O misterioso amigo de Ping escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Quem é o misterioso amigo de Ping?


Notas iniciais do capítulo

É comedia fofinha. Boa leitura :3



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O capitão Li Shang estava orgulhoso de sua tropa. Os homens, que algumas semanas atrás mostravam-se incapacitados, hoje conquistaram o topo da montanha após uma longa caminhada. Em breve lutariam para defender o Imperador contra o exército Huno.

Era uma vitória pessoal, orgulharia seu pai e conquistaria a confiança do Imperador. As coisas não poderiam estar melhores.

A lua brilhava no céu estrelado, iluminando a água do rio. Shang não acreditava muito em superstições, mas ele estava certo de que os ancestrais confabulavam para o bem daquela missão.

Já era tarde e todos estavam dormindo em suas barracas. O capitão decidiu dar um mergulho no rio, aproveitando que a noite estava agradável e o inverno rigoroso ainda não havia chegado por aquelas bandas. Ele se despiu e pendurou a roupa no galho de uma árvore, entrando na água cautelosamente. Pelo que ouvira dos soldados, o rio estava cheio de cobras. Mas isso não impediria o capitão de tomar um banho. Ele mergulhou até o fundo e emergiu com a energia do corpo renovada. Espremeu o cabelo para remover o excesso de água e se vestiu.

Poucos minutos depois, Shang ouviu vozes se aproximando. Ele se levantou, escondendo-se atrás da árvore.

As vozes aumentavam, mas quando Shang conseguiu uma visão melhor de quem se aproximava, viu apenas Ping e seu cavalo. O que era impossível, já que o capitão tinha certeza de que ouvira outra voz, e cavalos não falam.

Não era novidade ver Ping conversando com o animal. Muitos homens afirmavam que Ping sempre falava sozinho, ou com os bichos. Houve até mesmo um dia que Ping correu em disparada para salvar um simples grilo de ser frito na frigideira.

Shang não deveria julgar o rapaz, ainda mais agora que ele se revelava um soldado de grande força. Ele já estava de saída quando ouviu mais uma vez aquela voz esganiçada, ao qual nada combinava com a de Ping. Era isso, havia alguém com ele.

O capitão saiu de trás da árvore, pronto para flagrá-los, mas a única coisa que viu foram as fuças do cavalo de Ping. O bicho relinchou, erguendo as duas patas dianteiras. Shang afastou-se do cavalo e pediu calma para ele, acariciando sua crina quando ficou mais calmo.

— Bom menino. — Shang falou, alisando o dorso do animal, dando uma olhada indiscreta por cima. Ping estava de costas, com metade do corpo dentro da água, os cabelos molhados na altura dos ombros e as costas nuas.

Shang balançou a cabeça e saiu antes que Ping o visse. Ele retornou para sua tenda e deitou, mas o sono não chegou. A imagem de Ping banhando-se no rio reprisou em sua mente até o sol nascer.

Nos dias seguintes Shang se esforçou para se concentrar no treinamento, mas as noites mal dormidas estavam afetando sua produtividade como capitão de tal modo que o Conselheiro do Imperador ameaçou-o com uma carta para o próprio.

— Um bom soldado sabe lidar tanto com inimigos mais fracos como os mais fortes. Não subestime o poder de outra pessoa. — Shang terminou seu discurso e o treinamento foi suspenso por meia hora. Alguns caíram no chão, cansados. Outros precisavam de curativos e remédios.

Shang passou a mão pela cabeça, repetindo para si mesmo que as coisas estavam indo bem. A voz de Ping chamou-lhe a atenção, ele estava ajoelhado no chão, ajudando um dos homens a beber o chá. Depois ajudou outro enfaixando seu braço e passando uma mistura de ervas no olho roxo de outros tantos que pareciam enfileirar-se para receber ajuda.

O capitão afastou-se dos demais, isolando-se dentro de sua tenda. Aquela noite não foi diferente das demais, Shang não dormiu, também não participou da comemoração dos soldados em volta da fogueira. Quando todos pareciam dormir, ele decidiu fazer uma caminhada pois a noite estava abafada.

Quando menos esperava, caminhava na direção da barraca de Ping. Pelo menos assim pensou. A tenda era afastada das demais e o cavalo estava deitado, tranquilo no chão. Shang parou próximo. Não havia decidido estar ali, seus pés haviam lhe pregado uma terrível peça.

“O que eu vou dizer?” – pensou, confuso, coçando o dedo na cabeça.

No instante seguinte ele desistiu de fazer a maior loucura de sua vida. Deu alguns passos para trás, decidido retornar para sua barraca. Foi quando ouvir aquela mesma voz que ouvira no rio. E definitivamente não era o cavalo quem falava. Até porque cavalos, definitivamente, não falam.

— Precisamos dar um jeito nessa sua mania de tomar banhos noturnos. Não quer que os outros descubram seu segredo.

Shang aproximou-se lentamente da barraca.

— Eu só quero lavar essa roupa, até amanhã de manhã estará seca, você fica de vigia. — Dessa vez Shang reconheceu a voz de Ping, mas estava um pouco mais afinada do que o costume.

— Então tira logo essa roupa.

Shang estreitou os olhos. “O que um homem faz na barraca de Ping?”

Era exatamente o que o capitão descobriria naquele instante.

— Ping. — Ele falou em voz alta e autoritário. — Saia já. Os dois.

— Só um momento. — Ping respondeu.

Shang percebeu uma movimentação dentro da barraca e sentiu um aperto em suas entranhas. Ping apareceu, com os cabelos soltos e a roupa desregular.

— Onde está o outro? — Shang perguntou, olhando por baixo do braço de Ping.

— Outro? — Ping se fez de desentendido.

— Sim, o outro. Ouvi vozes. Não permitirei que manche a honra de nossa tropa com esse tipo de comportamento em sua tenda.

— Do que está falando? — Ping o olhou confuso.

— Pois bem, eu mesmo irei tirá-lo daí. — Shang abriu a barraca, mas para sua surpresa não havia ninguém do lado de dentro. — Impossível sair daqui sem eu ter visto.

— Não havia ninguém comigo, eu juro, pela honra de meu pai.

— Mas, eu ouvi uma voz falando com você. — Ele insistiu. — Dizia sobre o rio, tomar banho. Eu não posso estar ficando louco.

— Eu costumo falar sozinha, digo, sozinho. É isso, gosto de fingir que minha meia é um amigo e aí eu não me sinto tão sozinho.

— Você realmente faz isso? — Shang estreitou os olhos, encarando o soldado dar um sorriso estranho, enquanto tirava a meia do pé e enfiava na mão como um fantoche.

— Olá, eu sou o Mushu.

A voz era a mesma, o que deixou Shang completamente confuso. Ele olhou para a boca de Ping que movia, mas era como se a voz não saísse de sua boca. Só poderia ser uma coisa.

— Você é algum tipo de artista na sua vila?

— Sim, sou. Eu costumava fazer teatros nos festivais. — A meia de Ping ainda estava em sua mão e não parava de falar.

Desejo ter alguém para quem voltar... — A voz cantou. — Alguém pra quem voltar...

— Mas como você consegue falar e cantar ao mesmo tempo? — A mão de Shang estava presa em seu queixo.

— Muito treinamento. — Ping afirmou, balançando a cabeça veementemente.

— Precisa ouvir eu cantando ópera.

— Você não sabe cantar Ópera Mushu.

— Eu sei cantar ópera sim, quer ver?

— Não, ninguém quer ouvir. — Ping apertou a outra mão na meia.

Você não pode me impedir. Ohhh! Ohhh! Viu, eu canto.

— Para de cantar, Mushu. — Ping apertava os lábios.

Shang olhava preocupado para Ping, sua condição psicológica parecia preocupante. Ouvira seu pai falar muito sobre soldados que buscavam de formas inusitadas afastar a mente da Guerra, para conseguir manter-se firme durante a campanha. E com esse pensamento, Shang decidiu não se intrometer mais nos falatórios de Ping e sua meia, o grilo e o cavalo.

No outro dia, o treinamento havia finalizado e os homens foram dispensados para descansarem pois marchariam para outro acampamento no outro dia. Pela noite, Shang decidiu banhar-se no rio. Mergulhou na água e emergiu passando a mão nos cabelos para tirar o excesso. Ele estava relaxado e sentindo uma tranquilidade ao boiar o corpo na água. Quando ouviu aquela voz, era Ping, ou melhor, a meia de Ping. Mas o que ele fazia no rio aquela hora com sua meia?

Shang mergulhou, nadando na direção que a voz vinha. Quando saiu da água, viu Ping parado em pé, sem roupas. Mas ele estava atrás do cavalo, então só conseguia ver seus ombros nu e as pernas.

— Sha-shang. — Ping ficou mais estranho do que o de costume, pegando as roupas molhadas que havia estendido na corda improvisada.

— Onde está sua meia?

— Meia? Minha, ah! Minha meia, está aqui em algum lugar. — Ele foi se embrenhando para o meio da floresta, enquanto Shang estava em pé do outro lado do cavalo. — Será que você não pode colocar sua roupa agora?

Shang havia deixado a roupa mais afastado, ele se virou, mas antes de partir ainda deu uma última olhada para Ping.

— Boa noite, Ping.

Eu não tô nem aí.

— O que você disse?

— Eu? Nada não. Boa noite, capitão.

— Muito bem, agora eu vou dormir, vá descansar também.

Eles mal chegaram na guerra e seus soldados já se comportavam de forma tão estranha, imagina quando estivessem no campo de batalha?

Esperava, do fundo do coração, confiar em cada um deles no momento que houvesse chance.


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Notas finais do capítulo

É isso, gente, acabou já kkk era só para rir um pouco hehe

Beijos, e valeu a quem chegou até aqui embaixo. Agora só falta comentar.