço apertado com os dedos longos de uma de suas mãos embalando a base da cabeça dele, enroscando-se nos fios de cabelo curto em sua nuca, lágrimas instantaneamente encheram os olhos de Tony Stark, porque ele ainda o segurava como se ele fosse seu mundo inteiro. E ainda cheirava exatamente igual a dez anos atrás. O mesmo perfume amadeirado e masculino, um pitada de tinta óleo e Steve. O cérebro de Tony sempre associou aquele exato lugar, com os braços envolvidos em torno de si e o cheiro dele enchendo suas vias respiratórias, à estar verdadeiramente feliz.

Segurança.

Lar.

Apenas ali, preso naquele momento, que mais parecia um lapso temporal dolorosamente familiar, Tony teve a realização tardia de que ele não podia fazer isso.

Ele. Não. Podia.

Não agora.

Talvez nunca.

Porque seu coração ainda amava Steve Rogers mais do que jamais amou qualquer outra pessoa em toda sua vida. E isso não era justo. Principalmente porque, ele sabia que isso nunca iria mudar.

Tony respirou o cheiro de Steve outra vez antes de se afastar o mais delicadamente possível, colocando uma distância segura entre seus corpos e o sorriso, que costumava usar o tempo todo com a imprensa, em seu rosto.

— Jesus Cristo, Steve. Quando foi que você duplicou de tamanho? – Sua voz ainda parecia frágil, mas era tudo o que ele poderia fazer no momento.

Steve franziu o nariz diante da visão de seu sorriso falso, os olhos azuis analisaram Tony desde o cavanhaque bem aparado até os sapatos italianos extravagantes.

— Eu tive um surto de crescimento depois de ir para o exército. – Ele deu os ombros.

Como se isso explicasse qualquer coisa sobre o fato de que a aparência dele havia mudado completamente desde a última vez em que Tony o tinha visto na quitinete deles em Boston. Quando Steve terminou com ele sem lhe dar sequer uma chance de resposta e foi embora. Quando ele arrancou o coração de Tony do peito sem pensar duas vezes e o deixou lá, sangrando no chão.

Melhor não pensar sobre isso no momento. Melhor não pensar também no porque Steve teria ido para o exército quando ele tinha sete milhões de dólares disponíveis em sua conta.

O som de alguém limpando a garganta tirou os dois da nevoa de pensamentos na qual ambos haviam entrado. A garota de cabelos escuros e batom vermelho brilhante estava olhando para os dois, braços cruzados sob o peito e uma das sobrancelhas arqueada em questionamento obvio. As bochechas de Steve coraram quase instantaneamente.

— Pessoal, esse é o Tony, nós... hum... nós nos conhecemos quando eu vivia em Boston. – Ele gaguejou apressadamente. – Tony, esses são Sam Wilson, Peggy Carter e Natasha Romanoff, eles são meus amigos desde a época em que eu estava no exército. Natasha trabalha aqui, ela e Bucky são casados.

— Jesus Cristo, James se casou? Eu tenho quase certeza em que estou preso em algum tipo de universo alternativo, não é possível. – Tony gracejou e sorriu para os três amigos de Steve que ainda pareciam bastante confusos sobre tudo o que estava acontecendo. – Bom, é um prazer conhecer todos vocês e tudo, mas eu vim até aqui por um motivo, nós poderíamos conversar em particular, Steve?

— Claro, você pode vir comigo até o meu escritório, nós podemos conversar lá.

Steve guiou o caminho até uma pequena sala na parte de trás do pub. Lá dentro, pilhas de papeis estavam organizadas sobre a mesa de madeira e um computador, bastante antigo na opinião de Tony, mostrava pequenas bolhas coloridas pulando na tela de descanso. Não havia janelas, mas o pequeno ar condicionado e o duto de ventilação no teto faziam um ótimo trabalho mantendo a temperatura do ambiente amena.

— Olha, Steve...

Foi cortado abruptamente quando os braços musculosos o envolveram outra vez em um abraço apertado. A cabeça de Steve se encaixou na curva de seu ombro e o peso dele fez com que Tony desse um passo para trás, apoiando suas costas na porta de madeira enquanto Steve respirava em seu pescoço. Sua mão desocupada, involuntariamente, agarrou-se na barra da camiseta dele e o doce perfume de ‘voltar para casa’ o envolveu outra vez.

— Eu não consigo acreditar que você está realmente aqui.

As mãos grandes subiram para o rosto do moreno e ele uniu suas testas, como costumava fazer quando eles ainda eram um casal. Só que, dessa vez, os olhos azuis estavam cheios de lagrimas não derramadas e palavras não ditas.

Tony sentiu vontade de gritar os próprios pulmões para fora.

Ele não entendia porque aqueles olhos pareciam tão sincero e doloridos enquanto o olhavam. No fim das contas, foi Steve quem foi embora. Foi Steve quem o deixou. Mesmo sabendo que Tony faria qualquer coisa por ele. Sete milhões era um preço baixo a se pagar. Tony lhe daria muito mais apenas para poder vê-lo acordar ao seu lado todas as manhãs, com seu cabelo loiro adoravelmente bagunçado e suas mãos firmemente envolvidas em torno do corpo de Tony (porque não importava o quão pequeno Steve era, ele sempre foi a ‘colher maior’ quando eles dormiam na mesma cama).

O toque macio dos lábios de Steve o tirou de seu devaneio. A pasta de papel pardo em sua mão caiu no chão e espalhou os papeis de divórcio por todo o chão da sala, mas nenhum deles se importou. O que começou com um toque experimental se transformou rapidamente em um beijo quase desesperado. Steve tinha gosto de sal (quando foi que ele começou a chorar?), amor, saudade, arrependimento e todas as coisas mais dolorosamente bonitas do mundo.

Suas mãos agarram as coxas de Tony e o suspenderam, fazendo com que seus quadris se encaixassem e o ângulo de suas bocas se tornasse mais confortável. Tony por sua vez enrolou suas pernas ao redor do corpo de Steve e mergulhou os dedos nos cabelos loiros dele, eles estavam mais longos que antes, mas tão macios quanto ele se lembrava. A barba de Steve formou um delicioso rastro de aspereza enquanto ele descia seus beijos pelo pescoço de Tony e o marcava com seus dentes e língua. Através das roupas apertadas, ambos já podiam sentir suas ereções crescentes encaixadas na junção dos quadris. Steve apertou-o ainda mais contra a porta de madeira.

— Tony, amor, por favor...

Foi aquela palavra que tirou Tony de seu transe de excitação. Amor. Só Steve o chamou assim em toda sua vida. Só ele. E aquilo doía mais que qualquer outra coisa.

Ele desenroscou suas pernas dos quadris de Steve e o empurrou, mesmo sabendo que qualquer distancia que tenha conseguido foi uma concessão do outro. Tony não era fraco, mas chegava a ser ridículo comparar sua própria força a da montanha de músculos que Steve havia se tornado.

— Não. Steve, não. Eu não posso fazer isso. – Ele permaneceu com os braços esticados, mantendo o outro homem a distância. – Nós não podemos fazer isso.

— Tony...

— Não! Eu vim até aqui porque eu preciso que você encontre um advogado e eu preciso que você assine os papéis de divórcio. – Tony gesticulou para os papéis espalhados no chão, seu olhar vagando desesperadamente através da sala, evitando os globos azuis de Steve.

— Papeis de divor-... Tony, o que isso quer dizer?

— Tinha... tinha uma clausula de validação automática a partir do momento em que a lei permitisse o casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos. Eu-... nós. Nós não sabíamos. Tínhamos que ter ido até o Canadá e solicitado o divórcio naquela época, mas a gente não fez isso.

Steve ficou pálido por um instante, as palavras, ainda que confusas, se encaixando em sua cabeça. Os olhos dele foram direto para os papéis espalhados pela sala e o entendimento clareou em seus olhos.

— Isso... isso significa que nós somos oficialmente casados nos EUA agora?

— Sim... o estado da Califórnia, é lá que eu vivo agora, validou os documentos há uma semana. Nós... hum... nós precisamos resolver isso.

— Você se lembra do que você me disse naquela noite? – Os olhos azuis o encararam novamente, determinação brilhando abertamente.

— Steve...

— Você se lembra?

— Eu-... eu não...

— Você me prometeu, enquanto eu ainda estava dentro de você, você me prometeu que você nunca iria me deixar assinar qualquer papel de divórcio na vida. Você me disse que você só seria completamente feliz quando nós fossemos legalmente casados nos Estados Unidos, porque só ai você poderia gritar para o mundo inteiro que eu era seu. – Steve repetiu as palavras de Tony naquele dia quase perfeitamente. – Você prometeu.

— Foi você quem me deixou dez anos atrás, Steve! – Tony gritou, sua garganta parecia apertada e seus olhos ardiam. – Você foi o único que pegou o dinheiro que meu pai te ofereceu e foi embora! Você foi o único que me deixou Steve! Eu te amava! Eu faria qualquer coisa por você! Foi você quem me deixou!

— Tony, você tem que me ou-...

— Eu não tenho que fazer nada! Eu não te devo nada, Steve! – Tony abriu a porta atrás de si e se agarrou a maçaneta. – Arrume um advogado, Steve, Pepper, minha assistente pessoal, vai entrar em contato com você nos próximos dias.  

Tony saiu correndo da sala e atravessou cegamente o pub, sem dedicar sequer um olhar para os amigos de Steve, parados no balcão. Steve veio logo atrás dele, ainda tentando chamar sua atenção.

— Tony, por favor, eu só preciso que você me ouça por um seg-...

— Não, Steve! Arrume um advogado, isso não é uma opção.

— Tony?

Ambos se viraram em direção a voz. James Barnes estava parado ao lado do balcão, os cabelos escuros agora eram longos e estavam amarrados em um coque samurai e uma das mangas de sua jaqueta estava amarrada com um nó, exatamente no lugar onde o braço esquerdo dele deveria estar.

Tony encarou o espaço vazio do membro perdido por alguns instantes antes de subir seus olhos até os olhos cinzentos e o sorriso hesitante do homem.

— James, o que-...?

— Eu tive um acidente com uma mina terrestre enquanto estávamos no exército. – Ele deu os ombros ligeiramente. – Acontece. Mas o que você está fazendo aq-...

— Eu tenho que ir.

Tony não tinha qualquer dúvida de que se ficasse ali por mais um minuto, aquelas pessoas estariam de volta a sua vida em um instante. Ele sabia que não era forte o bastante para mantê-los afastados.

Ele correu para fora do pub e entrou em seu carro antes que pudesse fazer algo realmente idiota. Como concordar em ouvir o que Steve queria lhe dizer, por exemplo. Enquanto dirigia para fora daquela rua no Brooklyn, viu Steve olhando para ele da calçada, através do retrovisor. Havia um brilho determinado nos olhos dele, uma força de vontade que Tony conhecia muito bem. Ele sentiu um arrepio subir por sua nuca. Tudo o que ele esperava era que essa parte da personalidade de Steve tivesse mudado também.

Aparentemente, Tony não tinha tanta sorte.   


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Notas finais do capítulo

Comentem o que estão achando e não desistam de mim, tá?
Beijos.



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