Oblivion escrita por Camélia Bardon


Capítulo 11
Capítulo dez, ano dois


Notas iniciais do capítulo

Oioi, gente bonita ♥ como vocês estão? Fico feliz de estar aqui esse mês, de novo, como prometi pra vocês. Espero que gostem, fiz com carinho apesar do conteúdo relativamente triste KKKK



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O humor do meu dia está excelente. Com Pietr retornando um dia mais cedo, nada parece me abalar. E os tempos com Adrien e as crianças são minha salvação diária. Se me fosse possível, eu até dormiria na residência dos Thomas-Abbott. No entanto, sempre tenho de me frear. É só o segundo dia. Não deveria estar tão empolgada.

Mesmo assim, quando Caleb chega e assume à responsabilidade de ficar de olho nas irmãs pelo tempo em que Adrien e eu voltássemos para casa, até mesmo sua expressão de incredulidade me faz rir.

— Ora, Caleb — Adrien me acompanha no riso. — Vá se acostumando, vai ser assim todo dia!

— Como assim "todo dia"? Como quer que eu fique sozinho todos os dias com aqueles dois monstros? Qual é, fica você! Você não faz nada da vida... além de trabalhar...

— Mas é lógico! Você chega, e a Louna vai embora. Ou quer que ela viva só por nós?

— E você, folgado?

Adrien abre um sorriso vitorioso.

— Eu? Olha, o seu "você não faz nada da vida além de trabalhar" já me doeu. Mas... não vou ficar o dia inteiro aqui, só os finais de semana. E olhe lá...

— Então por que você...

Pouco a pouco, o entendimento recai sobre Caleb. O segundo mais velho dos Thomas-Abbott abre um sorriso de orelha a orelha, e nós três começamos a rir simultaneamente.

— Caramba! É mesmo? Foi mal, então!

— Só assim mesmo, seu cabeça-oca — Adrien dá um empurrão no irmão com o corpo, de brincadeira. — É, é mesmo! Amanhã vou conversar com os reitores e fazer uma avaliação de conteúdo. Dependendo de como for, já fico por lá mesmo. Entendeu?

Caleb contorce o rosto em uma expressão que traduzo como um misto de confusão e contentamento.

— Mas estamos em abril! Quer dizer, o ano letivo acaba em dois meses!

— Por isso mesmo a avaliação, tonto.

Me sinto uma intrusa na conversa, então decido por ir me sentar com Aimee no sofá, um pouco. Quase salto de susto quando a ouço puxar assunto:

— Acho que a caminhonete velha também merece um nome. Quer dizer, ela é como uma vovó-carro.

— Excelente ideia, Ames. Alguma sugestão que ache pertinente?

Ela cruza as pernas e os braços, franzindo a testa para completar o combo "adulto quarentão". Tenho de suprimir uma risada enquanto ela pensa em um nome para a vovó-carro.

— Não tenha pressa — provoco.

— Você é má! — Aimee gargalha, em resposta. — É bom ter alguém para conversar à altura, para variar. O que acha de Lyla?

Mal tenho tempo de digerir o elogio relâmpago que ela me faz.

— Lyla? Por que Lyla?

A garota olha ao redor, como quem observa se há alguém espionando. Ainda agora, Adrien está entretido na conversa com Caleb, e Maddie ainda se encontra embalada no soninho da tarde. Então, Aimee se recompõe e solta um pigarro, como uma profissional do crime.

— É para combinar com a Lola. Só que a Lyla é a irmã feia.

— Ah, céus — rio baixo, o que deixa Aimee satisfeita consigo mesma. — Ótimo, mas isso morre aqui.

— Perfeito!

Aimee me lembra um pouco o Pietr, quando mais novo. Quer dizer, quando não era esse poço de ironia de extravagância que é hoje. Gosta de ser incluída nos assuntos, quase não fala; mas quando o faz, sempre tem uma pérola para compartilhar. Imagino que ela vá ser uma adulta incrível.

— Até amanhã, Ames — sorrio para ela ao me levantar. Ela, por sua vez, retribui o gesto e volta a ler seu livro. Com a sensação de dever cumprido, volto para a cozinha e me apoio no balcão. — E aí?

Adrien se sobressalta. Possivelmente, só se lembrou de minha presença agora.

— Caramba, Lou, me desculpa...

Lou? É a primeira vez que ele me chama assim. Acho que nem notou a intimidade. Mas Caleb, sim. Ele sorri para mim, como oferta de paz, e dá um tapinha amigável no ombro do irmão.

— Leva ela em casa, depois conversamos mais, senhor universitário — e, após se virar para mim, acrescenta: — Não esquenta. Ele só não esquece a cabeça, porque está grudada no pescoço.

Ah, Caleb, pode apostar que seu irmão não ganha e mim no assunto "esquecimento"...

— E não esqueço a cabeça porque é nela que fica o cabelo. A juba é muito grande para fingir que não existe.

Aprecio bastante o bom-humor de Adrien. Parece que tudo para ele é motivo de piada. Sempre nos afetamos pelo humor de quem nos cerca, involuntariamente – seja para melhor ou pior. Tenho o pensamento perigoso de que adoraria tê-lo por perto mais vezes.

Saio do meu torpor quando ele agita as chaves da caminhonete – ops! Da Lyla –, gesticulando para que saíssemos.

— Olha, não é uma Lola, mas... — começa ele, em tom de desculpas.

— Eu acho que é ótimo.

Daí, como se estivesse calculando, ele abre mais um de seus sorrisos. Porém, dessa vez, ele desmancha rapidamente, enquanto Adrien dá a partida. Incapaz de ficar quieto por mais de cinco minutos, ele solta um pigarro.

— Posso... posso perguntar uma coisa pessoal?

Olho de soslaio para ele, meneando a cabeça positivamente. Há tantas coisas sobre mim que não mencionei a ele e nem a Maisie, o que poderia ser?

— Lembra que disse, ontem, que sua família era... hum, complicada?

— Sim — respondo, com cuidado.

— Não estava se referindo ao seu irmão, estava? Aliás, vai guiando o caminho?

Respiro fundo, desviando o olhar para a janela. Para as ruas suburbanas de Austin. Dou as primeiras coordenadas, e ao pararmos no primeiro farol vermelho, solto a segunda resposta monossilábica do dia.

— Não.

— Sabe, não precisa dizer se não se sentir confortável.

— Eu quero — o interrompo com gentileza, em seguida indico a próxima direção com uma mão. — Além de que, se perguntou, é porque quer saber. E suas perguntas não me ofendem.

Ele suspira, de alívio.

— Ufa! Já pensei que tinha estragado tudo...

— Não — rio fraco e sorrio para ele. — Não, meu irmão é... ele é maravilhoso. Acho que isso é parte do problema. Meus pais são só orgulho com ele. Mas... não comigo. Não sei o porquê, mas eles não... não vão muito comigo — tento explicar sem parecer uma reclamona. — Pietr é o filho bonito, inteligente e bem-sucedido. E eu sou a filha gorda e atrasada na vida. Sempre foi assim, e em nenhuma vez tentaram mudar meu pensamento, então... me acostumei a ignorá-los. Só moramos na mesma casa, mas logo arranjo um emprego noturno para mudar isso.

Reparo que estou despejando muitas informações simultaneamente, então deixo um tempo em silêncio, para caso ele queira acrescentar algum comentário. Depois de algum tempo, no próximo farol, ele pragueja:

— Que babacas! Quer dizer, com todo o respeito.

— Ah, eles são mesmo. Ou talvez eles tenham razão e eu seja uma inútil.

Estamos passando pelo Lago Austin agora. Acima de nós, a ponte Pennybacker, que me lembra um brinquedo de escalada em formato de círculo. Lembro de fazer essa piadinha sempre com Pietr, nas raras vezes que atravessávamos a cidade para a casa dos nossos avós. Agora, que irônico; eu fazia o percurso todos os dias. Só mais algumas quadras e estaremos em casa.

— E o que, em nome de todas as estrelas no universo observável, te faz pensar assim?

Então, olho para Adrien. Os olhos escuros me fuzilando, e a boca numa linha reta. Ele está falando sério mesmo? Quer dizer, esse é o pensamento que sempre tive sobre mim. E o que todos, exceto Pietr – e, com sorte, Marla e Joelle – parecem ter também.

— Me conhece há dois dias. Como pode saber de algo, para que eu não pense assim?

— Bem, eu não sei você, mas alguém que socorre uma mãe que sempre quis dar um futuro melhor para o filho... é alguém totalmente não inútil para mim — ele comenta, um tanto ríspido. — E você não é o que os seus pais dizem que é. Não pode se enxergar na moldura dos outros, Louna.

Dito isso, Adrien estaciona frente ao casarão dos Benoit. Sua expressão ainda é severa. Ali, reparo que ele não vai dizer mais nada. Respiro fundo, e jogo minha bolsa por cima do ombro.

— Desculpe — peço, sinceramente. — É difícil mudar de opinião depois de anos...

Ainda nada. Sinto as lágrimas acumulando, e tenho de piscar para contê-las. Ninguém gosta de pessoas choronas, escuto a voz de minha mãe em meu subconsciente. Então, dou um jeito de parar. Abro a porta da caminhonete e já contorno a traseira para saltar a calçada.

— Bem... a gente se vê amanhã. Obrigada pela carona.

Deve ter um motivo para ele ter reagido mal ao meu deslize na autoestima. Por isso, não fico nem triste nem brava, e procuro apenas entrar em casa e não olhar para trás ao fechar a porta. Seria imaginação minha ele ter me chamado depois?

Como eu queria ter olhado para trás, afinal de contas...

Pietr não está em casa quando chego. O que, de certa forma, hoje é algo bom, porque vou direto para o banho e, consequentemente, direto para a cama. O dia hoje foi cheio de emoções. Só penso em dormir até criar raízes na cama. Me embalo no sono pensando em Adrien.

E que surpresa boa eu teria de manhã.

 

Também acordo pensando nele. Em como estou feliz por ele ter conseguido entrar na faculdade que tanto queria. Então, me dou conta, quando entrelaço outros pensamentos – novos pensamentos – com respeito a ele. Antigos?

Pensamentos novos, mas antigos!

Levanto-me num pulo, derrubando Chantilily da cama. No susto, ela mal emite um miado. Estou tão imersa em meus pensamentos que mal tenho tempo de assimilar tudo. Adrien é o garoto, de um ano atrás! Isso explica o porquê de ele ter me olhado daquele jeito quando me viu. Porque eu não me recordava dele!

Me enfio numa camiseta e calça jeans qualquer, e desço as escadas de casa como um foguete. Até pulo o café da manhã. Tudo para dar a partida na Lola e refazer todo o percurso, atravessando a ponte Pennybacker e aproveitando novamente os faróis fechados para ponderar algumas coisas.

Eu e Adrien nos desentendemos, ontem. Será que ele vai olhar para mim com o mesmo olhar gentil de sempre? Ou vai se armar com a armadura antipática, de quando cheguei? Não posso contar com isso. Se pensar nisso, vou me auto sabotar. E minha sorte já é grande o suficiente para que alguém faça isso por mim antes.

Fecho os olhos e recordo os momentos do ano anterior. O tour por Austin, a loja de doces, o píer e o pôr-do-sol no Lago Travis, e...

Como num grande filme piegas, me forço a acordar do meu torpor com a buzina do carro atrás de mim. Bem na melhor parte das recordações – aquele beijo! – e uma buzina me quebra. Continuo até a residência dos Thomas-Abbott, dentro do meu horário. Perfeito!

Maisie diz que eu não preciso bater, mesmo assim o faço, porque a essas horas Adrien já deveria ter saído com a Lyla levar Caleb para escola. Como a caminhonete ainda está estacionada na garagem sei que, de duas, uma: ou Caleb vai faltar ou Adrien está atrasado.

Permaneço aguardando na porta uns cinco minutos. Caramba, o que será que aconteceu?

Quando estou prestes a desistir e entrar como sugerido, Adrien comparece à porta para me atender, os olhos fundos de olheiras e cheirando a café. Forte e doce. Sim, é assim que ele gosta do café. Pior: quando penso que ele vai abrir um sorriso e me colocar para dentro, ele apenas boceja e abre um pouco mais a porta:

— Ah! Então você é a babá. Bem, pode entrar. Fique à vontade. Eu sou o mais velho, não o legal, Adrien. Muito prazer em conhecê-la.

Então, ele estende a mão para mim.

Mas que merda é essa?


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Notas finais do capítulo

Pois é. Temos uma Lola, uma Lyla e um desmemoriado. Não me matem, amo vocês xD
Até o próximo!



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