A Bastarda de Lily Potter - LIVRO 1 escrita por thaisdowattpad


Capítulo 23
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Capítulo Vinte e Três
Mal-entendido.

Com o fim do feriado, o Expresso de Hogwarts retornou e com ele toda a bagunça de vozes e alunos eufóricos.

Tori não pode recepcionar seus amigos, pois acabou dormindo muito cedo e de maneira pesada. Dormir havia se tornado muito comum para ela logo após o sonho tão esquisito com os pais, onde sua tentativa era poder ver aquilo outra vez.

Tentativa sempre frustrada, infelizmente.

No dia seguinte, um domingo, a menina pôde presenciar uma pequena parte da empolgação do retorno dos alunos à Hogwarts, quando desceu para o café da manhã e foi surpreendida por Alicia, Angelina e Rita, que chegaram gritando nos ouvidos dela e a arrastando para o jardim, sem explicar o motivo daquilo.

— Eu sei que as senhoras me amam e sentiram muita saudade, mas cuidado para não me desmontar ou me deixar surda! — Tori apertou seus ouvidos assim que todas se sentaram em uma rodinha no gramado.

— Desculpa, é que aconteceram umas coisas no feriado... — Alicia mexeu nos cabelos de Tori, analisando a fita que prendia parte dele.

— E que coisas! — Angelina falou e as três meninas soltaram risinhos.

— Também aconteceram várias coisas nos meus dias de solidão aqui. Mas comecem contando as senhoras, que eu conto logo depois. — cruzou as pernas e ficou fazendo cócegas na mão com o gramado.

— Eu e o Fred terminamos o que começamos daquela vez! — foi Rita quem falou, ficando muito vermelha.

Os olhos de Tori se arregalaram e a respiração se prendeu dentro da boca.

— A primeira a abandonar o grupo das encalhadas. Juro que nunca pensei que seria você, Rita! — debochou Alicia, recebendo um empurrão da amiga.

As duas riram juntas.

— E como foi? — Tori respirou fundo e sorriu.

— Estranho. Eu tive que secar a boca com a manga da camiseta depois! — gargalhou.

— Mas gostou? Isso te deixou feliz? Foi correspondida? — fez várias perguntas.

— Sim. Quer dizer... não deu muito para pensar direito ainda. Não faz tanto tempo e depois nem conversamos direito, porque eu tive que ir passar o Ano Novo com meus pais. Mas vou ver no que vai dar! — Rita tocou o rosto quente e suspirou.

— Não tem o que conversar. O primeiro casal do nosso grupo aconteceu. É daqui até depois da escola! — exagerou Angelina, para variar — Quem será o próximo? Você e o Lino, Tori? Uhhh! — tentou cutucar a menina, que segurou suas mãos para se defender.

— Eu sei que sou precoce em várias coisas, mas não vou ser em namoricos. Podem esquecer isso. Aliás, Lino é só meu amigo. Sabia que existe amizade entre menino e menina sem interesse nenhum? Principalmente sendo crianças! — argumentou Tori.

— Crianças nada. Esse ano já faremos 12 anos. É o início da adolescência! — a corrigiu Alicia.

— Continuo não querendo saber de nada disso, muito obrigada. Se estão incomodadas que só tem um casal até agora, Lino e Jorge estão disponíveis, podem aproveitar! — Tori revirou os olhos.

— Ficou doida? — Angelina e Alicia falaram ao mesmo tempo.

Todas começaram a rir, quando os meninos chegaram e se sentaram junto delas. Fred jogou o peso do corpo em um abraço lateral em Tori, brincando, mas pareceu ser o único que queria brincar naquele momento, pois a menina o afastou com certo exagero.

— Pessoal, eu vou ir... Vou ver a Kiki, que eu não dei tanta atenção a ela durante esses dias. Com licença! — se levantou e praticamente correu dali, temendo ser impedida.

Os passos da menina foram praticamente uma corrida em todo o caminho, a fazendo chegar muito rápido ao Corujal, mesmo se muito exausta. Ela optou por primeiro se sentar em um degrau para recuperar o fôlego, depois veria sua coruja.

— Tudo bem, senhorita? Olívio me contou por cima que te aconteceram umas coisas no Natal... Eu ia te perguntar antes, mas você fugiu quando eu e os meninos chegamos! — Fred chegou de repente, tão ofegante quando ela.

— Eu vim visitar a Kiki, não fugi de ninguém! — respondeu, meio ríspida.

— Por que está estranha? — estranhou.

— O senhor ainda pergunta? Nossa! — soltou um riso inconformado, se levantou e entrou no Corujal.

— Se eu perguntei, é porque não sei... — Fred a seguiu.

— É só que... o senhor sempre quebra promessas de um jeito tão fácil, como se não fosse nada? — se virou para alimentar Kiki, que piou e agitou as asas toda feliz.

— Promessas? O que eu prometi? — o turbilhão de perguntas do menino começaram a irrita-la.

— O senhor beijou a Rita, mesmo depois de me prometer que não faria isso ainda, por ser cedo, por serem novos demais ainda. Seu mentiroso! — acertou uns tapinhas nele, que recuou se segurando para não rir e apanhar mais ainda.

— Bom, você não é a pessoa que mais conta verdades por aqui, então estamos no mesmo nível! — Fred a lembrou.

— Tudo bem. Faz o que quiser, mas saiba que eu só quis te proteger. Com licença! — Tori soltou um suspiro trêmulo e saiu dali, tão rápido quanto na chegada.

◾ ◾ ◾

Após a conversa não muito agradável com Fred, Tori foi para o dormitório das meninas e se afundou no travesseiro. Acabou por adormecer logo depois, tendo um sono muito pesado.

Quando acordou, o dia já havia começado a ir embora. A menina olhou pela janela, com a confusão do sono, e jurou que havia dormido por dias. Chutou o edredom — que alguém a havia coberto — e desceu da cama, indo direto para a sala enquanto tirava o laço de seu cabelo. Ela o encarou em sua mão, se sentindo horrível por, pela primeira vez desde o Natal, não ter vontade de usar aquilo. Acabou enrolando e enfiando no bolso, deixando os cabelos ruivos livres pelas costas.

— Ei, você sumiu! — era Lino, que estava sentado de frente para a lareira mordiscando uma maçã.

— Fui ver a Kiki e depois voltei para o dormitório para descansar um pouco. Eu ando meio cansada, apesar de não ter feito nada cansativo nos últimos dias... — Tori se sentou ao lado do amigo.

— Comeu direito? Dormiu direito? — a encheu de perguntas, fazendo a amiga rir um pouco.

— Sim. Hum... Por que que senhor está fazendo as perguntas que geralmente são minhas? — quis saber.

— Só quis retribuir. Mas me conta, o que aconteceu? Você está um pouco abatida... — Lino colocou sua maçã de lado e focou sua atenção na menina.

— Acho que é impressão sua, Lee. — Tori tentou disfarçar.

— Tori! — insistiu o menino.

— Tudo bem... Eu tive uns problemas no Natal. Eu pensei que meus pais estavam vivos, mas no fim das contas era só minha burrice entrando em ação! — começou e suspirou — Eu saí explorando Hogwarts, apesar de ter dito que não iria, então tive que fugir da madame Nor-r-ra, do senhor Filch e do professor Snape. Aí acabei entrando em uma sala esquisita para me esconder, e lá tinha um espelho mais esquisito ainda. — resumiu os acontecimentos.

— Caramba, você conseguiu fugir de três pessoas. Que genial! — ele riu.

— Isso é só o começo, o susto pior veio logo depois, quando meus pais apareceram refletidos no espelho! — ela sorriu para a expressão de surpresa do amigo — Mas, eu acabei não ficando tanto tempo lá, porque não podia me arriscar mais. Então voltei no dia seguinte, também para mostrar meus presentes para os dois, porque eu acreditava que eles estavam mesmo ali, de alguma forma... — abaixou o rosto.

Lino acabou pegando a mão da amiga, para dar apoio. Ela sorriu com o gesto.

— Eu quis pesquisar sobre espelhos mágicos para entender o que estava acontecendo, mas acabei achando alguém que pareceu ser uma fonte mais rápida de pesquisa, por ser mais velho. Eu confiei em tudo o que ouvi, que meus pais estavam vivos e presos naquele espelho por Magia Negra lançada por Voldemort. — explicou Tori, causando um arrepio no amigo ao ouvir aquele nome — Mas era tudo mentira. O Dumbledore me contou e eu pirei, me achei forte o suficiente para quebrar aquele espelho e dei um soco, mas a única coisa que consegui foi arrebentar minha mão! — suspirou pesado, erguendo sua mão livre e mexendo os dedos algumas vezes.

— Quem te contou essa mentira tão baixa? — resmungou Lino.

— Deixa para lá... — Tori pediu, temendo alguma confusão.

— Por favor, me conta! — o amigo insistiu, calmo.

— Tudo bem... foi o Flint. Mas não conte isso para ninguém, pelo amor de Deus! — confessou e apertou a mão do menino, suplicando.

— Ele nem precisa! — uma voz conhecida e irritada se revelou ali.

Os dois amigos se viraram e viram Olívio, que estava parado na escada do dormitório dos meninos. Ele parecia muito irritado naquele momento e terminou de descer os degraus, indo muito rápido para a saída.

— Olívio! — Tori pulou e correu atrás do amigo.

Acabou o encontrando um tempo depois, andando muito rápido em direção às escadas. Ela chegou até ele e o puxou pela blusa, o obrigando a parar.

— Não vai fazer nenhuma besteira, não é? — lançou para ele um olhar desesperado.

— Por que não me contou que tinha sido o Flint que fez essa covardia com você? Aliás, o que mais não está contando? Também é ele que está te agredindo? Fala, Tori! — grunhiu, irritado.

— Olívio, não... Eu não... — se atrapalhou nas palavras e gaguejou.

— Eu já entendi tudo! — se soltou e saiu correndo dali.

— Não, Olívio! — gritou para ele, mas era tarde demais — O senhor entendeu tudo errado... — suspirou.

Tori ficou parada no lugar por alguns segundos, até Lino chegar correndo.

— O que aconteceu? — perguntou, ofegante.

— Eu não sei... — a menina respondeu — Mas quero descobrir! — dito isso, saiu correndo na mesma direção que Olívio sumiu.

Nem precisou parar para pensar em qual lugar o garoto poderia ter ido, pois assim que pegou as escadas para o térreo, ouviu vozes berrando em desordem, alguns pedindo que algo acabasse e outras incentivando que continuasse.

Quando desceu, viu uma multidão de alunos observando algo mais à diante. Tori desejou ser mais alta para ver o que era aquilo, mas infelizmente esse milagre estava acontecendo lento demais e ela só conseguia ver costas ou nucas.

— Pare já com isso, Olívio! — ouviu Carlinhos gritar muito irritado.

Ao ouvir o nome do amigo, Tori ofegou de susto e saiu empurrando todas as pessoas tentando chegar à frente da roda. Recebeu alguns olhares desagradáveis, mas acabou conseguindo ver o que havia acontecido.

Flint estava no chão com a boca e nariz sangrando, enquanto o supercílio de Olívio possuía um pequeno corte e sujava sua bochecha de sangue. Tori ficou paralisada de susto ao ver toda aquela cena.

— Eu não vou parar! Não vou! — berrou Olívio, sendo contido com dificuldade por Carlinhos, Leon e Eli — Esse lixo é quem tira a paz da Tori todos esses meses. Não poupou nem no feriado, que usou os pais dela para feri-la. É um covarde! — se contorceu e quase conseguiu acertar um chute em Flint, passando apenas de raspão.

— E o que você tem com isso? Te ofende por quê? Está afim de uma pirralha, Wood? Uhh... — debochou Flint, soltando uma gargalhada.

— Ele fez o quê? — Carlinhos pareceu ter ouvido a coisa mais absurda do mundo — Filho da mãe! — também foi para cima do Sonserino, mas com sua varinha.

Leon continuou tentando segurar Olívio pelos ombros, enquanto Eli, por ser de porte mais forte, puxou Carlinhos com tanta força que os dois quase caíram.

— Se quiserem fazer mal à ele de novo, vão ter que passar por cima de todos nós! — afrontou Rory Laughalot, chegando com outros garotos do time da Sonserina e todos portanto suas varinhas.

— Sem problema algum! — gritou Olívio, tentando ir para cima, mas sendo contido novamente pelo colega de time.

— O que é que está acontecendo aqui? — a voz de McGonagall se sobressaiu entre outras, enquanto iam abrindo caminho para ela passar — Oh céus! — arregalou os olhos diante da confusão.

— Foi ele quem começou! — o dedo de Flint apontou para Olívio.

— E eu não terminei ainda, seu covarde! — rosnou.

— Já chega! — a professora perdeu a paciência — Você, você, você, todos vocês... e você, para a minha sala agora mesmo! — apontou para todos os garotos envolvidos na confusão até chegar em Tori.

— Ela não tem nada a ver com isso, professora! — Carlinhos defendeu a menina.

— Tem sim, ela foi pauta de toda a confusão. Agora andem logo! — a mulher se irritou outra vez — E todos vocês, circulando caso não queiram sérios problemas também! — falou para o restante dos alunos, que em poucos segundos dispersaram para lados diferentes do Castelo.

Tori permaneceu calada e neutra enquanto seguia atrás do grupo de briguentos junto com McGonagall. Ninguém ousava falar nada, enquanto ela nem sabia o que dizer.

◾ ◾ ◾

Enquanto todos os garotos tomaram detenção e perderam pontos para suas casas, Olívio e Flint foram punidos com algo mais grave. Ambos estavam fora do Campeonato de Quadribol e só poderiam retornar aos jogos no próximo.

A revolta tomou conta de todos os garotos, que estavam perdendo seus melhores jogadores. Mas já estava feito e McGonagall não voltaria atrás.

Tori foi a única que não perdeu pontos ou foi prejudicada de alguma forma, não entendendo direito qual sua finalidade ali. Até que Filch apareceu para levar os dois garotos feridos para a Ala Hospitalar e todos foram dispensados.

— A senhorita fica, senhorita Evans! — McGonagall impediu a menina de sair.

— Sim senhora. — havia acabado de se levantar, mas voltou a sentar e cruzar as mãos no colo.

Assim como meses atrás, na última vez que conversaram sozinhas, McGonagall fechou a porta e todas as janelas, como se aquela fosse ser uma conversa secreta.

— Esqueça sua professora e me trate apenas por Minerva aqui. Me diz: é verdade o que o senhor Wood falou, que é o senhor Flint quem a tem machucado todos esses meses? — voltou para trás de sua mesa e se sentou, não disfarçando sua preocupação sobre aquele assunto.

— Mas é claro que não! Eu não me expressei direito e o Olívio entendeu tudo errado. A única coisa que o Flint fez foi usar uma mentira sobre os meus pais. Ele é um monstro, mas acho que não ia tentar relar em mim. Eu sim já bati nela uma vez, Fred é testemunha disso! — negou e se explicou rapidamente, temendo ser interpretada de forma errada outra vez.

— Está dizendo a verdade? — McGonagall a encarou por cima dos óculos.

— Se quiser, use uma poção da verdade. Eu espero a senhora chamar o professor Snape! — Tori apertou o pulso e suspirou.

— Tudo bem, vou tentar acreditar nisso. Tori, na próxima vez tome cuidado com o que diz, porque nem todo mundo é pacífico como você, que leva em um lado do rosto e vira o outro para levar também, sem querer revidar. — fez um movimento com a varinha e as janelas se abriram — Enquanto ao Flint, eu vou ficar de olho nele nas próximas semanas! — avisou.

— Professora, agradeço sua preocupação comigo sempre, mas... Me deixe resolver isso sozinha, por favor. Se até o último dia de aula eu não resolver, deixo a senhora se intrometer o quanto quiser e como quiser! — se levantou e tocou a mão da mulher, que estava sobre a mesa — Por favor! — suplicou.

— Tudo bem, como quiser... — mesmo contrariada, McGonagall assentiu.

— Obrigada. — Tori sorriu, agradecida — E a minha punição? — voltou a se sentar.

— Nenhuma. A senhorita só foi pauta, como eu havia dito. Te trouxe aqui para conversarmos, só isso! — a mulher avisou e mexeu em uns pergaminhos que estavam sobre a mesa.

— Tudo bem. — balançou a cabeça — Hum... professora? — a chamou outra vez.

— Sim? — ergueu os olhos para a aluna.

— Não tem mesmo o que a senhora fazer pela situação do Olívio? O time precisa muito dele. Fora que é o primeiro ano dele como titular, ele estava tão feliz com isso... — argumentou, enquanto exagerava em sua expressão de piedade, tudo para seu pedido funcionar.

— Pensasse antes de sair brigando como um selvagem. Já está decidio, ele só volta na próxima temporada! — McGonagall se levantou, irritada com aquela pergunta.

— Eu te entendo, professora. — concordou Tori — Enfim, já posso ir? — tocou o acento da cadeira, pronta para dar o impulso e se levantar.

— Sim, senhorita Evans. Pode ir! — concordou e fez um novo movimento com a varinha, agora abrindo a porta.

— Obrigada pela conversa. A senhora é a melhor! — a menina se levantou da cadeira em um pulo e deu a volta na mesa.

Surpreendeu McGonagall com um abraço breve, mas muito grato. Então se afastou, sorriu e correu para fora da sala, pois tinha outras coisas que queria tentar resolver.

◾ ◾ ◾

— Com licença, senhora Pomfrey? — Tori chamou a curandeira assim que parou no vão da porta da Ala Hospitalar.

— Olá, Tori. Está tudo bem? — a mulher surgiu apressada e analisou a menina dos pés a cabeça, como se procurasse algum ferimento.

— Sim, comigo sim. Eu só vim pedir para te ajudar de alguma forma com os meninos... — coçou a nuca e estranhou seu cabelo solto, como não deixava havia muito tempo.

— Não sabia que era Curandeira. — arqueou as sobrancelhas, irônica.

— E eu não sou. — a menina balançou a cabeça.

— Sendo assim, seu lugar não é aqui, a não ser que precise dos meus cuidados. Com licença! — dito isso, Pomfrey puxou a porta para fechá-la.

— Ah, senhora Pomfrey, por favor. — segurou a porta — A ajuda foi mais uma desculpa para conversar com os dois briguentos. Eu quero impedir que eles se matem de novo por aí. Por favor! — suplicou.

— Sabe que deveria estar no Salão Principal jantando assim como todos os outros alunos, não é? — tocou a mão da menina e a tirou da porta.

Sem saber o que fazer para convencer a mulher, Tori se sentiu em desespero. Começou a respirar de um jeito pesado, onde lágrimas saíram com facilidade dos seus olhos e ela cambaleou, sendo amparada pela curandeira.

— Eu não consigo... respirar... e estou... sentindo... um medo... horrível... me ajude... ME AJUDE... — puxou a gola da camiseta, como se aquilo a estivesse sufocando.

Pomfrey correu com a menina para dentro da Ala Hospitalar, puxando logo uma cadeira para colocá-la sentada enquanto erguia o rosto para examina-la. 

— Abra a boca! — a mulher apertou um pouco o maxilar da menina.

Lumus foi usado para iluminar a boca de Tori e verificar como estava a garganta, podendo ver apenas que tudo estava normal e nada a impedia de respirar. 

— Me dê... um pouco... de água... — suplicou Tori, tremendo.

— Vou te dar uma poção calmante, volto já! — fez menção em se virar, mas foi segurada pela barra do vestido.

— Não precisa! — a menina negou, pois sabia que aquilo daria muito sono.

— Precisa sim! — se soltou e correu para perto das prateleiras.

Aproveitando aquela distração, Tori se curou milagrosamente e se levantou, indo de fininho em direção aos leitos, espiando as cortinas que os separavam, até encontrar Olívio deitado em um deles. Ela se revelou para ele.

— O que pensa que estava fazendo, seu cabeça oca? — sussurrou o início da bronca.

— Te defendendo. Você é tão pequena, não deixaria um covarde fazer o que quiser com você! — Olívio puxou o corpo para se sentar enquanto se explicava.

— Defendendo do quê? — a menina revirou os olhos.

— Do seu agressor, oras. — o garoto repetiu o gesto.

— Quem te disse que ele é meu agressor? — cruzou os braços, irritada.

— Você! — apontou para ela.

— Não senhor. Nem me deixou terminar de falar e tirou suas própria conclusões, conclusões erradas ainda por cima. Agora vou ficar me sentindo culpada porque o senhor foi afastado do que mais gosta de fazer aqui em Hogwarts. Está feliz? — lágrimas se formaram nos olhos de Tori, a irritando mais ainda.

— Não precisa, Tori. Quebrar a cara do Flint era só questão de tempo, você foi só uma desculpa muito boa. A culpa foi só minha, pode ficar tranquila! — sorriu um pouco, mesmo sendo visível seu esforço em parecer bem.

— Não consigo. E agora não vou me sentir segura para te contar mais nada! — cruzou os braços.

— Tudo bem, como quiser. — suspirou.

— Desculpa... — Tori lamentou, pouco antes de se virar e se afastar dali.

Assim que saiu do leito do garoto, ela deu uma espiada para ver se Pomfrey ainda estava ocupada. Concluindo que sim, secou qualquer indício de lágrimas de seu rosto e seguiu para outro leito, logo encontrando Flint deitado.

— Se não sair, eu vou gritar! — o garoto se assustou, imediatamente puxando o corpo para se levantar e encolhendo as pernas.

— Calma. Eu vim em missão de paz! — tentou acalmar o garoto, enquanto apertava os lábios para conter um riso que tentou escapar.

— Missão de paz? Você fez alguém me bater e ainda fui expulso da temporada de Quadribol! — se exaltou.

— É por isso que eu estou aqui... Eu quero me desculpar! — disse Tori, tocando suas bochechas ao sentir que começaram a ficar quentes.

— O quê? Até parece! — Flint soltou um riso descrente.

— É sério. Dessa vez eu que devo desculpas, apesar do senhor nunca ter me pedido por todas as grosserias que já me tratou... — tentou demonstrar mais sinceridade o possível.

— E nem vou! — o garoto negou imediatamente.

— Tudo bem. Mas minha parte eu fiz... — suspirou.

— Nossa, como a senhorita sarou rápido, Tori! — a voz de Pomfrey fez a menina paralisar de susto.

— Senhora Pomfrey, eu... — tentou se explicar.

— Fora daqui agora e só volte se estiver morrendo! — a curandeira ordenou, muito irritada.

— Desculpa! —  encarou os dois, pouco antes de sair correndo dali.

Tori parou de correr apenas quando faltava poucos minutos para chegar no andar de sua comunal. Ela se encostou em uma parede, apoiando as mãos nos joelhos e tentou amenizar sua respiração agitada.

Um barulho de passos apressados chamaram sua atenção, a fazendo erguer o corpo outra vez e olhar para os dois lados do corredor que estava, não encontrando ninguém. Então o barulho se tornou mais intenso do lado esquerdo, obrigando a menina a caminhar até lá.

— Pirraça, é outra brincadeira boba sua? — sugeriu, enquanto se aproximava da curva do corredor.

Ninguém respondeu.

Em vez disso, o barulho foi se afastando, obrigando Tori a correr outra vez para tentar dar o flagrante. Mas tudo o que encontrou foi o corredor vazio. Era a única ali.

Deu alguns passos para o corredor, tendo de recuar logo depois ao sentir que pisou em algo. Olhando para o chão, encontrou um envelope com seu nome rabiscado na frente.

O pegou sem cerimônias, logo abrindo e encontrando um bilhete dentro. Ela o puxou de dentro do envelope e leu.

DUMBLEDORE NÃO ESTÁ TE CONTANDO TUDO.

Assim que terminou de ler, tanto o papel quanto o envelope se soltaram da mão de Tori e queimaram sozinhos, não sobrando sequer as cinzas.

Provavelmente se a pessoa quisesse que soubessem de si, entregaria o bilhete pessoalmente em vez de jogar em um corredor vazio e sair correndo. Também não usaria algum feitiço para destruir os rastros de sua caligrafia, impossibilitando de alguém ajudar a menina em sua busca.

A curiosidade de descobrir quem havia deixado aquilo e o que quis dizer com aquelas palavras, com toda certeza traria uma terrível noite sem sono para Tori. E ela já estava conformada com isso mais uma vez.

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