—Chegamos! - Bella anunciou e as crianças entraram correndo na casa.

—Sejam bem vindos ao lar. - Edward estava sorrindo, mas não era um sorriso verdadeiro e ela sabia muito bem disso. - A cozinha está liberada, por hora é claro. Se você topar fazer a reforma, quero mexer em algumas coisas lá. - falou sem muita emoção, ainda estava chateado com o que aconteceu mais cedo.

—Obrigada, Edward. - colocou as mochilas dos filhos no lugar. Pegaria os materiais de trabalho mais tarde, parecia que Edward queria conversar. - Noah, suba e tome seu banho e vocês dois podem assistir TV enquanto converso com o Edward, depois ajudo vocês a tomarem banho.

—Eu sei sozinho, mãe. - Max reclamou fazendo bico.

—Então pode ir. - ele subiu correndo as escadas atrás do irmão. - Fica aqui brincando, meu amorzinho, a mamãe já volta. - deu um beijo nela e foi até a varanda, onde Edward a esperava sentado no balanço.

—Conheci melhor o seu amigo, o Jacob. - saiu como uma acusação e aquela não era a intenção dele.

—Ele não é meu amigo. - retrucou irritada. - O que fazia de papo com ele?

—Não estava de papo com ele. - se defendeu e viu que ela tremia. - Ele me encontrou quando estava voltando para casa e veio pedir explicações, como se fosse seu dono. Conheci também o irmão dele, o Seth. - ela não o conhecia, mas já tinha ouvido falar dele, parecia ser uma boa pessoa, ao contrário do irmão.

—Ele tentou te machucar? - ela estava preocupada com o que poderia ter acontecido entre os dois. Jacob era um idiota e tinha o apoio de todos por ser o filho do prefeito e Edward apesar de ser um soldado experiente, não estava em sua melhor forma.

—Não. Só tentou colocar medo, mas eu não sou um covarde como ele.

—Fique longe dele, Edward, por favor. - implorou colocando a mão sobre a dele. - Ele é perigoso e não tem nada a perder.

—Não vou me deixar se amedrontado por um moleque qualquer. - retrucou. - O que ele fez a você? - passou a mão livre pelo rosto dela. - Pode me contar tudo, Bella, nós somos amigos.

—Pode me ensinar a atirar? - perguntou mudando de assunto e o pegando de surpresa.

—Como é? Por que quer aprender a atirar?

—Para me proteger e as crianças também. O mundo é perigoso, e é preciso fazer algo a respeito.

—Está pensando em atirar no Jacob? Acha que isso resolveria os seus problemas? - balançou a cabeça, incrédulo. Era por isso que ele não concordava com o porte de armas para civis. Eles não eram treinados e se deixavam levar pelas emoções. O que aconteceria se Bella fizesse algo do tipo? Ela iria para cadeia e as crianças ficariam desamparadas.  

—Não pretendo atirar nele, a menos que seja realmente preciso. - acrescentou baixinho.

—Essa não é a solução para os seus problemas. - precisava tirar aquela ideia absurda da cabeça dela, era muito perigoso.

—E qual seria? Continuar me escondendo e vivendo com medo? - encolheu no balanço.

—Pode me dizer o que está acontecendo e eu resolvo isso para você.

—Acha que não tentei resolver isso amigavelmente? E você não pode lutar as minhas batalhas. Vai ficar por pouco tempo, e o que vai acontecer quando estiver sozinha? Você não é nada meu para me defender. - levantou e ele a puxou para os braços dele.

—Eu sou seu amigo e vou te proteger, pelo tempo que for necessário. E saiba que lutarei contra qualquer um que ameaçar vocês. Se não quer me dizer o que aconteceu, respeito isso, mas não me impedirá de proteger vocês. - Bella se agarrou a ele e deixou que as lágrimas rolassem. Tudo o que ela precisava era de um abraço e de apoio. Ele deu tapinhas nas costas dela e deixou que ela desabafasse.

—Não tem que fazer isso. - murmurou ainda abraçada a ele.

—Eu sei, mas eu quero. - e era como se ele estivesse de volta ao exército. Tinha uma missão e um propósito e não desviaria o foco até garantir que eles estivessem em segurança.

—Você já tem feito muito por nós. - afastou um pouco, mas se manteve perto dele, queria sentir o calor e a proteção dele.

—Não, vocês que tem feito muito por mim. Eu cheguei aqui transtornado, Bella, com vários traumas e medos, e não que esteja curado, mas estou no caminho para alcançar isso. Agora eu sei que é possível voltar a ser quem eu era. No último ano, passei por alguns terapeutas e vários amigos e familiares tentaram me ajudar, mas eles não conseguiram fazer um décimo do que vocês fizeram por mim nesses últimos dias. Então não estou fazendo isso apenas por me sentir culpado pela morte do seu marido. Estou fazendo isso porque meio que estão se tornando a minha família e me preocupo com vocês. E eu protejo a minha família, não importa o preço.

—Você não existe, sabia? - o abraçou e se deixou ser confortada. Era bom ser a pessoa do outro lado da história. Estava tão acostumada a cuidar dos filhos que às vezes se esquecia de como era receber cuidados. Ela sentia tanta falta dos pais nesses momentos. Sabia que eles a apoiariam e cuidariam dela, mas ao mesmo tempo ela sentia que não era mais o dever deles fazer aquilo. Os dois tinham seus próprios problemas e não precisavam de mais preocupações. E Edward precisa? Ele já tinha problemas demais para ter que lidar com os dela, só que ela não sentia que estava sobrecarregando ele. A relação deles era meio estranha, porém, parecia que eles estavam ajudando um ao outro a superar os obstáculos.

—Posso garantir que existo sim e tenho outro assunto para discutir com você. - ela secou o rosto e fez uma careta. Sabia muito bem o que ele queria discutir.

—Quanto vai ficar essa nossa brincadeira?

—Tenho algumas propostas para você. - ele a conduziu para dentro de casa onde estava o caderno de anotações dele. - Pensei em fazer uma reforma completa, trocar piso, pintar a casa toda, construir um atelier de verdade para você. - ela sorriu ao ouvir aquilo. - Dá para quebrar a parede ao lado da escada, isso vai dar mais espaço e vamos conseguir fazer o atelier, um quarto para as crianças brincarem e manter a sala.

—Caramba! Você está mesmo levando isso a sério. - analisou os desenhos dele.

—Que vê mamãe. - Claire exigiu erguendo os braços.

—Olha como vai ficar o seu quarto, princesa. - apontou para o desenho e a pequena sorriu animada. Ela tinha um quarto, mas normalmente dormia na cama com a mãe.

—Sei que o seu orçamento é limitado, mas conversei com o dono da loja e consegui uns bons descontos.

—Como conseguiu isso? - ele nunca dava desconto algum para ela.

—Ele também é veterano de guerra e acabamos virando amigos. - sorriu meio tímido. - E eu posso te ajudar também, tenho uma boa… - Bella balançou a cabeça o interrompendo.

—Não vamos discutir sobre isso. Está tudo certo e como te falei, consegui novos clientes e vai dar para ganhar um bom dinheiro.

—Não que esteja duvidando da sua capacidade, mas não é muita coisa para você fazer sozinha? - apontou para a pilha de tecidos e sabia que ela havia trazido mais material.

—É bem puxado, mas eu dou conta, tenho que dar. E com um modelo masculino adulto vai ficar ainda mais fácil.

—Não sei se gosto dessa história de ser modelo. - passou as mãos no cabelo e Claire esticou a mão para tocar nos cabelos dele também. Bella e Edward estavam bem próximos e ela não precisou se esforçar muito. Edward a pegou no colo para facilitar ainda mais o trabalho dela. - Está gostando, é? - a cutucou e ela riu.

—Grande. - falou esticando uma mecha do cabelo dele.

—É. Definitivamente preciso cortar meu cabelo. - ele já havia se livrado da barba, mas até aquele momento estava incerto quanto a cortar ou não o cabelo. Ao que parece, Claire tomou a decisão por ele.

—Cortar. - concordou e os dois riram.

Quando Bella olhava para Edward e as crianças juntas, sempre imaginava o marido no lugar dele, mas naquele momento, ela só via Edward e Claire, nada da sombra de Jeff.

—Se controle Bella e não coloque tudo a perder. - resmungou baixinho indo preparar o jantar. Ela sabia que entre os dois não poderia acontecer nada além de amizade. Nenhum dos dois estava pronto para um relacionamento e não deveriam estragar o que estavam construindo apenas por alguns momentos de prazer. E não queria cometer o mesmo erro com ele, apesar de ter a certeza de que Edward seria incapaz de fazer o mesmo que Jacob.

—Então? - Edward a encarava esperando por uma resposta.

—O que disse? - balançou a cabeça espantando os devaneios.

—Perguntei se você pode cortar o meu cabelo. - apontou para a bagunça que estava o cabelo dele após a inspeção cuidadosa de Claire.  

—É claro. Vou dar um banho nessa garota aqui e depois corto o seu cabelo. - pegou a filha dos braços dele, precisava se afastar um pouco e colocar os pensamentos em ordem.

[...]

—Estou bonito agora? - Edward virou para que a plateia pudesse avaliar o serviço de Bella.

—Ficou melhor. - Max respondeu e Edward sorriu satisfeito. Ele se sentia melhor agora. Não era um corte militar, mas chegava bem próximo.

—Agora vamos à diversão. Meus modelos estão prontos? - Claire era a única animada para servir de modelo, mas os garotos colaborariam com a causa. - Não façam essas caretas, vai ser divertido.

—Não vai não. Você fica nos espetando e temos que ficar em pé um tempão. - Noah cruzou os braços e Bella teve que usar a sua melhor tática para alegrar os modelos.

—Vai ter sorvete depois. - piscou para eles e até mesmo Edward pareceu se animar com a oferta.  

—Se vai ter pagamento, então eu vou. - deu de ombros e os meninos o acompanharam.

—Tudo bem, mas não vou usar roupa de menina. - Noah alertou e Bella deu um beijo na cabeça dele.

—É verdade que vamos ter um quarto novo? - Max perguntou enquanto a mãe ajustava a barra da calça dele.

—Não vai ser novo, mas o Edward vai fazer uma reforma lá.

—Podemos escolher a cor do quarto? Ele tem cor de ferrugem. - Noah fez uma careta. Queria colocar uns desenhos no quarto, além dos adesivos que a mãe comprava para eles.

—Claro que podem. Será que dá para colocar uns papéis de parede também?

 -Ai. - Max reclamou ao ser furado pela mãe.

—Desculpa amor. - acariciou o local.

—Dá sim. Podemos encomendar uns pela internet, é mais barato e tem mais opções. - Edward balançou os braços fazendo as partes da fantasia soltarem.

—Não se mexa, você é uma árvore. - ele abriu a boca finalmente descobrindo o que era a fantasia. Estava certo que ainda não estava pronto e ele era só um amontoado de verde, mas pelos modelos de Bella, percebeu que ela tinha talento e deveria investir mais, poderia fazer muito mais do que apenas fantasias.

—Você faz outras roupas também?

—Só para as crianças e algumas peças para mim. Fiz vestidos para a Alice e Rosalie, para agradecer pela ajuda. Se quiser posso fazer algo para você também.

—Ah não. Não era isso que quis dizer. Acho que deveria investir e fabricar roupas normais. - ela riu e liberou Max.

—Prontinho querido. - ele correu para pegar a recompensa na cozinha.

—Dá mais trabalho e mais gastos também. Nas fantasias eu consigo utilizar materiais reciclados e aproveitar outras fantasias ou roupas. E não tenho nenhum curso para virar uma estilista.

—Mas tem talento e é isso que importa. - retrucou a ajudando a organizar o espaço, ele também foi liberado da função de modelo, por hora, é claro.

—Mas não é tudo. Eu sonhava em ir para faculdade e cursar moda, sempre gostei de costurar. Só que as coisas não saíram como o planejado. - sorriu indicando as crianças que estavam se lambuzando com o sorvete.

—Não foram planejados?

—Não. - Bella riu. - Noah foi gerado na minha primeira vez, isso que eu chamo de sorte. Como era a primeira vez, o Jeff disse que não corríamos nenhum risco. Eu era bem inocente na época e desinformada, então acabei acreditando. Umas semanas depois descobrimos como ele estava totalmente enganado. O Max e a Claire foram resultados das nossas comemorações por ele ter retornado em segurança para casa. A empolgação foi tanta que nos descuidamos. Não me arrependo de nada e amo os meus filhos, mas sei que teria sido melhor esperar um pouco mais. Tive que amadurecer de repente e mudar os meus planos. Vi meus amigos irem para faculdade e eu ficar em casa. Acho que as emoções deles não foram tão grandes quanto as minhas. - Ela suspirou ainda olhando para os filhos. Eles são tudo de mim e sou muito grata por isso.

—Dá para ver o quanto você os ama e faz de tudo por eles. Você é uma boa mãe, Bella.

—Bem, eu tento. - deu de ombros. - Podemos revisar aqueles desenhos? - indicou o caderno com a cabeça.

—É claro. Quer mudar alguma coisa? - queria que a casa ficasse do agrado dela e faria o que ela quisesse para vê-los bem.