—Que barulho é esse? – Noah perguntou colocando as mãos sobre o ouvido.

—Estão quebrando a parede para arrumar o encanamento. – Bella abraçou os filhos. Sempre que eles voltavam da escola, ela os abraçava bem forte para ter a certeza de que eles estavam bem e seguros.

—Legal. Podemos ajudar? – Max jogou a mochila no chão e estava a caminho da cozinha quando Bella o impediu.

—Nem pensar. Quero os dois longe da cozinha.

—Ah, mãe, por favor. Deixa a gente ajudar. Vai ser legal.

—Vocês podem se machucar e não queremos ninguém machucado ou queremos? – perguntou cruzando os braços.

—Não. – responderam juntos.

—Ótimo. Vamos deixar os meninos cuidarem disso então. – pegou as mochilas dos filhos para guardar.

—E eu mamãe? – Claire estava parada entre os irmãos.

—A senhorita também vai ficar longe da cozinha. – apertou o nariz dela a fazendo rir.

—Vamos comer onde? – Max olhou em volta procurando um lugar para sentar.

—Por enquanto na sala. – os três comemoraram. – Mas não se acostumem com isso. – os alertou. Os pais dela não a deixavam comer assistindo TV e ela tentava fazer o mesmo com os filhos.

—Mãe, o Edward vai ficar muito tempo aqui? – Noah sentou ao lado da mãe que tinha voltado ao trabalho.

—Até a reforma acabar, por quê? Está com medo de ele machucar vocês? – ele deu de ombros. – Não precisa se preocupar querido. O que aconteceu ontem, não vai mais acontecer. Edward passou por muita coisa e tem alguns problemas, mas vai ficar tudo bem. – garantiu dando um beijo nos cabelos dele.

—Não é por isso. – ele balançava o pé. – Posso tomar banho? Estou suado. – apontou para as roupas que estavam grudadas no corpo dele. Mesmo sendo inverno, os meninos estavam vermelhos e suados

—Vou perguntar ao Edward se já pode ligar o registro, mas enquanto isso... Vão fazer o dever lá na sala. Só não ligue a TV. – gritou para Max que já tinha saído em disparada com Claire atrás dele. – Ei, Noah. – segurou a mão dele. – Qual o problema?

—Nenhum problema mamãe. – Bella percebeu que ele escondia algo.

—Está incomodado com a presença do Edward? Posso pedir para ele ficar em outro lugar. – ela deveria ter conversado com as crianças antes de impor aquela situação.

—Não! – Noah se apressou em negar.

—Então o que é? Sabe que pode falar qualquer coisa. – o incentivou. Bella queria que os filhos fossem sinceros com ela e que não escondessem nada.

—Eu gosto que ele esteja aqui. Assim não ficamos sozinhos e ninguém vem nos perturbar.

—Está falando do Jacob? – ele balançou a cabeça concordando e Bella o abraçou. -Ele não vai mais nos perturbar. Pode ficar tranquilo. – prometeu o apertando mais.

—Edward vai nos proteger? – Bella afastou um pouco para que pudesse olhar o filho nos olhos.

—Acha que não posso nos proteger? – ela sabia que não deveria ficar magoada com aquilo, mas tinha ficado.

—Não é isso, mãe. É que você é menina e as meninas não são muito fortes. – explicou segurando o rosto dela.

—Noah, quero que se sinta seguro comigo. Posso ser uma menina, mas sei como nos proteger e não vou deixar ninguém machucar vocês. Se alguém tentar, dou uns golpes ninjas nele. – fez cócegas no filho.

—Sabe golpes ninjas? – perguntou rindo.

—Vou aprender. – e ela aprenderia. Se os filhos não se sentiam seguros, ela faria de tudo para mudar aquilo. Queria vê-los bem e felizes. – Agora é hora de fazer o dever.

—Certo. – ele deu um beijo estalado na bochecha da mãe.

—Que susto. – Bella levou as mãos ao coração ao dar de cara com Edward parado no batente da porta.

—Desculpa. Não queria ouvir a conversa de vocês. Só vim avisar que terminamos por hoje e que já pode abrir o registro.

—Ah, que ótimo. Os meninos precisam de um banho. Vou preparar um lanche para vocês.

—Não precisa. Emmett e Jasper já foram e eu estou bem.

—O que achou deles? – ela começou a juntar algumas roupas.

—O grandão é bem palhaço e o Jasper é mesmo bem calado, mas gostei muito deles. Você tem bons amigos, Bella. E espero que saiba que sou um deles. – Edward aproximou dela.

—Você ouviu tudo? – ela evitou olhar para ele.

—Estavam falando do cara que encontramos ontem na loja de construção?

—Sim, mas não se preocupe.  – colocou as roupas em uma caixa e foi até a cozinha. – Caramba. – assobiou vendo metade da cozinha destruída.

—Sinto muito pela bagunça, mas assim que a cola secar ajeitaremos tudo.

—Tudo bem. – garantiu ainda sem olhar para ele.

—Certo. Não vou te pressionar, mas estarei aqui caso queira desabafar. – murmurou a deixando sozinha.

Bella suspirou irritada consigo mesma. Ela queria poder contar tudo a Edward, mas não queria parecer uma donzela indefesa que não consiga cuidar sozinha dos próprios filhos. Ela já havia dado um jeito em Jacob e esperava que ele nunca mais se aproximasse dela ou das crianças. Ela se arrependia amargamente de ter se envolvido com ele e prometeu que não cometeria o mesmo erro.

[...]

—Posso pagar uma bebida para linda senhorita? – Bella estava sentada em um bar, Alice havia se oferecido para ficar com as crianças para que ela pudesse sair e se distrair um pouco. Ela havia mudado há dois meses e só fizera amizade com Alice, que era vizinha dela e Rosalie, amiga de Alice. Já estava na hora dela fazer novas amizades e de preferência da idade dela. E se fosse do sexo oposto, lindo, alto e moreno, ela não se importaria nenhum pouco.

Talvez fosse a bebida falando, ela não costumava aceitar investida de estranhos, na verdade, ela riu com o pensamento, a única investida que havia aceitado foi a do marido, quando ela tinha 14 anos e ele 17. Ele foi o único namorado dela e mesmo após a morte dele, ela não conseguia se livrar da sensação de que se envolvesse com outro, estaria o traindo. Respirou fundo para conter as lágrimas que rolariam a qualquer momento. Hoje completava oito meses da morte dele e Bella estava muito sensível.

—Pensei em aceitar, mas não sou uma boa companhia hoje. – respondeu olhando para o fundo do copo vazio.

—Então você está com sorte, boneca, porque eu sou uma excelente companhia, todos os dias e noites. – a cutucou com o ombro e Bella o olhou de canto. Ele era realmente muito bonito e musculoso. – Jacob Black, ao seu dispor. – estendeu a mão e Bella a apertou com força.

—Isabella Adams, digo, Isabella Swan. – havia voltado a usar o sobrenome de solteira. – Mas pode me chamar apenas de Bella.

—Lindo nome. – ele piscou e ela corou. Não sabia como flertar e deveria dar um fim naquilo, os filhos precisavam dela e já tinha bebido demais. – Ei Peter, mais duas.

—Ah não. – Bella pegou a bolsa. – Tenho que ir.

—Mal começamos a conversar. – ele a segurou pelo braço. – Fique só mais um pouco.

—Não posso. Meus filhos estão com a babá e não posso... – ele fez uma cara de decepção e Bella parou de falar. – Obrigada pela gentileza.

—Você é casada? – perguntou ainda segurando o braço dela. Bella tentou se livrar do aperto dele.

—Viúva. Pode me soltar? – ele soltou e a olhou com interesse.

—Só uma bebida. Acho que sua babá pode ficar mais alguns minutinhos. Tem quantos filhos? – perguntou fingindo interesse e Bella voltou a sentar.

—Três. – ele olhou espantado para ela.

—Quantos anos você tem? – ela parecia ser tão jovem para já ter três filhos.

—Tenho 24. Engravidei quando tinha quase 17. – explicou e ele passou a língua sobre os lábios fazendo um julgamento errado sobre ela.

—Você disse que era viúva? Sinto muito por isso. Você é nova por aqui? Achei que conhecesse todos os moradores de Forks.

—Mudei tem dois meses só. Não saio muito de casa. – respondeu virando o copo de cerveja. Jacob ergue as sobrancelhas, então ela era a moradora nova que todos estavam comentando. Ele não deu muita importância quando ouviu o burburinho, as pessoas da cidade tendiam a falar muito e a julgar todos, mas se ele soubesse como a nova moradora era, teria ido dar as boas vindas há muito tempo. Talvez não fosse muito tarde para isso.

—Será que sua babá não pode passar a noite por lá? Assim podemos ir para um lugar mais tranquilo ou fazer um tour pela cidade. – ela piscou várias vezes com a ousadia dele. Mas o fato de estar há dois anos sem ninguém a fez pensar duas vezes na proposta dele.

Olhou para a aliança dourada e a retirou. Ela não era mais uma mulher casada, seu marido havia morrido e ela estava sozinha, carente e se um cara aparentemente simpático estava interessado nela, ela aproveitaria. Seria apenas sexo sem compromisso e ninguém precisaria saber daquilo. Ligou para Alice e ela apenas riu e a lembrou de usar camisinha, o que fez Bella corar e Jacob sorrir quando ela disse sim.

Jacob a levou para casa dele e foi bem gentil. Ela pensou que talvez eles pudessem repetir a dose e já estava pronta para convidá-lo para um jantar, quando ouviu uma conversa no mercado entre duas senhoras.

—E ela tem três filhos. Que exemplo que está dando para eles? – falou horrorizada.

—Sabia que não prestava desde a primeira vez que coloquei os olhos nela. Muito estranha. – estalou a língua em sinal de reprovação. – Dizem que ela não tem marido, e também não trabalha. Como sustenta aquela casa?

—E você já viu a bagunça que é? – as duas riram e Bella encolheu atrás de uma prateleira. Estariam falando dela?

—Vocês viram o vídeo? Jacob Black filmou tudo e está mostrando para quem quiser ver. – a caixa do supermercado se intrometeu na conversa das senhoras.

—O quê? Que absurdo! Como deixam uma pessoa assim morar na nossa cidade? Não sei como os Brandon e os Hale deixam as filhas deles se envolverem com alguém desse tipo. Eu teria medo das minhas filhas ficarem faladas também.

Bella deixou as compras de lado e saiu correndo de lá assustando as três mulheres. Ela não ligava para o que falavam dela, mas não aceitaria que Jacob tivesse feito aquilo com ela.

[...]

Ela tentou fazê-lo apagar o vídeo e ele concordou, mas impôs uma condição, a de que ela ficasse com ele novamente. Bella deu um tapa no rosto dele e foi até a polícia denunciá-lo, mas eles disseram que não poderiam fazer nada, pois ela estava bem consciente no vídeo e portanto, consentido com tudo. Ela ficou horrorizada, não só pelo descaso deles, mas por eles terem visto o vídeo também. Pensou em ligar para o pai, ele era policial e poderia ajudá-la, mas ficou com medo de ser julgada por ele e resolveu apenas ignorar. Logo achariam outra coisa para se preocuparem.

Era só manter distância de Jacob Black e fingir que nunca o conheceu. Ela se sentia culpada, não deveria ter se envolvido com ele. A tática dela deu certo por algumas semanas, as pessoas ainda cochichavam quando ela passava, mas os filhos nunca descobriram o que aconteceu e ela estava aliviada por isso.

As perseguições começaram um tempo depois. Jacob estava disposto a ficar com ela novamente, e começou a mandar fotos, flores e até mesmo bilhetes ameaçadores. Bella passou a sair de casa apenas em último caso e Alice era quem levava os meninos para escola. Ela sabia do vídeo, mas não das ameaças, ninguém sabia na verdade. Ficou com medo de ir até a polícia, eles não a ajudaram uma vez, por que ajudariam agora?

Talvez Noah estivesse certo e Edward pudesse ajudá-los com isso. O garoto não sabia das ameaças, mas sabia que a mãe tinha medo de Jacob, ela tremia toda vez que o via. Edward poderia ensiná-la algumas coisas, como atirar por exemplo. Ela ainda guardava a arma do marido, mas não sabia como usá-la. O pai sempre se negou a ensiná-la e a fez jurar que jamais usaria uma arma. Na época ela concordou, mas as coisas eram diferentes agora e ela precisava de proteção.

Não tinha a intenção de atirar em Jacob Black, a menos que ele ameaçasse a vida dela ou dos filhos. Sim, ela pediria para Edward ensiná-la a atirar e auto defesa também. Não viveria mais se escondendo e muito menos deixaria que os filhos fossem amedrontados. Estava na hora de assumir o controle e deixar de ser a caça. Só esperava que Edward concordasse e que não a julgasse.

 Ela riu ao imaginar o que as pessoas estariam falando sobre ela agora. Que se danassem as pessoas. Ela sabia que não estava fazendo nada de errado. Edward estava apenas os ajudando, e apesar de parecer ser totalmente diferente de Jacob, ela não se envolveria com ele. Eles eram apenas amigos, apenas de se conhecerem apenas há dois dias, mas dessa vez ela estava completamente lúcida e ciente de suas ações. Ele era do bem e não faria mal a eles, não intencionalmente pelo menos. Lembrou do incidente com Max.

—Ah, querido. – falou olhando para o alto. – Sinto tanto a sua falta, você saberia o que fazer. – teve vontade de chorar, não só pela saudade do marido, mas pela bagunça enorme que estava à cozinha e a vida dela.  – Será que pode me ajudar? – perguntou ainda olhando para o alto.

—Falando sozinha? – Edward perguntou aparecendo atrás dela a assustando.

Bella sorriu e agradeceu o marido. Ela não acreditava em vida após a morte, mas acreditava que de alguma forma, Jeff estava cuidando deles e havia mandado Edward para fazer o trabalho por ele.