A Bastarda de Lily Potter - LIVRO 1 escrita por thaisdowattpad


Capítulo 5
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Capítulo Cinco
A Visita.

Assim que o carro parou e o motorista desceu, Tori apertou o rosto contra o vidro para espiar. Sua boca se abriu tanto, que não soube explicar como seu maxilar não rompeu.

Nunca gostou de julgar as pessoas pelo o que elas possuíam de bens, mas o tamanho da casa de Abigail parecia explicar o motivo que a fazia ser tão esnobe.

— Vai descer ainda esse ano, esquisita? — a voz impaciente da menina a trouxe de volta a realidade.

— Sim, me desculpa. — Tori enfim se moveu e saiu do carro — Obrigada pela carona, senhor! — agradeceu ao motorista.

— Não precisa agradecer, sua tapada. Ele é pago para isso! — resmungou Abigail.

— Ele é pago para sua função. Mas a minha, que é ser educada, é de graça e não faz mal a ninguém. Devia tentar, Abigail. — rebateu Tori, saindo andando em direção à porta de entrada.

Antes mesmo que as duas chegassem à porta, uma mulher um pouco corpulenta, de cabelos dourados e sorriso simpático surgiu para recebe-las.

— Que bom que chegaram, meninas. Tem um café da manhã delicioso esperando vocês! — avisou, com uma animação que era estranho ver logo pela manhã.

— Ela veio para o almoço e não para todas as refeições, Marie! — Abigail revirou os olhos.

— Que simpática sua mãe, Abigail. E muito bonita também! — elogiou Tori, indo de encontro a mulher e fazendo um comprimento de damas da idade média.

— Ela não é minha mãe, sua esquisita! — dito isso, ela entrou rapidamente para dentro de casa.

Tori ficou encarando a porta, com sobrancelhas erguidas. Não sabia o que havia dito de tão grave para a menina surtar. Mas vindo de quem era, devia estar acostumada.

— Você deve ser Victória, certo? — perguntou Marie.

— Só Tori. É mais prático, senhora Marie! — corrigiu e sorriu.

— Está certo, Tori. Vamos entrar para tomar café. — tocou o ombro da menina e a guiou para dentro.

Tanto quanto fora da casa, dentro era a coisa mais espetacular que Tori já vira. Nunca reclamou em viver na simplicidade, mas não podia negar que era uma casa muito bonita.

— Eu sou tia, madrinha e babá de Abigail, além de governanta dessa casa. Apesar de madrinha significar quase a mesma coisa, ela detesta que pensem que sou mãe dela. Então a reação dela foi comum, não tem nada a ver com você! — Marie explicou enquanto elas seguiam para a sala de jantar.

— Acredite, foi pior por ter sido dito por mim. — riu da própria sorte.

Elas chegaram à sala de jantar, onde Abigail mexia em um laptop e parecia entretida.

— O que falei sobre mexer em eletronicos na mesa de refeição? — reclamou Marie, se aproximando da menina.

— Eu não estou comendo. Estou de dieta. — respondeu Abigail.

— Mas você tem visitas e ela vai comer! — Marie fechou e tomou o laptop.

— Ei! — protestou ela.

— Não se preocupe, senhora Marie, eu não me importo em não ter a atenção da Abigail. Pode deixar o laptop com ela. — Tori se intrometeu.

— Você não se importa, mas eu sim! — respondeu Marie — Depois, mocinha. — encarou a afilhada.

— Que droga! Cadê a mamãe? Por que é você que está aqui, e não ela? — resmungou a menina.

— Problemas de última hora na empresa. Como se você não estivesse acostumada... — resondeu a mais velha.

— O quê? Ela fez de novo? Argh! Que se de visitas! — grunhiu Abigail, batendo as mãos na mesa e saindo correndo dali.

— Ela está ficando esperta conforme a rotina... — Marie sorriu desconfortável — Sabe que a mãe convida as pessoas porque só assim para alguém vir. — suspirou.

A adulta fez um gesto em direção a uma das cadeiras, onde a convidada o entendeu e se sentou. Ela foi servida com um enorme copo de suco.

— Mas Abigail vive rodeada de amigas na escola. — estranhou Tori.

— Conveniência e amizade são duas coisas diferentes. Você vai aprender isso com o tempo, Tori.  — explicou a mais velha.

— Eu seria amiga dela sem esperar nada em troca. Mas como você pôde ver, ela não deixa... — encolheu os ombros e bebeu um gole de suco — Senhora Marie, por que ela é assim? Eu nunca entendi direito, mesmo tendo experiência com o insuportável do meu primo Duda. — perguntou.

— É uma defesa, eu acho. Ela não vê o pai desde o divórcio e a mãe trabalha quase o tempo inteiro. Então Abie é praticamente sozinha nessa casa inteira. E por causa do gênio difícil que passou a ter não pode contar com nenhuma amizade para fazer companhia... Isso só piora as convulsões dela. — Marie parecia prestes a chorar, pois parecia amar muito a sobrinha apesar dos apesares.

Então era por isso que Abigail estava sempre na ofensiva. Ela tinha tantas dores internas que essa era sua maneira de se defender, de tentar mostrar ao mundo que ela estava bem, mesmo não estando.

— Eu vou ser amiga dela! — Tori pulou da cadeira, determinada — Querendo ou não, vai ser minha amiga. Vou ser durona e ela vai ter que me aceitar! — ficou ereta em uma tentativa de parecer mais alta.

Em vão.

— Subindo a escada, a terceira porta do corredor. — indicou Marie, tão sorridente que dava para ver todos os dentes.

— Com lic... — parou para beber todo o suco do copo em um gole só — ...ença! — continuou e saiu correndo.

Subiu pela extensa escadaria e foi para o corredor, contando a quantidade de portas até chegar na terceira. Dali em diante viu outras e tentou imaginar para que servia todas elas, se provavelmente havia apenas uma criança, sua mãe e a tia, ocupando apenas três deles.

Voltando ao foco, Tori abriu e entrou no quarto de Abigail devagar. A menina estava jogada sobre a cama, com o rosto escondido em travesseiros e parecia chorar.

— Abigail? — a chamou.

— Quem te deu o direito? Saia daqui, esquisita! — berrou Abigail, ainda com o rosto nos travesseiros.

— Que lindo isso, você reconhece minha voz... — tentou brincar para animar a menina.

Podia ser a pior pessoa do mundo, mas ainda assim Tori não conseguia dar as costas ao sofrimento de ninguém.

Como resposta em sua tentativa de quebrar o gelo, Abigail pegou e jogou um ursinho em direção à Tori, que desviou a tempo. O brinquedo acertou uma pilha de Cds e Vinil's e os derrubou no chão.

— Boa mira! — elogiou, enquanto se abaixava para apanhar os objetos.

Enquanto juntava tudo, Tori percebeu que o gosto musical de sua colega era idêntico ao seu. Muitos dos artistas ali ela costumava ouvir quando a tia saía e ela podia usar o rádio.

Então uma ideia surgiu em sua mente. O fato de dançar mal deveria servir para alguma coisa na ocasião.

Escolheu um dos CDs, teve a audácia de ir até o rádio e coloca-lo para tocar. Isso pareceu atrair a atenção da dona do quarto, que ergueu o rosto avermelhado e a encarou.

— O que pensa que está f... — foi interrompida quando sua visita aumentou o volume do rádio.

O som de Girls Just Wanna Have Fun estrondou o quarto, enquanto Tori começava a se mover e a dançar de maneira esquisita, como uma minhoca que havia acabado de ser tocada por alguém.

A complicada Abigail parecia irredutível. Apertava a expressão para nem se quer demonstrar um sinal de sorriso. Mas Tori não desistiu. Se aproximou da menina a chamando para dançar. Ela continuou no exato lugar, apesar de agora demonstrar dificuldade em segurar o riso.

— Anda, Abie... — a tratou com intimidade — Garotas tem que se divertir! — estendeu a mão para ela.

Então a coisa mais incrível aconteceu: Abigail se levantou e foi até o centro do quarto.

— Eu vou te mostrar como se faz! — e começou a fazer passos mais esquisitos ainda.

As duas meninas riram e dançaram por muito tempo, competindo quem era pior. Enquanto isso, Marie as espiava com um grande sorriso bobo e emocionado nos lábios.

Até que caíram na cama, exaustas demais para se quer se mover. Ficaram um tempo em silêncio, recuperando o fôlego, até Tori resolver falar.

— Abie... Abigail. — pensou em repetir o apelido, mas ficou receosa — Por que você estava tão chateada? — perguntou, querendo que a menina desabafasse.

— E é da sua conta, esquisita? — o humor péssimo da menina pareceu estar de volta.

Tori suspirou e ergueu o corpo para se sentar.

— Ok, foi mal... — Abigail também se sentou — Minha mãe fica convidando meninas da nossa escola com a desculpa que quer conhecê-las... Mas é uma desculpa dela para que eu tenha alguma visita. Eu não sou muito amigável, como você deve ter percebido... — deu de ombros.

— Nunca perceberia, se você não falasse! — ironizou Tori.

As duas riram juntas.

— Eu nem sei por quê sou assim, Tori. Quando vou ver, já estou estragando o dia de alguém. Com ofensas e ignorâncias... — suspirou a dona do quarto.

— É o seu jeito, oras. Mesmo me machucando às vezes, não é nada que dure muito. Tenho experiências com meus tios e primos, que só são simpáticos na frente das visitas. Esse vestido... — apontou para sua roupa — ...nem é meu. Eu não tenho nada tão bonito assim. Não faço ideia de onde minha tia tirou ele. Enfim, eu me acostumei com você, mesmo você me irritando muito! — sorriu.

— Eu te machuco? — Abigail perguntou.

— Sim, mas tudo bem... — assentiu Tori.

— Me desculpa. — abaixou a cabeça e suspirou — Eu não faço por mal... Ok, talvez eu faça. É que eu sempre te vejo bem, acabei tendo inveja porque pensei que você tivesse uma vida perfeita. Eu não conhecia o lado embuste dos seus parentes, pensei que eram a família perfeita que todo mundo conhece... — confessou ela.

— Credo, meus tios são conhecidos dessa forma? Que absurdo! — Tori começou a rir.

— Foi o que minha mãe disse... — deu de ombros outra vez.

— É uma grande mentira. Eles são tão esquisitos quanto eu! — ainda estava rindo.

A visita foi para perto da janela, observando o céu de Little Whinging, que estava azulado naquele dia. Mas algo a mais chamou sua atenção. Passou rápido e quase imperceptível, mas pode reparar uma ave sobrevoar a casa.

Uma coruja.

Agora poderia entregar a resposta da carta que havia recebido, e que estava guardada discretamente dentro de seu sapato.

— Ei, vamos respirar um ar lá fora? — sugeriu Tori.

— Vamos sim. Mas não estará tão diferente daqui. Já deve ter percebido que a casa é um pouco sem emoção... — encolheu os ombros.

— Não é não. Nunca pensei que fosse dizer isso a você, mas eu estou me divertindo! — Tori foi sincera, por incrível que pareça conseguiu mesmo se divertir.

— Se você diz... — Abigail deu de ombros, não acreditando muito naquilo — Vamos. — se levantou e foi para a porta.

Tori a seguiu.

◾ ◾ ◾

Para o azar e desespero de Tori, quando chegaram a área externa da casa não havia sinal algum de coruja.

Estaria tão ansiosa a ponto de ver coisas onde não tem?

— Bem legal, não é? Eu praticamente moro aqui no verão! — Abigail mostrava uma enorme piscina próxima ao jardim.

— Sim. — Tori respondeu, alheia.

Ainda estava a procura da coruja para a entrega.

— Tori, tem um OVNI subindo em sua perna! — a dona da casa testou.

— Isso é bom. — respondeu distraída outra vez.

Então fez-se um silêncio, onde se pode ouvir apenas um risinho discreto de Abigail. Isso, antes da menina correr e empurrar Tori para dentro da piscina, caindo junto.

Assustada com a queda repentina, a visita ofegou após cuspir um punhado de água e se desesperou com a carta que estava em seu sapato.

— ABIGAIL! — Tori gritou, irritada.

Mas a menina achava graça naquilo e continuou a rir.

— Quem manda ficar no mundo da lua? Bem feito! — riu mais ainda.

— Não tem graça! — nadou para a escadinha da piscina.

— Para mim tem sim. — gargalhou Abigail — Não está ótima a água? — perguntou, fazendo graça na água.

— NÃO! — grunhiu Tori, enquanto saía da água.

Foi até uma cadeira de sol e se sentou, tremendo tanto que não sabia dizer se era frio ou nervoso. Agora era certo que algo não queria que ela fosse para Hogwarts.

— Pensei que eu fosse a chata aqui. — Abigail surgiu e se sentou na cadeira à frente.

— Tem razão. — Tori respirou fundo e abriu um sorriso — Vamos voltar para a água e esquecer meu chilique, ok? — se levantou e foi para a borda da piscina.

Abigail nem respondeu, simplesmente saiu correndo em direção a piscina.

Antes que pudesse tirar completamente os pés do chão, a água da piscina saltou para cima, a jogando junto. Depois voltou para baixo e pouco antes de chegar completamente a piscina, abriu um espécie de buraco e engoliu a menina.

— Abigail! — Tori berrou e pulou na água, mesmo estando apavorada com o que seus olhos acabaram de ver.

Encontrou a colega no fundo, se debatendo e não conseguindo sair do lugar, como se algo a estivesse segurando ali. Tori nadou até ela e começou a tentar arrastá-la para a superfície. 

Em vão.

Seja lá o que fosse, era mais forte que ela.

Com o oxigênio limitado, Tori nadou para a superfície para buscar mais. Tomou o máximo que pôde e então voltou a mergulhar. Dessa vez voltou mais desesperada do que antes, pois sabia que Abigail não aguentaria por muito tempo. Foi até ela e tentou puxa-la diversas vezes, até ter de voltar mais uma vez para a superfície.

Agora o corpo de Abigail estava inerte e poucas bolhas saíam de sua boca. Um choro desesperado saiu da garganta de Tori, que tremia tanto que parecia em estado febril.

— Socorro! Pelo amor de Deus, alguém ajuda aqui! — berrou, tossindo logo em seguida — Não, não, não... — murmurou várias vezes enquanto apertava as mãos na borda da piscina.

Até que sentiu a água desaparecendo aos poucos. Virou o rosto e notou a piscina quase toda vazia. Não perdeu tempo e soltou da borda, pulando para dentro e correndo para Abigail.

Se abaixou e começou a chacoalhar a colega, que não se movia sozinha.

— Anda, Abie, acorda! — continuou a chacoalhar — Por favor, por favor... Por favor! — deu um forte aperto no peito da menina.

Então tomou um jato quente no rosto e pôde ouvir Abigail tossindo e ofegando forte. Não pensou em mais nada e a abraçou.

— Você está bem, Abie! — comemorou Tori, chorando e rindo ao mesmo tempo.

— Mas o que... O que vocês fizeram? O que aconteceu? Deus do céu! — Marie espiou o fundo da piscina e empalideceu.

— Tori tentou me matar! — Abigail respondeu, ainda com a respiração ruim.

— O quê? — a citada se afastou, chocada.

— Sai da minha casa, sua esquisita! Sai agora! — berrou Abigail, mais apavorada do que irritada.

— Abie, não fale asneiras! — Marie a repreendeu.

— Eu... eu... — Tori sentiu uma forte pressão em seu peito — Me desculpa por tudo. E-eu vou embora. Me desculpa. — foi para a escada da piscina e saiu.

Antes de seguir para a saída, recebeu um toque de ombro de Marie, que parecia não acreditar no que a sobrinha havia dito. Tori se afastou do toque e seus olhos encheram de lágrimas.

— Eu sinto muito... — chorou e saiu correndo dali.

◾ ◾ ◾

Tori correu tanto, que ao chegar na Rua dos Alfeneiros pensou que seus pulmões fossem explodir. Parou por um momento, apoiando as mãos nas coxas, e chorou mais ainda.

Algo surreal havia acontecido diante dos seus olhos, diante e com Abigail e não sabia dizer se a acusação da colega era tão sem fundamento assim. Se havia recebido um convite para estudar em Hogwarts, uma escola incomum, não conseguia mais acreditar que qualquer coisa estranha havia sido causada por outra pessoa, se não ela.

Recuperada da corrida, Tori voltou a se mover rapidamente enquanto chorava outra vez. Correu e tropeçou nas próprias pernas. Iria cair, se mãos magras e um tanto ásperas não a tivessem segurado.

— Vá com calma, menina. — uma voz masculina falou.

Tori se afastou e piscou algumas vezes para se livrar das lágrimas que impediam sua visão. Ao recuperar, avistou um homem velho, de cabelos muito brancos e curtos, puxados para trás. Possuía um bigode discreto e sua roupa social parecia não combinar muito com ele.

— Desculpa. — soluçou e se virou para voltar a correr.

— Acho que você tem algo aí que me pertence. — o velhote falou.

Ao se virar, Tori o viu apontar para seu sapato.

— Não acho que esse sapato combinaria com o senhor... — arqueou as sobrancelhas e mediu o homem dos pés a cabeça.

— Oh, não, não os sapatos. — ele riu — O que tem aí dentro. — estendeu uma das mãos.

No momento seguinte, Tori sentiu cócegas em um dos pés, que parou tão rápido quanto começou. Então uma carta surgiu na mão do velho.

A sua carta-resposta.

— Como... quem é o senhor? — arregalou os olhos e deu um passos para trás.

— Não tenha medo, criança. — ele falou — Sou Alvo Dumbledore, seu diretor caso sua resposta seja positiva aqui... — ergueu a carta.

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