Oblivion escrita por Camélia Bardon


Capítulo 4
Capítulo três, ano um


Notas iniciais do capítulo

Bem, amigos da rede glob- não, pera
Tudo bem com vocês? Espero que sim ♥
A notícia de hoje é que a autora que vos fala voltou a escrever a história que vós leem (oi?) SIMMM, além dos capítulos pré-prontos, não vai ter hiatus aqui não o/
Boa leitura!



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Hoje vai ser diferente.

Hoje lavarei os banheiros sem reclamar. Hoje escutarei meus clientes com atenção. Hoje posso até tocar Bastille. Por que? Hoje é sexta-feira. Amanhã trabalharei menos, descansarei e farei sempre o que faço quando tenho a oportunidade: olharei para o teto e não farei nada. Repito isso para mim mesma todos os dias, com uma desculpa diferente na ponta da língua.

Antes de abrirmos o café, eu e as meninas sempre fazemos alguns muffins para comermos. Hoje é meu dia de lavar o banheiro. Olho para um muffin tentador, mas me contenho. Solto um suspiro, e Marla percebe.

— Não vai comer mais, Lou?

— Ah, não. Estou de dieta... permanentemente.

É claro que “estar de dieta” é só um eufemismo. As meninas não me chamam de gorda na minha frente. É chique dizer plus size agora. Tamanho 44 precisa de dietas, ou ao menos inventar uma para dizer na hora que pensar em comer demais.

Suspiro e giro a placa de Estamos abertos para frente, destranco a porta e desejo boa sorte às meninas no primeiro turno. Contorno o café e me dirijo aos fundos, para minha tarefa terrível. Encho o balde com água no posto de gasolina e marcho para o banheiro. Engulo em seco e me concentro no pior primeiro. O banheiro masculino.

Tento evitar as pichações, mas elas saltam diante de meus olhos.

Ei, loira gostosa, topa um ménage? E junto, um telefone e um desenho de um pênis. Arte primitiva. Reviro os olhos e a esfrego.

Tenho fetiche em gordinhas. Mas essa aí nunca deve ter sido comida. Uau. Suspense.

Dizem que japonesas tem a boceta peluda. Bonita de rosto, mas por baixo é um risco. Ah, essa é nova! Cuidado aí, asiáticas. Sempre verifique se sua vagina está depilada, do contrário, nenhum macho irá querer comer você.

Ouço batidas na porta entreaberta. Enxugo o suor que começa a escorrer. O cheiro de água de lavadeira faz minha garganta secar, então tusso e respondo:

— Desculpe, está sendo lavado.

— Eu sei — o indivíduo responde. Reconheço sua voz.

Caminho com cautela até a porta e espio o lado de fora. Adrien está postado do outro lado com um olhar em mescla de divertimento e curiosidade. Ele só podia estar de brincadeira comigo.

— Olá, Louna — sorri ele.

— Olá, Adrien — respondo, sentindo um rubor preencher minhas bochechas. — Uau, você me pegou num momento terrível.

— Sinto muito. De verdade. É que eu estava passando por aqui, levando meu irmão para a escola, e pensei em dar um oi. Então, oi.

— Oi. Achou a sua garota?

— Achei — Adrien abre um largo sorriso, exibindo duas fileiras de dentes brancos e reluzentes, que lhe dão um contraste lindo com a pele escura. Subitamente sinto vergonha dos meus dentes. — Na verdade, ela não é tão parecida com a dos meus sonhos. Escuta, você não acha que é um pouco abusivo?

— Os banheiros? Acho — desabafo.

— Por que não sai disso e vai viver uma aventura?

Rio instantaneamente, com um tom forte de ironia. Adrien me olha, paciente, porém confuso.

— O que uma garota sem qualificações consegue de melhor? Além disso, meu irmão é o gênio da família. Eu sou só a cópia malfeita. Ele está na faculdade. Não permaneço em casa como um prêmio para meus pais. Eu sei que os decepcionei. Faço isso todos os dias.

— É uma penitência?

— Por aí.

— Curioso — ele se aproxima e aponta para o balde com a cabeça. — Faz isso todo dia?

— Temos turnos — dou um meio sorriso. — Os meus são de segunda e sexta. Somos em três, então o sábado revezamos. A azarada da vez é Joelle, a asiática. Mas aos sábados saímos mais cedo, então o trabalho pesado fica para a segunda-feira mesmo.

— Permita-me ser pretensioso e lhe propor algo?

— Estou ouvindo. Barganhe — brinco.

— Você disse que aos sábados sai mais cedo, certo?

— Certo — digo prolongando o e.

— Meus irmãos viram um vídeo no Facebook da Big Top Candy Shop e agora querem desesperadamente alguma coisa de lá — a Big Top Candy Shop é um paraíso. Na loja, vendem doces em tamanho gigante, smoothies e milk-shakes. — Só que eu não faço ideia de como me locomover por Austin, então... pensei em pedir a você, a única pessoa que conheço aqui, para ser minha guia.

Digeri suas palavras por alguns segundos. Adrien está me chamando para um encontro? Ou está tentando ser simpático? Está com dó da Cinderela New Era? Ai, meu Nietzsche, será que ele também tem fetiche em gordinhas?

— Louna? — pergunta Adrien, me despertando do torpor.

Alguns segundos demais.

— Ah, eu... — pondero acerca de minhas opções. O que eu faço aos sábados? Vejamos. Atualizo minhas séries, aproveito a companhia de Pietr, choro comendo chocolate... — Claro, estou disponível. Saio às 16h.

— Ótimo — e novamente Adrien abre um sorriso. Tento devolvê-lo, mas deve ter parecido um cachorro com os dentes arreganhados. — Venho buscá-la às 16h.

— Ótimo — repito.

Adrien assente com a cabeça e volta em direção ao café. Espero, do fundo do meu coração, que Joelle e Marla não se lembrem dele e façam piadas quando voltar. Eu, por minha vez, volto ao banheiro com um sorriso idiota estampado no rosto.

Vejo o sr. Jerk... Jenkins... chegando com seu mais do que conservado Ford Fiesta e automaticamente desvio o olhar. Verifico o estado de minhas roupas e volto a encarar as privadas.

Devo dizer que nunca fiquei tão ansiosa para limpar aquele banheiro.

Hoje vai ser diferente.

 

É, talvez eu não devesse ter dito isso tão cedo.

Assim que chego em casa, conto os segundos para Pietr chegar. Enquanto isso não acontece, refaço o caminho de todos os dias: estaciono o carro, subo para o segundo andar – eu realmente não sei o motivo de uma casa de dois andares com apenas quatro pessoas morando nela, mas onde posso opinar aqui? – e me jogo alguns minutos na cama antes de retirar a roupa e tomar um banho. E aí eu me lembro que existem seios, então me arrependo dessa escolha e viro de barriga para cima. Daí, tomo banho, coloco um pijama confortável e pantufas.

Desço as escadas para jantar – o meu jantar. Meus pais jantam às 19h, mas eu chego às 21h. Geralmente fico com uma refeição nutritiva: lasanha de micro-ondas. Sei que quinze minutos a esquentando é tempo suficiente para mamãe dar as caras. Ouço o canal de reformas de casa de papai ligado na sala, embora distante, com o volume alto o suficiente para me fazer suspirar. Conto dois minutos e meio, e mamãe aparece.

Fito sua aparência. Apesar de já estar em casa, ela só retira as roupas sociais ao ir deitar. Quando me vê, franze o cenho para meu pijama.

— Não faço ideia do porquê seu irmão te deu isso — comenta ela. — É para garotas magras.

— Olá, mamãe — ignoro-a e ofereço um sorriso cínico. — Como foi o dia hoje?

— Esfuziante — feliz por voltar o assunto para ela, mamãe senta-se dramaticamente em uma cadeira na mesa de centro. Pela deusa, quem usa esfuziante numa frase? Olho para o micro-ondas. Oito minutos. — Conseguimos fechar acordo com a quarta empresa mais influente de Austin.

— Uhum. Meus parabéns.

E então, minha salvação: ouço a porta ser destrancada e quase choro de alívio. Dessa vez, Pietr chega cinco minutos antes da lasanha. Quando ele entra na cozinha, sorri para mim como se não me visse há anos. Minha mãe entende a deixa e bate em retirada para a sala.

— Fala, insuportável! — ele me abraça bem forte.

— Ridículo — respondo, com a boca abafada na manga da camisa.

Novamente, como todos os dias, inspeciono o quão diferente somos. Seu cabelo ruivo levemente ondulado pode ser visto de longe, e Pietr é um varapau. Chega a ter apenas uns músculos no bíceps. Meu cabelo também é visto de longe, mas não pela cor, e sim por ser uma juba. Por mais que nossa mãe tenha tentado alisá-lo inúmeras vezes, cuidei dele e admito que é a única parte do meu corpo que não reclamo. E não comentemos sobre o peso – vocês já entenderam. Genética da família de nosso pai. Por mais que eu tente, não emagreço, então parei de tentar.

Termino a lasanha e Pietr me acompanha até nosso quarto. Vejo o cansaço implícito em seu corpo, e não me surpreendo quando ele também desaba na cama.

Temos uma gata, que entramos no consenso unânime de se chamar Chantilily. Eu queria Chantili, Pietr queria Lily... bum. Seu pelo é tão branco que dói a vista se olhar demais, e ela é imensamente carinhosa. Ao ver Pietr chegando, pula em suas costas e se enrola ali mesmo para dormir. Rio com a cena, e Pietr me acompanha. A gata não faz nada além de ronronar.

— Hoje foi dia de laboratório. O. Dia. Inteiro — Pietr resmunga.

— Aprendeu algo útil, pelo menos?

— Sempre é útil, Lou.

— Estou falando de metanfetamina, Walter White — reviro os olhos.

Pietr revira os olhos de volta para mim. Quando éramos mais novos, eu disse para ele que se algum vento batesse em seu rosto enquanto estivesse com os olhos vesgos, ficariam assim para sempre. Pietr acreditou nisso pelo menos por dois anos. Ao descobrir que eu estava tirando uma com sua cara, ficou sem falar comigo por uma semana inteira. Até que teve que perguntar onde eu havia escondido suas cuecas.

Chantilily saiu de suas costas, o que o fez suspirar aliviado. Sentou-se de pernas cruzadas na cama e tirou o celular do bolso. Provavelmente discutindo trabalhos, Pietr argumentava que não tinha tempo para namoradas ou namorados.

— O que me conta de novo?

— Ah, eu... tenho um encontro amanhã.

— Um encontro? — seu olhar vai de encontro ao meu, e Pietr ergue uma sobrancelha.

— É. Eu acho. Não sei se ficou muito claro.

— Como é o estilo dele?

— Bem... escuro. Mas ele não é das trevas nem nada. Na verdade, ele parece ser uma manteiga derretida.

— Hum... — Pietr apoia a cabeça no joelho. — Noob bad boy.

Assinto com a cabeça, sorrindo com o comentário. Pietr sugere que eu vá com meu vestido azul mais neutro, que “delineava” mais minhas curvas e combinava com os olhos. O provoco dizendo que deveria ter escolhido moda ao invés de química, e sua reação é soltar uma risada sarcástica e tirar um cochilo súbito.

Não sei o que esperar para amanhã, mas posso afirmar algo com convicção sem perigo de ser iludida pela rotina e expectativa excessiva.

Amanhã será diferente.


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Notas finais do capítulo

Hoje tivemos um pouco de Pietr, outro pão de mel ♥ e os pais dela, que são... bom, um pão de mel estragado. O que acharam? Contem pra tia ♥
Expectativas altas para o próximo capítulo, pro primeiro Dia do Amor ao Desconhecido?
Como sempre, muito obrigada pelo carinho de sempre, até mais!



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