Bella aproveitou a quietude da casa para sentar a mesa munida de papel, caneta, calculadora e uma grande xícara de café. Adiou aquele momento o máximo possível, mas agora com a reforma no fim, ela precisava analisar as finanças e traçar um plano para recompor o saldo bancário dela. Ainda estavam no azul, mas por muito pouco, se não fosse pela ajuda sutil de Edward com as despesas, ela certamente já estaria no vermelho. Ele vinha fazendo pequenas compras, de forma que quando ela percebeu, já era tarde demais e não tinha como fazer as devoluções e ele não aceitava o reembolso.

—É só um presentinho para as crianças. Olha como eles estão felizes. - Ele falava coisas do tipo e que a deixava sem alternativas a não ser aceitar as ofertas dele.

—Um videogame de última geração não é só um presentinho. - Resmungou vendo os filhos se acotovelando para decidir quem jogaria primeiro.

—Foi de segunda mão. - Ela olhou para a caixa que estava lacrada há poucos minutos e depois para ele. - Só os deixe ficar com ele, por favor. - Fez um bico e ela balançou a cabeça derrotada. Ele aprendeu muito bem com as crianças a fazer aquela cara que amolecia o coração dela por completo.

—É o último presente. - Soou ameaçadora e ele apenas virou e foi se juntar às crianças.

—Sem brigas. Vamos decidir no sorteio. - Bella balançou a cabeça com a cena e seguiu para preparar um lanche para eles.

—Por que não me pediu para parar? - Bella levou as mãos ao coração devido ao susto.

—Céus! Tinha mesmo que chegar assim de fininho? - Ela deveria estar bem concentrada para não tê-lo ouvido chegar.

—Você está quase no vermelho. Tem alguma outra reserva? - Ele pegou as folhas da bancada.

—A palavra chave é quase. Está tudo sob controle. - Puxou as folhas da mão dele. - Não se preocupe. Tudo vai se ajeitar. - Se ela repetisse aquilo mais vezes, se tornaria realidade.

—Eu posso… - Ele começou, mas ela o impediu de continuar.

—Se você falar que pode me dar dinheiro eu vou ficar muito brava. - O ameaçou levantando e reunindo as coisas.

—Tudo bem. - Ergueu as mãos se rendendo. Ele iria embora no final de semana e não queria brigar com ela.

—É sério, Edward. As coisas estão melhorando. Peguei algumas encomendas de vestidos de festa que vão render um bom dinheiro.

—Eu sei que você não gosta, mas, por favor, não hesite em pedir ajuda. - Bella estava de costas para ele e Edward se colocou atrás dela e começou a massagear os ombros dela a fazendo relaxar um pouco. - Vi que está tendo despesas com advogado, é pelo caso do Jacob? - Ele a sentiu ficar tensa.

—Não. Leah está cuidando disso. - Virou para olhá-lo. - Os avós deles ameaçaram pedir a guarda.

—O quê? - Edward foi tomado por uma fúria enorme.

—Foi exatamente assim que reagi quando soube. - O abraçou sentindo o conforto dele. - A advogada me tranquilizou e disse não há motivos para juiz nenhum atender ao pedido deles. Eles só queriam mesmo me assustar. Ainda acham que sou aquela garotinha, mas para o azar deles, eu cresci e estou bem mais forte.

—Vai ver eles só querem fazer parte da vida deles.

—Eles nem conhecem a Claire e viram os meninos pouquíssimas vezes.

—Nós mudamos. Talvez eles também tenham. - Depositou um beijo na testa dela.

—Eu nunca os impedir de verem os netos, manter distância foi uma decisão deles.

—Acho que deveria de ligar para eles e conversar. Vai ser bom para as crianças manterem contato com os avós. - Ele engoliu em seco lembrando que o sonho da mãe dele era ser avó.

—Vou pensar no assunto. - O trouxe para mais perto e ele riu. - Você é tão quentinho.

—Mãe! - Os dois se afastaram rápido ao serem interrompidos por Max. - Você tem que sair logo.

—Calma que já estou saindo. - Ergueu as mãos se desculpando. Fora solicitada a ela que passe o dia fora enquanto eles preparavam uma surpresa para ela. Bella aproveitaria para fazer algumas entregas. - Tem tudo sob controle? - Direcionou a pergunta a Edward.

—Aproveite o seu dia livre. - Aproximou dela e perguntou baixinho. - Alice vai mesmo ficar com as crianças na sexta?

—Vai sim. - Respondeu corando. Eles queriam passar um tempo a sós antes de ele ir embora.

—Contando os minutos. - Piscou e Bella riu. Ele costumava ser mais bem mais sério, mas nessa última semana ele andava bem brincalhão.

—Também. - Confidenciou mordendo os lábios.

—Mãe. - Max reclamou e ela pegou a bolsa em cima da bancada.

—Quanta impaciência.  - Beijou os cabelos dele. - Não aprontem e obedeçam ao Edward.

—Nós somos obedientes. - Noah gritou de algum lugar da casa.

—Amo vocês. - Gritou por sobre o ombro e foi a vez de Edward sorrir, ele sabia que a declaração também era direcionada a ele.

[...]

—O que vamos fazer papai? - Claire colocou as mãozinhas no ombro de Edward, que estava sentado no chão do ateliê de Bella.

—Vamos deixar esse lugar bem bonito para quando a mamãe voltar ficar feliz.

—Você vai deixar a gente ajudar de verdade? - Max estava louco para ajudar desde que a reforma começou. A bem da verdade, ele só queria fazer bagunça mesmo.

—É claro. Vocês três serão meus ajudantes hoje. - Ele queria passar um tempo a sós com as crianças também. Pensou em levá-los ao parque, mas não conseguiria ficar correndo atrás deles, então, preferiu mantê-los em um espaço menor onde poderia ficar de olho nos três ao mesmo tempo.

—Vamos usar capacete? - Não havia necessidade, mas se eles queriam…

—Posso usar isso? - Max ergueu o serrote e Edward o retirou rapidamente das mãos do garoto.

—Eu fico com essa parte. O que acham de pintar as paredes? - Ele já havia pintado o local de branco, mas achou que as crianças poderiam colocar um pouco mais de cor no local. Estendeu as capas de chuva para eles, não queria que eles manchassem as roupas, ou ao invés de ficar feliz, Bella ficaria furiosa.

—Vou desenhar um sol para a mamãe ficar feliz, aqui só chove. - Noah passou o pincel na tinta amarela. - Onde você mora chove muito?

—Não tanto quanto aqui.

—Podemos te visitar um dia? - Max pincelava com bastante vigor.

—Claro. - Ele torcia muito para que isso acontecesse logo. - Vocês vão amar a casa da árvore.

—Não fez a nossa. - Max fez um bico.

—Desculpe, mas eu vou construir uma para vocês, eu prometo.

—Então vai voltar? - Os olhos de Noah brilharam.

—Se vocês quiserem, eu volto sim. - Os três sorriram e Claire desistiu do método convencional para pintar a parede com as próprias mãos.

—Tá bonito? - As mãos e a capa de chuva dela estavam imundas, mas ela estava se divertindo muito e ele sabia que Bella não se importaria com mais nada.

—Está lindo, princesinha. Vamos lá galerinha, ainda temos que colocar os móveis.

[...]

Bella amou a surpresa e ficou muito emocionada com o gesto deles. Agora ela tinha um local apropriado para trabalhar. Eles jantaram e depois Edward saiu para se encontrar com Emmett e Jasper, os garotos também queriam se despedir dele. Combinaram de se encontrar em um bar no centro da cidade. Edward foi caminhando, aproveitando um dos poucos dias sem chuva.

—Aqui cara. - Emmett agitou os braços o chamando. O bar estava cheio e ele percebeu que deveria ser o ponto de encontro dos homens da cidade. Reconheceu alguns e acenos para eles, parou a duas mesas dos rapazes para cumprimentar o dono da loja de materiais de construção.

—Major Cullen, queria te apresentar ao prefeito da cidade, Billy Black. - Edward estendeu a mão no automático, então aquele era o pai de Jacob.

—Ouvir falar muito sobre você Sr. Cullen. - Billy o olhou de cima a baixo sem nem ao menos disfarçar.

—Ouvi falar um pouco sobre você também, embora tenha ouvido muito mais sobre o seu filho.

—Ele teve um pequeno desentendimento com a viúva. - Explicou como se aquilo não tivesse a menor importância.

—Eu não chamaria o que ele fez de pequeno desentendimento, mas agora posso entender um pouco do caráter dele. - Billy cerrou os punhos.

—Vejo que o senhor sabe muito como criar filhos.

—Não sei muita coisa, mas o meu pai me ensinou muito sobre como tratar uma mulher.

—Ela se deitou comigo porque quis. - Jacob parou ao lado deles. - E aproveitando, mande um recadinho a ela e diga que sei muito bem o que ela e as amiguinhas dela estão aprontando e é melhor pararem antes que se machuquem. - Jacob falava alto e Edward achou aquilo excelente, teria testemunhas.

—Está às ameaçando, Sr. Black? Você deveria de sentir vergonha, mas pelo que vejo, não tem o menor caráter.

—Só porque você está dormindo com ela acha que pode falar assim comigo? Você não sabe quem eu sou. Acabo com você em dois tempos. - Os homens se encaravam. Edward era um pouco mais alto que Jacob e já tinham ganhado peso o suficiente para retornar a boa forma, ele não se deixaria intimidar de forma alguma. Prometeu a Bella que não iria atrás de confusão e ele não estaria quebrando a promessa quando o atacasse.

—Você que não sabe quem eu sou. - Edward colocou a mão no ombro dele o empurrando. - Sou tenente condecorado e tenho vários contatos. Até hoje não intervir a pedido da Bella, mas se você ousar sequer olhar para ela novamente, não vou hesitar em acabar com a sua raça. E nem o seu pai, que é prefeito de uma cidadezinha esquecida, será capaz de te ajudar. Vai apodrecer atrás das grades e pagar por tudo o que fez. Você acha que ser homem é abusar de uma mulher? É se deitar com ela sem o consentimento dela? Ou sem ao menos ela estar consciente? - Ele sabia dos detalhes do processo que as mulheres abriram contra ele. - Você é um covarde, é apenas uma escória da sociedade.

—Pelo menos eu tenho as duas pernas. - Deu um empurrão em Edward que cambaleou ao perder o equilíbrio. Ele não ficou surpreso com as palavras dele, àquela altura todos já deveriam saber.

—Acha que tenho vergonha disso? - Por um tempo ele realmente sentiu vergonha, mas agora não mais. - Perdi minha perna enquanto salvava vidas, enquanto lutava pelo meu país. E o que você já fez de bom? Nada, porque não tem nada de bom em você. Não consegue nem ao menos reconhecer os seus erros e pedir perdão. E sabe o que é ainda pior? Vocês. - Apontou para as pessoas em volta. - Vocês apoiarem isso. A polícia não ter feito nada e você continuar passando a mão na cabeça do seu filho.

—Você não faz parte daqui, nós protegemos os nossos. - Billy retrucou.

—Se é assim que vocês tratam as mulheres, fico aliviado por não fazer parte daqui.

—Já falou demais, agora é hora de fazer você calar a boca. - Jacob pegou uma garrafa e a quebrou no balcão.

—Não Jake. - Billy o segurou pelo braço.

—Deixa Prefeito. - Jasper pediu ajustando a posição do celular. - As pessoas vão gostar muito de ver isso e ainda de saber como xerife daqui fecha os olhos para tudo o que Jacob Black apronta.

Os movimentos a seguir foram um tanto quanto confusos. Edward só se lembrava de num instante estar colado à parede e de no outro estar arrastando Emmett para fora do bar antes que atacasse mais alguém com o taco de basebol. Jacob partiu para cima de Jasper tentando arrancar o celular das mãos dele, mas já era tarde demais, Jasper já havia publicado o vídeo e estava sendo compartilhada pelos amigos. Temendo pelo amigo, Emmett atacou Jacob na barriga com o taco de basebol.

—Que loucura isso. - Jasper passou as mãos no cabelo. Os três estavam no meio da rua, ofegantes.

—De onde tirou aquele taco? - Perguntou levando os meninos para mais longe do bar.

—Quando vocês começaram a brigar, achei melhor pegá-lo para o caso das coisas ficarem feia. Tive treino hoje e acabei esquecendo ele no carro, que sorte hein? - Sorriu para os amigos.

—Agiu com inteligência ao gravar aquilo. - Os três desceram a rua e entraram em uma lanchonete.  

—Pensei que já que ele gosta tanto de gravar as pessoas sem o consentimento delas, seria bom retribuir.

—O melhor foi aquele chute que o Edward deu nele. - Emmett desabou na mesa e começou a rir. - Foi com qual perna?

—Não faço a mínima ideia. - Ele nem se lembrava de ter chutado Jacob. - Sinto muito por teriam sido expostos a violência.

—Fala sério. Oi amor. - Emmett deu um beijo na namorada.

—Por que estão vermelhos e suados?

—Não vai imaginar o que aconteceu. - Jasper deu um tapinha no banco a chamando para sentar e ver o vídeo.

—Caramba! - Foi tudo o que ela conseguiu dizer.

—Jacob vai querer revidar. - Jasper, agora, pensando com mais clareza, temeu pelo que pudesse acontecer.

—Relaxa cara. Juntamos nossas coisas e vamos todos morar em São Francisco. - Sugeriu abrindo os braços.

—Ele não será louco de fazer algo, mas se fizer me liguem na hora. Não estava brincando quando disse que tenho contatos.

—Não sabia que era major. Na verdade, você nunca contou sobre o exército. - Emmett parou de rir e o encarou.

—Vai pensando nas melhores histórias que já volto com um lanche para os meus três valentões.

—Vamos lá, Major, desembucha. - Jasper pediu se acomodando melhor na cadeira.

Edward suspirou e começou a contar. Ele não gostava muito de falar sobre as coisas terríveis que ele viu, mas também viu coisas boas e ajudou muitas pessoas e aquilo deveria ser lembrado e contado.