Oblivion escrita por Camélia Bardon


Capítulo 10
Capítulo 9, ano dois


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá, seres lindos de bonitos ♡ como vão vocês? Hoje deixo vocês com essa foto toda colorida e com esse capítulo que está mais ameno. Podia chamar ele de "olho do furacão", pela calmaria enganosa xD



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Ela realmente não se lembra. Não é fruto da minha cabeça. Pelo menos, consigo ver a autenticidade em cada um de seus movimentos ⎼ desde quando ela entra n'O Carro, atrela a cadeirinha de Daisy-Lynn no banco de trás, e quando se senta no volante com uma confiança estarrecedora para um primeiro dia de trabalho.

Pelo restante do dia, ocupamo-nos de comprar tintas, colocar o papo em dia ⎼ por mais que já eu estivesse decidido a ignorar e dançar conforme a música ⎼ e revezar no "carregamento" de Daisy-Lynn. Parecíamos até um casal, se eu apenas conseguisse fazê-la se recordar. Será que é algum problema sério ou irreversível de memória?

Então, depois de recebermos Maddie e Aimee, saltitantes em seus respectivos ônibus escolares, eu e Louna nos despedimos com um aceno positivo de cabeça, apenas.

Eu sei. Foi mesmo frustrante.

Mesmo assim, paciência é o meu nome do meio.

 

Como na manhã do dia seguinte ainda não tinha recebido a resposta do reitor da universidade, fiquei em aguardo para recepcionar Louna e O Carro.

⏤ Ele precisa de um nome decente ⏤ falo num cicio. Em resposta, Daisy-Lynn ri em meu colo. Não resisto e sorrio também. ⏤ Você não. Você é linda e não precisa mudar nadinha.

Na sala, as outras duas pestinhas, por sorte, hoje encontram-se sonolentas ao extremo. Caleb também já partiu para Cedar Valley há algum tempo, então sinto que estou sozinho no lar dos Thomas-Abbott.

Pelo menos, até ouvir o motor d'O Carro estacionando. Mais animado que criança quando ganha um doce, saio com Daisy-Lynn para recepcioná-la.

Meu maior baque é ver que Louna não está sozinha.

O cara misterioso desce d'O Carro, e Louna automaticamente corre para abraçá-lo. Sobressaltado, fecho a porta com cuidado. Não quero que nenhum dos dois me tome como um doido desesperado. Fico com a pulga atrás da orelha; O Carro é sagrado para ela, quem seria tão importante para ter permissão de dirigi-lo? Aí, me recordo. Já se passou um ano. Louna pode ter muito bem ter encontrado alguém.

Tento ignorar meu ciúme súbito ⎼ afinal, acrescento mentalmente, ela não se lembra de você como você se lembra dela ⎼ e espero um tempo antes de abrir a porta. Ambos riem.

⏤ Olá! ⏤ ela sorri, exibindo os buraquinhos nas bochechas. Devolvo o sorriso, analisando o garoto ao seu lado. Ele tem o rosto repleto de sardas, como ela, mas é alto e ruivo. Franzo o nariz, ao passo que Louna permanece inabalada. ⏤ E para você também, Daisy!

Daisy-Lynn, em resposta, solta um gritinho e um "oi", no entanto também se envolve no constrangimento com o garoto desconhecido.

⏤ Obrigada por me trazer ⏤ Louna se coloca na ponta dos pés e deposita um beijo afetuoso na bochecha do ruivo. Por sua vez, ele abre um sorriso. Espero até que ela volte sua atenção para mim novamente. Quando o faz, solta um arquejo. ⏤ Meu Deus, onde estão meus modos? Pietr, este é o Adrien. O mais velho dos cinco.

"O mais velho dos cinco". Normal, não é?

O garoto, que agora tem um nome, estende a mão para mim. Mesmo relutante, eu a aperto.

⏤ E, Adrien ⏤ completa ela, solícita. ⏤ Te apresento Pietr Benoit, meu irmão.

Seguro o suspiro de alívio que estava prestes a sair. Mas é claro! Eles são um pouco parecidos, até. E ela tinha dito que os olhos e as sardas são as únicas coisas que tinham em comum.

Pietr nota meu contentamento, porquanto que abre um sorriso zombeteiro. Como respaldo, equilibro Daisy-Lynn em meu colo, enquanto ela castiga meu braço com tapinhas.

⏤ Prazer em conhecê-lo, Adrien! Minha irmã falou de você.

⏤ Falou? ⏤ não consigo não erguer uma sobrancelha.

⏤ Claro! ⏤ Louna já se adianta, fuzilando sutilmente Pietr com o olhar. ⏤ Temos quase a mesma profissão, mas a sua não foi voluntária… 

⏤ Claro que sim ⏤ uma vez mais, Pietr carrega as expressões de ironia. Aperta de leve o ombro dela, e gira as chaves d'O Carro entre os dedos. ⏤ E eu já vou. Se cuida, Lou-Lou. Venho te buscar mais tarde?

Eis a minha brecha. Ahá!

⏤ Não esquenta. Eu espero meu irmão chegar e deixo ela em casa. Tá bom pra você, Louna?

Os olhos claros dela nos observam como se estivéssemos numa partida de tênis. Assimilando com lentidão, Louna abre um sorriso, divertida.

⏤ Eu aceito. Pode deixar, Pietr. Estou em boas mãos.

Meu coração não aguenta e falha uma batida dentro do peito. Quando penso que ela está sendo carinhosa demais, Louna acrescenta:

⏤ Além de que já estou confiando na sua boa-vontade de ir sozinho com o meu bebê na volta… uma vez é suficiente. 

E então, a nuvem de desconfiança que paira entre nós se dissipa, tão rápido quanto chegou.

 

Hoje, Maddie fica decepcionada por não ir n'O Carro. Tenho o palpite de que Aimee também; mas, se está, não deixa transparecer. Me pergunto quando a fase da carranca vai passar para ela… 

Para nos distrairmos, aproveitamos o assunto "ausência d’O Carro" enquanto esperamos o ônibus para finalmente escolher um nome para o Chevy II.

⏤ Sabe que eu nunca pensei nisso? ⏤ Louna comenta, para encorajar as mais novas.

⏤ Como não? ⏤ Maddie fica boquiaberta. ⏤ Você o chama só de "Carro"?

⏤ Bem… é.

⏤ Quem vai iniciar a rodada de leilão de nomes? ⏤ Aimee questiona, tirando um de seus fones. Ela finge não estar tão interessada, mas no fundo tenho certeza de que está empolgada com a ideia, também. 

⏤ Por que não começa, Aimee? ⏤ Louna sorri, apoiando a cabeça na palma das mãos. ⏤ Quer dar alguma sugestão?

Aimee abre um sorriso mínimo. Ponto para a "Lou-Lou"

⏤ Eu? Bem, eu gosto de… Riggs. 

⏤ Eu não deveria ter deixado você assistir Máquina Mortífera ⏤ rio alto, ao passo que ela resmunga de brincadeira. ⏤ Boa sugestão. Eu gosto de Lola. O carro do Phil Coulson se chama Lola, e é vermelho, então… 

Louna solta um "ah!", então me dou um ponto gratuito por ter acertado as referências que ela gosta. Então, nós três nos viramos para Madeline, aguardando seu veredito ou sua opinião. Ela exibe um ar muito sério para alguém de sua idade ⎼ melhor dizendo, muito sério para a decisão boba que estamos tomando.

⏤ Acho que vou ficar só para a votação… os nomes são bons… 

⏤ Está bem ⏤ Louna ri, fingindo ponderar seriamente a questão. ⏤ Se eu disser a minha resposta, imagino se vão me considerar muito babona… 

⏤ Experimenta ⏤ Aimee novamente abre um sorriso, antecipando o que Louna viria a falar. ⏤ Não, me deixa adivinhar. Você vai escolher os dois?

Erguendo as mãos em sinal de defesa, Louna sorri para nós.

⏤ Desculpa. Eu sou mesmo muito previsível, não sou?

⏤ Um pouquinho ⏤ Maddie se levanta ao ver o ônibus contornar a esquina e parar em frente de casa. Em seguida, eu e Louna nos levantamos juntos para arrumar a mochila em suas costas. ⏤ Vai ficar Lola Riggs então?

⏤ Vai. Lola Riggs, o Chevy Mortífero.

Foi o estopim para Madeline gargalhar. Aimee se dá ao luxo de compartilhar o riso por mais um tempo. Daisy-Lynn repete o "Lola", feliz da vida. Não só ela. Registro toda a cena em minha cabeça, mesmo que saiba que não vá esquecer dela.

Esquecer… mais uma vez, eu cutuco minha própria ferida. Como é possível?

Depois de Madeline, Aimee vai para o ônibus contrariada por deixar a própria casa. Logo ela, que se pudesse faltaria todos os dias. Penso que arranjou uma boa amiga, mesmo que com o dobro de sua idade.

Apenas noto que Louna ainda está lá, quando ela toma Daisy-Lynn de meus braços gentilmente. Pisco algumas vezes para retornar para a órbita, e ela não deixa de fazer piada:

⏤ Olha, para quem gosta tanto do espaço… 

⏤ Foi mal, Lou-Lou ⏤ provoco, apenas para vê-la revirar os olhos. São os olhos mais bonitos que já vi, um tom diferente de azul-escuro. Poderiam muito bem ser castanhos, pela aréola cinzenta. Aimee os definiria como "uma personificação perfeita de um dia tempestuoso". Fico tentado a dizer isso a ela, mas… não é o momento. Então, apenas acrescento um sorriso mordaz. ⏤ Agora toda vez que escutar isso, vou enxergar um lulu-da-pomerânia.

⏤ Isso é muito ofensivo, visto que eu sou baixa e tenho cabelo cacheado!

⏤ Ai, meu Deus, sério? ⏤ paro para abrir a porta para ela.

⏤ Claro que não. Tinha que ver a sua cara ⏤ Louna gargalha, fazendo uma sinfonia de risos com Daisy-Lynn. 

Quase que perco o ar. Quando ela volta seu olhar para mim, está com uma sobrancelha erguida, em tom de desafio. Tranco a porta, só para escutá-la dizer enquanto caminha pela cozinha:

⏤ Vamos, não encare tudo com tanta seriedade. Você tem um sorriso bonito.

E é com essa frase que eu levo o restante do dia com algum resto de sanidade.

 

Pouco antes do horário de retorno de Aimee e Maddie, recebo um email da reitoria. Tento não ficar muito animado, mas a quase queda do notebook do meu colo fala por si só. Daisy-Lynn grita por mim, despertando a atenção de Louna na cozinha. Ela vem correndo, com um pano de prato pendurado no braço.

⏤ O que foi?!

⏤ Nada, desculpe ⏤ gaguejo, mas não consigo conter o sorriso. ⏤ Foi só o susto.

Ela se senta no sofá, bem ao lado de onde minha cabeça está repousada. Minha vontade é de me aconchegar em suas coxas e dormir ali mesmo.

 Não gosto de me sentar no sofá; não quando há um tapete felpudo no chão, do qual eu posso me esparramar sem levar em conta o espaço. O fato de que Daisy-Lynn pode cair de lá também é um bônus.

Nego com a cabeça para afastar os devaneios, pois ela ainda aguarda uma resposta. Então, a revelo em meio a uma risada irreprimível:

⏤ Me aceitaram. Eu tô dentro.

Então, compartilhamos a risada. Rimos até a barriga doer. Fico particularmente tocado pelo fato de que, para Louna, ela só me conhece há alguns dias. Mesmo assim, ela fica contente por mim. Meu coração fica automaticamente mais quentinho. Esse comentário, não posso guardar para mim.

⏤ Você é uma pessoa incrível, Louna ⏤ acrescento um sorriso ao final da frase, para dar ênfase.

⏤ Como pode ter certeza? Mal me conhece… eu posso ser um monstro… 

Algo em seu tom me faz entrar em estado de alerta. Terreno de conversa perigoso. Como posso contorná-lo?

⏤ Bem… se me permitir, posso conhecê-la melhor. Aí, posso reafirmar o que já sei, com mais propriedade. O que acha?

Louna olha para baixo, para mim. Após alguns segundos conjecturando a questão, me oferece um sorriso animador. Por mais que ainda seja da opinião de que ela anda escondendo algo. No entanto, pressão não faz muito meu estilo.

⏤ Trato feito.

Primeira parada de "conhecimento": a caminhonete velha de carona dos Thomas-Abbott.


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Notas finais do capítulo

Então, O Carro virou Lola? Olha só!
Será que agora o Pietr e o Adrien saem amigos ou vai ser só troca de faíscas?
Adrien também foi aprovado na facul! Fiquem espertos, porque o próximo já é o Dia do Amor ao Desconhecido parte 2. O que vocês acham de tudo isso? Contem pra mim, amo conversar com vocês ❀

P.S.: sai atualização dupla esse mês, visto que esse capítulo é o de agosto e já estamos quase acabando setembro HEHEHEH até mais!



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