O conto da raposa escrita por Solline


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olá~
Quase esqueci de postar o capítulo de hoje hihihi
Boa Leitura!



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Fiquei um tempo parada. Pensando.

Dessa vez o que me despertou foi o barulho da minha barriga. É eu estava com fome.

Olhei ao redor e decidi comer ali mesmo. Parecia ser o lugar mais seguro. Bem iluminado e nenhum animal parecia se aproximar dali.

Sentei-me na grama e abri o embrulho que minha avó havia feito. Sanduíches de frango, biscoitos de nata e uma garrafinha térmica com chá de hortelã. Foi o que encontrei. Sorri grata por minha avó saber dos meus gostos tão bem.

Comi calmamente. Meu plano era só sair dali quando o sol estivesse nascendo.

Era.

Mal tinha terminado de comer quando vi que a raposa havia voltado e dessa vez trazia consigo um pedaço do javali, mais especificamente, uma de suas coxas.

Aquilo me causou um pouco de náusea e curiosidade.

A raposa se deitou e fez sua refeição silenciosamente, de quando em quando, alternava seu olhar do pedaço de carne para mim. E por algum estranho motivo, seu olhar não me incomodava.

Ela parecia me vigiar. Ou talvez estivesse pensando em como iria me devorar no café da manhã.

Mas o fato era que eu não sabia se iria conseguir voltar para o vilarejo viva, ou pelo menos não muito machucada.

Suspirei cansada.

— Ah! Que noite longa. – Reclamei inclinando minha cabeça para o lado enquanto observava a raposa passar a língua pela boca limpando os resquícios de seu lanche.

Levantei-me. Juntei minhas coisas e coloquei minha mochila nas costas. Eu tinha me decidido.

Caminhei lentamente em direção à raposa que parecia me analisar cuidadosamente, porém não se levantou nem sequer se mexeu:

— Eu quero viver. Eu quero voltar para o vilarejo. Eu nem dei meu primeiro beijo ainda. Eu não vou morrer, não aqui, não agora. – Falei em alto e bom tom chamando a atenção da raposa, que se sentou e, quem a visse de longe poderia confundi-la com um enorme cachorro ou lobo. – Me deixe ir. – Parei frente a frente aquela raposa monstruosamente grande. Seu olhar pareceu novamente me analisar por um instante.

Ela emitiu um som parecido com um bufar e se levantou.

Começou a andar vagarosamente e eu não soube o que fazer. Sempre diziam que raposas não são confiáveis ou leais como os cães. De repente ela parou e me olhou:

— Quer que eu te siga? – Questionei perplexa.

De alguma forma ela parecia me entender.

Ela voltou a caminhar ainda devagar. Dei meus primeiros passos para dentro da floresta novamente, hesitante.

No começo eu estava andando mais atrás e com toda a desconfiança que existia em meu ser, porém após uns bons minutos caminhando comecei a me sentir mais segura. De vez em quando ela virava o dorso, me olhava e se voltava para frente.

O caminho era diferente do que eu tinha feito antes. Não me lembrava de ter passado por aquela área, mas aquele caminho me pareceu menos assustador.

Não havia tantas árvores grandes e o chão tinha de fato um caminho feito por um tipo de areia:

— Será que podemos fazer uma pausa? – Perguntei um pouco sem ar. O céu já começava a ficar claro, sinal de que tínhamos andado por mais de quatro horas. Ela parou e me analisou por um tempo, por fim sentou-se ali mesmo onde havia parado. – Obrigada. – Agradeci sob seu atento olhar.

Sentei-me ali mesmo também. De frente para a raposa. Abri minha mochila e retirei a garrafinha de água que havia levado. Tomei quase toda. Também comi duas barras de cereal que tinha colocado na mochila para alguma emergência.

Todos os meus movimentos foram acompanhados pelo olhar atento da raposa:

— Você é algum tipo de espírito protetor da floresta? – Questionei desconfiada. Ela desviou o olhar para o céu. – Talvez um guardião enviado pelos espíritos? – Ela olhou-me e pareceu-me incrédula com minha segunda opção. – O que? Não me olhe assim. Só estou tentando entender.

Não tente.

Senti meu coração parar por um instante:

— Você falou? – Minha voz quase não saiu.

Não exatamente. — Observei sua boca e ela não se mexeu. – Está mais para comunicação telepática, ou algo assim.

— Eu realmente devo ter comido algum cogumelo venenoso. Eu já morri não é? Esse caminho pelo qual está me guiando é para o céu?

Que? Hã? Não e não. Uau. Você é inacreditável.

— Eu? Eu devo estar é louca. Estou ouvindo a voz de uma raposa na minha cabeça.

Ei, não seja assim. Estou te levando de volta para o vilarejo, seja grata.

— Mas que caminho é esse afinal? Andamos duas vezes mais do que eu andei ontem e não vejo sinal do vilarejo!

Hã? Você só caminhou até um terço do caminho ontem! Se eu não tivesse aparecido e te levado até o altar você não teria conseguido fazer a oferenda a tempo! — A raposa se levantou e em um segundo estava com o focinho quase grudado no meu rosto.

— Como assim? Ah, eu estou cada vez mais confusa. – Suspirei frustrada.

Esquece. — Se afastou tão rápido quanto se aproximou. – Vamos logo, ou você só chegará lá perto do meio dia. — Mal terminou sua frase e já estava caminhando outra vez.

— Me espera. – Levantei rapidamente e corri brevemente para lhe alcançar. – Você tem um nome? – Perguntei após alguns minutos de silêncio.

Heitor.

— Nome humano. – Murmurei ligeiramente surpresa.

Sim. Algum problema com meu nome humano? — Ele pareceu meio irritado.

— Não. É bonito e combina contigo. – Tentei ser agradável, afinal, ele tem me ajudado muito desde ontem.

Que seja. Ande mais rápido humana.

— Grosso. Eu sou Sienna.

Não perguntei.

— Grosso.

Continuamos andando por cerca de mais meia hora quando percebi que o caminho estava cada vez mais livre de vegetações e a claridade do sol mais presente. Após mais alguns minutos eu já podia ouvir barulhos familiares, os sons vinham do vilarejo.

Repentinamente Heitor parou:

— Por que parou? – Observei-o sentar-se elegantemente.

O vilarejo está logo à frente. Continue seguindo reto e em alguns minutos estará em sua casa. — Ouvir tão claramente a voz dele em minha cabeça ainda era bizarro.

— Entendi. – Ajeitei a mochila em minhas costas. Queria perguntar várias coisas, mas me faltava coragem. – Então... Até algum dia. – Parei ao seu lado e mesmo sendo muito tentador não me atrevi a acariciar seus belíssimos pelos avermelhados.

Até. — Sua despedida foi curta e grossa, o que não me surpreendeu muito.

Sem muitos rodeios voltei a caminhar em direção ao vilarejo, dessa vez sozinha, porém ainda podia sentir o olhar dele sobre minha pessoa até certo ponto. Assim que sai da área da floresta aquela sensação de estar sendo observada sumiu.

Virei-me para a floresta e senti um vento gelado vindo dela, porém a luz do sol que iluminava as folhagens e o cantar dos pássaros dava aquela visão uma sensação mais calorosa do que eu me lembrava de sentir antes.


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Notas finais do capítulo

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Beijos no coração e até o próximo capítulo ♥!



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