Oblivion escrita por Camélia Bardon


Capítulo 6
Capítulo 5, ano um


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente bonita! Estão surpresos com o retorno súbito da sumida? (porque eu estou, não nego KKKKK) Pois é... mil, dez mil perdões pela demora de quase quatro meses completos na atualização daqui :') me empolguei com as drabbles de outubro e fui empurrando minhas histórias com a barriga. Aí veio o bloqueio. Desculpa mesmo, pessoal.

MAAAAAS, como forma de redenção, trouxe a segunda parte do capítulo que vocês TANTO ESPERARAM ♡ como estão as expectativas aí? Contem-me das novidades, porque eu amo de paixão conversar com vocês!

Boa leitura ♡



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A garota é estranha. Bonita, mas estranha. Parece uma clarividente. Porém... mais sinistra. De qualquer modo, a intenção que ela tem é boa e eu aceitei, afinal, não é todo dia que se tem uma guia gratuita e um carrão. Google Maps existe? Existe, claro. Mas tanto eu quanto você sabemos que ele não é lá aquelas coisas em exatidão. Um dia desses programei para ir à loja de doces e fui parar em... quer saber? Essa é uma história para outro dia e um horário mais propício.

O Chevy segue com facilidade a minha caminhonete. Parece mais uma réplica do Relâmpago McQueen e do Tom Mate, só falta eu ir de marcha ré. Rio sozinho com a comparação e prossigo o caminho.

— Você não disse que viria com uma gata — Caleb resmunga, ainda de braços cruzados. — Eu teria passado um gel no cabelo.

— Caleb Thomas, seu garanhão — faço uma imitação barata de uma voz aguda feminina. — Nem eu sabia que ela vinha. Estou tão perdido quanto você.

— Mas ela disse que te conhecia, não disse?

— Dizer ela disse, mas tudo é verdade até que se prove o contrário.

— Ela me dá medo — confessa Caleb.

Dou uma breve risada com seu comentário. A verdade é que: eu me lembraria de Louna. Seu rosto é inesquecível. Mas esse é exatamente o problema: eu tenho memória fotográfica e seu rosto não está em nenhuma das memórias das quais julguei estar. Contudo... conhece a sensação de ter algo errado e não fazer ideia do quê? Louna estava ali em meu banco de dados, mas não passava de um arquivo fragmentado. E isso me deixava puto da vida.

Pegamos a rodovia 290 rumo ao lar dos Thomas-Abbott. Caleb se cansa de falar comigo e coloca os fones de ouvido pelo restante do caminho. Alguns minutos depois, contornamos os subúrbios de Austin e entramos em nossa singela rua arborizada e florida. Ajusto o retrovisor e vejo Louna manobrando o carro para estacionar frente à nossa casa, logo após eu deixar a caminhonete na garagem.

Caleb se solta do cinto e afrouxa a gravata do uniforme, resmungando. Desligo o carro e saio, dando um tapa amigável em suas costas.

— Peça uma pizza para você e as meninas — instruo. — Tem dinheiro embaixo do micro-ondas. Não sei quanto tempo vou demorar.

— Uhum, eu sei — ele dá uma careta maliciosa. — Dê um beijo nela por mim.

Reviro os olhos e me encaminho para o Chevy. Louna indica o banco do passageiro e sorri abertamente. Parece ter relevado meu esquecimento dela, ou apenas finge muito bem.

— Não acredito que vou dar uma volta nesse carrão — suspiro, recolocando o cinto de segurança. — Sempre gostei de coisas retrôs. É tudo antigo ou você reformou?

— Acho que está mais para vintage do que para retrô — pondera ela, ligando o carro e já engatando a marcha. — Tive que adaptar o motor, o outro consumia muita gasolina e era altamente prejudicial para o meio ambiente. Saía aquela fumaça preta, horrível. Agora uso aditivada.

— Bem hippie. O Carro já viu alguma coisa ilegal? Alguma racha?

Louna ri ironicamente, e me olha de escanteio.

— A adolescência é um divisor de águas na vida de qualquer indivíduo, senhor Thomas. Entenda como quiser.

Sorrio com o canto da boca. Desejo tê-la conhecido antes, talvez na época das rachas. Anoto mentalmente de requerer informações de seu passado assim que possível.

Não tarda a chegarmos na loja de doces – e a nos transformarmos em crianças novamente. Eu, mais que ela, por ser a primeira vez. Em frente a minha ilustre pessoa, vejo barras de chocolate enormes de no mínimo um quilo, pirulitos gigantes e...

— Smoothies? — olho direto para o bar. — Dá para adicionar álcool?

— Se você subornar o barista... É claro que não, aqui é um ambiente bem família.

— O Deadpool tinha dito a mesma coisa — argumento.

Ela dá de ombros e arrisca a esconder um sorriso. Cruza os braços na tentativa de parecer séria, mas definitivamente a jardineira tira qualquer resquício de ar sério que lhe resta.

Enquanto Louna pede os smoothies – manga para ela, abacaxi para mim – caminho pelos doces corredores da Big Top Candy Shop (trocadilho ruim, eu sei) em busca de algo que agrade os pequenos. Escolho um Doritos tamanho exército – que sinceramente não faço a menor ideia de como carregarei até em casa –, dois tabletes de Hershey’s para as meninas e para Caleb um pacote de Haribo em forma de sanduíches. Comprimo tudo contra meu peito, pago as compras e retorno ao bar.

Sento-me ao lado de Louna, sorrindo como quem tivesse aprontado. Ela aponta para a sacola de compras com a cabeça e ergue uma sobrancelha.

— Deixe-me adivinhar. O instinto de irmão mais velho gritou na sua consciência.

— É inevitável. Eu vim por eles, de qualquer maneira.

Louna me entrega o smoothie e dá um gole no próprio. Acompanho-a, mas permanecemos em silêncio para saborear as frutas. Dois estranhos que se conhecem de alguma maneira bizarra saboreiam smoothies, enquanto decidem se atracar-se-ão em uma luta até a morte ou…

— Adrien? — ela chama, com o copo já vazio. Quanto tempo eu passei em devaneio? — Tá tudo certo?

— Sim! Sim — apresso-me a tomar o smoothie. Arrependo-me quase que instantaneamente, porquanto que o gelo sobe direto para a cabeça. Resmungo em resposta.

Louna arrisca-se a rir, revelando suas linhas de expressão ao redor dos olhos. Não consigo deixar de achar aquilo adorável. Acabo rindo também, contagiado. Ali estava, novamente: o sentimento de familiaridade.

Suspiro de frustração, ao passo que o barista recolhe as taças. Louna pigarreia e pronuncia a frase que os homens ao redor do globo mais temem:

— Precisamos conversar.

— Eu concordo — as palavras saem antes que eu sequer perceba. — Q-quer dizer, estamos num impasse, não estamos? Podemos resolver fora da loja de doces?

Louna concorda com a cabeça, e levanta-se do banquinho, visivelmente incomodada. Me puxa pelo braço como quem impõe liderança, e eu não recuso em seguir em frente. Apesar de ser bem menor do que eu, Louna anda com uma confiança que eu não via há muito.

De volta ao Chevy II preto e brilhante, Louna dirige com o rádio ligado em uma música nova do Coldplay. O ritmo animado não condiz com a seriedade do momento. Não reconheço o caminho, apenas a Universidade do Texas que fica para trás rapidamente.

— Estamos fazendo uma espécie de tour por Austin hoje? — brinco, para quebrar o gelo.

— É por aí mesmo — ela sorri. — Você vai gostar de lá, só demora um pouco para chegar. Até lá… você começa ou eu começo?

— Pode começar…

— Que cavalheiro — Louna ironiza. — Bem, em resumo, dentro dos últimos quatro dias você me contou que mudou-se para Austin em busca da garota dos seus sonhos. E que tem quatro irmãos. E me pediu para levá-lo para a Big Top Candy Shop, pois não sabia o caminho. E isso é tudo.

— Espere aí — viro-me para ela, confuso. — Isso é tudo que sabe sobre mim? Estava mentindo quando disse que estudamos juntos?

Ela assente com a cabeça, envergonhada.

— E-eu estava nervosa! Você também não ficaria assustado com alguém que você conhece ter algum tipo de… amnésia esquisita, do nada?

— Nos conhecemos há quatro dias!

— Isso não é justificativa — ralha ela, me olhando de soslaio ao parar em um farol vermelho. — Sei que agi errado, mas… seja razoável.

Assinto com a cabeça, pela falta de opções. Apesar de ter mentido, eu não vejo razão para pensar que Louna é uma má pessoa. De qualquer maneira, prosseguimos caminho. Ela parece querer falar mais apenas quando chegarmos ao destino misterioso, que não tarda a dar as caras.

Louna estaciona em frente a um mini plaza. Ergo a sobrancelha, tentando entender.

— Um shopping?

Ela revira os olhos e me puxa pela mão, impaciente. Sinto-me constrangido com o súbito contato, mas ela parece saber o que está fazendo. Passamos por entre a pequena multidão que se aglomerava num restaurante. Pelo que observo, boa parte da multidão está concentrada na parte exterior.

Deparo-me com uma espécie extraordinária de píer. O restaurante é situado de frente para o Lago Travis. O sol está para se pôr, então suponho que esse seja o motivo de tantas pessoas reunidas – afinal, o motivo em geral para as pessoas procurarem Austin são os festivais de música. E garotas dos sonhos, pelo visto.

— Sei que não é a melhor forma de redenção, mas você tem que admitir que a vista não é lá das piores — Louna comenta, posicionando-se ao meu lado. Ela ergue seu olhar para mim, esperançosa. Faço que sim com a cabeça, admirando a paisagem. — Eu costumava vir direto aqui com o meu irmão.

— Por que costumava? Não vêm mais?

Ela nega com a cabeça, nostálgica.

— Não, Pietr está na faculdade. Só o vejo aos finais de semana, e olhe lá.

Olhe lá, também conhecido como “encontros com um Adrien Thomas desmemoriado”.

— É, pode ser — Louna ri, mas dentro de poucos segundos seu semblante torna-se sério novamente. — Quanto a isso, eu…

Apoio meus braços na grade de proteção, ao lado dos dela. Sinto os pelos de ambos eriçarem-se mediante ao contato físico, e noto que Louna paralisa. Ela volta a me encarar, interrogativamente.

— Sou da opinião que poderíamos esquecer tudo isso — sugiro. — Estamos diante de um belíssimo pôr do sol e acabamos de comprar uma tonelada de doces. O que acha de recomeçarmos?

— Por favor — Louna murmura, aliviada.

— Meu nome é Adrien, muito prazer em conhecê-la — estendo minha mão para ela, que a aceita, mais calma.

— Louna Benoit. O prazer é todo meu.

Permanecemos assim, entorpecidos pelo momento, segurando as mãos um do outro. Poderia iniciar-se a Perseidas ou a Eta Aquaridas (que não tarda a chegar, aliás), nada mais me atraía do que o brilho dos olhos azuis-escuros de Louna. Poderíamos ter muito o que conversar ainda, mas ela não era mais uma desconhecida. Observamos o final do pôr do sol em silêncio e retornamos ao Carro, temendo que se disséssemos algo o momento fugiria de nós.

Desta vez, Louna retorna para minha casa, com uma música de sua seleção pessoal. Olho de soslaio seu meio sorriso com a escolha da música, e deduzo que se trata de uma de suas paixões. Ela tamborila com os dedos ritmicamente, e de vez em quando arrisca olhar para mim com um sorriso bobo.

Quando estacionamos novamente na frente de casa, e eu retiro o cinto de segurança, parecemos dois adolescentes no primeiro encontro. Saímos d'O Carro e ficamos um de frente para o outro, ansiosos. A palma de minhas mãos estão suadas e os cabelos cacheados de Louna encontram-se como se um furacão tivesse bagunçado-os. O Furacão Louna. Rio com o pensamento, e ela me encara, curiosa.

— O que foi? 

— Nada demais, é só que... estou me sentindo um garoto de 14 anos.

Vejo seu rosto enrubescer, e ela olha para os próprios pés.

— Achei que fosse só eu. Não há motivo para nervosismo, há?

— Não... — pondero, brincando. — Uma estranha me deu carona depois de comprar doces. É assim que se atualizam as definições de "príncipe encantado"?

Consigo fazer com que ela ria e dê um passo para frente. Quando percebo, estamos próximos demais. Posso escutar seu coração batendo forte, e não nego que o meu encontre-se no mesmo estado. Por incrível que pareça, é Louna quem toma uma atitude. 

Com uma mão, ela puxa-me mais para perto. Com a outra, Louna segura gentilmente minha nuca e toma impulso para colocar-se na ponta dos pés. Trocamos um olhar intenso antes de unirmos nossos lábios e, quando isso acontece, é como se estivesse tudo dentro dos conformes. 

Se vim até Austin à procura da garota dos meus sonhos, como Louna bem disse, eu não tinha dúvidas que havia a encontrado. Mesmo que tivesse de ter certa paciência.


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Notas finais do capítulo

Confesso que pretendia postar o capítulo mais cedo, no entanto não foi possível e.e Quis porque quis postar ele hoje. Se não estabelecesse prazo, sinto que não iria sair nunca.

Às referências do capítulo:
1. A doceria Big Top e o restaurante do Lago Travis, chamado The Oasis, são realmente pontos de Austin. Vale a pena conferir as fotos do pôr do sol no The Oasis. Caso queira: https://media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-s/10/a0/ab/07/sunset-capital-of-texas.jpg
2. As músicas que usei no capítulo foram "Adventure of a Lifetime", do Coldplay, e "Staring at the Sun", do MIKA.
3. Perseidas são as chuvas de meteoros associadas ao cometa Swift-Tuttle, são chamadas assim por ocorrerem próximas à constelação de Perseus. Podem ser vistas entre o final de julho e o início de agosto. Já Eta Aquaridas é a chuva de meteoros deixada pelo rastro do cometa Halley, podendo ser vista entre o final de abril e início de maio, próxima à constelação de Aquário.

Por hoje, isso é tudo! Sério, esse mês foi insano. Atualizei minhas duas histórias em hiato e comecei outra. Não sei se consigo repetir esse feito histórico xD Deixem seus pareceres, impressões e teorias do capítulo. Sempre amo lê-las ♡ até daqui menos de quatro meses HEHEHEHEHEH



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