Um Amor Como o Seu escrita por Lilissantana1


Capítulo 6
Capítulo 6 - Decisões


Notas iniciais do capítulo

Liam e Mia estão em uma encruzilhada.
Uma encruzilhada que pode levá-los a um caminho sem volta.



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Após a apresentação de Mia, sir Huxley se aproximou para parabenizar a garota, garantindo que ela fora muito bem. Que sua performance era digna de elogios efusivos. E enquanto a carregava de volta ao seu lugar junto ao grupo entusiasmado que assistia as apresentações, uma voz firme atraiu a atenção de todos. Era Brooks quem ficava em pé e se voltava para o amigo acomodado ao fundo da sala de música.

— Toque para nós Liam!

Ouve um segundo de silêncio.

— Milorde... - Lady Behn também se ergueu e tentou argumentar – Acredito que a senhorita Tennyson estava se preparando para fazer isso.

Rupert foi rápido em contradizer:

— Creio que a senhora e seus convidados não se arrependerão de ouvir meu caro sócio tocar, ele tem mesmo uma habilidade única para o piano. Além disso, a senhorita Tennyson já nos brindou com uma canção linda...

Sem alternativa, e sem querer perturbar a relação recém iniciada com o filho do barão, a mulher aceitou a contragosto a sugestão. Vencida, dirigindo- se a referida senhorita ela mencionou:

— Então, se a senhorita Tennyson não se importar ouviremos o senhor Forster. - e após obter a permissão de Florence voltou-se para o rapaz dizendo: - Senhor, as partituras estão sobre a mesinha, caso deseje fazer uma escolha.

Com ar tranquilo Liam cruzou em passos largos em direção ao piano.

— Obrigado milady... mas não costumo olhar partituras...

Ele estava sendo esnobe? Com certeza. Estava agindo como um estúpido arrogante? Provavelmente. Mas, não conseguia agir de forma diferente quando era hostilizado tão abertamente quanto estava sendo naquela residência. Fato que não ocorrera na primeira visita.

Acomodou-se na banqueta onde Mia estivera segundos antes. Encarou as teclas do piano revendo na memória algo que fosse tão ofensivo e impactante quando o comportamento daquela gente idiota.

Frederic Chopin...? Mozart como Mia tão emocionadamente tocara? Não! Beethoven seria bem melhor. Puxou os longos cabelos para trás, os aprisionou debaixo da casaca e deu inicio a apresentação. Mia fora perfeita. Tocara com alma apaixonada, e ele sabia fazer o mesmo. Algumas vezes mais do que em outras. Mas naquele momento era movido pela raiva. E a raiva imprimiu ainda mais indolência e irreverência a sua apresentação.

O silêncio no ambiente era quase palpável. Mia percebeu, ninguém ali, nem mesmo ela estava preparada para aquela apresentação. Digna dos grandes salões de Londres. Viva e apaixonada como ele parecia ser em tudo o que se propunha a fazer.

Apaixonada.

Mia lembrou da amiga dizendo que estava apaixonada por sir Huxley. E nesse exato momento voltou o olhar para o possível pretendente. O rapaz encarava o interprete com um olhar apertado. Como se estivesse medindo os movimentos do outro. Sim, ela sabia que aquele era o homem ideal. Sua inclinação por sir Jayden não poderia ser jamais confundida. Mas, quando se tratava de sentimentos tudo ficava tão confuso dentro dela!

Ela amava os pais. Ela amava as amigas. Ela amava as festas. Ela amava a música. E todos os sentimentos pareciam iguais aquele que sentia por Jayden. Então, ela deduzira que estava mesmo apaixonada. Que amava aquele homem.

Mas, quando seus olhos correram para o piano, para o homem sentado diante do instrumento outra emoção a tomou. Algo que ia além do amor pelos pais, pelas amigas, pelas festas ou pela música. Era intenso e quase tão arrebatador quanto a música que ecoava pelo cômodo repleto de pessoas.

Certamente que todos tinham essa sensação diante do senhor Forster. Mia deduziu encarando as faces próximas. Era óbvio! Ninguém ficava indiferente. Todos o encaravam com a mesma expressão que com certeza ela também trazia no olhar. Mesmo que Mia Wentworth não compreendesse sentimentos, esse ela compreendia. Era algo relacionado com surpresa, com curiosidade, com admiração. Constrangimento.

Quando Brooks e o amigo voltariam para a capital? Ela se perguntou. Esperava que em breve.

A presença do senhor Forster perturbava a harmoniosa convivência das famílias daquela localidade. Mia não conseguia ver nada de bom que sua figura tivesse trazido. Aquela inquietação com certeza se desfaria quando ele se fosse. Por mais que se sentisse grata pela amizade que Liam dispensava a Rupert, ela ansiava por vê-lo longe. Ou por talvez, nunca tê-lo conhecido.

A música acabou, as palmas foram ouvidas. O mais entusiasmado de todos era com certeza sir Brooks, o amigo quase irmão. Mas ninguém, em sã consciência poderia negar a qualidade do que fora apresentado ali. E se não pela pessoa, a habilidade foi claramente agraciada com congratulações.

Demonstrando desenvoltura Liam agradeceu antes de retirar os fios de cabelo que ainda permaneciam sob a casaca. Brooks se aproximou do amigo e apertou-lhe a mão entusiasmado. Mas, os olhos escuros procuravam outro entusiasmo, ele correu o olhar pela plateia, se deparou com Mia sentada e conversando com sir Huxley que ele sabia agora, era filho de um Conde e acreditou que para ela não fizera qualquer diferença o que acontecera ali.

A senhorita Florence, que fora impedida de realizar a apresentação anterior, tomou seu lugar ao piano convidando Candence para acompanhá-la. Rupert e Liam se afastaram do instrumento.

— Já chega! - Rupert ouviu o amigo dizer entredentes.

— O que foi?

— Estou cansado. Vou para o hotel.

— Fique mais um pouco, as apresentações se prolongarão por mais algum tempo ainda.

— Aproveite você. - ele tentou sorrir – Sua noiva fará uma dupla com a senhorita Tennyson. É sua obrigação assistir.

Rupert silenciou por alguns segundos, e no final perguntou em tom desolado:

— Não o convencerei a ficar?

— Você sabe que sou cabeça dura não sabe? Que quando tomo uma decisão dificilmente volto atrás.

Eles trocaram olhares compreensivos. Rupert sabia que algo incomodava o amigo, mas também sabia que Liam só lhe contaria quando estivesse pronto a isso. Portanto, não insistiu.

— Pegue a charrete. Paul está esperando.

— Obrigado! Mas irei a pé. A noite está boa para caminhar.

— Faça como considerar melhor. Tenha uma boa noite meu amigo.

— Aproveite muito bem a sua meu caro.

Mia viu quando Liam se dirigiu ao anfitrião, conversou com ele por alguns segundos e saiu da sala. Sem querer ela o seguiu com os olhos até que sumisse detrás da porta de vidros. Mas, permaneceu sentada e tentou prestar atenção ao que era tocado no piano sem obter sucesso. Por diversas vezes seu olhar retornou para a mesma porta, na intenção de vê-lo ingressar por ela. Porém, isso não aconteceu. O que confirmou a primeira impressão, de que o senhor Forster apenas se despedira de sir Behn antes de ir embora.

A noite ficou estranha depois disso. Ela não ouviu as músicas. E se as ouviu, considerou todas sem graça. Os assuntos não chamavam sua atenção e seus olhos muitas vezes ficavam perdidos em algum ponto qualquer do ambiente esperando por algo que não estava ali ou que não voltaria. Aquela estranha melancolia a acompanhou até que retornasse para casa. E quando acreditou que finalmente poderia deitar e relaxar a mente, sua mãe surgiu no quarto. Ainda vestida para o jantar, com a expressão séria e olhar preocupado.

Através do espelho Mia encarou a figura materna. Amélie Wentworth, geralmente mansa e serena ajustava as mãos uma contra a outra, como se estivesse muito nervosa.

— O que aconteceu? - Mia perguntou se voltando para a mãe – Papai está bem?

— Sim. Dentro do possível ele está.

Mia ficou em pé e caminhou até a figura materna que era fisicamente tão parecida com ela.

— Diga-me mamãe. O que aconteceu?

A mulher loira, de um loiro quase branco, suspirou e fez um rodeio desnecessário:

— A chegada de sir Brooks nos trouxe um dissabor. Seu pai está bastante incomodado com essa situação.

Oras. Sua mãe estava falando sobre Liam Forster. Por que não agia com clareza e ia direto ao ponto?

— A senhora está falando do sócio dele. - agora era ela quem não conseguia mencionar o nome do rapaz.

— Sim... e do tempo que você e ele ficaram a sós, conversando. - Mia estremeceu – Foi extremamente inconveniente Mia. Constrangedor eu diria.

Era a primeira vez que a mãe lhe fazia aquele tipo de recriminação. Saber que agira errado perante a os pais e todas as pessoas que a conheciam desde criança tornava ainda pior aquela reprimenda. E o pior de tudo era ter consciência de que estava errada. Ela mesma mencionara o fato ao senhor Forster. Por que então permanecera a sós com ele mantendo aquela conversa se poderia ter arrumado qualquer desculpa para escapulir? Não havia qualquer justificativa para isso. Logo ela! Especialista em escapar de situações desagradáveis. De situações inconvenientes.

— Sinto muito. Essa situação não se...

A mãe não permitiu que concluísse a frase:

— Nós conversamos por ocasião do baile. Eu compreendi seu motivo naquela noite, mas hoje, você permaneceu junto aquele senhor sem qualquer necessidade. Não há motivos para melindres Mia! Ele não representa alguém com quem desejemos ou devemos manter contato. Está acima das pessoas que precisam de nossa ajuda e abaixo daquelas que pertencem ao nosso meio.

— Eu sei... - concordou sentindo as lágrimas travarem na garganta.

— O que o Conde diria se a tivesse visto ali, sozinha com aquele senhor? Graças aos céus Candence foi espirituosa o suficiente para salvá-la desse desastre. Ou talvez sua intenção de se unir à família Huxley fosse arruinada para sempre.

A mãe se moveu pelo espaço do quarto, ainda constrangida em ter de chamar a atenção da filha. Uma filha que jamais causou qualquer tipo de constrangimento à família.

— Sir Huxley está realmente interessado em você. Espera apenas por uma indicação sua. Ele representa tudo o que você sempre esperou...

Sim, tudo o que ela sempre esperou. A resposta as suas preces.

— Uma indicação minha... - a garota repetiu a palavra sentindo o gosto amargo de cada letra. Nunca ela se sentira tão mal por causa de um possível pedido de casamento. Um pedido de casamento que seria a resposta para seus planos desde a adolescência. Do homem por quem estava apaixonada. - Farei como a senhora me pede. Me manterei afastada do senhor Forster até que ele vá embora.

Um ar de alivio cruzou os olhos azuis da mais velha. Ela conseguia ver a Mia determinada naquela frase.

— Sabia que você compreenderia exatamente o que deveria ser feito.

Empinando o nariz Mia enfrentou a mãe. Se havia algo que ela sempre soubera, era agir de maneira correta, de acordo com sua posição e aspirações.

— Acho que minhas obrigações como filha de meu pai jamais foram esquecidas. Sinto muito ter agido de maneira diferente... não se repetirá.

— Sei que a culpa não foi sua. Este senhor, desde que chegou tem a clara intenção de provocar situações inconvenientes.

Mia não soube o que dizer quanto a isso, portanto ficou calada observando a mãe, apertando o cabo da escova entre os dedos.

Amélie sorriu antes de dizer no conhecido tom maternal que Mia conhecia tão bem:

— Obrigada meu bem... - um toque suave na face da filha encerrou a conversa – Boa noite.

Quando a porta se fechou Mia liberou as lágrimas quentes e amargas. Lágrimas de vergonha por não agir como deveria. Por ter de ouvir uma reprimenda da mãe. Por... ter agido como uma boba quando se permitiu matar a curiosidade a respeito do senhor Forster.

Por desejar estar perto dele.

Lentamente as leves lágrimas que apenas escorriam suaves pela face delicada foram se intensificando até que foi necessário segurar os soluções com as almofadas dispersas sobre o colchão.

Por que estava chorando? De vergonha? De dor? De angústia? Nem se deu ao trabalho de tentar entender. E, quando finalmente adormeceu seu peito doía, e o rosto estava inchado e vermelho. O sono não foi tranquilo, menos ainda reparador. Todos notaram a aparência da jovem pela manhã, mas ninguém comentou, os pais consideraram aquela alteração como a prova de que Mia estava arrependida de seu comportamento.

 

* * * *

 

Dentro do quarto no hotel, horas depois de ter chegado, ainda vestindo a mesma roupa, Liam caminhava de um lado para outro quase como um animal enjaulado. Estava acostumado a ser hostilizado. Estava acostumado a ser observado como um ser a parte. Estava acostumado a … tudo. Menos a desejar algo que não poderia ser seu.

Não importava que Mia tivesse se mostrado verdadeiramente interessada no que ele tinha a dizer. Não importava que tivessem conversado como se ele fosse qualquer outro dos cavalheiros presentes no jantar. No momento em que ela escolhesse, escolheria com a “razão”. Como o tal conde.

E por que ele se incomodava com o fato de todos a induzirem em direção a mesmo conde? Ou de Mia preferi-lo a ele?

Nada disso deveria ter importância!

Por que diabos não seguira sua intuição?

Ficar longe era o que deveria fazer. Manter-se afastado de problemas com dondocas da sociedade era uma habilidade que Liam desenvolvera tão rapidamente que jamais se metera em uma situação como aquela. Afastar-se, manter distancia, evitar a senhorita Wentworth seria sua meta daquela noite em diante, mesmo que se encontrassem muito, como já vinha acontecendo. E esse plano deveria ser colocado em prática até a bendita data do noivado de Rupert. Ou, poderia mesmo se meter em grande confusão caso permitisse que suas emoções o dominassem.

Mas, Liam logo percebeu que não seria assim tão fácil agir com racionalidade quando todos os seus instintos lhe pediam para agir com a emoção. Ele e a senhorita Wentworth se encontraram em mais dois eventos antes do final de semana do piquenique. Mesmo a contragosto, as pessoas o convidavam, afinal era sócio de sir Brooks, e a empresa Brooks e Forster era bem conhecida por sua seriedade, por sua competência e por sua idoneidade. O que tornava quase impossível indispor-se com seus donos, especialmente com o filho do barão.

Liam era tolerado e chamado para acompanhar o amigo, mesmo que fosse considerado inferior em berço e tradição. E essas duas ocasiões foram torturantes. Na primeira, a jovem e ele mal cruzaram os olhares quando Rupert e Liam chegaram. Seria uma reunião jantar simples, mesmo assim, havia vários casais jovens. Mia estava acompanhada de Lorde Huxley, que se mostrava cada vez mais fixo perto da jovem filha do Visconde. Forster foi apresentado a uma moça que morava com a avó, os pais falecidos não lhe deixaram herança, a beleza exuberante e o título de cavalheiro do pai era tudo o que ela possuía, além de um temperamento agitado e pouco cordial. E mesmo essa garota, por ser filha de um cavalheiro, se dava mais valor do que a pessoa concedida como seu acompanhante.

Na segunda ocasião, houve um breve momento em que Liam teve a oportunidade de trocar duas palavras com a senhorita Wentworth, quando eles estiveram na mesma mesa de jogos. Sentados frente a frente foi impossível evitar os sorrisos e muitos olhares a cada oportunidade possível. Breves momentos, apenas pelo tempo em que a partida transcorreu. Seus adversários, atentos ao jogo não perceberam o que estava acontecendo, mas, tanto para Liam quanto para Mia, aquela era apenas mais uma oportunidade de inconscientemente intensificarem o crescente interesse que se formara dentro deles por ocasião do primeiro encontro.

Na mente de Mia, ela agia com frieza e desinteressada.

Para Liam, seu comportamento estava longe de ser considerado como o de um homem encantado.

E essas certezas distorciam a visão que ambos faziam de suas ações.

O que Forster via?

Que Mia estava agindo exatamente como ele, se mantendo afastada, e não a condenava por isso. Certamente fora alertada para se manter distante. E caso a garota tivesse se comprometido a isso, cumpriria com sua palavra sem pestanejar. Em sua mente não havia maneira recriminá-la se a admirava por ser honrada em cumprir com o que prometia.

A senhorita Wentworth representava algo que ele desejava encontrar e não sabia. Alguém que levava seu corpo e sua mente a reagirem ao mesmo tempo. A bem da verdade, ele nunca fizera diferença entre as garotas de madame Ouida e as filhas de boa família que conhecera, até porque, a maioria delas era apenas fachada de boa moça.

Quanto a Mia Wentworth?

Pois havia dentro dela a certeza de ter cumprido exatamente o que prometera à mãe. Evitara o amigo de Rupert, se mantendo longe, esquivando-se de conversar com ele. Mal o cumprimentara na verdade. Porém, seria impossível não notar que o senhor Forster agia da mesma forma com ela. Conservando-se afastado e fugindo das oportunidades em que poderiam se aproximar ou ficar a sós.

Aquele problema parecia totalmente resolvido para os dois. A partir daquele momento os encontros deixavam de ser um problema.

 


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo, obrigada Mei e Flor pelos reviews, é bom demais ter vcs aqui!
BJOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
até o próximo. espero q gostem



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