Um Amor Como o Seu escrita por Lilissantana1


Capítulo 19
Capítulo 19 - A partida


Notas iniciais do capítulo

Mais de Mia e Liam



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Aquele dia tumultuado parecia não ter fim.

Quando a viscondessa chegou da atividade social, foi até o quarto da filha para avisar que o noivo viria para almoçar no dia seguinte. Mas, não teve a chance já que encontrou a moça adormecida. Entretanto, quando a porta do quarto se fechou, Mia se remexeu na cama e sentou, precisava contar o que estava prestes a acontecer, mas não sabia como. Não era de seu feitio omitir coisas, entretanto, nos últimos tempos era apenas isso que fazia.

Deixar a situação se resolver sozinha seria muita covardia?

Não avisar os pais o que o dia seguinte lhes traria de desgosto seria deslealdade?

Mas... ela disse a si mesma, eles também não foram leais quanto pediram dinheiro emprestado para Liam Forster mesmo alardeando aos quatro cantos seu desprezo por ele.

— Hipócritas! - falou alto ficando em pé buscando o diário escondido debaixo da gaveta do criado mudo.

As páginas escritas por horas em que se acreditava amada de verdade estavam ali para reforçar o quão estúpida fora. Para lhe mostrar que jamais deveria confiar seu coração a ninguém. As mulheres que conhecia geralmente se mostravam amargas, duras e azedas. A maioria delas era assim pelo casamento que fizera. Ela nunca quis uma relação alicerçada em sentimentos, mas se rendeu a eles quando conheceu Liam. E no final de tudo como estava? Tão amarga e azeda quanto as matronas que borboleteavam em torno dos salões produzindo intrigas e maldades através de suas línguas amargas.

As folhas amareladas foram uma a uma arrancadas, rasgadas e depois queimadas. Se casariam por causa de uma chantagem não queria guardar falsa lembrança de um sentimento que pensou que existia. Menos ainda de um homem que ela idealizou em seus pensamentos e amou em seu coração.

Alguém que não merecia um minuto de sua atenção. Quanto mais todas aquelas palavras apaixonadas.

*

Quando a manhã seguinte surgiu nublada Mia compreendeu que talvez estivesse certa. O Universo certamente refletia como se sentia, lhe mostrando em nuvens espessas o quanto os próximos dias, meses e anos seriam sem graça e tristes.

Logo cedo Amélie surgiu para avisar a filha da visita do noivo para o almoço e após o café da manhã quando Mia acreditou que poderia dar início ao assunto que a perturbava desde a noite anterior, a mãe informou que Candence a esperava na sala íntima.

— Candence? - o que sua amiga queria? Conversar sobre o assunto da tarde anterior? Nada havia que ela quisesse falar sobre o assunto até que estivesse devidamente resolvido.

— Sim... ela veio com o noivo. Sir Brooks está conversando com seu pai.

Aquela informação era realmente inusitada.

— Rupert? - será que Liam mandara o amigo fazer o serviço por ele? Não! Liam poderia até pretender isso, mas Rupert jamais se prestaria a tal papel. Ela se recusava a acreditar nisso.

— Por que a surpresa? - a mãe perguntou contornando a banqueta, parando de frente para a filha que terminava de acomodar a faixa no vestido.

— Estou estranhando essas visitas logo cedo. - respondeu com a verdade.

— Parece que sir Brooks tinha um assunto de negócios a tratar com seu pai e Candence resolveu acompanhar. - os olhos de Amélie de repente se apertaram em sinal de alerta – Espero que ela não tenha vindo para lhe trazer algo daquele homem.

Ao ouvir a menção não declarada a Liam, Mia estremeceu.

— Não creio.

— Pois não duvido nada nada... é melhor que eu fique um pouco com vocês enquanto conversam. Quero saber desse homem. Quando será que ele vai embora?

É melhor a senhora se acostumar a presença dele. Mia disse mentalmente enquanto ficava em pé. Queria saber o que trouxera Rupert a sua casa tão cedo para tratar de negócios. Que negócios? Será que estava errada e Liam enviara mesmo o amigo?

Enquanto caminhava pelo corredor em direção a sala principal, Mia elaborava teorias na mente mas nenhuma delas a preparou para o que estava prestes a ouvir.

 

*

Era já noite quando Liam cruzou pelo limite da cidade. O sereno frio o obrigou a erguer a gola do casaco enquanto girava a rédea e dava uma última olhada na claridade tênue ao longe. Poucas vezes ele não se sentira bem consigo mesmo. A primeira fora por ocasião da morte dos pais no naufrágio. Uma viagem motivada por ele, por suas reclamações, por seus insistentes pedidos de retorno ao lar. A segunda se dera por ocasião do pedido do avô para que voltasse ao lar assim que se formasse com o intuito de tomar conta das fazendas. Liam prometera não voltar exceto se fosse de visita, esse era o desejo de seus pais e ele o seguiria a risca. Mas, a recusa declarada fora mal aceita e levara ao silêncio de seu único parente vivo conhecido. Eles nunca mais se falaram depois daquilo. A terceira dizia respeito a Mia e terminara daquela forma estúpida. Com a única mulher que amara o odiando. Por culpa única e exclusiva dele.

Ele tinha o poder de estragar as coisas. Parecia que sua habilidade se resumia aos negócios. Quando se tratava de produzir dinheiro sempre se saía muito bem. Quando envolvia sentimentos, relações, outras pessoas, estava fadado ao fracasso.

Girou a rédea e seguiu pela estrada em um galope controlado. Rupert talvez ficasse zangado por não ter esperado por ele, mas jamais permitiria que o amigo abandonasse a noiva apenas para bancar sua babá. Que nitidamente era a intenção do outro.

O recibo, bem como a carta que redigira para Mia estavam no saguão com o recepcionista. Rupert faria o que devia ser feito de forma clara e metódica. Ele era bom nisso, em tratar de assuntos melindrosos. Para Liam sempre sobravam os casos mais cabeludos, onde exigia pulso e determinação para serem resolvidos.

Quanto a carta, seria função de Candence entregá-la e ele confiava na garota. Tinha certeza de que Mia a receberia. Aquela era a prova que a jovem receberia de que ele realmente a amava. Jamais abrira mão de algo com tanta dificuldade, mas via cada vez com mais clareza que aquela era a única atitude possível de ser tomada. Senão por si mesmo, que fosse por ela.

O ar frio cruzava pelas narinas e entrava pelo peito produzindo uma breve sensação de alívio. Nada mais havia para ser feito que não fosse voltar para casa e seguir de onde parara. Ao menos levava consigo a consciência tranquila de ter tentado e de ter permitido a Mia continuar do modo que pretendia.

 

*

Candence estava sentada no sofá, de frente para a porta. Apertando a bolsinha entre os dedos. Havia ali dentro a carta que Liam escrevera e deixara para Mia. Ela não sabia se deveria ou não entregar, e, só depois de conversar com a amiga decidiria o que fazer.

Mas, antes que Mia chegasse, Mary surgiu alegre e agitada atrapalhando tudo. Ou talvez resolvendo por Candence o que deveria ser feito.

— Mary... - a voz de Amélie se fez ouvir alegremente ao ver mais alguém na sala, o que a liberava para outros afazeres enquanto a filha conversava com as amigas.

— Como vai viscondessa? Mamãe resolveu sair cedo para as compras e eu vim aqui para convidar Mia a nos acompanhar. - seus olhos se dirigiram para Candence – Se quiser vir será bem vinda... estamos nos preparando para o seu noivado.

— Estou muito bem. E vejo que seus itinerário hoje será corrido... porém, não creio que Mia possa acompanhá-las, estamos esperando sir Huxley para o almoço.

Batendo palmas Mary cumprimentou a amiga.

— Fiquei tão feliz quando soube que você e sir Huxley finalmente acertaram o noivado. Estava tão claro que havia entendimento entre vocês!

— Sim. Todos perceberam o interesse de sir Huxley por Mia! - Amélie anunciou sem necessidade.

Enquanto o assunto se desenrolava entre a dona da casa e Mary, Candence e Mia se observavam sérias. A primeira logo notou as olheiras sob os olhos azuis, a falta do sorriso delicado e vivacidade que era uma das características de Mia. Certamente que a carta não ajudaria a melhorar aquela aparência.

— Preciso dar algumas ordens. Fiquem a vontade, mandarei limonada e biscoitos.

— Obrigada mamãe... - Mia respondeu sentando entre as amigas.

Sem perceber o modo como Mia e Candence se olhavam Mary começou a falar sobre a festa de noivado da segunda. De todos os preparativos para uma noite tão especial. E com exagerada alegria exclamou:

— Seu noivado exigirá ainda mais cuidado Mia!

— Por quê? - Mia perguntou perdida, não prestara atenção ao monólogo da outra.

— Ora! Sua mãe deverá querer que a festa seja a maior já vista em tempos.

Contorcendo-se no sofá Mia retrucou:

— Talvez mamãe pense assim. De minha parte poderá ser um jantar íntimo.– especialmente porque o noivo não seria o futuro conde.

— Não creio que a condessa concorde com você. Sir Huxley é o único filho deles.

A resposta veio da boca de Candence. A intromissão fútil de Mary a perturbava mais do que o normal naquela manhã.

— Do mesmo modo que Mia é a única filha do visconde. Acredito que Mary tem razão, seu noivado será o maior acontecimento social da região.

Mia se acomodou de frente para a amiga. O que Candence estava falando afinal? Será que Rupert não lhe contara o que estava acontecendo? Ao lembrar-se de Brooks Mia pensou em perguntar o assunto que trouxera o noivo da amiga até sua casa, mas com a presença de Mary ali preferiu deixar para depois.

— Sim! Mas neste momento estou totalmente empenhada em fazer bonito em seu noivado Candence. Talvez sir Winston finalmente se convença de que pode me pedir para ser seu par pela festa toda.

Mia pensou que isso era impossível já que o tal senhor estava dando atenção a outra senhorita.

— E aquele entojado do senhor Forster? - a voz agitada de Mary emendou sem dar tempo as outras de respirarem. - Partirá depois do noivado?

Era a hora. Candence pensou.

— O senhor Forster já foi... partiu ontem a tarde.

O sangue gelou nas veias de Mia. Será que estava ouvindo errado?

— Mas certamente voltará para o noivado. - Mary insistiu curiosa.

— Não creio.

— Pensei que Rupert estava retendo o amigo aqui para a festividade?– Mia questionou.

Com uma tranquilidade que não sentia Candence respondeu:

— Foi necessário liberá-lo, o senhor Forster foi exigido na capital. Assunto de trabalho. Certamente que não se liberará a tempo do noivado. É uma pena, mas não contaremos com sua presença...

Desconcertada Mia se remexeu no sofá desejando que Mary fosse embora logo. Mas, em contrário aos pensamentos da garota, outras figuras se intrometeram na conversa, era Amélie que trazia Rupert pelo braço.

Elas se ergueram.

Assim que cruzou a porta Brooks percebeu o ar pesado, o olhar perturbado de Mia. Os modos contidos de Candence, o sorriso despachado de Mary e se tardou mais do que deveria para cumprimentá-las.

— Bom dia senhoritas.

— Bom dia senhor Brooks. - Mary falou sorrindo.

— Como está Rupert? - Mia perguntou se aproximando.

— Muito bem.

— Pensamos que talvez o senhor estivesse chateado com a partida de seu sócio.

— O senhor Forster partiu? - Amélie questionou sem esconder a satisfação e o alívio que essa informação representava.

— Ontem. - Rupert confirmou — Foi a trabalho.

— E não voltará para o noivado. - Mary informou sem que alguém tivesse perguntado.

— Uma pena. - Amélie disse de repente com ar tranquilo e fingido.

Perdida naquela confusão de palavras, sons e informações Mia sentiu a sala girar, os ouvidos zunirem e precisou segurar-se a mesinha na tentativa de se manter em pé, mas foi em vão. As pernas fraquejaram e ela foi ao chão.

O movimento de todos seguiu na tentativa de acudi-la. Em segundos Rupert a ergueu o chão e a colocou sobre o estofado do sofá. Uma histérica viscondessa girava em torno do grupo falando alto e gesticulando que a filha estava morta. Um comportamento que em nada lembrava a mulher controlada que todos conheciam.

— Mary! - Candence chamou irritada com a histeria – Leve a viscondessa até sir Wentwroth, talvez precisemos do médico da família.

Com aquele jeito amalucado de sempre Mary arrastou a mulher do cômodo para que fossem atrás do visconde permitindo que Candence pudesse atender a amiga com mais tranquilidade.

— O que está acontecendo? - Mia questionou quando sentiu as mãos da amiga a segurarem as suas e a voz da outra chamando seu nome.

— Você desfaleceu. - Candence respondeu afagando as mãos frias de Mia — Depois de tudo o que tem acontecido é até natural...

— Ele foi... - Mia começou com a voz fraca encarando a face sardenta do amigo em pé, ao lado de Candence.

— Foi...

— E tudo o que conversamos ontem? - questionou tentando se sentar e imediatamente sentindo a vertigem voltar.

— Fique quieta. - Candence pediu - Respondo tudo o que precisar outra hora.

— Quero saber agora... por que Liam foi embora?

— Não era isso o que ele deveria fazer Mia? - Rupert perguntou firme.

Ela engasgou, se sentia aliviada, esgotada, emocionada, perdida, tudo ao mesmo tempo. 

— Era... era... mas ele não pretendia fazer... por que ele foi?

— O importante agora é que Liam voltou para casa e não haverá mais cobrança alguma. Fique calma. Se tranquilize.

Candence explicou seguida da voz de Rupert que surgiu serena perto dela.

— Lhe daremos todas as explicações que desejar depois, com calma. - ele ainda concluiu antes que o os Wentwort e Mary ingressassem agitadamente pela porta da sala novamente.

Um médico foi chamado e imediatamente constatou que Mia parecia emocionalmente esgotada. Sugeriu repouso, uma alimentação leve, um bom tônico e a jovem logo estaria nova. O diagnóstico foi tranquilizador para os pais, mas não para ela, pois isso significava que ficaria sem respostas para suas perguntas até que Candence voltasse para visitá-la.


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Notas finais do capítulo

Parece que Liam não volta.
Como Mia reagirá a essa atitude?
UM BJO a todas q estão acompanhando.



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