Contos de uma Viajante do Tempo Vol 1 - James Dean escrita por Sofia Casanova


Capítulo 5
Capítulo 5




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2 da manhã e 5 xícaras de café depois

Anotação do caso James Dean

            Assisti ao último filme do ator e um documentário feito pelo diretor James Burton. Talvez os tabloides estejam certos em falar que Dean era problemático. O filme que assisti foi muito difícil de digerir. Ele tinha uma personalidade única, mas eu acredito que ele era uma pessoa de enorme coração e não tinha nada de rebelde, mas de depressivo. Ele sempre demonstra, inclusive em suas entrevistas, que ele quer dizer algo, quer falar mais, porém tem algo entalado. Ele não olha muito as pessoas nos olhos. A Marilyn Monroe era assim.

 

            Ele é sim, problemático... ou será que este adjetivo está errado? Mas ele é um gênio não um rebelde. Os jornais nunca mencionaram que ele era letrado e amava ler James Whitcomb Riley. Ele tem um jeito caipira de andar e verdadeiramente tem muita timidez, mas ele é muito bom nas artes.

 

            Após perder a mãe, seu pai não queria criar um filho que ele fez questão de “jogar fora” e Dean ficou com seu tio materno e dele pegou o nome Dean. Se ele não mudou o nome no cartório, então isso prova que o atestado médico é falso e que pode indicar falsificação de atestado e causa da morte , pois documentos de polícia e óbito devem levar o nome verdadeiro ou seu nome de batismo, porém como tudo naquela época era fácil, inclusive de se comprar um carro, então ele deve ter mudado sim seu nome.

 

            Ele não serviu ao exército. Outra mentira contada pelos jornais. Em 1939-1944 ele nem teria 18 anos. De onde vem essa bosta de dor de estômago?

 

            A questão é que é difícil sim ficar perto dele. Percebo que ele não fazia o que queria, fazia o que mandavam e às vezes se aborrecia e fazia o que queria, porém de forma extrapolada. Chegava cedo porque mandavam, conhecia garotas porque mandavam e quando não queria saia com seu carro e só aparecia dois dias depois. Um menino de extremos. Ele sempre falava calmo, baixo, educado demais. Gentil e amoroso. E tenho certeza que isso se deve as rejeições que sofreu. Como um cachorro sem dono, assim viveu James Dean. Ele era bom. Mas o mataram.

 

Olívia coçou os olhos e sentiu remela dura nos cantos. Continuou a digitar.

            No documentário que vi, achei coisas mais íntimas. Ele, assim como tantos, era heterossexual convicto mas bissexual por conveniência . Em outras palavras: prostituição com homens e mulheres para no fim chegar a lugar nenhum. Pelo amor de Deus, que tipo de emprego é esse? Quantos ossos no armário Hollywood esconde?

 

            Prostituição, pedofilia, drogas e agora satanismo. De fato, achei uma foto nua em preto e branco de James Dean na internet, que não vou imprimir. Ele não precisava disso mas sua vida prostituída, idêntica a da atriz Marilyn Monroe e Rita Hayworth abriu portas para sacrifícios satânicos. Afinal, o que não se faz pra ser famoso? Mas a pergunta é: ele fez por fama ou porque foi jogado nisso? Ele não parece ser do tipo que recorre a estas merdas mas provavelmente ele nem reagiu, como de fato ele não reagia a nada.

 

            Olívia fechou o notebook e andou em direção ao quarto. Enquanto arrumava a cama para dormir, sentiu o próprio bafo de café e resolveu escovar os dentes. Lavou o rosto e passou a pomada para aliviar a oleosidade e as espinhas que ainda a perseguiam.

Jogou-se na cama e sem se cobrir, adormeceu.

E sonhou.

Seu uniforme era da Segunda Guerra, mas desta vez ela não era o soldado, era secretária.

Ela estava digitando na máquina de escrever:

Requerimento de alimento nº 556789

 

Envio este requerimento para fins de abastecimento mensal de alimentos para o departamento de treinamento.

 

 

            Retirou o papel da máquina e assinou com sua identificação de secretária e entregou a um homem que ela não conhecia, para que ele assinasse. Depois, colocou a folha em uma pasta e saiu da sala. O ambiente era familiar: secretaria, soldados, voluntários de guerra. Ao sair do ambiente e encontrar a rua, tudo se transformou. Ela agora era uma atriz, famosa e sua roupa de guerra transformou-se em um vestido de diamantes. Muitos diamantes. Ela sabia quem eram aqueles atores e atrizes ao seu lado batendo fotos. Eram de várias épocas. Vários flashes piscavam, pessoas permutavam entre si para bater foto com ela. De repente, ela percebeu que homens estranhos estavam ao seu redor: homens do crime, deputados, presidente. Um medo tomou conta de Olívia, pois ela sentia que a atmosfera estava diferente. O som das pessoas e dos flashes ficaram mudos e ela estava em um hotel de luxo: ouro puro, lençóis de seda, bebida. Ela estava nua na cama, coberta e um homem estava saindo do banheiro , arrumando o colarinho.

— Tenho que ir, mas depois te ligo para marcarmos outro dia. - ele estava de costas mas virou-se para pegar seu paletó e Olívia o reconheceu com um dos Presidentes dos Estado Unidos.

Quando ele fechou a porta do quarto, um Príncipe europeu entrou minutos depois, tirando a roupa.

— Vocês demoraram. Achei que teria que remarcar. - disse ele.

Ele sentou-se na cama e puxou o lençol dela. Olívia se cobriu com as pernas.

— O que foi? Ficou tímida? - com um sorriso malicioso, ele agarrou os tornozelos dela e a puxou para si.

— Me solta! - Gritou Olívia

— O que tem de errado com você? Ficou desprogramada de novo?

— Você por acaso sabe quem sou eu, seu imbecíl? - Olívia queria jogar na cara da realeza, que nunca viu miséria em sua vida, que ela era superior a ele. Ela estivera na guerra e ele nunca se quer pisou no chão sem usar suas pantufas caras , fabricadas por cambojanos escravos.

— Claro que sei quem você é – ele se jogou por cima dela, dificultando sua respiração – Eu pago caro para que você e suas coleguinhas desfilem de Lingerie para mim e saiam em catálogos de moda, pago caro para que vocês atuem no cinema e me sirvam na cama. Eu fiz você ser quem você é Marilyn , não se esqueça disso. Agora seja um pouco grata comigo, sua caipira.

            Olívia resistiu e ele apertou seu pescoço até que sua cabeça começou a pesar e aos poucos perder as forças. Não demorou para que a sensação familiar de viajar no tempo aparecesse. Ela sentiu que estava sendo levantada da cama e girou, girou, girou até que caiu no ano de 2006, em uma festa. Ainda era um sonho, mas ela sentia que viajava dentro do sonho. Em um vestido florido, totalmente loira , diferente de quem era, estava em uma festa e a julgar pelas árvores ao redor, era Las Vegas. Havia uma piscina, aspirantes a atrizes e modelos, biquínis, bolas, bebidas, homens estranhos e música alta. Ela queria arrumar os cabelos mas sentiu que havia algo na sua cabeça. Haviam vários arames, em forma de capacete na sua cabeça e pregos enormes, maiores que suas mãos e grossos enfiados em sua cabeça, nas laterais.

— O que é isso? - sussurrou ela.

Enquanto mexia no “capacete”, alguns homens engravatados andaram em sua direção.

— Ei, o que você está fazendo? ´- perguntou um deles

— O que é isso? Tire isso de mim, eu não consigo ver direito.

— Pare de dar vexame, venha! - um dos homens a pegou pelo braço e a levou para dentro da grande casa.

            Andaram por corredores cheios de moças de biquíni ou roupas curtas de verão, se oferecendo para algum diretor ou produtor, e as mesmas fariam qualquer coisa para serem famosas, inclusive se prostituir e isso não era segredo para ninguém. Entraram em uma sala onde o barulho da música era abafado.

O escritório era branco com ouro, pelo menos fingia ser ouro. Eram móveis de bom gosto, lareira, cabeças de animais taxidermizados, fotos com celebridades e troféus de esporte.

— Senta aí. - empurrou um dos homens.

Olívia caiu sentada em uma poltrona. O mesmo homem sentou-se atrás da mesa a sua frente.

— Muito bem, amanha será o prêmio da música e você vai ganhar o prêmio de música do ano, como prometido, pelo seu excelente desempenho e bom comportamento. Eu escrevi as suas palavras para amanha e quero que você siga corretamente tudo o que está aqui e pelo amor de Deus, finja que está surpresa. Da última vez você estava insossa como se já soubesse do resultado.

— Deve ser porque eu já sei do resultado. - disse Olívia se saber exatamente o que estava acontecendo, segurando papel

— Você anda muito mal criada. Deve estar se desprogramando. - ele virou-se e abriu uma caixa de charutos.

— O que é se desprogramando?  - perguntou Olívia. Ela percebeu que ele a olhou por uns segundos, mordeu a ponta de charuto e o acendeu. Depois de um longo trago, ele disse:

— Leia seu papel. Em voz alta.

Olívia olhou para o papel, digitado e com grossos erros de ortografia e concordância .

“Quero agradecê primeiramente a Deus, pois sem ele não somos nada. Quero agradecê aos meus produtor e meus fãs. Estou muito emocionada e eu amo vocês.”

— Que bosta! Além de que quem escreveu ser analfabeto isso aqui está tão mentiroso quanto campanha política. Esqueceram-se de mandar beijo pro pai, pra mãe, pra madrinha….

— Você está muito engraçada. Uma surra deve resolver.

— E quem vai me bater, seu burro. É você? Cai dentro.

— Primeiro, você vai falar exatamente como está aí, porque você nasceu em Dakota do Sul e qualquer um do Sul é burro, pobre e analfabeto e quero que você mostre isso.

— Cara… isso é preconceituoso. Se eu subir lá vou dizer que você me mandou falar isso.

— Segundo eu não vou bater em você. Uma Barbie como você não aguentaria um dedo meu , imagine a mão toda nesta sua cara de piranha.

— Agora ofendeu.

— Mas você anda precisando de uns ajustes. - Ele apertou um botão no telefone que rapidamente respondeu.

— Ed, mande o serviço médico. Nossa estrela está se desprogramando e amanhã é o dia dela brilhar.

— Sim, senhor!

            O homem se arrumou para sair e não demorou 2 minutos para que pessoas de branco aparecessem. Sem poder se virar, Olívia permaneceu imóvel até que homens fortes se puseram em sua frente e começaram a apertar os parafusos laterais de sua cabeça. Ondas de dor e atordoamento tomaram sua mente e corpo. Lembranças começaram a surgir: surras, eletrochoque, locais escuros, gaiolas, fome. Quanto mais eles apertavam os parafusos, mais lembranças. Olívia gritou mais perdia as forças, como geralmente acontecem em sonhos: quer correr mas não pode, quer gritar mas não há som. Sua cabeça pendia para os lados mas não podia ficar nesta posição pois as dores só pioravam. Um dos homens que a levara até esta sala ainda estava lá, assistindo tudo e com um ar de assustado e enojado. O olhar de Olívia pedia por socorro mas ele, ao encontrar com os olhos dela, rapidamente decidiu sair.

— Bom, vou pra casa.

            Olívia não podia se mexer: seu rosto, seu pescoço, até a região maxilar, doíam. Quando teve coragem de se levantar, sentia dormência das pernas e sua visão estava turva. Conseguiu chegar até a porta mas um efeito que nunca sentira antes tomou conta de seu corpo: uma estranha dormência e fraqueza a jogou no chão. Uma sensação de leveza, liberdade e torpor. Caída entre a sala e o corredor, ela olhava para o teto e sentia-se diferente, como se fosse outra pessoa. Borboletas passeavam pelos seus olhos: uma, duas, três... Várias, de tamanhos diversos começaram a voar .

            A leveza tomou forma e ela se viu outra vez na Segunda Guerra porém não era soldado mas uma vítima nos Campos de Concentração. Ela estava deitada com um pijama listrado que todos usavam com a famigerada identificação de Judeu. Não havia ninguém no local e todos os equipamentos médicos horripilantes estavam limpos porém preparados para serem usados. Ela levantou-se e reconheceu aquele lugar. Já estivera ali antes mas nunca como prisioneira. Andou lentamente em direção à porta, pois não queria ficar ali um minuto até que viu sua imagem no espelho: Seu rosto estava pálido mas sua cabeça estava aberta e seu cérebro estava exposto e haviam parafusos nele. O medo tomou conta e ela chorou assustada até que médicos entraram na sala e mandaram segurá-la. Ela gritou se agachando no canto da sala.

            Olívia acordou de sobressalto na cama. Ela estava imensamente grata e aliviada por saber que era apenas um sonho. Deitou-se e respirou fundo mas assustou-se outra vez com o barulho da cafeteira apitando, anunciando o café. Procurou pelo celular embaixo do travesseiro e apertou o botão para ver a hora: eram 7 da manhã. Só havia dormido 4 horas mas depois do sonho que tivera, ou pesadelo, preferiu acordar.

            Penteou os cabelos bagunçados e os prendeu em um coque, retirou o que restou da pomada e foi direto pra cozinha. Procurou pelas torradas de cebola que havia comprado e encheu sua maior xícara com café. Tomou dois goles pequenos, procurou pela sua agenda e levou para a cozinha. Foi abrir a cortina da sala e ficou surpresa ao saber que estava chovendo. Tivera sorte de escolher aquele apartamento: a janela da sala eram como portas e ela tinha a liberdade de abrir e ficar na sacada . Abriu e deixou o vento frio e o cheiro de terra molhada entrar.

Voltou para a mesa da cozinha , abriu sua agenda e começou a escrever.

 

Sábado, 10 de Junho de 2017

 

 

            Hoje tive outro daqueles pesadelos que tinha da primeira vez que voltei no tempo. Sinto que é algo muito grande e que não foi efeito de café ou influência de televisão. Eu senti medo, tristeza, terror. Eu senti que estava vivendo a vida de outra pessoa, foi muito estranho. Reconheço algumas pessoas outras nunca nem vi. Outra vez sonhei lá no campo de concentração só que eu era a vítima de Joseph Mengele. Ele abria minha cabeça e eu nunca vi isso na minha vida.

 

 

            As lembranças do Dia D vieram vivas em sua memória. Amanhecer de 6 de Junho de 1948: haviam soldados americanos, franceses, poloneses e ingleses no dia que eles libertaram os cativos dos campos de concentração, na França. O barulho ensurdecedor das submetralhadoras francesas eram o sinal que ela esperava; quando eles parassem de atirar era a hora de sua equipe entrar e libertar os moribundos da ala “hospitalar”. Ela tinha todo o mapa na mente: Entraria à direita, tinha permissão para matar qualquer um. Passaria por um corredor, entraria à esquerda, sala de queima de corpos, havia somente uma porta e entraria e iria direto, encontraria o corredor da morte, onde haviam várias salas hospitalares de experimentos.

            Quando finalmente deram o sinal para avançar, uma equipe de cinco pessoas, fortemente armadas, invadiram o campo e seguiram as ordens dadas através do mapa. Haviam três campos de concentração na França e dois eram de mulheres e crianças. Aquele era um cheio de crianças. Ao chegar ao corredor hospitalar ,dividiram-se. Olívia entrou em uma porta onde havia outro corredor e um profundo silêncio.  Respirou fundo, e correu sorrateiramente, fazendo o mínimo de barulho até a porta do final do corredor. Abriu-a lentamente e entrou. Viu mulheres sentadas em varias cadeiras como se fosse uma sala médica de espera. Estavam desnorteadas e sem reação, carecas e com cicatrizes de costura na cabeça. Havia uma mesa com cadeira, típica de uma sala de espera com atendentes, mas tudo estava vazio, exceto pelas mulheres sentadas, sem noção de nada. Abriu a porta esquerda e havia uma mulher sentada no chão chorando. O quarto era limpo para um campo como aquele e parecia um hospital com roupas brancas, camas de forros limpos e o lugar cheirava a sala de dentista.

Olívia tentou se comunicar em francês com a mulher.

— Você consegue me entender?

— Sim. Me tire daqui.

— O que tem na outra sala?

— É na outra sala que somos tratados como gado, cortados com bois e torturados.

— Eu preciso ver se há alguém na outra sala, fique aqui que voltarei para te buscar. Não saia daqui, está tendo tiroteio, entendeu?

— Sim.

            Olívia preparou-se para atirar sem aviso prévio. Ouviu rumores que Mengele atuava naquela redondeza mas duvidava muito, provavelmente estava em Auschwitz onde a matança era 24 horas sem parar. Destravou sua arma e entrou na outra porta e mais uma vez outro corredor. Só havia mais uma porta e sem cerimônia, abriu-a . Seu coração estava acelerado: Uma criança, sexo masculino, careca, magra, amarrada na cama, completamente nua. Havia um médico de costas e que assustado virou-se e se rendeu.

Ele falou algo em alemão mas sem piedade alguma Olívia atirou.

A criança estava assustada e chorava.

Procurou a roupa dele e andou em sua direção.

— Qual seu nome? - perguntou em francês enquanto de desamarrava – o

— Viktor .

— Eu me chamo Olívia e vim tirar vocês daqui.

Ela o colocou de pé, na maca e o vestiu. Ele era tão leve que ela pode colocá-lo nos braços. Ao entrar na outra sala, alguns de seus companheiros estava lá, retirando as mulheres sentadas.

— Ali – apontou Olívia para a porta fechada – Há uma mulher em sã consciência. Tirem-na daqui.

Olívia , com Viktor nos braços, andou em direção à sala de cremação.

— Você vai salvar meu irmão? - perguntou Viktor

— Onde ele está? - Olívia parou e o olhou. - Existem mais crianças aqui?

Viktor fez que sim.

— Na casa ao lado possui um porão. Meu irmão fica lá.

— Você sabe quantas crianças são?

— Quando eu estava lá, éramos 30.

— Onde fica esse porão? Você pode me levar até lá?

— Posso.

Olívia saiu e andou em direção à casa principal. Fez sinal aos outros soldados para que se aproximassem.

— Existem pelos menos outras 20 crianças aqui e preciso da ajuda de vocês .

— Onde?

— Viktor vai me levar.

— Nesta sala aqui – disse ele apontado para uma janela.

Olívia entrou pelas portas principais, andou por um corredor onde havia um jardim e entrou à esquerda. Era a segunda porta.

Desceu Viktor do colo e o deixou no canto da parede.

Havia uma porta no chão com correntes e cadeado. Olívia olhou ao redor e não havia nada que pudesse abrir.

— Eu vou atirar.

            Ela se posicionou acima da porta e ficou de frente para as corrente. Atirou com a metralhadora no cadeado que cedeu à pressão das 10 balas por segundos. Três coisas que ela aprendeu que só acontece em situações extremas:

Você fica mais corajosa

Você fica mais inteligente

Você fica mais violento

            Desde que entrou na guerra, ela quebrou toda a timidez, todo o medo e o politicamente correto. Ela estava com 20 anos mas parecia ter 30. Ela havia virado uma máquina de guerra. Ao abrir a porta do porão, a luz revelou várias crianças sujas, magras, assustadas. Ela desceu e levantou uma a uma. Não haviam crianças mortas nem adulto algum com elas. O irmão de Viktor estava lá: assustado e desorientado. Eles se abraçaram mas a criança estava sem reação alguma, devido à desnutrição e possivelmente algo havia afetado seu emocional. Olívia voltou para as salas de cirurgia e roubou todos os livros e anotações do infeliz que estava lá. Levou tudo para o caminhão e ficou surpresa ao ver que quatro caminhões de socorro e alimentos estavam lá esperando pelos sobreviventes. Havia um jovem que estava fotografando o momento e os soldados que chegavam com as crianças. Fez uma ronda pelo local para garantir que ninguém ficaria para trás.

            O jovem pediu para que o grupo se unisse para bater foto. Ela já havia feito várias fotos quando tinha uma tropa de assalto que não só roubava a comida do exército nazista como também os livros e obras de arte que eles haviam roubado da sociedade. Juntavam tudo que “roubavam” e batiam foto. Várias fotos daquele dia entraram para a história da guerra e estão expostas no museu da Segunda Guerra em Nova York.

Após escrever seu sonho, Olívia pegou seu quadro branco atrás da porta do quarto, apagou as anotações e lembretes e fez uma linha de tempo .

Tempo do exército se transforma em tempo de fama (o momento era 1950)

   

 

Atriz Marilyn Monroe

(Vestido de Diamante)

Prostituição

Desprogramada

Homens do Governo

Príncipe

Desfile de moda ? Victoria Secrets?

(Talvez calendário da Playboy)

   

 

Alguma cantora que não conheço (ano de 2006)

Desprogramada

Parafuso no cérebro

Apanhava

Borboletas

Muita Prostituição

   

 

Campo de Concentração

Cérebro

parafusos

            Olívia ficou sentada observando o quadro.

            Haviam muitas pistas na cara dela mas não conseguia conectar. Onde James Dean se encaixa nisso? Ela guardou em sua memória que deveria pesquisar sobre a vida de Marilyn Monroe. Depois de desistir de adivinhar qualquer coisa, arrumou a bagunça na cozinha, colocou o quadro do quarto, encostado no guarda-roupa e foi tomar banho. Retirou uma sopa pronta da geladeira e a deixou no fogão para o almoço.  Ela não havia decidido quando voltaria no tempo para ajudar Dean. Ela já tinha tudo na mente: se passaria por estagiária de enfermagem e aspirante a medicina, iria pedir estágio no necrotério. Queria estar lá quando James Dean desse entrada.

            Olívia ainda tinha muitas dúvidas: deveria ter alguma amizade com ele ou apenas observar de longe? Ela poderia evitar a morte dele? Na hora do almoço, colocou o quadro de volta na mesa e o observava enquanto comia sua sopa. Ela sabia que a resposta estava na cara mas não conseguia observar.

— Talvez... Talvez eu devesse organizar por época. Campo de concentração , eu de secretária para a fama – Marilyn e a cantora de 2006.  - Sorveu a sopa e apontou a colher para o quadro – Deu no mesmo – falou enquanto mastigava a cenoura – entendi nada.

Ela permaneceu 10 minutos sentada olhando para o quadro. Nada.

            Pegou sua poltrona, virou para a janela da sala e ficou sentada, observando a chuva cair e os trovões típicos da chuva de verão. Ficou fazendo planos em sua mente: Teria que mudar o nome para Louise porque Anne já estava bastante usado e provavelmente teria que procurar algum emprego remunerado se não resolvesse tudo em 3 semanas no máximo. Ficaria em uma pousada simples para não ter tantos gastos. Ou talvez devesse passar um mês e trabalhar por lá, antes de arrumar um estágio. Para não levantar suspeitas seria melhor que ficasse por aquelas bandas por um tempo. Não deveria levar muita coisa, exceto o que desse para carregar consigo, em seu casaco de detetive que ela mandara fazer. Aliás, todas as suas roupas eram projetadas por dentro para esconder algo: bloco de anotações, gravadores, máquina fotográfica atual e as baterias.

            Pegou seu celular e ficou lendo os jornais. Nos feeds de notícia de sua rede social, havia a imagem do vocalista de sua banda favorita havia se suicidado com uma corda. Olívia ficou em choque.

— Chester Bennington, morto?

            Os jornais diziam que ele já tinha tendência a depressão devido a abuso na infância . Olívia havia ido ao show do Linkin Park. Ela tinha várias fotos do baterista da banda no quarto. Ela ganhou uma promoção da rádio para conhecê-los quando tinha 16 anos: passaram 4 horas juntos além de outros fãs e integrantes da banda. Comeram pizza e conversaram sobre coisas além do trabalho deles. Ela não pode provar nada mas ele não parecia ser do tipo suicida, porem suicídio não tem cara.

— Meu Deus... mais um..

As redes sociais estavam cheias de referências às mensagens subliminares de suas letras como

 “Às vezes adeus é a única solução.”

Olívia fitou a foto de Chester por um momento e depois voltou a olhar as fotos de James Dean. Em silêncio, ela levantou-se do sofá, fechou as janelas, desligou o computador e em clima de enterro, decidiu ajudar James Dean.


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