Tudo de Mim escrita por Rayanne Reis
Notas iniciais do capítulo
Olá pessoal, tudo bem?
Essa fic já era para ter sido postado há um bom tempo, mas acabava que tinha outras ideias e ia a deixando de lado, mas agora aqui está e espero que gostem.
O barulho dos tiros e das bombas era ensurdecedor... Ele teve que se arrastar pelo campo molhado até chegar ao soldado ferido. Sangue escorria por toda parte e ele teve que colocar as mãos sobre a boca do soldado para que seus gritos não denunciassem a posição deles. Estavam em território inimigo e qualquer movimento poderia ser fatal.
—Calma, vai passar. - sussurrou olhando os ferimentos dele. Apesar de não ser nenhum especialista, ele tinha experiência em primeiros socorros e sabia que não havia nada a ser feito naquela situação. Seria preciso uma equipe e instrumentos adequados para tentar salvá-lo.
—Você precisa dizer a ela. - ele teve que inclinar para ouvir o que o soldado dizia.
—Você mesmo pode dizer. - tentou soar confiante, mas os ferimentos eram graves demais para que ele sobrevivesse e o soldado sabia muito bem disso. Os dois estavam em solo inimigo e provavelmente, nenhum dos dois sobreviveria por muito tempo.
—Não. Estou morrendo, mas você pode sobreviver. - tateou até encontrar o bolso da calça. - Aqui. - apontou erguendo o que parecia ser uma foto.
Ele a pegou das mãos trêmulas dele e abriu a foto dobrada. Ela estava amassada e suja, mas isso não o impediu de ver com nitidez os rostos alegres da família.
— Sua esposa e filhos? - perguntou abaixando a guarda e esquecendo onde estavam para se concentrar apenas no homem a sua frente.
—Sim... Minha família. - gaguejou e fechou os olhos por um instante. Ele estava tão quieto que parecia já estar morto, mas o som de sua respiração ainda mantinha a esperança de que eles pudessem encontrar ajuda.
—Vou te tirar daqui e os verá em breve.
—Eu não vou sair daqui vivo. - lágrimas escorriam por seu rosto e ele esticou as mãos para pegar a foto de volta. - Só quero vê-los uma última vez. - passou o dedo pela foto como se pudesse tocá-los realmente, a última vez que os tinha visto, fora há seis meses e ele não conhecia o pequeno bebê, foi chamado de volta poucos dias antes dela nascer. - Só queria ter a conhecido, é tão linda e se parece com a mãe. - falou admirado e depois, dando um último beijo na foto, a entregou para ele. - Diga a minha esposa que a amo.
—Não se preocupe com isso. – ele olhou em volta calculando as opções deles. Era um excelente estrategista, mas no momento, não conseguia pensar em nada. A cabeça dele latejava e o zumbido irritante não o deixava em paz e muito menos se concentrar.
—Não. - segurou a mão dele. - Você tem que dizer a ela, pessoalmente, por favor. Bella precisa saber que sempre a amei e que ela é a mulher da minha vida. E diga aos meus filhos que lamento não ter sido um pai presente, mas que isso nunca me impediu de amar cada um deles, mesmo a que nunca conheci. Por favor, prometa que dirá a ela. Ela tem que saber que eu acredito nela e que a amo. - ele pensou em mentir, mas não poderia fazer uma promessa a um homem a beira da morte e não cumpri-la.
—Eu juro que direi a eles. - prometeu apertando firme a mão dele, aquele era o mínimo que poderia fazer por ele: ficar ao lado dele. Sentou e manteve uma das mãos segurando a dele. Olhou para alto, enquanto no céu era pura paz, na terra era literalmente pura guerra.
— Qual o seu nome? – tentou ver a patente dele, mas os olhos dele não conseguiam mais focar com nitidez.
—Cullen. Edward Cullen. – respondeu pressionado o sangramento com mais força. Ele não poderia morrer agora. Ele não havia deixado um soldado para trás e não seria agora que isso aconteceria. Levantou e calculou o tempo que levaria para chegar a um lugar seguro.
—Salve-se Edward. E muito obrigado. Foi um prazer servir ao seu lado. – bateu continência e sorriu aliviado. Olhou para o céu estrelado, era uma linda noite e merecia muito mais do que a guerra que se desenrolava. Passou dias se lamentando, mas agora não era mais hora para isso. Fez tudo o que pode e sabia que a família ficaria bem. Bella saberia que ele a amou e que acreditava nela. Ela era forte e sobreviveria, assim como os filhos.
—Descanse em paz, soldado. – Edward sabia que eles não poderiam atravessar o campo e sobreviver. Suspirou derrotado e voltou a sentar. Agora só restava esperar...
[...]
1 ano depois...
Ele não imaginou que levaria tanto tempo para cumprir sua promessa, mas finalmente tinha encontrado a casa certa, pelo menos torcia para que fosse. Ela era pequena e havia duas bicicletas de crianças jogadas no jardim, além de vários outros brinquedos. Desordem foi o primeiro pensamento que lhe veio à mente.
Tomando cuidado para não pisar em nada, ele caminhou com lentidão até a varanda e ouviu gritos vindo de dentro da casa, seus instintos diziam para que ele avançasse e corresse para ajudar quem quer que estivesse lá dentro. Mas foi freado ao perceber que não eram gritos gerados por perigo real. Aproximou-se da porta e tocou a campainha três vezes e já estava a ponto de desistir quando a porta foi aberta por uma mulher morena, completamente despenteada e com as roupas sujas e amassadas.
—Graças a Deus você chegou. - a mulher ofegou e ele a olhou confuso.
—Estava esperando por mim? - balbuciou olhando em volta. Como ela poderia saber que ele estava indo vê-la? Ele mesmo só soube que estava indo para a pequena cidade de Forks, na manhã anterior. Havia desistido de cumprir sua promessa há muito tempo.
—É claro que sim. Liguei faz horas. Vocês não sabem o significado da palavra urgente? - resmungou dando as costas para ele. Meio hesitante, ele a seguiu pelos corredores.
Se o lado de fora era uma bagunça, a palavra mais próxima que ele encontrou para descrever o interior da casa era caos. Havia mais brinquedos espalhados e várias roupas empilhadas e jogadas pelo sofá e cadeiras. Ele teve que sufocar um grunhido de choque ao ver o estado da cozinha.
—Eu sei, está uma bagunça, mas só ignore e foque no seu trabalho. Seja rápido, por favor. Tenho que dar banho nas crianças. - ele a olhou ainda sem entender do que ela estava falando. - O vazamento da pia. - ela estalou os dedos, próximo ao rosto dele para chamar sua atenção.
—Acho que está me confundindo, senhora. - murmurou olhando com nojo para o cômodo em que estavam. Aquele lugar o lembrava dos precários alojamentos em que ele ficou durante o tempo de guerra.
—Você não é da empresa de encanamento? - gemeu ao constatar que seu problema não seria resolvido tão cedo. - Que merda, e agora? - cruzou os braços frustrada.
—Posso dar uma olhada para você. Onde é o vazamento? - ele não poderia deixar que aquela situação se prolongasse e ela parecia tão perdida que ele se compadeceu do sofrimento dela.
—Por favor. Preciso da água para arrumar as crianças para irem à escola.
—Tem alguma ferramenta? - pediu dobrando as mangas da camisa.
—Tem uma caixa no porão, meu marido que usava, mas não faço a mínima ideia do que tem lá. Vou pegar para você. - avisou saindo correndo e o deixando sozinho na cozinha. Ele balançou a cabeça, como ela podia ser tão ingênua e o deixar sozinho na casa? E se ele fosse um maníaco? Ou um estuprador? Ela tinha filhos pequenos, deveria ser mais cuidadosa.
—Quem é você? - ele se virou e deu de cara com um garoto que arrastava uma manta pelo chão. Os olhos dele estavam inchados, provavelmente de tanto chorar, já que seu rosto estava manchado.
—Ele vai consertar a água, querido. - ela avisou colocando a pesada maleta em cima da mesa.
—Estou com fome, mamãe. - choramingou estendendo as mãos para que ela o pegasse no colo.
—Vou preparar cereal, o que acha? - ela fez cócegas nele o fazendo soltar gritinhos animados. - Vai levar muito tempo? - perguntou o tirando do transe.
—Vamos ver. - ele procurou na maleta até achar a ferramenta certa e depois com cuidado, se enfiou debaixo da pia. - Que bom que fechou o registro ou estaria tudo inundado aqui. Vou colocar uma venda aqui para resolver o problema por hora, mas vai precisar trocar todas as peças aqui debaixo.
—Droga, lá se vai o dinheiro para seu casaco novo. - cutucou o filho e ele fez um bico de desapontamento. – Mas a mamãe vai fazer um para você, vai ficar lindo.
—Não deve ficar muito caro. - tentou tranquiliza lá. - Posso trocar para você, é só comprar as peças que dou um jeito.
—Obrigada, você é um anjo, sabia? - sorriu para ele e colocou o menino na cadeira. - A propósito, se não é da empresa de encanamento, o que faz aqui?
Ele se mexeu desconfortável no lugar e passou as mãos no cabelo sem saber como começar aquela conversa. Imaginou aquele momento por diversas vezes, mas agora, de frente para ela, não sabia o que dizer.
—Mamãe. - foram interrompidos pelo choro de uma criança menor. Era uma menina que trazia em seus braços um ursinho esfarrapado.
—Oi amorzinho. - ela o pegou no colo e começou a balança- lá pela cozinha, até que ela se acalmasse. - Então, o que faz aqui? - perguntou o encarando.
—Tenho um recado do seu marido para vocês.
Ela colocou a criança no chão e se apoiou na cadeira para não cair.
—Do meu marido? - gaguejou respirando com dificuldade.
—Sim. Ele pediu para que dissesse algo a vocês.
—Como? Ele morreu tem um ano. - puxou a cadeira para se sentar. Aquilo deveria de ser algum tipo de brincadeira de muito mau gosto.
—Estava ao lado dele quando ele morreu. – revelou e ela teve que segurar na mesa ou acabaria desmaiando.
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O que acharam?
A Bella é uma boa mãe, mas ainda está bem perdida sem o marido e aconteceram várias coisas na vida dela e ela ainda não conseguiu se adaptar completamente.
Será que o Edward vai só dar o recado e cair fora? E por que levou tanto tempo para encontrá-los? Alguém já arrisca uma teoria?
Espero que tenham gostado e nos vemos em breve.
Bjs.